domingo, maio 06, 2007

DE PEQUENINO... S’ENSAIA A MENINA OU O MENINO














Uma sofisticada pistola-metralhadora







Inesperadamente. Até para mim.
Duas notas, acerca do post anterior, sobre o fim de semana da exemplar família americana.

Melhor: uma nota ligeira (um justo tributo) e um comentário. Comentário, não no sítio habitual dos comentários, porque se passou “ao postigo do quintal”.


1. A nota.

Só implicitamente ficou o meu agradecimento ao Jorge G pela sua preciosa colaboração em tornal colável, aqui, a história dos “américas” aos tiros.

Mas quero deixar esse agradecimento bem explícito: muito obrigado, Jorge, pela sua – apesar de muito ocupado – rapidíssima e eficaz colaboração. Sem ela eu não teria levado, do mesmo modo, o meu trabalho por diante. Trabalho de que já sinto saudades.

Obrigado, de novo, meu amigo.


2. O comentário. Ou antes, os comentários: o propriamente dito e o que o introduz.

Não foi, exactamente, um terramoto. Mas as reacções fizeram-se sentir.

Afinal... Estamos vivos!

A mim, confesso – e por certo a todos os que ultrapassaram a casa dos 50 – o que me surpreendeu foi a surpresa dos surpreendidos.
Poucos, na verdade, estes.

Mas há uma reacção que não posso deixar de revelar aqui.
“Tirada” a quente.
Uma explosão.
Que me arrasou e não deixará de impressionar alguns mais.
Modesta como é, vou retirar os elementos “definíveis” dessa amiga...

Pessoa com ideias muito arrumadas e que se exprime em muito bom português, vai ficar incomodada com gralhas e outras derrapagens que uma correria louca sobre o teclado, sem qualquer espécie de revisão, provoca.

Alguns vão reconhecê-la é, exactamente, pela gana que imprimiu ao texto, assim num repente! “Num lampejo”!


Abençoada.


Mulher de fibra!


E, então, foi assim, por mail (retirando os previamente, alguns entretantos e os finalmente):


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«Dos americanos sabia, dos seus fins de semana já conhecia. Deles nada já me surpreende. Centenas de filmes em que espreitamos a tacanhez, antigos ou modernos. Sobre famílias ou raptos ou índios ou FBIs. Sobre bailes de vaqueiros, comemorações de antigos estudantes de anos passados. Sobre coreias, vietnames que é assim que eles pensam, eles povo regurgitante de vaidade, coreias e viets, servem para fazer mais filmes, mais autocrítica, mais crítica. Vender, vender e facturar. Enormes cabeças com cérebros pesados, QI que rebetam escalas humanas, em Silicon Valley, em Harvard, na Pensilvânia, em Berkeley.

Nunca lá estive. Há 30 e tal anos (...) portuguesa casou com um oficial dos States, colocado em Espanha. Poucos anos a seguir, ele retirou-se. Mas todo este tempo, e já (... filhos) de 20 e muitos anos, deu para ver (...) por onde andam as modas. Sou atenta às notícias em geral mas também ao particular que circula entre (certas) pessoas (...). Um casal médio, típico, com enorme família da parte dele. (Ela) sempre estimou e cultivou o seu lado português, sempre trouxe os filhos aqui, sempre (passeando) pela história e tradição.

Mas ao longo deste tempo, em que já viveram em mais de meia dúzia de lugares e já descreveram uma centena de ambientes, deu para ver que não basta ser desempoeirado, na América. É preciso muita força interior e conhecimento para remar contra aquela maré de dollars a crédito e árvores cheias de luzinhas no Natal.

Portanto, mesmo que eles não tenham armas, os (...) que conheço, têm os Brians, e os Dicks, os da Califórnia ou do Maine, ou da Virgínia, ou North Carolina. É pior que uma religião, as armas. É o conceito de liberdade deles: eu tenho uma arma porque tu tens uma arma e o teu vizinho vai à caça com uma arma.

Lembro então as tais centenas de filmes, da lei seca, dos mafiosos, do jogo, dos cowboys, dos assassinos em série, dos ex-combatentes, dos condenados à morte, dos inocentes ou dos culpados, dos emigrantes, dos restaurantes, dos mexicanos, do muro de Berlim que eles tanto prezaram em deitar abaixo para erguer outros, na fronteira do México, em Israel. Por isso, lembro-me

dos actores presidentes

dos crápulas presidentes

dos gajos de bom físico

dos gajos de bom petróleo

dos gajos dos terrenos a valer milhões em troca de peanuts

dos gajos que matam pretos ou hispânicos

dos gajos do KKK

dos gajos que arranjaram um doido para fingir matar o presidente

dos gajos que não gostam de canções sobre a paz

....

Não esgotei, mas perdi agora a veia.

Isto é o que te digo em resposta a "malandrices" que circulam pela Internet e pelas as quais confesso tenho pouca curiosidade. Melhor transcrever "I have a dream", o discurso e a morte articulada de um pastor que já ninguém recorda.

Tenho o saco cheio. Literatura sempre, natureza sempre, Grand Canyon sempre, sequoias sempre, músicas /exposições/ posições de democratas do centro que ajudam a descentrar liberais/Brenda Lee e tantos cantores negros de blues e tocadores de jazz...

As auto-flagelações a que os americanos acorrem para pedir a compreensão ao mundo não me desvanecem nem um bocadinho. Quem, como eles, consegue comemorar o horror do começo duma guerra num país a milhares e milhares de km de distância, 4 anos de guerra no berço das civilizações? Entre o Tigre e o Eufrates? Quem tem o indecoroso e democrático gosto de ter bases fechadas à crítica e aos direitos humanos? Por tudo quanto é sítio, inclusive Europa?

Escrevi muita coisa em letra minúscula de propósito. Para eles, o supra-sumo da "democracia" e do "capitalismo", somos todos minúsculos. Em separado, somos nada. Uma peça do xadrez mundial que movem segundo seus planos tenebrosos. Num instante, põem um Carlucci qualquer a confraternizar com o Bispo de Braga ou o cónego Melo ou o Soares. E mais não digo que disse demais.

Ao correr da tecla. deu-me nervoso. E isto porque estou a falar contigo e não no blog, falo contigo como se conversasse com um amigo.

Luto aqui e agora por um mundo melhor. Começo (...), pelo homenzinho do quiosque, pelo empregado do restaurante que diz que "não havia de haver tanta liberdade" e a quem respondi "tem sorte em estar vivo com essa idade: há quem tenha ficado com os ossos em Africa...".

Ai não me puxem pelas penas que de repente sou uma águia e voo em lonjuras.

Ai não me prendam que se eu vejo um soldado americano a chorar lágrimas de crocodilo só me apetece dar-lhe bofetadas iguais às que deu à moirama. Digo moirama, a brincar, lembrei-me das nossas conquistas de outros tempos...

Ai não me falem em meninos de escola que me lembro logo das escolas que eles já destruíram, fora do território deles. Serpentes que criam serpentes no seu seio.

Não me falem em ir à Lua ou a Marte ou ao espaço: mais depressa vão eles fazer uma aliança com os cartéis de droga ou com os ditadores para chegar mais perto dos seu objectivos.

Ai não me fales deles nem delas.

Mando-te um abraço, espantada comigo por me ter dado para te responder, sem método mas com gana

...e tanto por dizer.

Fica bem, até depois! Boa noite, já tens um fascículo de romance neo-realista para a noite!»

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Já podem voltar a respirar...

Por ora, acho que vamos ficar por aqui...

4 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Deu para ler sem respirar, de facto!

Grande mulher, diz bem o José Luís, grande pessoa!

aminhapele disse...

UM GRANDE GRITO COM A CABEÇA!!!
É para isso que estamos aqui.
Um abraço.

Meg disse...

Quem tem a razão tem a força.
È um daqueles gritos que vêm do mais profundo da alma, com o desespero da indignação e da cobardia e das mesuras perante actos duma gravidade sem limites.
Bem haja!

Manuel da Mata disse...

Viva,

Cheguei aqui pela mão amiga do Zé Ribeiro.
Li o primeiro texto e gostei. Lembrei-me do poema "UIVO" do Ginsberg.
Eu não falo inglês, porque penso que é a língua dos dominados e desgosto quase sistematicamente de tudo o que é americano.
Nomeadamente do que exportam mais:violência e iniquidade.
Bom fim-de-semana.

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