ARRANQUE DAS PRESIDENCIAIS DE 2006?

Notas soltas, das Segundas, na RTP1, na Segunda 01AGO. António Vitorino considerou provável a candidatura de Mário Soares. Dando, também ele, como certa a candidatura de Cavaco. Considerou uma interessante campanha em perspectiva, com todas as condições para que a disputa da presidência se resolva logo à primeira volta. E isto “porque ambos fazem o pleno à Esquerda e ao Centro-direita”. E, claro, que se resolva a favor de Soares “verdadeiro animal político” – disse, utilizando expressão muito usual, cujo autor não me recordo de momento quem é – que congregará à sua volta os “votos da esquerda, do centro-esquerda como muitos do centro-direita”.

O que interessa não é a idade dos candidatos; e quanto à propalada necessidade de que o próximo presidente seja um expert em matéria de economia, atendendo ao momento que o país vive, Vitorino opinou, na sua argúcia e no seu verbo solto e de grande fluência, que não se trata de uma eleição para primeiro-ministro, onde tal problema poderia ser relevante, mas de uma eleição para a presidência da República, onde será de ponderar é os grandes projectos, numa perspectiva muito mais abrangente, que eles têm para Portugal.

Quanto a Manuel Alegre – a insistência de Rodrigues dos Santos – achou que o seu “camarada” tinha indiscutíveis qualidades e mérito, mas que se a candidatura de Soares se concretizar, ele terá de parar e reflectir, antes de avançar com a sua.

Dias antes, nos seus comentários, no DM 31JUL, à noite, na RTP, respondia Marcelo Rebelo de Sousa a Ana Sousa Dias que “muito provavelmente será mais difícil o relacionamento de Sócrates com Soares do que com Cavaco”. Opinião partilhada por outros mais analistas, pela simples razão da parecença entre Sócrates e Cavaco. Perfil com que Soares pouco simpatizará…

Há quem veja nas audiências que ambos pediram ao Presidente Sampaio e realizadas na TR 02AGO – Cavaco, sem pré-anúncio e sem post-declarações, discreto e antecipando-se a Soares, sendo recebido pela manhã; Soares, fazendo soar as trombetas dos informadores, mostrando-se na sua habitual postura de pai da Pátria, anunciando a audiência antecipadamente, recebido à tarde e com declarações, no final da mesma, convenientemente cautelosas e cautelosamente sóbrias – há quem veja nessas audiências, repito, o arranque da pré-campanha e o fim de todos os tabus.

Pois…

No respeitante a Soares, a idade não creio que seja argumento impeditivo. Então Adenauer não foi chanceler da Alemanha até aos 87 anos? E Balaguer, da República Dominicana, não foi presidente, pela última vez, até aos 90 anos, já cego e surdo? E, embora diminuído, voltou a candidatar-se, para eleição mais recente, mas foi derrotado. E o prof Emídio Guerreiro não se candidatou e não foi deputado nas últimas legislativas, de 20 de Fevereiro, aos 105 anos?

Quanto a Cavaco, parece tratar-se de uma inevitabilidade a sua candidatura, por mais que ele – tão dado a tabus – tente manter o suspense.

Por outro lado, o carisma de um Soares é muito maior do que o de um Alegre.

No entanto, o PS, que se mostrava inclinado para apoiar Manuel Alegre, de repente, perante um qualquer sinal de Mário Soares, que seria imperceptível à generalidade das pessoas, foi de imediata e entusiástica perceptibilidade para certo facção dominante do partido…

O que veio ao encontro da ânsia e da sede de poder e de protagonismo de Soares, levando-o a confundir a roda dos seus com uma nova “vaga de fundo”, suplicando-lhe a salvação da Pátria.

Não creio que nenhum dos “concorrentes” que já se encontram na “pool position”, corresponda ao perfil desejável para o nosso futuro presidente.

Bem, bem, esteve Miguel Sousa Tavares quando há dias concluía: "o melhor para o país seria os dois [Mário Soares e Cavaco Silva] chegarem a um acordo e nenhum deles se candidatar."

Por mim, e no que ao candidato da esquerda respeita, já o afirmei antes e continuo a pensar: prefiro alguém que não seja capaz de “negociar” o seu próprio projecto, personalidade que não seja volúvel e incoerente. Daí que me incline antes para um Manuel Alegre. Sem qualquer hesitação.