segunda-feira, julho 31, 2006

VARIAÇÕES EM DÓ MAIOR E ISRAEL MENOR, OP.3


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Três textos sobre o mesmo mote, escritos em três diferentes momentos.

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1. “A solução é simples” – diz ele (enquanto apela - lá do Brasil - no seu blogue *, que se dê “ordem de caçada e extermínio sistemático desses inimigos declarados”).

Eu acho que não. Mais: acho que a solução não é essa.

Prega-se contra a intolerância apelando à violência intolerante?

Onde a coerência?

Protesta-se contra a violência recrutando entre os intolerantes a força que a vingue?

Onde a razão?

Baixamos ou cruzamos os braços?

Óbvio que não. E não porque “a força de um destemor inflexível” é que torna possível “a verdadeira não-violência”, como defendia Mahatma Gandhi, esse agitador de consciências - adormecidas, umas, outras empedernidas - em prol dos oprimidos.

E a verdade é que “a escuridão não pode extinguir a escuridão. Só a luz o consegue”, como afirmava a dada altura, num seu célebre discurso ("Where do we go from here?"), a 16 de Agosto de 1967, outro indomável activista (!) político, Martin Luther King.

À intolerância responder com intolerância, à violência com violência é que não, porque "de olho por olho o mundo acabará cego", sustentava ainda o mesmo libertador de milhões de almas, Mahatma Gandhi.

A lei de talião não faz parte dos nossos mandamentos. Não deve fazer.

Na cultura árabe é que a justiça é regida por essa lei que preconiza a vingança solidária. Maomé quis acabar com ela. Mas ela regressou. Não seguem, pois, os ensinamentos do profeta alguns dos que se dizem seus seguidores, ao recuperarem a antiga doutrina.

Por alguma razão o pensador, médico e investigador português, Ricardo Jorge aconselhava a “quebrar a intolerância de todas as doutrinas”.

Não, pois, e militantemente, à intolerância.

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(*) http://blogdocetico.blogspot.com/2006/02/soluo-simples.html

2. Israel está em vias de perder toda a empatia capitalizada com a perseguição nazi e o holocausto.

Com a benevolente complacência dos controleiros do mundo e do sheriff GWB, Israel intervém em Estados soberanos, a seu belo prazer, da mesma forma que o amigo americano o faz.

Quando um Mário Soares – certo que em mais uma das suas piruetas, em que é exímio artista – convém em criticar “os que falam muito de direitos humanos e que depois permitem que um Estado como Israel faça o que quer: bombardeia populações e intervém em Estados soberanos”, isso significa que já se foi (indubitavelmente) longe demais na compreensão, no apoio e na cobertura de uma política desumana e de força.

Mário Soares condena hoje aquilo que ontem varreu, subtilmente, para debaixo da carpete ou que, pressuroso, meteu na gaveta.

Mas vá: que se redima.

Que se torne lúcido e coerente.

E que vocifere junto de “ses amis” (às vezes é preciso ser um pouco agreste) que basta!

Israel pode ganhar muitas batalhas. Mas sabe – todos sabem – que não ganhará a guerra: só quando aceitar conviver com o seu vizinho palestiniano conseguirá a paz.

3. Israel ganhará, por certo, no ajuste convencional. Mas os árabes já demonstraram um traquejo difícil de ultrapassar numa “guerra” mais insidiosa e mais eficaz: a guerra assimétrica.

O Hamas, além de hesitante no reconhecimento do Estado hebraico, na “praça regional” perde para o “partido de Deus”, para a Síria e para o Irão.

Seja: os sunitas perdem para os xiitas.

Contudo, o grande sucesso, hoje, do Hezbollah, na opinião pública da “rua árabe” (mesmo sunita, que chegou a verberar a sua acção), reside no seguinte: o “partido de Deus” “preenche um vazio: representa a oposição a Israel” e aos seus aliados ocidentais, EU e UE.

Israel, por sua vez, sabia que os seus aliados ficavam de braços cruzados ou de mãos nos bolsos (uma forma de contemporizar).

Mas todos se esquecem que, mediante guerras convencionais ou assimétricas, a paz nunca há-de regressar. A insegurança e o permanente estado de tensão leva a orçamentos fabulosos da defesa em detrimento dos destinados ao bem estar e tranquilidade das populações.

É inevitável que os líderes de uma e outra banda se encontrem para estabelecerem uma trégua definitiva, observando as regras de boa vizinhança e do bom entendimento.

São ingénuas divagações de um pacifista?

Que sejam. E para quando a voz dos pacifistas – que creio serem a maioria – vingarem na eleição dos seus governantes?

E nesta guerra infernal do “olho por olho, dente por dente”, todos ficam cegos e desdentados, mas felizes por averbarem os “seus” pontos.

É claro que quem ganha são sempre os mesmos. Comos os mesmos são sempre as vítimas e os sacrificados.

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