segunda-feira, julho 10, 2006

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


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Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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DE ACORDO COM O CALENDÁRIO DA ONU:

1997/2006 - Década Internacional para a Erradicação da Pobreza.

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2006 Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

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Terá sido há 1867 anos (10.07.138), de acordo com o actual calendário, já repercutido para antes da sua adopção, e segundo o qual terá caído numa QA: morreu o imperador Adriano. Sucedeu-lhe Antonino Pio.

Na suprema direcção da Igreja encontrava-se o papa Higino (9º).

Públio Élio Trajano Adriano nasceu em Italica (hoje Santiponce, a 9 km de Sevilha) a 24 de Janeiro do ano 76 (em termos do actual calendário, gregoriano), era descendente de colonos romanos e primo de Trajano, a quem sucedeu. O seu reinado decorreu do ano de 117 a 138.

Desde cerca do ano 70 d.C. ao ano 180, tirando o reinado de Domiciano, foi uma época, de mais de um século, “de ouro”: Tito, Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio,"o tão admirável Marco Aurélio"-"foram homens de puro e nobilíssimo carácter". [Marco Aurélio era filho de andaluzes - cfr Pe Miguel de Oliveira, cit História Eclesiástica de Portugal, 23]

Realmente, com a subida de Vespasiano (pai de Tito e Domiciano) ao trono imperial (no ano de 69) começou uma era mais pacífica, de melhor governo das províncias, de finanças públicas mais bem administradas, de melhorada moral pública; era que, exceptuado o reinado de Domiciano, perdurou ininterruptamente por uma centena de anos.

Claro que durante esta época houve melhores e piores imperadores, mas sem que estes tivessem conseguido corromper a sociedade.

Até que ponto terá contribuído mais decisivamente para esta mais tranquila e estável fase a influência da religião acabada de nascer - o cristianismo - é difícil de determinar. Mas que ela funcionou como um factor de travagem e de saneamento da velha sociedade - isso parece certo.

O reinado de Adriano, por exemplo, que durou vinte e um anos, foi pacífico e ficou memorável como a época em que a arquitectura romana teve um florescimento maior, manifestando-se nos mais belos e ricos monumentos.

Adriano era contra a política de conquistas levada a cabo por Trajano. E era mais apologista de uma política de defesa passiva, pelo que terá abandonado grande parte das conquistas de Trajano na Dácia (actual Roménia), concentrando a ocupação romana na região da Transilvânia (zona centro-ocidental da actual Roménia), protegida pela barreira natural dos Cárpatos - o sistema montanhoso que acompanha, ao longo de 1500 km, as fronteiras da República Checa, Eslováquia, Polónia, Roménia e Ucrânia.

Adriano era um grande admirador da cultura grega, sendo um dos responsáveis pela propagação do helenismo no mundo antigo. Foi um imperador “ambulante”, viajando sempre; e por onde passava ia erguendo cidades, construindo estradas, erigindo monumentos.

Em Atenas mandou completar a construção de um gigantesco templo a Zeus, o Olympeion, cuja construção já se arrastava desde o século VI a.C.; nas vizinhanças desta construção, organizou um bairro, à maneira urbanística romana, de maneira a poder igualar-se ao fundador mítico de Atenas, Teseu. Esta Atenas romana, porém, era separada da antiga por um pórtico na entrada do qual estava inscrito: Esta é a cidade de Adriano, e não a de Teseu.

Adriano acabou por adoptar o senador que viria a ser conhecido como o imperador Antonino Pio, que lhe sucederia, sob a condição, no entanto, de que este adoptasse como seu sucessor o parente distante de Adriano, o jovem Marcus Aurelius Verus, futuro imperador Marco Aurélio.

Autores há que referem políticas autoritárias de Adriano, atribuindo-se-lhe a criação de um corpo de polícia política.

(Fonte: Wikipédia, de que transcrevi vários trechos)

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Decorreram 1023 anos (10.07.983), com base no actual calendário uma TR: morreu o papa Bento VII (135º). Portugal ainda nem projecto era. O Al-Andalus (como os árabes chamavam à Península Ibérica, então sob o seu domínio) era na altura um califado independente.

Bento VII nasceu em Roma e foi eleito em Outubro de 974. Consta ter sido homem de grande inteligência. Como consta que tenha dado um grande impulso – imagine-se só - à agricultura! (Outros eram os tempos!)

Decretou a excomunhão para a prática (pecado) da simonia na escolha do papa. Ajudou as ordens monásticas a preparar as reformas da Igreja e deu ajuda material (!) a Cartago, quando houve fome na cidade.

Entre outras formas de corrupção, a prática da simonia e do nepotismo era muito comum na igreja de Roma, na Idade Média, e provocou sérios problemas à sua postura e autoridade moral. A simonia consistia na compra de cargos ou benefícios na hierarquia da igreja. Em termos modernos, digamos que consistia na constituição de lobbies poderosíssimos e de garantido financiamento. O nepotismo era o favorecimento da autoridade de parentes na administração eclesiástica.

Durante degli Alighieri (1265-1321), mais conhecido como Dante Alighieri, na Divina Comédia, poema épico que escreveu no séc. XIV, entre 1307 e 1321, aborda a prática da simonia e do nepotismo.

(Divina Comédia que o seu autor denominou, apenas, de “Comédia”. Mais tarde renomeada pelo poeta seu contemporâneo, Giovanni Boccaccio, autor do Decameron, de Divina Comédia).

A Divina Comédia é constituída por três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso.

Cada uma das partes é dividida em cantos. Ora é no canto oitavo do Inferno – que é a morada do demónio e das piores criaturas – que Dante (acompanhado por Virgílio [em bom rigor, Vergílio], o grande poeta romano, autor da Eneida) encontra o papa Nicolau III enterrado de cabeça para baixo, com os pés em chamas.

Nicolau III era, digamos, um exemplo, um aviso e uma premonição, relativamente aos papas do seu tempo, Bonifácio VIII, Clemente V, e outros, pela prática de tal pecado.

Nicolau III (188º), que foi papa de 1277 a 1281, sucedendo ao papa português João XXI (reinado de D. Afonso III), favoreceu as práticas da simonia e do nepotismo. Ele próprio foi acusado de nepotismo. Parente do Papa Celestino III (175º), era tio do papa Bento XI (194º), que sucedeu a Bonifácio VIII.

Bonifácio VIII (193º), que foi papa entre 1294 e 1303 (reinado de D. Dinis), ficou a dever o seu cargo à prática da simonia.

Clemente V (195º), que também deve a sua ascensão ao papado a um poderoso lobby, foi papa de 1305 a 1316 (foi ele que, em 1306, desencadeou a perseguição aos templários – também no reinado de D. Dinis).

Se Dante tivesse vivido na segunda metade do séc. XV, por certo que lhe não escaparia o encontro, naquela “morada do demónio e das piores criaturas”, dos Bórgias, ambos espanhóis de Valência, Calisto III (209º), Afonso Bórgia, eleito em 1455, e seu sobrinho Rodrigo Bórgia, Alexandre VI (214º), a quem ele, enquanto cardeal e depois como papa, cumulou dos melhores cargos e benesses.

Não se esqueceria de Alexandre VI, sobretudo.

É que Rodrigo Bórgia (Alexandre VI), que foi papa de 1492 a 1503, é o paradigma, o exemplo acabado e hoje mais conhecido, do nepotismo.

Rodrigo Bórgia tomou o pontificado viviam ainda quatro filhos seus dos cinco que houvera de Vanosa de Catancia, uma amante segundo uns, sua mulher segundo outros. Promoveu os seus filhos nos melhores cargos de que pôde dispor, sendo este empenho uma das notas características do seu pontificado. Aos quatro fez doação dos Estados da Igreja. A um deles, César, fê-lo cardeal e arcebispo de Valência. (Mas César desistiu da vida eclesiástica, para que nunca sentira o mínimo pendor).

Canaveira (Manuel Filipe Canaveira, trabalho publicado num destacável d’ “O Jornal”, de 10MAI1991), em síntese, descreve-o assim: "pouco se pode dizer de bom de um homem que teve dois filhos tão "perversos" como César Bórgia e Lucrécia Bórgia. Para nós, ibéricos, foi um bom papa, pois ratificou o Tratado de Tordesilhas e aceitou as doutrinas do 'Mare Clausum'.” (Por acaso, neste ponto, Canaveira enganou-se, pois Alexandre VI não ratificou o Tratado de Tordesilhas, antes o preparou, já que este (de 07.06.1494) é posterior à bula Inter Caetera, de 04.05.1493, na qual o papa dividiu o mundo a descobrir em dois hemisférios, a favor de Portugal e Espanha).

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Passaram-se 634 anos (10.07.1372), o que, de acordo com o actual calendário, terá sido num SB: foi assinado o Tratado de Tagilde entre o nosso rei D. Fernando e João de Gante (John Gant), duque de Lencastre, filho do rei de Inglaterra, Eduardo III. Em Roma pontificava Gregório XI (201º), aliás, e em bom rigor, em Avinhão (mudar-se-ia para Roma em 1277).

Em Castela disputava-se a coroa entre Pedro, o Cruel, filho legítimo de Afonso XI, e Henrique de Trastâmara (Henrique II), um dos muitos bastardos do falecido rei com D. Leonor de Gusmão.

Surge então o duque de Lencastre que se apresentava como pretendente ao trono castelhano, por parte de sua mulher, Constança, filha de Pedro. A França apoiou o Trastâmara, Portugal, o Duque de Lencastre. Nasceu aqui a expressão política da aliança luso-britâ-nica, primeiro no tratado de Tagilde, depois no de Westminster, a 16 de Julho de 1373 assinado entre os reis de Portugal e de Inglaterra.

Foi em Tagilde,

freguesia do concelho de Vizela,

que se firmou, nesse 10 de Julho de 1372,

o referido acordo político:

o rei português D. Fernando assinava

com os delegados do duque de Lencastre

o chamado “pacto de Tagilde”.

Constituiu, esse acordo, o primeiro instrumento jurídico de tratado da aliança

entre o nosso país e a Inglaterra, que ainda hoje perdura.

Este foi o primeiro de, pelo menos, 30 tratados

celebrados desde a data aqui comemorada,

entre representantes dos dois países.

(Mais abaixo são referidos mais dois)

Desde o início da Monarquia, Portugal procurou apoio fora do continente europeu. (...) Se é certo que o primeiro tratado formal de aliança luso-inglesa foi assinado sub specie de aliança legitimista luso-caste-lhana (o Tratado de Tagilde), é indesmentível, no plano dos factos, que a verdadeira aliança era e ficou sendo com a Inglaterra. Aos olhos do imperialismo europeu (como todos os imperialismos, desejoso de simplificação, uniformidade e eficácia), a presença bem actuante de um Estado nacional no Ocidente da Península constituía ameaça de desequilíbrio. O decurso da História confirmou essa "ameaça": Lisboa desfez a tranquila satisfação de uma Europa fechada sobre si própria, dada a conflitos internos mas desinteressada do resto da humanidade” – pode ler-se, na Net, em “Dois Imperialismos” de Barrilaro Ruas.

E ainda do mesmo autor - Henrique Barrilaro Ruas (1921-2003) um dos vultos do Integralismo Lusitano, e um dos fundadores e dirigente do PPM no pós 25 de Abril – veja-se o seguinte destaque no mesmo trabalho:

“... a modalidade imperialista nascida do individualismo jacobino de 1793 e coroada pelo génio de Bonaparte pôde ser desfeita pelas forças conjugadas da Aliança luso-britânica e da Espanha dos Bourbons. E os Espanhóis puderam compreender que nem sempre lhes convém o imperialismo europeu”.

João de Gante deu, entretanto, a mão de sua filha, Filipa de Lencastre, a D. João I, união de que nasceria a “ínclita geração”.

Como é tradição de Portugal, a aliança foi sempre muito mais proveitosa para os ingleses do que para nós.

Não é derrotismo, preconceito ou má vontade: são os autores que o afirmam na base do que a história tem demonstrado.

(Fontes: várias)

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Foi há 497 anos (10.07.1509), uma TR: nasceu em Noyon, na França, João Calvino, reformador religioso francês. Em França reinava Luís XII. Em Portugal, D. Manuel I (14º). Pontificava o papa Júlio II (216º).

João Calvino (que é o aportuguesamento de Jean Cauvin, dito Calvin) fundou a igreja presbiteriana ou calvinista, em síntese, uma forma de protestantismo que não admite hierarquia eclesiástica superior à dos presbíteros. Igreja presbiteriana ou calvinismo, disse eu. Há porém uma diferença, em rigor, que é a seguinte: calvinismo é o nome que se dá ao seu sistema teológico, enquanto que ao governo da igreja por ele instituída se chama presbiterianismo.

A igreja presbiteriana é uma instituição em que não há qualquer forma obrigatória de culto, sendo que cada assembleia é governada por presbíteros (donde presbiterianismo) ou anciãos (e ancião é o verdadeiro significado do termo grego presbítero), clericais ou laicos, que estão a um mesmo nível.

As congregações ou assembleias agrupam-se em presbitérios, sínodos e assembleias gerais.

Calvino foi inicialmente um humanista, e até cerca dos 24 anos, já doutorado em Direito, mas regressado à teologia. Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde viria a falecer. Genebra tornou-se num centro do pensamento protestante Europeu onde João Calvino foi e continua a ser uma figura central da história da cidade e da Suíça.

Quando Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, Calvino era uma criança de 8 anos.

Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã - uma figura quase paternal”. Lutero era dotado de uma retórica muito frontal, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento e de expressão mais elaborado. "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, percursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo" - escreveu Bernard Cottret, biógrafo de Calvino.

Em Janeiro de 1515 Francisco I sucedeu a Luís XII no trono francês. Inicialmente moderado em matéria de religião, Francisco I foi endurecendo a sua atitude, terminando na perseguição declarada dos protestantes.

Em 1529, prestes a completar os vinte anos de idade, a vida de Calvino sofreu uma súbita viragem. Ele que viera inicialmente para Paris estudar Teologia, constata que o pai mudou de planos e quer que ele curse Direito, dado que "ciência das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela", afirmava seu pai, ele próprio advogado. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar Direito para Orleães, mas nunca deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: "Se Deus me deu forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho", o da Teologia.

O humanismo e o renascimento são a matriz da sua formação intelectual.

O Calvino de 1531 não é, de modo nenhum, ainda, um reformador mas, acima de tudo, um humanista.

Em 1532 conclui o doutoramento em Direito em Orleães. O seu primeiro trabalho publicado foi um comentário sobre o De Clementia de Séneca, o célebre filósofo romano.

Assim, e aos 23 anos, Calvino já era um famoso humanista.

Por essa época também Erasmo de Roterdão escreveu sobre Séneca. Mas no seu De Clementia, Calvino ainda não alude explicitamente matéria religiosa. Ou seja, até esta altura Calvino é tão só e apenas um humanista. O momento em que se terá dado “a volta” em Calvino, em matéria religiosa, é desconhecido. Apenas se sabe que se operou entre 1532 e 1533, portanto, entre os seus 23 ou 24 anos.

Um prefácio escrito por Calvino em 1537 ao seu comentário sobre os salmos, fornece alguns pormenores: "Após tomar conhecimento da verdadeira fé e de lhe ter tomado o gosto, apossou-se de mim um tal zelo e vontade de avançar mais profundamente, de tal modo que apesar de eu não ter prescindido dos outros estudos, passei a ocupar-me menos com eles. Fiquei estupefacto, quando antes mesmo do fim do ano, todos aqueles que desejavam conhecer a verdadeira fé me procuravam e queriam aprender comigo - eu, que ainda estava apenas no início! Em 1535 é publicada a primeira bíblia traduzida por um protestante, em francês, directamente do Hebraico (o antigo testamento) e do Grego (o novo testamento) - línguas originais das escrituras - e não das versões então em uso, em latim. Texto este revisto com a colaboração de Calvino e publicado, de novo onze anos depois, em 1546.

Em 1536, com 27 anos, Calvino viaja até Ferrara, onde tinha esperança de ser bem acolhido nas suas ideias em matéria de religião. Mas enganou-se e teve, rapidamente, de interromper a visita. Seguiu, então, até Paris, só que “a França era o seu Egipto”, já que ele comparava a sua situação em França à dos judeus no Egipto.

Procurando países politicamente mais independentes e espíritos mais abertos, Calvino dirige-se, então, para a Suiça.

Em Outubro de 1536, tem lugar na Catedral de Notre-Dame, em Lausanne, uma disputa teológica entre protestantes e católicos, na qual Calvino e Farel vão participar.

Em 1542, tinha ele 33 anos, publica em Genebra o seu catecismo.

“A chave do projecto de Calvino passa pela pedagogia. O seu objectivo é a profunda transformação das mentalidades. Cada resquício de superstição, de práticas de magia, ou de catolicismo é perseguido como idolatria”.

Esta variante do protestantismo seria bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os Afrikaners), Inglaterra, Escócia e EUA.

Calvino morreu em Genebra aos 27 de Maio de 1564.

(Fontes várias, entre elas a Wikipédia)

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Passaram-se 447 anos (10.07.1559), foi numa SG: morreu Henrique II de França, aos 40 anos de idade. Em Portugal, D. João III morrera dois anos antes, e o sucessor, o seu neto D. Sebastião, tinha apenas três anos. Assim, assumiu a regência do reino, a rainha viúva, aguardando a maioridade do neto (mas nem foi tão longe, já que foi substituída na regência, pelo seu cunhado, o cardeal D. Henrique, tio-avô, do novel rei). No Vaticano presidia à direcção da igreja romana o papa Paulo IV (223º).

Henrique II nasceu em 31.03.1519. Membro da dinastia de Valois, era filho de Francisco I, a quem sucedeu em 1547.

O seu reinado foi marcado pela perseguição aos hugenotes (designação que se dava aos protestantes franceses; termo sobre a origem do qual não há consenso, já que não é clara). Como foi marcado por guerras com a Áustria.

Casou com Catarina de Médicis (embora fosse conhecida e célebre a sua adoração e o seu fascínio por Diana de Poitiers), em 1533.

Como sabemos a Casa dos Médicis foi uma poderosa família aristocrática florentina da Renascença italiana, entre os séculos XV e XVII, cujo poder se consolida em Quatrocentos e em Quinhentos, família de mecenas, e de importantes vultos da História, príncipes e princesas, rainhas e papas.

Quando casaram, Henrique e Catarina tinham ambos 14 anos (!), e o casamento foi “organizado” pelo papa Papa Clemente VII, cujo pontificado decorria então. Catarina, duquesa de Urbino, era filha de Lourenço de Médicis, o célebre Lourenço, o Magnífico. Henrique II e Catarina tiveram 10 filhos, entre eles três reis de França (Francisco II, Carlos IX e Henrique III) uma filha, Isabel de Valois, que casou com Felipe II de Espanha, Filipe I de Portugal, que era neto do nosso rei D. Manuel I, filho de sua filha Isabel, que casara com o imperador Carlos V da Alemanha, e uma outra filha, que casou com Henrique III de Navarra.

Henrique II morreu na sequência de um acidente num torneio.

(Fonte: basicamente a Wikipédia)

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Foi há 352 anos (10.07.1654), numa SX: é assinado o tratado de Westminster de paz e aliança entre Portugal e a efémera República Inglesa dirigida por Cromwell após afastar do poder Carlos I, que foi preso e depois executado. Reinava D. João IV (21º). No Vaticano pontificava Inocêncio X (236º).

Das várias dezenas de tratados da aliança luso-britânica assinados ao longo dos séculos, este é o 12º.

Portugal, que se desentendera com Oliver Cromwell por causa da protecção concedida por D. João IV ao conde de Ruprecht, general britânico sob Carlos I, e a seu irmão Maurício, assinou com a Inglaterra o tratado acima referido, que renovava o de 1642 com uma série de aditamentos.

E o tratado de 29.01.1642 (o 11º) era um tratado de paz e comércio entre D. João IV e Carlos I. Este tratado continha as usuais cláusulas de igualdade de vantagens comerciais para os súbditos de um e outro monarca e a imunidade dos ingleses perante a Inquisição. Por ele se confirmava, ainda, a trégua celebrada em 1636 na Índia e garantia-se aos ingleses a continuação de algumas liberdades que lhes haviam sido atribuídas nas ilhas de S. Tomé e Príncipe e nas costas da Guiné.

(Mais acima foi recordado o primeiro destes tratados da aliança luso-britânica, o de Tagilde, de 10.07.1372).

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Aconteceu há 139 anos (10.07.1867), era uma QA: é publicada no Diário de Notícias a carta de felicitação de Victor Hugo a Eduardo Coelho, de dias antes, 02.07, acerca da abolição da pena de morte em Portugal. Em França estava em curso o segundo império, com o imperador Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, filho do seu irmão Luís Bonaparte. Em Portugal reinava D. Luís (32º). Na suprema direcção da igreja de Roma estava o papa Pio IX (255º).

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“A liberdade é uma cidade imensa

da qual todos somos concidadãos”

- escrevia o romancista francês na referida carta

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José Eduardo Coelho começou por ser empregado do comércio (foi, por exemplo, caixeiro numa loja de ferragens do pai de Cesário Verde) e depois tipógrafo. Dedicou-se, porém, à escrita e tornou-se, a tempo inteiro, escritor – de vasta obra – e jornalista. Fundou o Diário de Notícias, com Tomás Quintino Antunes, cujo primeiro número saiu em 29.12.1864, tendo sido o seu primeiro director.

Victor Marie Hugo (1802-1885), foi poeta, romancista e dramaturgo francês. Natural de Besançon, era filho de um dos generais de Napoleão. Embora inicialmente monárquico, apoiou os ideais republicanos na década de 1840 e opôs-se ao golpe de Estado de Luís Napoleão, o que o levou a ser expulso em 1852.

Com a publicação de Cromwell em 1827, cujo prefácio é um verdadeiro manifesto, aderiu ao romantismo de que se tornou um verdadeiro líder.

É de 1931 o seu primeiro romance, Notre-Dame de Paris.

E é do ano seguinte a primeira representação da sua peça Le Roi s'amuse. O escândalo, porém, com a apresentação desta peça foi tal que ela foi suspensa. Ficou memorável a sua defesa que se seguiu a esse acontecimento, a favor da liberdade de expressão.

De seguida começou Os Miseráveis (que primeiro intitularia Les Misères) – a obra que mais o celebrizou.

Várias vezes teve de refugiar-se no estrangeiro, na sequência de atitudes políticas contrárias ao clima oficial, até que um decreto de Luís Napoleão, de 1852, o expulsa de França.

Com a proclamação da República, em 1870, regressa como herói nacional. Primeiro foi eleito deputado, para se tornar, depois, senador na Terceira República.

Falecido em 1885, foi sepultado no Panthéon, em Paris.

Na referida carta ao director do Diário de Notícias, Eduardo Coelho, de oito dias antes, cuja publicação naquele (hoje) vetusto periódico nesta data se comemora, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo), diz Victor Hugo, nomeadamente, e contextualizando a frase em destaque, acima, o seguinte:

"está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos".

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Faz hoje 135 anos (10.07.1871), foi numa SG: nasceu o escritor francês Marcel Proust, em Auteuil, perto de Paris. Em França tinha-se entrado na Terceira República. Em Portugal reinava D. Luís (32º). No Vaticano pontificava Pio IX (255º).

Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust nasceu de uma família rica, sendo seu pai um professor de Medicina muito conhecido na época.

Foi aluno, na Sorbonne, do célebre filósofo Henri Bergson (1859-1941), que muito influenciou a sua obra.

Entre a sua obra destaca-se uma colectânea de contos e poemas: Les Plaisirs et les Jours. Porém a obra que mais o projectou foi À La Recherche du Temps Perdu, publicada em volumes, entre 1913 e 1927, sobre a sociedade francesa.

A conhecida editora Gallimard recusa a publicação do primeiro desses volumes, que ele teve de publicar a expensas suas, numa pequena editora – Grasset. Perante o sucesso dessa edição, a Gallimard recua e publica o segundo volume.

Este segundo volume, À Sombra das Raparigas em Flor, vale-lhe o Prémio Goncourt, em 1919, um dos mais importantes prémios da literatura mundial, e o mais apreciado e cobiçado em França.

Particularmente em Sodoma e Gomorra, e nos volumes que Proust publica a seguir, a homossexualidade é uma matéria latente na sua obra.

O Prémio Goncourt tem como base o testamento de Edmond de Goncourt de 1896. Edmond e seu irmão Jules – historiadores da literatura - haviam sonhado com a instituição deste prémio que levava o nome da família. Nasce, assim, a Société Littéraire des Goncourt, fundada oficialmente em 1902, para premiar as melhores obras produzidas em cada ano, em língua francesa.

O primeiro prémio Goncourt foi atribuído em 1903. E tem sido atribuído todos os anos, desde então, sem qualquer interrupção. O último foi atribuído em 2005. Este ano ainda não foi atribuído porque o vencedor, geralmente, é proclamado em Novembro.

Um outro prémio literário francês é Premio Femina, criado em 1904, por um grupo de mulheres que pretendiam combater a misoginia da Academia Goncourt.

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Bom,

em 93 prémios Goncourt até hoje atribuídos,

apenas oito distinguiram mulheres,

entre elas Simone de Beauvoir, em 1954,

e Margurite Duras, em 1984...

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Proust trabalha sem descanso na sua obra sobre a sociedade francesa, À Procura do Tempo Perdido, e morre esgotado, em Paris, aos 18 de Novembro de 1922.

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Completam-se hoje 111 anos (10.07.1895), foi numa QA: nasceu em Munique um dos mais destacados compositores do séc. XX, o alemão Carl Orff. Na Alemanha estava implantado o Segundo Império, então sob Guilherme II rei da Prússia e imperador Alemão, que foi o último imperador alemão (Kaiser) e o último rei da Prússia entre 1888 e 1918. Em Portugal reinava D. Carlos (33º). Sumo pontífice da igreja católica era o papa Leão XIII (256º).

Carl Orff foi sobretudo um pedagogo da música. Criou um centro de educação musical para crianças e leigos em 1925, onde trabalhou até ao fim dos seus dias.

Foi a cantata Carmina Burana, apresentada em Frankfurt em 1937, que o celebrizou. «No fim de contas, Orff é mais conhecido como o “autor de Carmina Burana ” do que pelo conjunto de sua obra, caindo na vala comum dos autores de uma obra só», escreveu um autor. E isto, não obstante a cantata fazer parte de uma trilogia (de que era a primeira) intitulada Trionfi, que também inclui Catulli Carmina e Trionfo di Afrodite, composições que reflectem o interesse de C. Orff pela poesia alemã medieval.

Conquanto seja um facto que Carmina Burana era muito popular na Alemanha nazi, não parece que alguma vez tenha sido comprovada a associação de Carl Orff a esse tenebroso regime. Aliás, Carl Orff era amigo de Kurt Huber, um dos fundadores do movimento de resistência Die Weiße Rose, que foi condenado à morte e executado pelos nazis em 1943. Depois da Segunda Guerra Mundial, Orff confirmou ter sido membro do grupo e ter-se envolvido na resistência.

Nos círculos pedagógicos C. Orff é recordado pela obra Schulwerk (tarefa - ou trabalho – escolar) de 1930 a 1935. Durante toda a sua vida trabalhou muito com crianças, usando a música como uma ferramenta educacional, criando, por exemplo, o instrumental Orff, um método de ensino musical baseado na percussão.

Carl Orff morreu em 29 de Março de 1982

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Foi há 106 anos (10..07.1900), era uma TR: entrada em funcionamento do metropolitano de Paris. Em França decorria o mandato de Émile Loubet, 7º presidente da Terceira República. Em Portugal reinava D. Carlos (33º). Pontificava o papa Leão XIII (256º).

O metropolitano (vulgo, metro) é um meio de transporte urbano muito utilizado. Geralmente subterrâneo. Por vezes a bastante grande profundidade, como, em grande parte o de Londres com várias linha sobrepostas.

O metro de Lisboa foi inaugurado em 29 de Dezembro de 1959, uma linha com cerca de 6,5 km. Em 2004 tinha quatro linhas com um total de cerca de 37 km de extensão e 44 estações.

O metro do Porto foi inaugurado em 2003 (com uma linha). Actualmente tem 5 linhas, 68 estações, cerca de 60 km. É na sua maior parte à superfície.

O Metro de Londres é o mais antigo do mundo: inaugurado em 1863 (há 143 anos!). Em 2005 tinha 415 km.

Ainda, também, do século XIX, são ainda o de Chicago, de 1892, agora com cerca de 166 km; o de Budapeste, de 1896; o de Bóston de 1897, que em 2005 tinha cerca de 60 km e o de Paris, de 1900, com 212 km em 2005.

Da primeira metade do séc. XX temos: o de Berlim, aberto em 1902, actualmente com 144 km; o de Nova Iorque, inaugurado em 1904, agora com cerca de 400 km; o de Filadélfia, de 1907, com uns 64 km; o de Buenos Aires, de 1913; o de Madrid, de 1919, com cerca de 224 km; o de Barcelona, de 1924, com pouco mais de 100 km; o de Tóquio, aberto em 1927, com cerca de 300 km; o de Osaca, de 1933, com pouco mais de 100 km e o de Moscovo, inaugurado em 1935, que tem, creio, 275 km.

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Completam-se hoje 67 anos (10.07.1939), numa SG: nasceu a escritora, ficcionista e ensaísta, Isabel Barreno. No topo da pirâmide política, em Portugal, continuavam Salazar e Carmona. Por esta ordem no que respeitava à sua importância interna e efectiva. No plano institucional, “para inglês ver”, primeiro Carmona, na PR, e Salazar na chefia do governo. Na suprema direcção da igreja de Roma estava agora, desde os começos de Março anterior, o papa Pio XII (260º).

Maria Isabel Barreno formou-se em Histórico-Filosóficas. Começou por militar na causa do feminismo, fazendo parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com as escritoras Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Em 1968 sai um volume colectivo, A Condição da Mulher Portuguesa, em que colaboraram, entre outros, Isabel Barreno, Isabel da Nóbrega, Agustina Bessa-Luís, Urbano Tavares Rodrigues e Augusto Abelaira.

O que a celebrizou, assim como a Maria Teresa Horta e a Maria Velho da Costa, foi a publicação, em 1971, e em co-autoria das três, das Novas Cartas Portuguesas, obra que é constituída por uma série de poemas e cartas baseados na história da freira pacense Mariana Alcoforado e do seu idílio com um oficial francês, marquês de Chamilly. (As personagens sabe-se que são reais, mas acerca das cartas existem muitas dúvidas que elas sejam, de facto, da freira - que entrou para o Convento da Conceição, de Beja, alguns meses antes de completar os onze anos de idade!).

As Novas Cartas Portuguesas puseram, na altura, em alvoroço a comunidade literária portuguesa. “O caso das três Marias” – como o processo judicial, entretanto desencadeado, ficou conhecido – teve uma repercussão mundial, não só pelo hábil aproveitamento que os movimentos feministas fizeram dele, como porque a conjuntura política lhe era favorável. Menos em Portugal, como é óbvio e de esperar. Uma das suas imediatas consequências foi a enorme projecção que as autoras tiveram. Isabel Barreno, por exemplo, foi logo convidada a proferir conferências em diversas universidades norte-americanas, sempre com o apoio ou o convite dos movimentos de libertação das mulheres.

De entre a sua restante obra destaco Crónica do Tempo (1991) e Os Sensos Incomuns (1993), que foram premiados, respectivamente, com o Prémio Fernando Namora e o Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção

Recentemente publicou As Vésperas Esquecidas, cuja 1ª edição é de 1999.

A partir de 1996 passou a coordenar, em França, e a nível institucional, o ensino da língua portuguesa.

Os prémios literários do P.E.N. Clube Português, patrocinados pelo INSTITUTO PORTUGUÊS DO LIVRO E DAS BIBLIOTECAS, destinam-se a galardoar anualmente as melhores obras publicadas no ano anterior, em língua portuguesa e em 1ª edição, nas modalidades de POESIA, ENSAIO e FICÇÃO.

Foi entretanto criado um novo Prémio destinado a galardoar anualmente uma PRIMEIRA OBRA nas referidas modalidades.

Os prémios pecuniários têm o valor de 5000 euros em cada uma das modalidades.

O Prémio para PRIMEIRA OBRA tem o valor pecuniário de 2500 euros.

O Prémio literário Fernando Namora, que vai na sua 10ª edição, foi instituído pela Sociedade Estoril Sol e tem o valor pecuniário de 15 mil euros.

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A memória que se segue substitui a de 10 de Junho do mesmo ano, relativa a Pétain, por assentar, por lapso, em informação errada.

Foi há 66 anos (10.07.1940), era uma QA: a Assembleia Nacional Francesa, reunida em Vichy, vota a extinção da Terceira República. No dia seguinte estabelece-se o regime de Vichy que atribui a Pétain a chefia do Estado. Em Portugal decorria o 2º de 4 mandatos sucessivos (o último interrompido pela sua morte) do “vitalício” presidente da República Carmona. Como prosseguia o consulado, igualmente “vitalício”, de Salazar. Pontificava Pio XII (260º).

Antes deste episódio, mas já em 1940, era Pétain ministro da guerra – tinha então 84 anos – quando defende (decorria a segunda Grande Guerra), a assinatura de um armistício com a Alemanha, que avançava perigosamente pelo país dentro.

A assinatura da capitulação foi feita em Copiègne, no mesmo vagão de comboio em que a Alemanha assinara a sua rendição em 1918.

Curiosamente,

em Copiègne existe uma placa comemorativa

colocada no local da assinatura do armistício de 1918,

onde se lê em francês:

“Aqui, em 11 de novembro de 1918, sucumbiu o orgulho criminoso do Reich alemão. Vencido pelos povos livres que ele tentou escravizar”.

Placa que foi desmontada e levada para a Alemanha, em 1940,

e que aí foi reposta, acabada a Segunda Grande Guerra.

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Planemos, rapidamente, sobre esta época, para, em jeito de prolegómenos do evento, respectivo epílogo e correspondentes repercussões no futuro, melhor enquadrar o assunto.

Com a deposição do imperador Napoleão III, em 1870, inicia-se a III República.

Estava decorrido cerca de um século sobre a Revolução Francesa.

Que, segundo um autor, foi, afinal, “essa figura provisória” mas que se revelou bastante duradoura, “constituída por um poder conservador que governa em nome dos valores revolucionários”. Esse autor referia-se à França dessa época. Mas eu não creio que se deva restringir tanto.

Foi a Terceira República que chegou ao seu termo com a ocupação da França pelas forças nazis.

Com essa ocupação a França ficou territorial e ideologicamente dividida. (Que a diferença ideológica nem foi assim tão acentuada).

O facto é que entre 1940 e 1947 a França teve uma República de Vichy (1940-1944), com o marechal Pétain como “Chefe de Estado”; uma França Livre (1940-1944), com o general de Gaulle como “Chefe da França Livre”; e o Comité Français de la Libération Nationale, liderado, durante dois ou três meses de 1943, pelo general Giraud, e depois, em parte de 1943 e em parte de 1944, pelo general de Gaulle.

Surge, entretanto, um Governo Provisório da República liderado por de Gaulle, desde a segunda metade de 1944 a Janeiro de 1946; por Félix Gouin entre Janeiro e Junho desse ano; por Georges Bidault, entre Junho e Novembro do mesmo ano; e por Léon Blum em Dezembro de 1946 e Janeiro de 1947.

Uma nova constituição, porém, é aprovada. E com o início da sua vigência inicia-se também a Quarta República, com Vincent Auriol na presidência, de 1947 a 1954.

A causa próxima da derrocada da Quarta República foi a guerrilha argelina. De Gaulle, então, aproveitou-se do poder e influência que tinha, em proveito próprio, conquistando, de novo, a presidência da França, com a aprovação popular, em Janeiro de 1959, aos 68 anos (feitos em Novembro anterior).

E foi com o regresso de de Gaulle, e com uma nova Constituição, que se iniciou a Quinta República, a actual.

Posto isto, e depois deste zoom àquela época e seguintes, prossigamos, sempre em síntese.

Foi com Pétain e com o regime nacionalista de Vichy

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que a história

também regista como

governo fantoche instalado na França pelos nazis

durante a ocupação

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que o lema nacional da França, trazido das palavras de ordem da revolução, “Liberté, Egalité, Fraternité”, é substituído por "Travail, Famille, Patrie".

Pétain, cuja presença a extrema direita francesa reclamava desde 1936 – “nós precisamos é de Pétain, era o grito de guerra deles – logo criou a milícia de Vichy e nomeou um oficial das SS para seu chefe, Joseph Darnand. À milícia cabia a missão de suprimir a resistência francesa e os maquis (grupo de resistência organizado) e ainda a de fazer promulgar as leis raciais alemãs.

O regime de Vichy (a França de Pétain) parecia gémeo do Estado Novo português: antidemocrático, antiparlamentar e anticomunista. E também era anti-semita.

A partir desta altura coexistiram três Franças: a de Pétain, apoiada pelos alemães, a de Giraud, com o apoio dos americanos, e a de de Gaulle, que tinha o apoio da Inglaterra e dos sectores esquerdistas e antiamericanos da resistência.

Daí que, por exemplo em Portugal, coexistissem três delegações da França, correspondentes a cada uma daquelas. Claro que, qualquer delas, reclamando-se de única e legítima representante do seu país. Certo que só a de Pétain era reconhecida, mas as outras não tinham qualquer dificuldade em se movimentarem, tão poderosos eram os respectivos padrinhos.

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O representante de Lisboa

junto de Vichy

era na altura Caeiro da Matta,

administrador do Banco de Portugal,

jurista e diplomata com larga experiência.

Nenhum dos principais processos (...)

sob Pétain e Laval pode ter-lhe passado despercebido (...)

Os olhos e os ouvidos de Salazar em Vichy são dos mais apurados.

(lê-se num site do JN).

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Segundo alguns autores, é também na organização da resistência francesa – movimento “França Livre” incluído - que reside a vitória dos aliados.

Os desastres sucederam-se e a França atravessa a fase mais negra e angustiosa da sua história. Após o desastre total, Pétain entrega-se às autoridades francesas. Estávamos em 1945 – Pétain tinha 89 anos.

O herói da Primeira Guerra Mundial é acusado pelo Tribunal de Guerra de colaboracionismo e alta-traição.

Aberta a audiência e chamado o réu, Pétain entra impecavelmente fardado e de luvas brancas, e, com voz rouca, lê a seguinte declaração: "Um marechal francês jamais pede perdão. Só Deus e as próximas gerações poderão julgar. Isso basta à minha consciência e à minha honra. Deposito toda a minha confiança na França."

Era o dia 14 de Agosto de 1945, iniciara-se a última audiência. Às quatro da manhã do dia seguinte, os jurados pronunciam o seu veredicto: "O tribunal condena o marechal Philippe Pétain à morte, suspende seus direitos de cidadão e confisca seus bens." Porém, e um tanto paradoxalmente, os mesmos jurados expressam o desejo de que a sentença não seja executada.

Pétain ouve a leitura da sentença impassível.

De Gaulle, então, utilizando o seu direito de indulto, comuta a pena de morte em prisão perpétua.

Preso na prisão-fortaleza da ilha de Yeu, no golfo da Biscaia, Pétain aí morre em 23.07.1951, com 95 anos. Menos de um mês antes da sua morte, o governo permitiu-lhe que passasse a prisão domiciliária.

Foi banido da Legião de Honra (alta condecoração francesa destinada a recompensar méritos militares) e expulso da Academia Francesa, que, porém, não abriu vaga de sucessão.

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Foi há 63 anos (10.07.1943), num SB: decorria a II Guerra Mundial: forças aliadas desembarcam na Sicília (Operação Husky). Inicia-se a invasão da Itália e do continente europeu. Na Inglaterra reinava Jorge VI, da Casa de Windsor, pai de Isabel II, com Winston Churchill na chefia do governo. Nos EU era presidente (32º) Franklin Delano Roosevelt, do Partido Democrata. Em França decorria o regime de Vichy, a França de Pétain. Na Península Ibérica, nada de novo: em Espanha prosseguia, de pedra e cal, o franquismo, enquanto que em Portugal, se mantinha o vértice da pirâmide do poder, com Salazar a liderar o regime e o governo; Carmona na presidência da República. No Vaticano prosseguia o seu pontificado Pio XII (260º).

O êxito contra as tropas nazis no norte da África levaram os EUA e a Inglaterra a estender os combates para a Europa. Era a Operação Husky. Um mês mais tarde, toda a Sicília estava nas mãos dos aliados.

O objectivo era abrir a região do Mar Mediterrâneo para a livre operação dos navios aliados, bem como a criação de bases aéreas mais próximas da Alemanha. Em Fevereiro de 1943, Churchill e o general americano Eisenhower decidiram que a Sicília seria conquistada com uma ofensiva maciça.

Para chegarem mais próximos da Sicília, os aliados foram tomando diversas posições.

No dia 3 de Julho, os aliados iniciaram um bombardeamento aéreo da Sicília. Na manhã de 9 de Julho, as frotas orientais e ocidentais reuniram-se ao sul de Malta, para rumarem à costa siciliana. Na madrugada de 10 de Julho começou a maior acção de desembarque marítimo de toda a história das guerras, até então – a Operação Husky.

A enorme força militar aproximou-se da costa siciliana na escuridão total. Meio milhão de soldados estavam prontos para a acção. Com a utilização de barcaças de desembarque e de veículos anfíbios, foram levados para terra o maior número possível de homens, bem como centenas de tanques de guerra e quase dois milhares de canhões.

Esgotados, os soldados italianos e alemães dormiam.

O desembarque na Sicília significou o fim do regime fascista na Itália. Já no dia 24 de Julho, Mussolini foi preso. E enquanto o novo governo negociava uma capitulação da Itália, sem informar os alemães, duas divisões britânicas atravessavam o Estreito de Messina, no dia 3 de Setembro: a invasão do continente europeu fora bem sucedida.

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Faz hoje 33 anos (1973), o que aconteceu numa TR: o jornal britânico “The Times” revela o massacre de Wiriyamu, em Moçambique, ocorrido a 16.12.1972, por comandos e forças da PIDE/DGS de Portugal. Em Portugal, ainda – e por pouco mais tempo – estava na presidência da República, no seu terceiro mandato (interrompido pelo 25 de Abril), o fidelíssimo (ao regime e ao falecido chefe) Américo Tomás, brilhante e simpática figura pública, orador de verbo fluente e arrebatador, principal matéria-prima do anedotário nacional. No governo, a Salazar, falecido a 27.07.1970, sucedeu, ainda que a contragosto de Tomás e dos ultras da direita portuguesa, Marcelo Caetano, que Kaúlza de Arriaga, e outros gurus do regime achavam demasiado liberal!!!

Numa história de Moçambique pode ler-se: “A FRELIMO consegue em 1972 passar o rio Zambeze e penetrar no sul do distrito de Tete. Contingentes das forças armadas portuguesas concretizam em Chawola, Wiriyamu e Juwau, três dos mais graves massacres ocorridos durante a guerra colonial. Em Wiriyamu (zona de Tete), foram assassinados 400 civis em 16 de Dezembro”. O que viria a ser confirmado, em Novembro de 1974, por uma Comissão de Inquérito Internacional anteriormente nomeada pela ONU.

Na roda internacional já era conhecido e comentado este massacre – o que, obviamente, era silenciado pelos media nacionais.

Em Portugal, como de há muito, só quem pudesse ter acesso aos meios de comunicação estrangeiros podia saber o que se passava nas colónias. E não só.

Daí que a visita do “perigoso” Marcelo Caetano a Londres (04.04.1973) tivesse sido aproveitada pela imprensa britânica para denunciar os massacres do colonialismo português.

Claro que para os jornalistas estrangeiros os números fornecidos por Kaúlza, ou pelo seu gabinete, eram menos expressivos. Para ele foram apenas mortos 63 indígenas, como se até aos 63 se pudesse pôr uma coroa de louros aos pides e aos soldados e a ele, Kaúlza, uma angélicas asas. A partir de 63 é que, sim, se poderia falar de crime, de genocídio, assassínio em massa, chacina...

O massacre de Wiriyamu, descrito no «The Times» pelo padre Hastings, pôs, por uma vez, a igreja (local, que não a hierarquia oficial, sublinhe-se) do lado dos fracos e dos perseguidos. E por isso foi contestada. O padre Hastings, para a sua denúncia, baseou-se em relatórios dos padres da Missão de S. Pedro, de Tete.

E de novo, no livro “Wiriyamu”, o padre Adrian Hastings descreve detalhadamente as posições de denúncia assumidas por diversos missionários e religiosos.

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Decorreram 15 anos, (10.07.1991), que foi numa QA: Boris Yeltsin torna-se o primeiro presidente russo eleito. Nos EU decorria o mandato do 41º presidente, George Herbert Walker Bush, do Partido Republicano. Em Inglaterra reinava Isabel II, e o governo era liderado por John Major, do Partido Conservador. Em França era presidente François Mitterrand, do Partido Socialista. Em Portugal, iniciara-se, em Janeiro, o segundo mandato presidencial de Mário Soares, e estava em exercício o XI Governo Constitucional, liderado por Cavaco Silva. No Vaticano prosseguia o longo pontificado de João Paulo II (264º).

Boris Nikoláievitch Iéltsin, nascido a 1 de Fevereiro de 1931, em Sverdlovsk, na Rússia, foi o primeiro Presidente da Rússia, após o fim da União Soviética. Iéltsin governou o país até 1999, liderando a fase transitória da URSS para a Rússia. O seu consulado foi marcado por grandes transformações económicas e políticas na Rússia e nos outros países que constituíam a ex-União Soviética, além dos conflitos separatistas na Tchetchénia, onde se situa o maior campo petrolífero da Rússia (hélas!) e que se tornaria república autónoma de direito próprio, em 1992 – o que não significa a consecução da paz.

Iéltsin sucedeu, digamos, a Mikhail Gorbachev. Em bom rigor Gorbachev foi, antes, o último presidente da URSS, com o qual se deu o fim do regime soviético. A Iéltsin sucedeu o actual presidente russo, Vladimir Putin.

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Aconteceu há 2 anos (10.07.2004), num SB: aos 74 anos morreu, em sua casa, em Lisboa, na madrugada dessa data, vítima de paragem cardíaca, Maria de Lurdes Pintasilgo. Decorria o 2º mandato presidencial de Jorge Sampaio. Prosseguia o longo pontificado do papa João Paulo II.

Maria de Lurdes Ruivo da Silva Matos Pintasilgo, engenheira químico-industrial, pelo IST, primeira-ministra no V Governo Constitucional, antiga embaixadora de Portugal na UNESCO (1975-1981), fundadora do Movimento para o Aprofundamento da Democracia (1986), candidata à presidência da República (1986), deputada no Parlamento Europeu, pelo PS (1986-1991), nasceu em Abrantes, a 17.01.1930 e foi a única mulher que, até hoje, desempenhou o cargo de primeiro-ministro em Portugal.

Publicou algumas obras referentes ao papel da Igreja na sociedade e à ascensão das mulheres na vida política e pública.

«Deve-se-lhe a coragem de ter rompido com um dos pilares socialmente mais enraizados do salazarismo: a identificação entre missão da Igreja e defesa do regime. E de ter aberto janelas de diálogo com o mundo da modernidade e do pluralismo que não se revia no conservadorismo bafiento e repressivo que reinava no país» nos tempos da sua juventude, escrevera José Manuel Pureza, do CES/Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, no Diário de Coimbra em 15 de Julho de 2004. Para, de seguida, acrescentar: «Não se fará seriamente registo histórico da mudança de mentalidades no Portugal do século XX sem colocar Maria de Lourdes Pintasilgo no centro dessa dinâmica de transformação cívica e cultural. Creio que, acima de tudo, ela encarnou o próprio arrojo do fenómeno nuclear da sua geração de católicos: o Concílio Vaticano II».

Porque aparece Maria de Lurdes Pintasilgo na chefia dum governo?

Mota Pinto (1936-1985), primeiro-ministro do IV Governo Constitucional, governo de iniciativa presidencial (Ramalho Eanes) pede a demissão.

(Governo de iniciativa presidencial

como o foram o anterior (III) do Engº Nobre da Costa

e o seguinte (V) da Engª Maria de Lurdes Pintasilgo,

experiências do general Ramalho Eanes que lhe valeram bastas críticas)

E pede a demissão na sequência das várias hemorragias que o PSD sofreu, por essa época, de quadros e militantes, para o que o partido encontrou como antídoto a constituição da AD (a Aliança Democrática, com o CDS e com o PPM), em Julho desse ano. Como Eanes constatou a impossibilidade de os partidos com assento parlamentar chegarem a um entendimento que permitisse a formação de um governo maioritário, dissolveu a AR e convocou eleições intercalares para 02.12.1979. E é nesta sequência que convida, em 31.07.1979, a Engª Maria de Lurdes Pintasilgo para formar o V Governo Constitucional. Logo, outro governo da sua iniciativa.

Governo que toma posse no dia 14 do mês seguinte e que vigorou até 03.01.1980. Governo a prazo, naturalmente, que cedeu o lugar ao VI Governo Constitucional, liderado por Sá Carneiro, dado que a AD saiu vitoriosa das eleições de Dezembro anterior.

Em 24.03.1981 é anunciada a exoneração de Maria de Lurdes Pintasilgo do cargo de representante de Portugal na UNESCO.

Maria de Lurdes Pintasilgo (Independente) é uma das candidatas às presidenciais de 26.01.1986, juntamente com Mário Soares (PS), Salgado Zenha (PS e PCP, depois da desistência de Ângelo Veloso) e Freitas do Amaral, apoiado pelo CDS e pelo PSD. Eleição que só foi resolvida numa segunda volta, no confronto de Mário Soares com Freitas do Amaral – os mais votados na 1ª volta – ganhando a presidência Mário Soares. Foi nestas presidenciais que se escolheu o primeiro Chefe de Estado civil, depois do 25 de Abril, assim como foi a primeira candidatura de uma mulher ao cargo.

Para melhor ser avaliada a personalidade e a acção da engª Maria de Lurdes Pintasilgo, deixo aqui o testemunho de mais quatro sensibilidades, depois de já ter deixado, mais acima, a de José Manuel Pureza do CES da UC.

"[...] cidadã notável, que serviu Portugal nos mais altos cargos e funções, sempre com grande talento, dedicação inexcedível e numa atitude permanentemente inovadora"

"Militante católica, intelectual universalista, mulher de reflexão e de acção, a sua palavra foi, muitas vezes, pioneira e abriu novos horizontes."(Nota emitida pela Presidência da República, em 10-07-2004, do Presidente Jorge Sampaio)

“O seu exemplo de generosidade e energia encheu de esperança uma parte significativa do país com a sua campanha presidencial em 1986”. (Comunicado do BE)

“A morte de Maria de Lurdes Pintasilgo ocorreu num momento sombrio da democracia portuguesa. No momento em que os interesses económicos e políticos dos poderosos confiscam a participação democrática antes que esta se vire contra eles; no momento em que os zeladores das instituições democráticas as esvaziam sob o pretexto de assegurar o seu regular funcionamento; no momento em que a violência da injustiça social, do desemprego, da pobreza, da destruição do serviço nacional de saúde entra na casa de milhões de portugueses enquanto uns milhares de compradores de decisões políticas enchem os bolsos de dividendos e fazem esgotar os bens de luxo no mercado; no momento em que um discurso político patético do mais alto magistrado da nação transmite uma mensagem de medíocre resignação, exigindo a continuação de políticas que os portugueses afirmaram democraticamente serem ruinosas e impedindo a ruptura com elas, por supor, obviamente, que, se a houver, será para pior; no momento, enfim, em que o poder tem sempre razão contra a razão dos que não têm poder”.

(Boaventura Sousa Santos, Visão 15.07.04)

“Maria de Lurdes Pintasilgo desempenhou com grande competência, honestidade e coerência com os seus princípios, as mais elevados cargos políticos, a nível nacional e internacional, deixando a marca indelével do acesso da mulher às mais altas responsabilidades políticas, quando desempenhou o cargo de Prmeiro-Ministro no V Governo Constitucional”. (Comunicado à Imprensa da CGTP/IN)

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