quinta-feira, outubro 12, 2006

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA






"A lenda da cruz verdadeira", Piero della Francesca, c. 1466

(Descoberta e prova da verdadeira cruz/Discovery and Proof of the True Cross)
Fresco
356 x 747 cm
San Francesco, Arezzo

(cfr MEMÓRIA... mais abaixo)

Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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DE ACORDO COM O CALENDÁRIO DA ONU:

1997/2006 - Década Internacional para a Erradicação da Pobreza.

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2006 Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

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Aconteceu, já lá vão 514 anos, na SX 12.10.1492: Cristóvão Colombo chega à ilha de S. Salvador, nas Baamas, convencido de que atingira a Índia.

Em Portugal reinava D. João II (13º), e em Espanha os reis católicos, Fernando e Isabel. Em 10 de Agosto anterior, o cardeal valenciano Rodrigo Bórgia, pai de vários filhos, entre eles os famosos César e Lucrécia Bórgia, conseguira fazer-se eleger papa, naturalmente que com os bons ofícios de seu tio Afonso Bórgia, o papa Calisto III (209º). Rodrigo Bórgia adoptou o nome Alexandre VI (214º).

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Ah, Senhor, que vos direi?

Que acode mais vento às velas.

Nunca se descuide o Rei:

Que inda não é feita a lei,

Já lhe são feitas cautelas.

- Sá de Miranda, Carta a El-rei D. João II

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Acerca do evento agora recordado, não resisto a ir folheando, a descrição bem documentada, mas saborosamente romanceada de Fernando Correia da Silva, transcrevendo algumas passagens do interessante site Vidas Lusófonas.

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Calcula-se que Cristóvão Colombo (Cristóbal Colón), tenha nascido em Génova, em 1451, importante porto marítimo mediterrânico cuja supremacia sempre disputou com o de Marselha. Constituía, então, a Sereníssima República de Génova, uma república independente na região de Ligúria, na costa noroeste da península itálica, entre o início do século XII e 1805.

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Estamos em 1476. Cristóvão rondava os 25 anos. Uma frota mercante genovesa cruza o Mediterrâneo. Cristóvão Colombo numa das naves (...) por conta de dois abastados mercadores, Di Negro e Spinola, navega rumo a Lisboa onde o aguarda o seu irmão Bartolomeu, cartógrafo ao serviço da Coroa lusitana.

E lá se volta à recorrente questão da rota das Índias. Cristóvão continua a achar insensata a empresa dos portugueses: por que insistem eles em tentar contornar a África, se a Ásia está do outro lado do Mar Atlântico, a poucos dias de viagem? (...) Bartolomeu sorri. Contesta a geografia do seu irmão, inspirada em Toscanelli. A circunferência da Terra será bem maior do que dizem os seus cálculos. Cristóvão não se deixa convencer, um Anjo assopra que está certo. Mas encerra a discussão.

Casado na Madeira com uma filha de Bartolomeu Perestrelo (um dos descobridores do arquipélago, a quem foi oferecida a capitania da ilha do Porto Santo pelo Infante D. Henrique), acamarada com os mais importantes navegadores que fundeiam e fazem aguada na Madeira. Alguns garantem-lhe ter avistado ilhas a Ocidente e outra vez o Anjo assopra que o extremo oriental da Ásia ficará a poucos dias de viagem para Oeste. Colombo quer apresentar o seu projecto a D. João II”. “Em 1484 pede audiência real e o Príncipe Perfeito recebe-o. Cristóvão Colombo diz de suas razões (...) ele que consumira mais de dez anos de estudo sobre cartografia e navegação. E que insistia em “ver” o globo como uma “esfera” mais pequena, e que teimava que o melhor, mais directo e mais rápido circuito em direcção à Índia era rumando a Oeste... Que do outro lado do Atlântico ficava a Ásia, a Índia.

Erro crasso já então para o Conselho de Navegação do Príncipe Perfeito.

Assim, D. João II não se deixa convencer. Acha delirante o projecto do genovês. Mas tocam-no as palavras de profeta iluminado. Adia a decisão, faz seguir o plano para o Conselho científico de navegação. Que o rejeita: ignorâncias, miragens.

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Dirige-se então à corte de Espanha. Consegue ser recebido pela rainha. Outra vez o Anjo fala pela boca de Colombo. Isabel fascinada com o plano, fervor, veemência, o que é preciso é derrotar os infiéis. E se, ao mesmo tempo, puder lançar mão das riquezas asiáticas, tanto melhor... Contudo, por um resto de prudência, Isabel resolve submeter o projecto ao seu conselho de navegação. E também este o rejeita: incoerências, falsidades, magreza de justificações teóricas.

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E o candidato a navegante não atina com o seu erro, persiste na sua tese.

Perante a recusa, o cismático Colombo outra vez se volta para D. João II. E outra vez falham as suas diligências: Bartolomeu Dias dobrara o Cabo da Boa Esperança, por fim aberto o caminho marítimo para a Índia.

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E não desiste, antes retorna a Espanha. Consegue segunda audiência com Isabel, obstinação. A soberana pede-lhe para aguardar o término da conquista de Granada”. O que acontece nesse exacto ano: a velha Iliberis (hoje, Granada) que havia sido submetida pelos sarracenos, chefiados por Tarik, em 711, é liberta. É mesmo o último reduto árabe a ser alvo da Reconquista, na península.

Rende-se a capital mourisca. Rapina, festejos, aclamações e fanfarras, o projecto de Colombo arquivado no olvido”. Óbvio.

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É o desapontamento e a revolta porque insiste no seu errado raciocínio. Não descrê dos seus errados cálculos.

Desesperanças, sorvedouros, remoinhos. Escarranchado em mula pachorrenta, aí vai Messer Cristóvão Colombo a caminho de França. Talvez Carlos VIII patrocine o seu projecto, assim o queira Deus e louvado seja o Santo Nome.

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Entretanto, em Córdova, D. Luís de Santangel, banqueiro poderoso e amigo do genovês, argumenta com os reis de Espanha:

- Bartolomeu Dias dobrou os confins da África. Em breve os portugueses alcançarão as Índias. Creio ser este o momento em que deveis arriscar o pouco que Colombo vos pede, pelo muito que ele vos promete.

Os Reis Católicos arriscam. Mandam emissário atrás de Colombo. O genovês é alcançado em Piños-Puente, a dez milhas de Granada. Colombo escuta a mensagem real. Desce da mula. Ajoelha-se na terra seca. Benze-se. Levanta a cabeça, fita o firmamento. Abre os braços. Seis anos de provações. Porém um Anjo a guardar o seu destino, comoção.

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E apresta-se a armada. E abastecem-se as naus. E instalam-se as tripulações.

Três navios de pequeno calado: Santa Maria, a nau-capitã, cem tonéis e quarenta tripulantes; Pinta, cinquenta e cinco tonéis e vinte e seis tripulantes; Niña, sessenta tonéis e vinte e quatro tripulantes. Colombo comanda a frota e um Anjo comando Colombo. Largam de Palos (Sevilha) a 12 de Maio de 1492. Arribam às Canárias. Os navios são aí calafetados, pintados e abastecidos”.

(“Há quem julgue o tonel equivalente a 1,2 toneladas,

há quem o julgue equivalente a duas toneladas de hoje”)

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E sucedem-se os dias às noites escuras ou enluaradas, com seus reflexos de prata no imenso mar Oceano. E o peso da solidão é amortecido das mil e uma formas que a marinhagem já conhece.

E sucedem-se as semanas. Que vão somando meses.

Um dia…

Ao cair a noite de 11 de Outubro D. Cristóvão pensa ter visto ao longe uma luzinha. Mas cala, ajoelha-se e reza. Amanhã será o fim do prazo prometido. Possa ele ser amparado pelo que seu Anjo da Guarda... Às duas da madrugada de 12 de Outubro, mas a lua a cintilar sobre as ondas, do alto da Pinta um gajeiro grita:

- Terra, aleluia, agora é terra, é mesmo terra !

Realmente a palidez de um areal. Mais ao longe colinas e montes, sombreado. Trinta e três dias de viagem. Chega a alvorada e desembarcam. Ajoelham-se na praia. Benzem-se, oram, contrição. Um povo desnudo e pacífico contempla-os. Os corpos cor do cobre, os olhos rasgados. Não será Cipângu [Japão]. Não será Catai [China] ainda. Mas certamente a Ásia, certamente a Índia. D. Cristóvão aponta, define:

- Índios! São índios!

O Anjo assopra-lhe que tem razão.

Primeira ilha da Ásia recém descoberta por Ocidente ! Como se chama ? O Anjo assopra e D. Cristóvão dá-lhe o nome de S. Salvador. Está perto do continente [que era o americano, não o asiático], sabe disso. Irá pisá-lo mais tarde, numa próxima viagem.

Em S. Salvador D. Cristóvão não alcança notícias do Grande Cã [Governante do Universo]. Nem encontra ouro de qualidade, nem pérolas, nem esmeraldas, nem sedas, nem palácios. (…)

Sempre em busca de riquezas, navega para ilhas próximas que virão a ser conhecidas como Bahamas, Cuba e Haiti. A esta, D. Cristóvão dá o nome de Hispaniola. Por descuido do grumete de guarda, é justamente em Hispaniola que vem a naufragar a Santa Maria, a nau-capitã. Com os seus destroços D. Cristóvão manda levantar um fortim e ali se quedam 39 homens enquanto ele, e os outros, regressam a Espanha. Pinta e Niña a navegar, torna-viagem.

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Em 1493, na 2ª. viagem às suas Índias Ocidentais, comandando uma frota de dezassete naves, D. Cristóvão reconhece as ilhas que virão a ser conhecidas como Antilhas e Porto Rico. Riquezas? Quase nada.

Em 1499, durante a 3ª. viagem, pela primeira vez D. Cristóvão Colombo pisa o Continente, na região onde será mais tarde a Venezuela. Um índio conta-lhe então que a oeste de terra firme existe um outro oceano [Pacífico] tão grande quanto o de leste. D. Cristóvão não acredita, não pode acreditar em tal notícia. Açoita o índio e o Anjo cala-se. Nunca mais assoprará.

O rei católico, Fernando, criara um vice-reinado que dividira por tantos responsáveis quantos os mais capacitados para aumentarem em tempo mínimo o tesouro da Casa Real, rapinagem. E para isso Messer Colombo não serve, visionários são empecilho...

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Regressa a Espanha em 1504. Tenta reaver o vice-reinado que lhe fora prometido. Não consegue. Morre em Valladolid a 20 de Maio de 1506. Pobre. Esquecido e abandonado por todos. Inclusive pelo Anjo.

[ Vários excertos de Vidas Lusófonas, de Fernando Correia da Silva ]

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Facto é que o dia 12 de Outubro, dia de Colombo, é feriado nacional nos EUA.

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Se em matéria de cartografia e de navegação os seus cálculos se revelaram errados, por outro lado a sua identidade e a sua origem tem-se mantido um mistério.

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“A partir de finais do século XIX, e do centenário de 1892, foi considerado natural de Génova. Actualmente, historiadores diversos levantam a hipótese de ele ser português, catalão, basco, galego e mesmo grego, e quase certamente de ascendência judaica. Conhecia as línguas antigas e o hebraico; não escrevia italiano, mas sim uma forma aportuguesada do castelhano. Segundo a tese portuguesa, provavelmente a mais consistente, Cristóvão Colombo seria Salvador Fernandes Zarco (que existiu de facto), nobre ilegítimo natural da vila alentejana de Cuba em Portugal, e familiar de João Gonçalves Zarco, antigo navegador português de ascendência judaica - o que justifica o facto de ter baptizado ilhas com o nome de São Salvador e Cuba (para além de muitas outras cujo nome se relaciona com a sua família e região).” - [Wikipédia, a enciclopédia livre]

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Foi também há 514 anos, na mesma SX 12.10.1492: morreu em Borgo San Sepolcro (hoje, apenas Sansepolcro), na Toscânia (cuja capital é Florença), o pintor italiano Piero Della Francesca. Que também foi matemático.

A Itália, como unidade política, ao tempo, não existia (só em finais do séc. XIX). Eram, então, os Médici os soberanos reconhecidos da Toscânia, que teve em Cosme de Médici - Cosme, o Velho (1389-1464) - o fundador da dinastia política da família. Nesse ano de 1492, aliás, morreria um dos seus muitos e destacados nomes, Lourenço de Médici, ou Lourenço o Magnífico (1449-1492) governante de Florença (capital da Toscânia) durante a idade de ouro da Renascença.

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Importante e numerosíssima família

com raízes no séc.XII,

os Médici foram um “alfobre”

de numerosos políticos, rainhas, bispos, cardeais e, pelo menos, 4 papas.

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Representante do Quattrocento italiano, Piero De Benedetto Dei Franceschi, de seu original nome, que adoptaria Piero della Francesca, nasceu entre 1410 e 1420, na mesma localidade onde viria a morrer. Aprendeu a arte em Florença, no atelier de Domenico Veneziano, que foi seu professor, com quem aprendeu, sobretudo, a importância e o uso das cores.

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Domenico di Bartolomeo,

detto Domenico Veneziano

(Venezia c.1405 - Firenze 1461 - Primeira Renascença).

Está entre os maiores inovadores da pintura do seu tempo.

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Piero della Francesca iniciou, em 1452, os afrescos da igreja de S. Francisco, em Arezzo (V/ imagem acima), nos quais trabalhou durante sete anos. “Nessa obra monumental, conhecida como "A lenda da cruz verdadeira", a arte do autor já se revela em sua plenitude e maturidade” – [ cfr Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda ].
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Entre as suas obras, para além do referido e exibido fresco A lenda da cruz verdadeira, destaque para: Nossa Senhora do Parto (Cemitério de Monterchi); Baptismo de Jesus (National Gallery, Londres); Nossa Senhora da Misericórdia (Pinacoteca Municipal, Borgo San Sepolcro, Itália); Flagelação de Jesus (Galeria Nacional, Urbino, Itália); Igreja de São Francisco (1452-1459, frescos, Arezzo, Itália); A Ressureição (mural em afresco e têmpera, 2,25x2,00 cm. Museu Civico, Sansepolcro – Itália: a quinta obra, de entre as dez melhores, da selecção abaixo mencionada); Madonna di Senigallia (Galeria Nacional, Urbino, Itália); Anunciação (Galeria Nacional da Úmbria, Perugia, Itália); Nossa Senhora com o Menino e Quatro Anjos (Clark Art Institute, Williamstown, Massachussets, Estados Unidos); Nossa Senhora com o Menino e Santos (1472-1474, Pinacoteca de Brera, Milão, Itália).

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”O pintor destacou-se também como teórico da arte. Além de revolucionar quanto aos princípios estéticos, realizou investigações técnicas sobre questões pictóricas, geométricas e arquitectónicas. Dos tratados que escreveu, conservam-se apenas dois, sobre perspectiva e geometria” –

[ IDEM ].
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Durante muitos anos esquecido, em 1985 um dos seus trabalhos foi considerado, por um júri de experts, uma d’ AS DEZ MAIORES OBRAS DE ARTE.

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Decorreram 82 anos, foi no DM 12.10.1924: morreu Anatole France, escritor francês.

Em Portugal, na Chefia do Estado estava Manuel Teixeira Gomes. Em Roma pontificava Pio XI (259º).

A lei, na sua majestosa igualdade,

proíbe ricos e pobres

de dormirem sob as pontes,

de mendigarem pelas ruas

e de furtarem um pedaço de pão.

- Anatole France

(Com não pequena dificuldade,

os ricos conformam-se e cumprem.

Os pobres...

Ora esses são sempre os mesmos relapsos...)

Conclusão curiosa de Anatole France foi ainda, um dia, esta:

“Só os pobres pagam à vista,

mas não por virtude - é porque não têm crédito.”

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O verdadeiro nome de Anatole France, era Jacques Anatole François Thibault. Nascido em Paris, aos 16.04.1844, foi um romancista e um contista de grande sucesso.

Se, por vezes, utilizava um “tom céptico”, a verdade é que revelava “uma arte requintada e subtil”. Além da sua grande craveira intelectual – foi Membro da Academia francesa e Prémio Nobel de Literatura (1921) – foi homem de grande dimensão e estatura política: apoiou Émile Zola no caso Dreyfus, e no dia seguinte ao da publicação do "J'accuse", assinou a petição que pedia a revisão do processo.

Devolveu a sua Legião de Honra (que recebera em 1894) quando retiraram a de Zola.

Participou na fundação da Liga dos Direitos do Homem.

Envolve-se no socialismo militante e torna-se membro fundador de L'Humanité (1904). E é por esta época, por alturas da guerra, em 1914, no auge da sua fama, que publica um célebre artigo sobre a guerra, alvo de violentos ataques.

Abriu a sua oficina das letras, ainda era adolescente. em 1867 adere ao grupo Parnasse, onde pontificavam nomes como Théophile Gautier (1811-1872) – que se celebrizou por criar o lema do movimento: “arte pela arte” - Leconte de Lisle (1818-1894), Théodore de Banville (1823-1891), José Maria de Heredia (1842-1905), de origem cubana, e Sully Prudhomme (1839-1907).

Em 1869, lança o seu primeiro livro Alfred de Vigny. Mas o seu primeiro romance foi Le Crime de Sylvestre Bonnard (1881), premiado pela Academia Francesa.

Entre as suas obras incluem-se Le Livre de mon Ami (1885), L'Ile des Pingouins (1908), Thaïs (1890), Le Lys rouge (1894) Crainquebille (1905), Les Dieux ont Soif (1912).

“Anatole France é uma das mais importantes figuras da literatura francesa. A sua obra é considerada notável pela erudição, engenho, ironia e paixão pela justiça social”, “marcou, com o seu estilo e as suas ideias, uma geração de escritores” - [ BU, da Texto Editores ].

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http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/

Foi há 73 anos, na QI 12.10.1933: o departamento de Justiça dos EUA, compram a ilha de Alcatraz. Acabara de se iniciar, meses antes, nesse ano, o primeiro dos quatro mandatos de Franklin Delano Roosevelt (1882 - 1945), do partido Democrático, que foi o 32° presidente dos Estados Unidos da América

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Foi, mesmo, o primeiro presidente norte-americano

a conseguir mais de dois mandatos.

E, por força da 22ª Emenda, não voltará a haver outro.

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Em Portugal, desferido o golpe do 28 de Maio (1926), e instalada a ditadura, neste ano de 1933 é instaurado o Estado Novo, que vigoraria até à revolução dos cravos.

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A ilha está situada no meio da baía de S. Francisco, Califórnia, a escassas centenas de metros da cidade.

Desde há cerca de 44 anos que não passa de uma atracção turística, atendendo ao seu passado.

Inicialmente, a fortaleza foi uma prisão militar, de 1850 (ou 1886?) a 1930, antes de se ter tornado numa penitenciária federal, em prisão de alta segurança, durante 29 anos.

Nela estiveram detidos numerosos e sonantes nomes do mundo do crime, como Al Capone, «Birdman of Alcatraz», (um prisioneiro que utilizou o seu tempo na solitária para se tornar uma autoridade em pássaros de gaiola), Robert Franklin Stroud, Alvin Karpis, Frank Morris, e os irmãos John e Clarence Anglin.

A própria natureza se associou às implementadas medidas de segurança da prisão: a sua localização, um sistema de marés e correntes muito perigosas, e as sua água geladas. Algumas destas características eram complementadas com medidas particularmente adequadas. Assim: as refeições eram fartas, muito bem confeccionadas e programadas para um período de tempo meramente suficiente (o que implicava digestões mais difíceis e garantia um maior silêncio, no seu decurso, pelo que raros eram os contactos entre os detidos – logo a conjectura e preparação de eventuais planos de fuga). Além disso, o ambiente era bastante aquecido e para o banho diário matinal era fornecida água bem quente – o que, tudo, era desmotivador para a hipótese de enfrentar as gélidas águas da baía.

As célebres celas de segredo, absolutamente escuras, à prova de som e de reduzidíssima área, quando usadas tinham um efeito extraordinário no decurso do tempo. Experimentei. “Estive lá, seguramente, entre um quarto de hora e vinte minutos, pelo menos...” – afirmei (perguntando) à saída: não estivera mais que escassos três minutos. Impressionante.

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A prisão acarretava um orçamento muito dispendioso.

Certo que durante os seus 29 anos de existência, nunca registou fugas bem sucedidas. Em todas as tentativas levadas por diante, os fugitivos eram mortos ou morriam enregelados e afogados.

Três fugitivos – os já aludidos Frank Morris e irmãos John e Clarence Anglin - desapareceram das sua celas em 11 de Junho de 1962. porém, constam como desaparecidos e, o mais provável, afogados.

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Em 1979 foi realizado um filme sobre essa fuga,

com Clint Eastwood (Frank Morris),

chamado Escape From Alcatraz,

dirigido por Don Siegel –

que, aliás, assinou este filme como

Donald Siegel (Chicago, EU, 1912 - Nipoma, EU, 1991)

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Mas porque era muito dispendiosa e porque já não garantia total segurança em relação às mais modernas, a prisão foi encerrada em 21.03.1963, e convertida em atracção turística (uma espécie de museu).

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Completam-se hoje 42 anos, foi na SG 12.10.1964 (ainda que alguns defendam que foi dois dias depois, na QA 14): o conservador Leonid Brejnev (1906-1982), engenheiro metalúrgico e funcionário do Partido Comunista da União Soviética/PCUS, substitui, como secretário-geral do PCUS, o reformista Nikita Khrushchev (Kalinovska, 1894 - Moscovo, 1971), homem rude e de instrução apenas básica, mas reconhecidamente inteligente por seus adversários, dentro e fora de muros.

Em Portugal, ainda estava em exercício a ditadura (com Salazar, sempre ele, na liderança, e com o triste e submisso Américo Tomás na chefia do Estado).

No Vaticano pontificava Paulo VI (262º).

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A crise dos mísseis (Cuba, Outubro de 1962, um dos momentos de maior tensão da Guerra Fria) e a oposição interna provocaram o completo desgaste de Kruschev - acusado de erros políticos graves e desorganização da economia soviética.

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Kruschev passou os restantes sete anos de sua vida

em prisão domiciliar,

até morrer em Moscovo, a 11 de Setembro de 1971.

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A sua demissão foi facilmente forçada pela acção conjugada do seu ex-pupilo (Brejnev) e de Alexei Kossigine (1904-1980).

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Na tomada de posse de Brejnev não faltaram as promessas de reformas internas e de prossecução da détente relativamente ao Ocidente.

Mas foi diferente o seu consulado de 18 anos: pouco mudou em matéria de política interna do país.

Relativamente aos “países irmãos” (“países satélites”, na expressão dos ocidentais) cria mesmo uma doutrina sui generis que ficou conhecida como doutrina Brejnev, surgida em 1968 com o objectivo de justificar a invasão da Checoslováquia, aquando da “Primavera de Praga”, “tentativa de socialismo reformista” liderada por Alexander Dubcek. Ao fim e ao cabo tratava-se de uma «”doutrina da soberania limitada” uma vez que limitava os direitos de soberania, igualdade e independência dos países do Leste Europeu, ao determinar que qualquer ameaça interna ou externa a um país socialista, envolvendo o perigo de retorno ao capitalismo, constituía uma ameaça não só para esse país, mas também para toda a comunidade socialista» - [ BU, da Texto Editores ].

No fundo, segundo os analistas, um instrumento da preponderância hegemónica da União Soviética sobre os “países irmãos” do Leste Europeu.

Mas onze anos depois, a doutrina Brejnev foi alargada de forma a justificar a invasão do Afeganistão (1979) por tropas soviéticas, para sustentar um governo pró-Moscovo que acabara de derrubar a monarquia, determinando a imposição de um socialismo «correcto» a países ainda não integrados no bloco socialista.

“As tropas soviéticas intervieram no Afeganistão para apoiar o governo comunista local contra os rebeldes xiitas pró-Irão, os Mujaheddin, mas apesar da grande superioridade soviética em armamento e homens, a guerra se estagnou, prolongando-se até 1988, quando os soviéticos se retiraram militarmente, após negociações, já durante a liderança de Mihail Gorbatchov à frente do PCUS e de Andrei Gromiko como Presidente da URSS” - [Wikipédia, a enciclopédia livre]

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Esta invasão provocou um imenso desgaste militar e político da União Soviética, que culminou com a retirada, dez anos mais tarde, também por força do clamor internacional.

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Assim, e quanto à anunciada détente relativamente ao Ocidente, pelo contrário, a hostilidade com os Estados Unidos recrudesceu. Por meio de um acelerado rearmamento, o que impedia as reformas internas (como evitar a estagnação económica se crescem as despesas militares?), a URSS de Brejnev conseguiu alcançar o equilíbrio estratégico com os EUA, o que veio a favorecer o abrandamento da tensão com os países do Ocidente, com o desenvolvimento de conversações para limitação de armas e a assinatura de alguns tratados durante a década 1969-1979, seja, até à invasão do Afeganistão.

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“Durante a era Brejnev, a URSS tornou-se uma super-potência militar e política, aumentando a sua influência em África e na Ásia, mas a nível interno foi um período de cautela e estagnação, uma vez que as dificuldades económicas foram aumentando. Em Março-Abril de 1976, foi acometido de uma doença que lhe afectou o pensamento e a fala, ficando incapaz de tomar decisões, as quais passaram a ser tomadas por aqueles que o rodeavam. Faleceu em 1982” - [ BU, da Texto Editores ].

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A “Guerra Fria” foi a regra de 45 a 91.

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“Guerra Fria”:

designação dada ao conflito político-ideológico

entre os EUA, defensores do capitalismo,

e a URSS, defensora do socialismo,

durante o período entre o final da Segunda Guerra Mundial

e a extinção da União Soviética.

[Wikipédia, a enciclopédia livre]

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Claro que a tensão entre os dois blocos não se ficou a dever, apenas, à posição de um dos adversários.

E o pior é que as maiores vítimas de tal política (leia-se das intervenções daí resultantes) foram sempre, sobretudo, países terceiros.

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HOJE...

Hoje o mundo tem um controleiro, um sheriff que põe e dispõe em qualquer (?) parte do globo, que invade qualquer país que lhe apeteça, que prende, até em cárceres privados (Guantánamo é um exemplo), que mata ou manda matar, onde lhe der na real gana, que destitui ou nomeia governos, a seu bel prazer, à face da Terra...

A somar a tudo isto, hoje, “as novas ameaças do planeta são os exércitos privados dos senhores da guerra, guerrilheiros que anteriormente lutavam por ideais políticos e que no final do século XX trabalhavam, com uma remuneração fixa paga por narcotraficantes. Também os terroristas fanáticos por razões religiosas e, sobretudo, as organizações criminosas como as máfias” - [ BU, da Texto Editores ].

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Todos nos entreolhamos, receosos e desconfiados, neste mundo. Os media todos os dias descrevem e nos recordam o perfil dos “maus”... Muitos olham para certas “caras” e “aspectos” (que correspondem à imagem certificada), apavorados, à espera “da bomba”.

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BY THE WAY...

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Tenham os eventuais intervenientes as costas largas ou estreitas, a espionagem ou os bastidores da política revelam certas histórias curiosas. Algumas acertam, em cheio, ou andam próximas da verdade. Outras nem por isso.

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É o caso, por exemplo, do atentado contra o papa polaco Wojtyła na Praça de S. Pedro, em 13.05.1981.

Em certos círculos gerou-se a convicção de que o atentado contra a vida do papa João Paulo II, na Praça de S. Pedro, no Vaticano, em Maio de 1981, cometido pelo turco Ali Agca [que condiz, em cheio, com o perfil acima referido], fora decidido por Brejnev com o apoio dos serviços de inteligência militares – como se sustentava em certos meios que dominavam o dossier antiterrorismo, e suspeitavam entidades que trabalharam nesses dossiers, caso do juiz francês Bruguiére.

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O pano de fundo de tais raciocínios era:

URSS - Sindicato Solidariedade (Lech Walesa - Karol Wojtyła/João Paulo II)

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Para esclarecer o caso foi nomeada uma comissão criada pelo Parlamento italiano. Essa comissão era presidida pelo senador da Força Itália (direita), Paolo Guzzanti.

A comissão concluiu que o atentado foi "planeado e ordenado pelas autoridades militares soviéticas, aconselhadas pelo secretário-geral do Partido Comunista (Leonid Brejnev) que, através do serviço de inteligência militar soviético, GRU, distribuiu as tarefas"[ Noticiários dos primeiros dias de Março do corrente ano ]

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Foi há 20 anos, no DM 12.10.1986, morreu, em Lisboa, o cientista e poeta português Ruy Cinatti.

Decorria o primeiro mandato presidencial de Mário Soares, e em exercício estava o X Governo Constitucional, liderado por Cavaco Silva que, no ano anterior, tinha ido ao Congresso do PSD à Figueira da Foz apenas para fazer a rodagem do novo carro (não, nada disso: ao tempo uma máquina normal) e, afinal, sai de lá como novo presidente do partido...

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Filho de pai português e mãe italiana, Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes nasceu em Londres numa SG, 08.03.1915.

Veio, ainda criança, para Lisboa. Onde se formou em Agronomia. Foi também meteorologista e depois da II Guerra Mundial viveu, durante uns anos, em Timor, onde foi secretário do Governador e chefe dos Serviços Agronómicos da colónia.

Em 1961 doutorou-se em Antropologia Social e Etnografia pela Universidade de Oxford.

Para além das suas “actividades profissionais”, Ruy Cinatti empenhou-se, também, de alma e coração na oficina das letras. Donde o merecido destaque que nessa área lhe é justamente dado.

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Foi co-fundador, com José Blanc de Portugal e Tomás Kim, da revista Cadernos de Poesia, que coordenou de 1940 a 1953. Projecto a que se juntou depois Jorge de Sena.

Estreia-se como poeta em 1932, “revelando-se, desde logo, um espírito atento, particularmente interessado pela natureza, fonte primeira de uma vida imaginária e de toda a sua aventura espiritual”. Mas é “com Ossobó (1936), [que] Cinatti alcança uma naturalidade habilmente conseguida, captando o efémero, o fugidio e o transitório numa poesia rigorosa, plena de sonoridades e ritmos de grande beleza” - [ De uma apresentação da Editorial Presença, online ].

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De entre outras obras, Ruy Cinatti publicou, p. ex., Nós Não Somos Deste Mundo (1941), Poemas Escolhidos (1951), O Livro do Nómada Meu Amigo (1958, Prémio Antero de Quental), Sete Septetos, Crónica Cabo-Verdeana (1967, sob o pseudónimo Júlio Celso Delgado), O Tédio Recompensado (1968), Borda d'Alma (1970), Uma Sequência Timorense (1970, Prémio Camilo Pessanha), Uma Sequência Timorense (1971, Prémio Camilo Pessanha), Ruy Cinatti (antologia de 1986), Obra Poética (1992), Corpo e Alma (1994), Tempo da Cidade (1996). Em 1997, foi publicado Um Cancioneiro Para Timor (datado de 1968). E em 2000 Archeologia ad Usum Animae.

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“Ruy Cinatti poeta, é hoje considerado ímpar na literatura portuguesa deste século, pelo compromisso apenas assumido consigo próprio, pelo tipo de imaginação enleada no real, pelo génio aventureiro de português andarilho, homem de acção e místico, inventor de uma toada nova e de um ritmo aparentemente simples, geradores de uma obra admirável” - [ idem ... Editorial Presença, online ].

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Faltou referir o Prémio Nacional de Poesia, que conquistou em 1968 com Sete Septetos.

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Regressado, de novo, a Timor, em 1961, para além de ter desenvolvido a sua normal actividade profissional na área científica, travou novos conhecimentos e fez mesmo um pacto de sangue com dois chefes tribais. “Este momento sublime, a sua união e ligação pelo sangue a um Povo e a uma Terra está traçado no poema que se segue”:

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Pacto de Sangue

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Nobres há muitos. É verdade.
Verdade. Homens muitos. É muito verdade.
Verdade que com um lenço velho
As nossas mãos foram enlaçadas.

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Nós, como aliados, eu digo.
Panos, só um, tal qual afirmo.
A lua ilumina o meu feitio.
O sol ilumina o aliado.

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Água de Héler! Pelo vaso sagrado!
Nunca esqueça isto o aliado.
Juntos, combater, eu quero!
Com o aliado, derrotar , eu quero!

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A lua ilumina o meu feitio.
O sol ilumina o aliado.
Poderemos, talvez, ser derrotados
Ou combatidos, mas somente unidos.

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[ Do site “LUSOFONIA”, e acerca de Timor ]

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