quarta-feira, março 21, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Sumário:

- Proclamação da República Socialista Federada Soviética da Rússia, há 88 anos (tópico)

- Foi há 74 anos: abertura oficial da primeira sessão do Parlamento Nazi (tópico)

Em Portugal... Ora em Portugal a procissão estava quase a chegar ao adro...

- Em Sharpeville, África do Sul, uma marcha pacífica de alguns milhares de corajosos negros contra as leis do “passe” neste país, para uso constante e obrigatório da população não europeia, acaba em massacre – foi há 47 anos.

Em Portugal, o regime estava, ainda, de pedra e cal, com Salazar...

- Aconteceu há 44 anos: encerramento da lendária prisão de Alacatraz.

Em Portugal, mantinha-se, feroz, a ditadura de Salazar, desde quase há...

- Aconteceu há 39 anos: Salazar decreta a deportação de Mário Soares para a ilha de S. Tomé. (tópico)

Salazar tinha um prémio mais generoso e apetecível para quem...

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Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:

. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)

. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)

. ano 4703/4704 do calendário chinês

. ano 5767/5768 do calendário hebraico

DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2007 Ano Internacional da Heliofísica

Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

Dia Mundial da Árvore.

Dia Mundial da Poesia.

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Foi na SX 21.03.1919, há 88 anos: é proclamada a República Socialista Federada Soviética da Rússia.

Liderava, nessa altura, o país, Lenine – de seu nome Vladimir Ilitch Ulianov.

Nos EU, liderava o Estado e o governo, o 28º presidente, Thomas Woodrow Wilson, do partido Democrata.

Em Inglaterra reinava Jorge V, avô de Isabel II, e o governo era liderado por David Lloyd George, do partido Liberal.

Em Portugal, a República ensaiava os primeiros passos, com Canto e Castro, do partido Nacional Republicano, na PR.

(tópico)

Há 74 anos, na TR 21.03.1933, na Alemanha, dá-se a abertura oficial da primeira sessão do Parlamento Nazi.

Presidente da Alemanha (último da República de Weimar) era Paul von Hindenburg. A 30 de Janeiro de 1933, Adolfo Hitler prestou juramento oficial como Chanceler.

Em Portugal... Ora em Portugal a procissão estava quase a chegar ao adro: Salazar já detinha as guias do poder e colocava na penumbra o chefe de Estado, o vitalício Carmona.

A Constituição de 1933 - promulgada no anterior dia 22 de Fevereiro e aprovada em referendo dias antes, a 19 Março – era a cereja sobre o bolo do regime da Ditadura.

(tópico)




Completam-se hoje 47 anos - foi na SG 21.03.1960: em Sharpeville, África do Sul, uma marcha pacífica de alguns milhares de corajosos negros contra as leis do “passe” neste país, para uso constante e obrigatório da população não europeia, acaba em massacre: 69 pessoas negras são mortas quando a polícia dispara contra os manifestantes, ficando feridas quase duas centenas.

«A União da África do Sul era, na época, um Reino da Commonwealth, segundo o qual a Rainha Isabel II detinha o título de "Rainha da África do Sul" (...) O Governador-geral da União da África do Sul era o representante da Monarquia britânica» (Wikipédia). Era, então, governador-geral (e foi o último; no ano seguinte foi proclamada a República) Charles Roberts Swart.

Em Portugal, o regime estava, ainda, de pedra e cal, com Salazar no comando das “operações” e com Tomás simulando ser o supremo magistrado da Nação.

Pontificava, no Vaticano, o papa João XXIII (261º).

Sharpeville é uma pequena cidade da África do Sul, quase tão só um bairro negro, construído pelo governo do país da época do apartheid. Fica localizado no sul da província de que é capital Joanesburgo, a cerca de 80 quilómetros desta cidade. Na data que hoje se comemora, ocorreu, nessa localidade, o chamado Massacre de Sharpeville, quando a polícia, à boa maneira dum regime autoritário, abriu fogo, com rajadas de metralhadora, sobre civis negros que protestavam, pacificamente, contra as leis do “passe” (também – e curiosamente – lhe chamavam “lei do passaporte”) que eles consideravam discriminatórias.

Esse passe era algo do género de um (nada) livre-trânsito – aliás, tratava-se de um documento de trânsito condicionadíssimo, só aplicável à população não-branca (logo: negros, mestiços e asiáticos), e que eles eram obrigados a trazer sempre consigo. A transgressão das regras desse instrumento legal era cominada por pesada pena, pois que era considerada crime.

Tal lei restringia à população não-branca o acesso a determinadas áreas e transportes.


Sul-africano mostra seu “passe”
emitido pelo governo

Foi o despertar da opinião pública mundial para a magna questão do Apartheid, e, anos depois, no dia 21 de Novembro de 1969, a ONU instituiu o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que passou a ser comemorado a 21 de Março, a partir do ano seguinte.

Enquanto, em tal âmbito, aqui e acolá se iam sentindo alguns sinais de abrandamento – dias depois, em 28 de Março de 1960, o Vaticano - João XXIII (261º) - nomeava o primeiro cardeal negro -, na África do Sul, a despótica e inumana minoria branca, através dos seus agentes, ia humilhando todos os que não fossem brancos e trucidando a população negra.

O ANC (Congresso Nacional Africano, formado em Bloemfontein em 1912) e o PAC (Congresso Pan-Africano) são proibidos de qualquer acção em 1961 e em 1963 Mandela é condenado a prisão perpétua (prisioneiro número 466/64 da prisão de Pollsmoor, nos arredores da cidade do Cabo).

Já sob o regime do apartheid, em 1955, o povo de Sophiatown, nos subúrbios de Joanesburgo - três milhões de negros - é forçado a deixar as suas casas, para dar lugar a brancos, de acordo com a lei que separava as áreas de habitação de negros e brancos. Em nome de uma suposta supremacia branca, à boa maneira nazi.

Era o tempo de empregos só para brancos e da proibição de representação parlamentar dos não-brancos.

A discriminação verificava-se em toda a parte: nos parques e jardins públicos, nos transportes colectivos, nos sanitários públicos, nas gares de caminhos de ferro...

Não me contaram nem li: vi. Presenciei.

Nos primórdios dos idos de 70.

Aconteceu-me, mesmo, um dia (era uma tarde solheirenta), em Joanesburgo, numa larga e enorme avenida, cerca das 5 da tarde (a rua inundada de carros, os passeios, de gente), que fui assaltado à mão armada (arma branca) por três ou quatro indivíduos. (Só levaram dinheiro: nem relógio, nem isqueiro – dos bons – nem aliança... Nada mais.)

(Embora de braços levantados, claro que ninguém olhou para mim ou ligou a menor importância ao que acontecia)

As pessoas – lá, como cá – ao saberem do acontecido perguntavam-me: “assaltado por quem” (que etnia)? – claro que, a generalidade, querendo confirmar a ignomínia, o desaforo, o banditismo – em suma: o acerto das medidas locais no respeitante à repressão da população negra.

Eu respondia, invariavelmente: “Ora... A população branca, em geral, não tem necessidade de lançar mãos destes meios para sobreviver!...






foto WIKIPÉDIAIlha e prisão de Alcatraz


Foi há 44 anos, na QI 21.03.1963: encerramento da prisão de Alcatraz, prisão de segurança máxima na baía de São Francisco, nos EUA.

Decorria, então, o mandato do 35º presidente dos EU, John Fitzgerald Kennedy, do partido Democrata (que seria assassinado, em Dallas, oito meses e um dia depois).

Em Portugal, mantinha-se, feroz, a ditadura de Salazar, desde quase há 38 anos; e manter-se-ia por mais 11, contando com o período da “evolução na continuidade” marcelista. Figura de corpo presente, em Belém, era o almirante Américo Tomás (“almirante de água doce” - todos referiam - por nunca ter navegado para além do “mar da palha”), exímio corta-fitas, figura simpática, de contagiante boa disposição e dotado de particular dom da palavra, cujos brilhantes e arrebatados improvisos, que os anais da História registam (vejam-se muitas das colunas de “factos e documentos” da “Seara Nova”, da época) faziam as delícias dos indígenas.

Em Roma pontificava João XXIII (261º), mas já perto do seu termo.

Voltando ao sério.

A ilha está situada no meio da baía de S. Francisco, Califórnia, a escassas centenas de metros da cidade.

Desde há 44 anos que não passa de uma atracção turística, atendendo ao seu passado.

Inicialmente, a fortaleza foi uma prisão militar, de 1850 (ou 1886?) a 1934, antes de se ter tornado numa penitenciária federal, em prisão de alta segurança, durante 29 anos.

Nela estiveram detidos numerosos e sonantes nomes do mundo do crime, como Al Capone, «Birdman of Alcatraz», (um prisioneiro que utilizou o seu tempo na solitária para se tornar uma autoridade em pássaros de gaiola), Robert Franklin Stroud, Alvin Karpis, Frank Morris, e os irmãos John e Clarence Anglin.

A própria natureza se associou às implementadas medidas de segurança da prisão: a sua localização, um sistema de marés e correntes muito perigosas, e as suas águas geladas. Algumas destas características eram complementadas com medidas particularmente adequadas. Assim: as refeições eram fartas, muito bem confeccionadas e programadas para um período de tempo meramente suficiente (o que implicava digestões mais difíceis e garantia um maior silêncio, no seu decurso, pelo que raros eram os contactos entre os detidos – logo, a conjectura e preparação de eventuais planos de fuga). Além disso, o ambiente era bastante aquecido e para o banho diário matinal era fornecida água bem quente – o que, tudo, era desmotivador para a hipótese de enfrentar as gélidas águas da baía.

As célebres celas de segredo, absolutamente escuras, à prova de som e de reduzidíssima área, quando usadas tinham um efeito extraordinário no decurso do tempo. Experimentei. “Estive lá, seguramente, entre um quarto de hora e vinte minutos, pelo menos...” – afirmei (perguntando) à saída: não estivera mais que escassos três minutos. Impressionante.

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A prisão acarretava um orçamento muito dispendioso.

Certo que durante os seus 29 anos de existência, nunca registou fugas bem sucedidas. Em todas as tentativas levadas por diante, os fugitivos eram mortos ou morriam enregelados e afogados.

Três fugitivos – os já aludidos Frank Morris e irmãos John e Clarence Anglin - desapareceram das suas celas em 11 de Junho de 1962. Porém, constam como desaparecidos e, o mais provável, afogados.

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Em 1979 foi realizado um filme sobre essa fuga,

com Clint Eastwood (Frank Morris),

chamado Escape From Alcatraz,

dirigido por Don Siegel –

que, aliás, assinou este filme como

Donald Siegel (1912-1991)

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Mas porque era muito dispendiosa e porque já não garantia total segurança em relação às mais modernas, a prisão foi encerrada em 21.03.1963, e convertida em atracção turística (uma espécie de museu).

Completam-se 39 anos – foi na QI 21.03.1968: Salazar decreta a deportação de Mário Soares para a ilha de S. Tomé.

O ditador estava quase a cair. Mas o regime ainda duraria mais uma meia dúzia de anos.

Salazar tinha um prémio mais generoso e apetecível para quem, realmente, o incomodava.

S. Tomé, ao pé do Tarrafal, era um paraíso dourado.

(tópico)

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