Hoje, trago de novo o José Ricardo.
E a sua crónica de opinião, na edição de SX 27ABR último, do Jornal Torrejano (online): O PS
O filósofo-cronista continua no seu melhor.
Começa de mansinho, sempre calmo.
Vai conversando connosco, metendo, até, buchas do quotidiano
(“O Benfica do engenheiro pode ganhar jogos.
Mas não é o Benfica de outros tempos”)
Sempre sereno.
Pedagógico. (Habituado que está a ensinar filosofia a adolescentes).
Mas vai melhorando os temperos.
E num crescendo de doses mais refinadas
(“Um PS que não queria para Portugal
uma Bulgária ibérica nem um casino capitalista”)
[aí, duma banda e doutra, há quem torça o nariz.
Outros, assobiam para o lado]
E o ritmo acelera, o veneno acumula-se, as palavras ecoam, em cavalgada, sem arrebiques, pesadas, em dose letal
(“O PS do sr. Pinto de Sousa,
sendo um produto do mais elaborado marketing político,
é alimentado por uma espécie de ranho viscoso e cor-de-rosa,
saído das narinas fedorentas dos inúmeros Pina Mouras e Armandos Varas que, como no Aliens, infectam o partido
a partir das suas entranhas.”)
E logo depois, numa reviravolta táctica, com um apuradíssimo sentido do mais corrosivo humor, deixa o indivíduo ko, no meio do ringue, contorcendo-se, e salta para as cordas anunciando à plateia
“Eu não estou a dizer que o PS é um partido de ranhosos.
Bem pelo contrário. O PS é um partido com muita gente
que precisa de estar limpa e bem assoada
para poder arranjar bons empregos.”
[pior a emenda que o soneto]
E como se não bastasse, atravessa o palco, trepa às cordas do outro lado e proclama
“Mas este PS grande já não é um grande PS
à procura de si mesmo para poder servir um país à sua espera. Dentro do PS é que estão muitos à espera de alguma coisa.”
O combate está mais que definido. Mesmo assim, impiedoso, avança para um dos cantos para confirmar
“Claro que Armando Vara e Pina Moura não são monstros
criados pelo beatíssimo e pastoso Guterres.
Eles sempre existiram.”
E, num repente, sem perder o folego, vai ao canto oposto largar outra bomba
“O PS de Mário Soares estava cheio deles [barões e viscondes].
Sempre, de lenço na mão, com passinhos leves sobre as fofas alcatifas dos corredores que conduzem aos gabinetes.
Eles sempre existiram.
Só que, na altura, o PS era maior do que eles”.
E, não satisfeito ainda, vai ao centro, levanta os braços, roda e conclui
“Há os que gostam “do sr. Pinto de Sousa e [a quem] não choca
a ideia de ver o país governado por um elegante engenheiro
com espírito de construtor civil.”
Foi demais – haverá quem pense.
Cuido que não.
(O que o José Ricardo me fez lembrar o Almada, nesta peça!...)
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