quarta-feira, agosto 17, 2005

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


2005/2015 - Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.

2005 - Ano Internacional do Microcrédito. Ano Internacional da Física (aprovado pela UNESCO).

Dia Nacional da Indonésia.

Dia Nacional do Gabão.

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Completam-se hoje 295 anos (1710), foi num DM: morreu o padre Manuel Bernardes. Reinava D. João V (24º). Pontificava Clemente XI (243º).

Manuel Bernardes nasceu em 1644.

Em 1674 entrou para a Congregação do Oratório, no Convento do Espírito Santo, em Lisboa. Aí viveu durante 36 anos, dedicado à oração e à composição das suas obras, através das quais procurava exercer uma acção moralizante, usando a crítica de costumes e o apelo à emoção mais do que o desenvolvimento intelectual da doutrinação. Transparece nos seus escritos um espírito crédulo e pacífico, capaz de transmitir a espiritualidade da vida contemplativa num estilo literário simples e elegante, em plena época do barroco. Entre as suas obras principais contam-se Exercícios Espirituais e Meditações (1686), Luz e Calor (1696), Os Últimos Fins do Homem (1706-1728) e Sermões e Práticas (1711-1733).

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Completam-se hoje 265 anos (1740), foi numa QA: é eleito o papa Bento XIV (247º). Reinava, em Portugal, D. João V (24º)

Em 06FEV1740 morre Clemente XII, que concedeu privilégios à coroa portuguesa e ao patriarcado de Lisboa, “depois das muitas indulgências compradas por D. João V”. Sucede-lhe Bento XIV/Benedito XIV (recordo que, muitas vezes, os papas Bento eram igualmente conhecidos por Beneditto), Próspero Lambertini, que era bolonhês e foi um dos maiores pontífices que governaram a Igreja, o papa característico do século XVIII, afável, tolerante, inimigo das superstições, piedoso, sábio, amante da paz. Foi ele que concedeu a D. João V e seus sucessores o título de fidelíssimo (1748). O seu pontificado prolongou-se por quase 18 anos).

Antes houvera outro Bento XIV: após a eleição do antipapa Clemente VIII (GIL/Egidius/Egídio Muñoz) que "sucedeu" a Bento XIII (Pedro de Luna), "... restava ainda outro pretendente. Quando Muñoz foi eleito, um dos pseudo-cardeais, o francês Jean Carrière, com despeito de não ter sido ele o escolhido, elegeu com os seus aderentes outro papa, que se chamou Bento XIV e porfiou nos seus supostos direitos por mais alguns anos do que o protegido do rei de Aragão. Afinal desapareceu de todo sem deixar vestígios na história" (Gama Barros, Hist., t II, p 141).

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Foi há 219 anos (1786), era uma QI: morreu Frederico II, rei da Prússia. Em Portugal reinava D. Maria I (26º). Pontioficava Pio VI (250º).
Frederico II (o Grande) nasceu em 1711.

Rei da Prússia a partir de 1740, altura em que sucedeu a seu pai Frederico Guilherme I. Assim que subiu ao trono atacou a Áustria (Guerra da Sucessão austríaca). Durante o período de paz, em 1745, conquistou a Silésia. A luta voltou a reacender-se com a Guerra dos Sete anos (1756-1763). Apesar de ter recebido auxílio por parte da Grã-Bretanha, Frederico enfrentou bastantes dificuldades para conseguir conter os austríacos e os seus aliados russos. A forma astuciosa como o fez demonstra ter sido um dos melhores soldados de toda a história. Aquando da primeira divisão da Polónia (1772), conseguiu assenhorar-se do leste da Prússia, mantendo-o como o principal estado da Alemanha. Ao nível da política interna, foi um governante eficiente e justo, bem ao espírito do iluminismo, estimulou a indústria e a agricultura, reformou o sistema judicial, impulsionou a educação e estabeleceu a tolerância religiosa. Correspondia-se com o escritor francês Voltaire, sendo um músico talentoso e um patrono das artes. Em Agosto de 1991, e de acordo com o desejo que havia expresso em vida, os seus restos mortais foram enterrados numa simples campa rasa no seu local favorito, o palácio Sans Souci, em Potsdam.

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Aconteceu há 197 anos (1808), era uma QA: batalha de Roliça. Presidia à regência do reimo D. João (VI). Pontificava Pio VII (251º).

Batalha ocorrida durante Guerra Peninsular e em que as forças portuguesas e inglesas, sob o

comando de Wellesley, bateram as francesas, sob o comando do marechal Delaborde. Roliça é uma localidade do concelho de Bombarral.

Quatro dias depois dar-se-ia a batalha do Vimeiro.

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Completam-se hoje 155 anos (1850), era um SB: morreu, em Paris, Honoré de Balzac, escritor francês. Reinava, em Portugal, D. Maria II (30º). Pontificava, em Roma, Pio IX (255º).
Balzac nasceu em Tours em 1799. Foi um dos maiores romancistas do século XIX. O seu primeiro sucesso foi Les Chouans (1829), inspirado por Walter Scott. Este foi o primeiro de uma longa série de romances de La Comédie Humaine/A Comédia Humana, que inclui Eugénie Grandet (1833), Le Pére Goriot (1834) e Cousine Bette (1846). Escreveu ainda os rabelaisianos Contes Drolatiques (1833).

Balzac estudou direito e trabalhou como funcionário num notário em Paris antes de se dedicar à literatura. Entre as suas primeiras tentativas literárias incluíam-se tragédias como Cromwell(1819) e romances publicados sob pseudónimo, que não obtiveram grande sucesso. Um empreendimento na área da tipografia e da edição, entre 1825 e 1828, envolveu-o numa teia de dívidas que se prolongou por toda a vida. A obra de Balzac é influenciada pelo contexto histórico em que ele viveu: a queda do Antigo Regime e a Revolução Francesa (1789). A publicação do romance Scènes de la Vie Privée aumenta a sua reputação de escritor. Madame de Berny, a sua benfeitora, torna-se uma das personagens de Le Lys dans la Vallée/O Lírio no Vale (1836). Balzac pretendia que a sua mais importante obra La Comédie Humaine/A Comédia Humana fosse composta por 143 volumes (dos quais completou 80), descrevendo cada aspecto da vida da sociedade francesa no século XIX.

Os títulos e as personagens incluem Cousin Pons (1847); o médico de Le Médicin de la Campagne (1833); o grande homem de negócios de La Maison de Nucingen (1838), e o clérigo de Le Curé de Village (1839). O escritor era um excelente observador das características das várias camadas sociais e ansiava tornar-se numa figura de destaque da «cidade das luzes». Teve uma vida amorosa bastante conturbada que era, simultaneamente, uma forma de descontracção pelas muitas horas que dedicava diariamente ao trabalho. Vestido com uma larga toga branca e sempre acompanhado pelo café, um vício irresistível, passava entre 14 a 16 horas do seu dia a escrever com uma pena de ganso. Criou, assim, a sua «imagem de marca». Balzac manteve correspondência permanente com a condessa polaca Evelina Hanska depois de a conhecer em 1833, tendo-se ambos casado quatro meses antes de Balzac morrer em Paris, onde está sepultado no cemitério Pére Lachaise. (BU)

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Aconteceu há 129 anos (1876), foi numa QI: em Bayreuth, na Alemanha, primeira representação da ópera de Wagner O Crepúsculo dos Deuses. Em Portugal reinava D. Luís (32º). No Vaticano ainda pontificava Pio IX.
Richard Wagner nasceu em 22 de Maio de 1813 em Leipzig, na Saxônia, leste da Alemanha.

Desde pequeno interessou-se por teatro, música e literatura. Decidiu-se pelo estudo da música, mas o teatro e a literatura acompanharam-no em toda a sua obra.

Começou a estudar música aos 11 anos. Não chegou a ser um virtuose, mas tornou-se um grande compositor e maestro, escrevendo inclusive os libretos de suas óperas.

Era autodidata. Aos treze anos, em suas horas de ócio, traduziu os doze primeiros volumes da Odisséia. Lia Shakespeare em traduções alemãs e conhecia, de cor, a ópera de Weber, Der Freischütz. Estudou também a obra de Beethoven.

Interessou-se pela filosofia romântica. Era leitor assíduo de Schopenhauer.

A sua primeira ópera, As Fadas, só foi apresentada ao público após a sua morte.

Revolucionou a concepção de ópera no século XIX, tornando-a numa forma de arte completamente nova em que os elementos musicais, poéticos e cénicos se unificam pelo uso do leitmotif (em música, é um tema ou motivo recorrente usado para ilustrar uma personagem ou uma ideia). O leitmotiv, que ele tanto utilizou, foi usado pela primeira vez na ópera Lohengrin em 1848, seu primeiro drama musical.

Em 1848 começou a compor o ciclo O Anel dos Nibelungos e só concluiu em 1874, um projeto grandioso com 18 horas de música e composto por quatro óperas interligadas: O Ouro do Reno, As Valquírias, a obra mais forte de Wagner do ponto de vista dramático, Siegfried e Crepúsculo dos Deuses.

O enredo, em síntese, é o seguinte: há vários deuses, gnomos, e o anel cuja posse garante poder sobre todo o mundo. Feito do ouro que foi roubado do Rio Reno pelo anão Alberich, o nibelungo do título, quando as donzelas do Reno, suas guardiãs, se distraíram, este anel percorre o ciclo até a última ópera, O Crepúsculo dos Deuses.

Lá, no alto da "Colina Verde", construiu o TEATRO BAYREUTH exclusivamente para apresentar suas obras. Seguiu o modelo do teatro grego, concebido para unificar gestos, luz, cenário, figurino e música. Em suas montagens, a orquestra permanecia invisível para o público, transformando a cena numa emanação da música e criando um clima mágico com fortes efeitos cênicos.

O "Templo da Arte Erudita" contou com a ajuda financeira de Ludwig II, do Kaiser Guilherme, de inúmeras "sociedades Wagner" e inclusive de D. Pedro II, que o admirava e era um mecenas da arte, um dos mais cultos e eruditos monarcas de seu tempo.

Certa vez Wagner mandou para D.Pedro II uma carta, um livro e algumas obras. Foi então por ele convidado para ir ao Brasil, mas a viagem não se concretizou.

O Teatro Bayreuth vem sendo administrado até hoje pelos descendentes de Wagner.

Morre em Veneza, no auge da fama, em 13 de Fevereiro de 1883. Foi sepultado em sua casa em Bayreuth, num túmulo por ele mesmo preparado.

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Completam-se hoje 110 anos (1895), foi num SB: nasceu António Joaquim Tavares Ferro, político e jornalista português. Reinava D. Carlos (33º). Pontificava Leão XIII (256º).
António Ferro foi editor da revista Orpheu (1915), ligada ao primeiro movimento modernista português, com o qual teve uma certa proximidade enveredando, a partir de 1919, pela carreira jornalística. Trabalhou em vários jornais (O Jornal, O Século, Diário de Notícias), dirigiu a Ilustração Portuguesa e fundou outra revista, Panorama.

A sua figura foi das mais importantes na vida cultural portuguesa da época. Nomeado, em 1933, director do Secretariado da Propaganda Nacional (Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo, a partir de 1944), esteve ligado às áreas do espectáculo, jornalismo, turismo e às actividades culturais em geral. Foi comissário-geral das exposições internacionais de Paris (1935) e de Nova Iorque (1938), fundador do Museu de Arte Popular, do Grupo de Bailado Verde Gaio e presidente da Emissora Nacional (1941). A partir de 1950, foi ministro de Portugal na Suíça e em Itália.

As entrevistas que fez a Salazar, publicadas em 1933, e que o catapultaram para o primeiro plano da vida política nacional, foram a sua obra de maior êxito, logo seguida do volume D. Manuel II, o Desventurado (1954).

Morreu em 1956.

É da sua autoria o

O Decálogo do Estado Novo

Estado Novo foi a designação utilizada pelos partidários do regime político saído do golpe militar de 28 de Maio de 1926, para denominar o próprio regime. Formalmente instituído com a aprovação da Constituição de 1933, este regime iria governar o país durante 48 longos anos, até 25 de Abril de 1974, inaugurando, entre nós e à semelhança de outros regimes autoritários europeus, uma bem organizada máquina de propaganda, essencial à consolidação doutrinária e divulgação das políticas governamentais.

Datado de 1934, este documento, da responsabilidade de António Ferro, sintetiza os princípios basilares do regime. António Ferro, jornalista e político, seria uma das personagens centrais da propaganda do novo regime, nomeadamente durante o período (1933-1950) em que assumiu a chefia do SNI - Secretariado Nacional de Informação.

Grafia, sublinhados e destacados de acordo com o documento original.

1. "O ESTADO NOVO representa o acôrdo e a síntese de tudo o que é permanente e de tudo o que é novo, das tradições vivas da Pátria e dos seus impulsos mais avançados. Representa, numa palavra, a VANGUARDA moral, social política.

2. O ESTADO NOVO é a garantia da independência e unidade da Nação, do equilíbrio de todos os seus valores orgânicos, da fecunda aliança de tôdas as suas energias criadoras.

3. O ESTADO NOVO não se subordina a nenhuma classe. Subordina, porém, tôdas as classes á suprema harmonia do interêsse Nacional.

4. O ESTADO NOVO repudia as velhas fórmulas: Autoridade sem liberdade, Liberdade sem Autoridade e substitui-as por esta: Autoridade e liberdades.

5. No ESTADO NOVO o indivíduo existe, socialmente, como fazendo parte dos grupos naturais (famílias), profissionais (corporações), territoriais (municípios ) e é nessa qualidade que lhe são reconhecidos todos os necessários direitos. Para o ESTADO NOVO, não há direitos abstractos do Homem, há direitos concretos dos homens.

6. "Não há Estado Forte onde o Poder Executivo o não é". O Parlamentarismo subordinava o Govêrno à tirania da assembleia política, através da ditadura irresponsável e tumultuária dos partidos. O ESTADO NOVO garante a existência do Estado Forte, pela segurança, independência e continuidade da chefia do Estado e do Govêrno.

7. Dentro do ESTADO NOVO, a representação nacional não é de ficções ou de grupos efémeros. É dos elementos reais e permanentes da vida nacional: famílias, municípios, associações, corporações, etc.

8.Todos os portugueses, têm direito a uma vida livre e digna - mas deve ser atendida, antes de mais nada, em conjunto, o direito de Portugal à mesma vida livre e digna. O bem geral suplanta - e contém - o bem individual. Salazar disse: Temos obrigação de sacrificar tudo por todos: não devemos sacrificar-nos todos por alguns.

9. O ESTADO NOVO quere reintegrar Portugal na sua grandeza histórica, na plenitude da sua civilização universalista de vasto império. Quere voltar a fazer de Portugal uma das maiores potências espirituais do mundo..

10. Os inimigos do ESTADO NOVO são inimigos da Nação. Ao serviço da Nação - isto é: da ordem, do interêsse comum e da justiça para todos - pode e deve ser usada a fôrça, que realiza, neste caso, a legítima defesa da Pátria.".

Fonte: Extraído de Fac-Símile de cartaz publicado no livro "Portugal século XX - Crónica em imagens - 1930-1940", por Joaquim Vieira, Círculo de Leitores, Lisboa 1999

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Completam-se hoje 108 anos (1897), foi numa TR: nasceu em Concavada, Abrantes, o escritor António Tomás Botto. Prosseguia o reinado de D. Carlos. Continuava o pontificado de Leão XIII.
António Botto viveu em Alfama (Lisboa) e foi amigo de Fernando Pessoa.

Estreou-se com as colectâneas poéticas Trovas (1917), Cantigas de Saudade (1918) e Cantares (1919). Celebrizou-se a partir da publicação de Canções (1921), que Fernando Pessoa viria a traduzir para inglês (1930).

A sua poesia caracteriza-se por algum decadentismo, associado à tendência modernista de vivência do quotidiano, pelo sentido do ritmo e pelo requinte formal. Alguns dos seus melhores momentos poéticos estão nas descrições do quotidiano cinzento do bairro de Alfama ou na celebração da beleza masculina. Botto escreveu, igualmente, contos, género que dominava com bastante à vontade, sendo alguns deles destinados a crianças.

António Botto morreu em 1959. (BU)

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Completam-se hoje 99 anos (1906), o que ocorreu numa SX: nasce o professor universitário e estadista Marcelo Caetano. Ainda reinava D. Carlos. Já pontificava Pio X (257º).

Professor universitário e estadista português, era chefe de governo à data da revolução de 25 de Abril de 1974. Licenciado em Direito (1927) pela Universidade de Lisboa, foi o primeiro a doutorar-se nesta Universidade na especialidade de Ciências Político-económicas. Como jurista, desenvolveu a sua actividade na área do Direito Público, devendo-se-lhe a criação do código administrativo em vigor desde 1936. Impulsionou ainda a renovação dos estudos de ciência política e direito constitucional e da administração ultramarina da época. Professor de Direito Administrativo desde 1933, foi reitor da Universidade de Lisboa (1959-1962) e director do Instituto de Direito Comparado na Universidade de Gama Filho, no Rio de Janeiro (1974-1980).

Desempenhou altos cargos na orgânica do Estado Novo, tendo sido, designadamente, ministro de Salazar, por várias vezes.

Por fim foi chefe do governo (1968-1974). Foi precisamente neste último cargo que as suas acções suscitaram maior polémica. Substituindo Salazar por motivos de saúde deste, a sua política constituiu uma tentativa de abertura pacífica, que foi mal esclarecida, suscitando críticas e resistências em vários sectores. Em plena guerra colonial, Caetano promoveu a reforma constitucional (1971), alargando a autonomia administrativa das colónias. Os sucessivos avanços e recuos no processo de liberalização das instituições políticas reduziram a sua base de apoio político, o que, paralelamente ao impasse da guerra colonial e ao alastrar do descontentamento no seio da instituição militar, veio abrir caminho ao golpe de Estado de 25 de Abril de 1974. Com este golpe, o Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubou o regime autoritário, destituindo Marcello Caetano (que se exilou no Brasil), e entregando o poder à Junta de Salvação Nacional, presidida pelo general António de Spínola.

Deixou obras publicadas de história do direito e de temática política, como Manual de Direito Administrativo (1937), História Breve das Constituições Portuguesas (1965), As Minhas Memórias de Salazar (1977) e História do Direito Português, 1140-1495 (1981).

Morreu no Rio de Janeiro em 27.10.1980 (Excertos da cit BU)

Diz-se acima, da transcrição feita da Enciclopédia Universal (BU) da Texto Editora, acerca de Marcelo Caetano, que «a sua política constituiu uma tentativa de abertura pacífica, que foi mal esclarecida».
E é a opinião de vários autores, críticos e comentadores.
Mas não é a de muitos outros, como não é a minha.
Na verdade, não parece que se trate de uma “tentativa mal esclarecida”. Porque nem tentativa terá havido.
Certo que os radicais e ortodoxos do regime, que ainda dominavam o aparelho, se tal tentativa se desenhasse, tratariam logo de a inviabilizar.
Mas a verdade é que Marcelo Caetano também não teria vontade política de desencadear qualquer abertura – o que resulta com grande clareza de várias obras que se debruçaram sobre o assunto, nomeadamente a sua, As Minhas Memórias de Salazar (1977).
A única atitude surpreendente de Marcelo Caetano, e isto em época um pouco mais recuada, foi aquando da crise académica de Fevereiro/Março de 1962, que iniciada em Lisboa, se repercutiu por todo o País e na sequência da qual resultou a prisão de cerca de 1 000 estudantes e a demissão voluntária ou imposta de vários professores. O próprio Reitor, Marcelo Caetano, se demitiu desse cargo.
(Era então ministro da Educação Nacional o Prof Inocêncio Galvão Teles).
De resto, e voltando ao período em apreço, Marcelo nunca teve vontade nem coragem de se opor à rigidez do regime, como se provou, por exemplo, quanto à presidenciais de 1972, em que, perante a firme resistência dos ortodoxos do regime, apoiados em Américo Tomás, aceita a reeleição deste nessas presidenciais.
Os massacres de populações civis cometidos pelas tropas portuguesas em Moçambique, na província de Tete, sobretudo o de Wiriamu em 1972, foram muito divulgados pela imprensa internacional que denunciou os horrores da guerra colonial e aumentou a pressão sobre o regime português. Mas Marcelo não se impressionou, nem modificou coisa nenhuma.
O certo é que o desagrado e os protestos contra a situação se multiplicavam cada vez mais.
Assim, em 31.12.1972, a polícia deteve 91 pessoas que haviam escolhido o altar de uma Igreja de Lisboa
( Capela do Rato) para fazer uma vigília e meditar sobre sentido a guerra de África: assunto que a ditadura proibia que fosse discutido. 24 horas depois deste acontecimento, mais de uma dezena e meia acabam na Prisão de Caxias.
Mais: logo no começo do seu consulado, Marcelo não extingue a PIDE, antes cria, em seu lugar, a DGS (Direcção Geral de Segurança).
Depois, e para terminar, quando o regime ruía a olhos vistos, e dele só a fachada se mantinha, há o ridículo episódio de 14MAR1974: face à contestação da política ultramarina do governo, um grupo de oficiais generais, dos três ramos das Forças Armadas, participou, em S. Bento, numa cerimónia de apoio a Marcelo Caetano (ficou conhecida pela “brigada do reumático”).Costa Gomes e Spínola, respectivamente chefe e vice-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, foram os grandes ausentes desta cerimónia. E nessa mesma data são demitidos pelo chefe do governo.

Repito: não houve uma tentativa de abertura (“Primavera”) mal esclarecida… Não houve, simplesmente, nenhuma tentativa nesse sentido. Não se trata de algo mal esclarecido. Trata-se de algo inexistente.


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Completam-se hoje 64 anos, (1941), era um DM: morreu o escritor indiano Rabindranath Tagore, Nobel da Literatura em 1913. Em Portugal desde há muito que decorria o mandato presidencial vitalício de Carmona. Em Roma pontificava Pio XII (260º).

Rabindranath Tagore nasceu em Calcutá, em 1861.

Poeta, contista, dramaturgo e crítico de arte hindu, traduziu para inglês a sua própria poesia Gitanjali («oferta de canções») (1912) e a peça em verso Chitra (1896).

Nacionalista ardente e defensor da reforma social, a sua filosofia abriu novos caminhos para a interpretação do misticismo, procurando actualizar as antigas doutrinas religiosas nacionais.

Grande parte de sua obra está escrita em Bengali. Gitanjali (1912).

A tradução e interpretação de uma obra poética em Bengali do original Gitanjali de 1910 valeu-lhe o Prémio Nobel de Literatura em 1913.

Colaborou em revistas americanas, tendo obras publicadas em francês, inglês e espanhol. Realizou conferências em diversos países e recebeu vários títulos e condecorações.

Foi o maior poeta moderno da Índia e o génio mais criativo da renascença indiana.

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Aconteceu há 62 anos (1943), : nasceu, em Nova Iorque, Robert De Niro. Em Portugal prosseguia o mandato do PR vitalício general Carmona. Continuava o pontificado de Pio XII.

Actor norte-americano de forte magnetismo e presença física. Robert De Niro Jr nasceu em 17 de Agosto de 1943 em Nova Iorque, no seio de uma família de artistas (a mãe era pintora e o pai era pintor, escultor e poeta). De Niro começou a representar em peças escolares, passando, posteriormente para companhias de teatro amador. Estudou no Stella Adler Conservatory e no American Workshop.

O seu primeiro papel a sério no cinema foi The Wedding Party (1969), do realizador Brian de Palma. Seguiram-se Greetings e Hi, Mom! (1970) também de De Palma. Contudo, só em 1973 Robert começou e destacar-se em Hollywood. O desempenho do papel de um jogador de basquetebol em Bang the Drum Slowly valeu-lhe um prémio para o melhor actor da New York Film Critcs. No mesmo ano, De Niro apareceu em Mean Streets, de Martin Scorcese.

A Academia de Hollywood reconheceu o seu talento em várias ocasiões. Ganhou o Óscar de Melhor Actor Secundário em The Godfather Part II/O Padrinho II (1974, Francis Ford Coppola) e de Melhor Actor em Raging Bull/O Touro Enraivecido (1980, Martin Scorcese), para o qual engordou deliberamente mais de 20 kg, a fim de que a sua representação do boxeur Jake LaMotta fosse mais autêntica. Apesar de apenas ter recebido dois Óscares, foi nomeado na categoria de Melhor Actor em três outros filmes: Taxi Driver (1976, Martin Scorsese), The Deer Hunter/O Caçador (1978, Michael Cimino) e Cape Fear/O Cabo do Medo (1991, Martin Scorsese).

A sua vasta filmografia inclui títulos como The Godfather, part II/O Padrinho II (1974), New York, New York/Nova Iorque, Nova Iorque (1977), The King of Comedy/O Rei da Comédia (1983), Once Upon a Time in America/Era Uma Vez na América (1984), Falling in Love/Encontro Com o Amor (1984), The Mission/A Missão (1986), The Untouchables/Os Intocáveis (1987), Goodfellas/Tudo Bons Rapazes (1990), This Boy's Life (1993), A Bronx Tale/Um Bairro de Nova Iorque (1993), Frankenstein (1994), Casino (1995), Men of Honor/Homens de Honra (2000), Meet the Parents/Um Sogro do Pior (2000), The Score (2001), Showtime (2002), City by the Sea/Cidade do Passado (2002), Analyze That/Outra Questão de Nervos (2002) e Godsend (2003).

De Niro fundou igualmente a sua própria companhia produtora, que já conta com alguns títulos, como A Bronx Tale/Um Bairro de Nova York (1993), interpretado e realizado por si.

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Na mesma data é assinado, em segredo, o acordo luso-britânico sobre a utilização da base aérea dos Açores.

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Completam-se hoje 61 anos (1944), era uma QI: morreu Eugénio de Castro, professor universitário e poeta português. Prosseguia (até à sua morte) o mandato presidencial do general Carmona. Ainda pontificava Pio XII.
Eugénio de Castro nasceu em Coimbra em 1869.

Formou-se em letras na Universidade de Coimbra. Iniciou a publicação de obras de poesia em 1884. Três anos mais tarde, era colaborador do jornal O Dia e, em 1899, co-fundador da revista internacional Arte, que reuniu textos de escritores portugueses e estrangeiros da época.

Eugénio de Castro ficou conhecido, sobretudo, como introdutor do simbolismo em Portugal. Após uma estada em França, publicou algumas obras (Oaristos, 1890, Horas, 1891) que pretendiam revolucionar, do ponto de vista formal, a poesia portuguesa, introduzindo inovações ao nível das imagens, da rima e do trabalho do verso em geral, explorando a musicalidade da língua, num esteticismo que visava contrapor-se à tradição romântica portuguesa. Estas primeiras obras suscitaram viva polémica, o que ajudou à difusão do simbolismo decadentista em Portugal, corrente de que o jornal Os Insubmissos (1899), fundado pelo escritor, foi órgão. A sua poesia evoluiu depois num sentido neoclassicizante, de que é exemplo máximo Constança (1990).

Escreveu ainda, para além das já citadas, e entre outras, as obras Silva (1894), Saudades do Céu (1899), O Anel de Polícrates (1907) e Últimos Versos (1938). Foi, também, tradutor de obras de Goethe.

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Foi há 39 anos (1966), era uma QA: morreu António Pedro, escritor e artista plástico português. Era ainda PR o almirante Américo Tomás. Pontificava Paulo VI (262º).
António Pedro, artista plástico e escritor português, nasceu em 1909 na cidade da Praia, capital da actual República de Cabo Verde, situada na costa meridional da ilha de Santiago.

Durante a sua formação universitária, frequentou as faculdades de Direito e de Letras da Universidade de Lisboa, tendo ainda ingressado no Instituto de Arte e Arqueologia da Sorbonne, em Paris. Revelando desde cedo a multiplicidade dos seus interesses, que o iriam levar, ao longo da vida, a ligar-se a diversas actividades na esfera cultural, António Pedro dedicou-se à pintura nas décadas de 30 e 40.

Foi um dos introdutores do surrealismo em Portugal, onde militou activamente a partir de 1947, dando origem a obras de feitura colectiva (o cadavre exquis, prática estabelecida pelos pintores surrealistas franceses), como é o caso da obra realizada em 1948 por António Domingues, Fernando de Azevedo, Vespeira, Moniz Pereira e António Pedro, em tela de grandes dimensões.

António Pedro expôs, pela última vez, com o grupo surrealista em 1949, deixando na tela Rapto na Paisagem Povoada (1946) a síntese da força imagética e da poética da sua pintura, que era já uma manifestação declarada do abandono das artes plásticas para se dedicar ao teatro, uma das suas paixões. Nesse mesmo ano de 1949 passou a dirigir o teatro Apolo. No ano seguinte, iria retirar-se para Moledo do Minho, onde viveria até ao final da sua vida.

Começou então o seu envolvimento mais pleno na actividade teatral, como director, figurinista e encenador do Teatro Experimental do Porto (TEP), entre 1953 e 1961. Paralelamente, desenvolveu um trabalho teórico como ensaísta e crítico de arte. Tendo produzido regularmente crónicas para a BBC, em Londres, na década de 40 (actividade que o levaria a contactar com o grupo surrealista inglês), iria ainda fundar a revista Variante e colaborar com outras publicações periódicas, como Unicórnio, Mundo Literário e Aventura.

A sua produção literária repartiu-se por diversos géneros. Como poeta, publicou Ledo Encanto (1927), Distância (1928), Devagar (1929), Máquina de Vidro (1931) e Primeiro Volume (1936). A sua produção literária mais marcada pela prática surrealista inclui textos como «Apenas uma narrativa» (1942) e a «Protopoema da Serra d'Arga» (1948), tendo ainda participado em produções colectivas, na altura em circulação através de edições impressas como Contraponto e Antologia (1958), Afixação Proibida (1953) e Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961, organizada por Mário Cesariny). Como dramaturgo, António Pedro deixou publicadas Desimaginação (1937), Teatro (1947) e Andam Ladrões cá em Casa (1950), a que se juntaram algumas obras teóricas como Pequeno Tratado de Encenação (1962) e Teatro Completo (edição póstuma de 1981).

A sua obra de pintura, em grande parte desaparecida no incêndio que destruiu o seu atelier, encontra-se representada no Museu do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Foi há 18 anos (1987), : Cavaco Silva assume a liderança do XI Governo Constitucional. Era PR o Dr Mário Soares (seu 1º mandato). Pontificava João Paulo II (264º).

Em 19JUL1987, o primeiro governo de Cavaco Silva caíu em consequência de uma moção de confiança apresentada pelo PRD (formado por apoiantes de Ramalho Eanes). Assim, o presidente Mário Soares marca eleições antecipadas para esta data. O PPD/PSD, de Cavaco Silva, consegue a maioria absoluta nestas legislativas.

Este governo manteve-se até 31OUT1991, cumprindo a legislatura.

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Na mesma data morreu, no Rio de Janeiro, Carlos Drummond de Andrade, escritor brasileiro.

«Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, Brasil, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar, formou-se em farmácia em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, doze dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade (1928-1987).

No 31 de Janeiro de 1987 escreve seu último poema, "Elegia a um tucano morto" que passa a integrar "Farewell", último livro organizado pelo poeta, mas uma das obras que ele deixou inéditas.


Carlos Drummond de Andrade


(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

(Resíduo)»

(In Projeto Releituras: Arnaldo Nogueira Júnior)

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Foi há 17 anos (1988), era uma SG: morreu Mohammad Zia ul-Haq, general paquistanês. Em Portugal o Dr Mário Soares ainda cumpria o seu 1º mandato presidencial. Prosseguia o pontificado de João Paulo II.

Muhammad Zia ul-Haq nasceu no Punjab em 1924.

General do Paquistão e presidente em 1978, cargo que ocupou até à sua morte, provocada pela explosão do avião em que viajava, em 17.08.1988. Como chefe do estado maior desde 1976, Zia ul-Haq chefiou o golpe militar contra Zulfikar Ali Bhutto (pai de Benazir Bhutto, líder do Partido Popular e primeira-ministra do Paquistão de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996), em 1977. Responsável pela introdução de um regime fundamentalista islâmico, em 1988 o presidente Zia, governando por decreto, determinou que a Shari'a, o código legal do Islão, passaria a ser de imediato a lei suprema do país.

Oriundo de uma família muçulmana da classe média do Punjab, Zia foi militar de carreira. Opositor da invasão soviética do Afeganistão, obteve, em 1979, o apoio dos Estados Unidos da América, mas a sua recusa pela comutação da pena de morte imposta a Zulfikar Ali Bhutto foi mundialmente condenada. Em 1985, suspendeu a lei marcial.

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