quarta-feira, agosto 10, 2005

AFINAL… CONTINUA A DANÇA DOS “JOBS FOR THE BOYS”


1. Não é fácil, nem comum, no meio empresarial, um funcionário de carteira, um empregado administrativo, passar a quadro. Muito menos a director. E então a administrador… Praticamente impossível.

Atendendo a critérios de conhecimentos, de competência, de capacidade coordenadora, de gestão e de responsabilidade, porque não aquela evolução?

Há (extremamente raros) casos de tarimba – expurgada do termo a carga negativa que o costuma caracterizar – que revelam essa possibilidade. E o respectivo êxito.

Existem critérios objectivos, universais, capazes de aferir essas qualidades.

Isto é uma coisa.

Outra – e bem diferente – é a carreira empresarial feita à custa de uma outra carreira: a política. Evolui-se na carreira empresarial porque na carreira política se verificou uma rapidíssima progressão.

Aqui os critérios são subjectivos. Ou então, para os mais acesos defensores destas compensações que persistem em considerar as suas avaliações como objectivas, então terão de ceder num aspecto, perante um irrebatível argumento: a ser considerado tal critério, não como subjectivo – com todos os inconvenientes, falibilidades, polémicas e outras vulnerabilidades que acarreta – mas teimando na sua consideração como objectivo, então é de uma particular objectividade. Não objectividade universalmente assumida, como acima se refere. O que vai dar no mesmo: critérios subjectivos.

Vejamos o caso mais recente, para não estar a invocar outros já arrecadados na penumbra da memória, a um passo do esquecimento: Armando Vara.

Veja-se a sua progressão empresarial (Caixa Geral de Depósitos/CGD) e politicamente (Partido Socialista/PS):

CGD

PS

- Funcionário administrativo

- Assembleia Municipal de Bragança

- Coordenador da federação distrital de Bragança

- 1984: deputado à AR pelo distrito de Bragança

- Vereador da Câmara Municipal da Amadora

- Vice-presidente do grupo parlamentar

- 1996: Secretário de Estado da Administração Interna

- 2000: Ministro do Desporto e Juventude

- 2001: Director Coordenador

- 2005: Administrador

Foi, sem dúvida, um dos tais casos que imaginávamos irradicados: job for the boy. Todos os media se fazem eco da apregoada amizade que une Sócrates e Vara. Fazem mesmo constar que o novo ministro das Finanças cedeu, neste ponto, ao que Campos e Cunha recusava.

Esta forma de encarar a política, não é de agora. Já no tempo da ditadura se dizia: “o que é bom, não é ser ministro… É ser ex-ministro”.

Como é possível deixar de ouvir meter no mesmo saco todos os políticos?

2. Caso Fernando Gomes, também ainda na memória viva.

Querem alguns, insistentemente, metê-lo no mesmo saco: job for the boy.

Não faço ideia se será ou não a mesma situação. E até admito que sim – dado que o processo voltou a ser implementado, ninguém já duvida.

Não me parece convincente, neste caso, é o argumento utilizado: “sendo ele um economista que percebe de petróleos para ir para a Galp?”

Estou em crer que um futuro administrador de determinada área de actividade ou de negócios não terá necessariamente de ter uma completa informação e um profundo conhecimento dessa actividade ou desse negócio.

Não me parece que se deva e possa exigir que para se ser administrador da PT se tenha de ter, antecipadamente, conhecimentos e uma competência específica em matéria de comunicações…

Ou que para ser administrador da GALP o indigitado tenha de ter, previamente, conhecimentos e competências específicas em matéria de petróleos…

Ou que para ser administrador da TAP o candidato tenha, à partida, que conhecer o mundo complexo da aviação civil: rotas, aviões (os vários modelos de Airbus ou de Boeing, e outros), carga, manutenção de aeronaves, tarifas, políticas aéreas, acordos e tratados internacionais reguladores das várias actividaes e responsabilidades em presença, como por exemplo o da IATA…

Ou que para ser administrador de uma cimenteira o futuro elemento tenha de ter um conhecimento prévio de cimentos, fornos, processos e fases de produção, e outros conhecimentos e competências específicas na área…

Ora, convenhamos: um administrador tem que ter, além da sua competência técnica específica, conhecimentos e competências genéricas, capacidade de coordenação e de gestão, capacidade de decisão e sentido de responsabilidade.

Com tudo isto aliado à sua capacidade de trabalho, o estudo, a análise dos dossiers e os contactos põem-no a par do assunto, para o que conta ainda com uma equipa de competentes assessores já dominadores da matéria.

3. No caso de Gomes, a suspeita maior de que se tratava de um bónus, tem origem nele próprio, com a surpresa que manifestou – o que foi notório - pela inesperada “benesse”.

Mas por falar na CGD e em jobs for the boys, este “certificado” partidário para atribuir cargos de responsabilidade (muitas vezes fazendo funcionar, apenas, o “princípio de Peter”) não é exclusivo do PS, como é evidente. Todos os partidos no poder o praticam, infelizmente. Ou não terá sido assim que Bagão Félix nomeou Celeste Cardona para a mesma CGD?

Dizia, recentemente, e com evidente mordacidade, Henrique Monteiro, no Expresso que "as mudanças na CGD são um sinal verdadeiramente comovedor de que a tradição ainda é o que era."

Por outro lado, reflectia, dias atrás, Honório Novo: "pobre CGD cuja gestão repousa em mãos tão qualificadas como as de Celeste Cardona e Armando Vara."

"Os primeiros-ministros já não têm força para resistir às máquinas partidárias que os deveriam apoiar: são devorados por elas" – escrevia um dia destes José António Saraiva.

Por seu turno, rematava, recentemente, Raul Vaz, no DN: "José Sócrates poderá ter sentido a tentação de ser diferente. Poderá mesmo ter querido surpreender. Mas já começou a aceitar a realidade."

Uma inevitabilidade?

Não é possível que o seja. Não aceitamos que se confirme.

Na verdade, Sócrates parece estar a deixar cair a máscara!

Passámos, uma vez mais, do estado de graça ao estado de desgraça!

E o nosso desespero cresce. E a situação política avança, a passos cada vez mais largos, a caminho do abismo.

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