terça-feira, fevereiro 21, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
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ESTAMOS NA TERÇA-FEIRA DIA 21 DE FEVEREIRO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4709 do calendário chinês
Ano 5772 do calendário hebraico
Ano 1434 da Hégira (calendário islâmico)

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2012 é o
ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS COOPERATIVAS


Dia Internacional da Língua Materna (UNESCO)

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«… vindo a reynar fez que florescessem nelle [Reyno]
com grandes aventagens todas as boas letras»
Frei Luís de Sousa acerca de D. João III
Na distante TR 21.02.1548, há 464 anos, é inaugurado o Colégio das Artes, em Coimbra, cuja fundação foi decidida em 1547.

Em Portugal reinava D. João III (15º monarca) e era seu escrivão da puridade (cargo mais importante de todos os que trabalhavam mais próximos do rei – equivalente, de certo modo, ao primeiro-ministro de hoje) Pedro de Alcáçova Carneiro, conde das Idanhas, que viria a ser vedor da Fazenda de D. Sebastião.


Com D. Fernando surgiram os Vedores da Fazenda (1370) a quem cabia a administração superior do Património Real e da Fazenda Pública.
O conceito de Fazenda Pública aplica-se, de uma maneira geral, às receitas e despesas do Estado central, bem como ao respectivo aparelho administrativo.


Rei de Inglaterra era Eduardo VI (45º) da Casa de Tudor filho de Henrique VIII (44º) e de sua terceira mulher Joana Seymour; Eduardo tinha duas meias-irmãs mais velhas, Maria I (47ª), a célebre Bloody Mary (filha de Henrique VIII com Catarina de Aragão) e Isabel (48ª) (filha de Henrique VIII com Ana Bolena), a Rainha Virgem ou Defensora da Fé, que foram deserdadas pelo rei quando Eduardo nasceu. Anos mais tarde, Henrique VIII colocou-as novamente na linha de sucessão, porém atrás de Eduardo. Joana I (46ª) foi rainha por 9 dias, por vontade de Eduardo VI que morreu sem herdeiros, nunca chegando a ser coroada e tendo sido destronada por Maria I (47ª). Todos Tudor.

Rei de França era Henrique II (40º), Dinastia de Valois.

Carlos V, era o Imperador do Sacro Império Romano Germânico, o último dos imperadores a ser coroado pelo Papa. Além de Imperador do Sacro Império Romano Germânico, foi Rei de Espanha, de Nápoles e da Sicília, dos Países Baixos e dos Romanos, Arquiduque da Áustria, Duque e Conde de várias designações. Casou com a filha de D. Manuel I, D. Isabel, e foi pai de Filipe I de Portugal (II de Espanha)

Em Espanha decorria o reinado de Carlos I (o já referido Carlos V) da Casa de Habsburgo (Casa de Áustria)

A igreja católica era liderada pelo Papa Paulo III (220). Foi este papa que montou a máquina para o combate à heresia que então grassava na Europa: elevou a cardeais homens de pulso forte; introduziu a Inquisição na Itália (1542), estabeleceu a Censura e o Index (1543), aprovou a Companhia de Jesus (1540). Foi ainda ele – Paulo III (220º) - que, graças à decisiva intervenção de Carlos V, estabeleceu a Inquisição no nosso país através da bula Cum ad Nihil Magis de 23.05.1536, ainda que com algumas restrições. Mas os abusos que, desde o início, a Inquisição portuguesa praticou, levou-o a suspender as execuções do nosso Santo Ofício. Ao que D. João III respondeu com a expulsão do núncio. Foi Inácio de Loiola que interveio como mediador, para o regresso do núncio. Com quem o nosso monarca nunca se entendeu. Foi ainda Paulo III (220º) que, em 1538, expediu a bula de excomunhão e deposição de Henrique VIII de Inglaterra. Estávamos numa época em que o papa ainda detinha um poder extraordinário sobre todo o mundo (civil) civilizado da época.


1547 foi o ano em que
- Foi instituído, em Portugal, o Tribunal Apostólico, ou Nunciatura, a pedido de D. João III (16JUL). [Nunciatura no sentido de missão diplomática do Vaticano (embaixada) só surge em finais do séc. XVII, em 1692, com o núncio apostólico Giorgio Cornaro (1658-1722)]
- O mesmo rei conseguiu do mesmo papa, o estabelecimento definitivo da Inquisição no nosso país. (Também há tristes memórias!)
- Nasceu Miguel de Cervantes.

1548 foi o ano em que
- Nasceu (em Nola, perto de Nápoles) o dominicano Giordano Bruno (conhecido também como Nolano ou Bruno de Nola), teólogo e pensador italiano que enfrentou abertamente os credos e dogmas (“verdades indiscutíveis”) da igreja católica, pela qual viria a ser condenado, por heresia, à morte na fogueira, por Clemente VIII (231º), e a ser executado (17.02.1600, com cerca de 52 anos). “Bruno é considerado um pioneiro da filosofia moderna, tendo influenciado decisivamente o filósofo holandês Baruch de Espinoza e o pensador alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz” (Wikipédia, a enciclopédia livre).
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O mais importante colégio da época foi sem dúvida o Colégio das Artes, de Coimbra, criado em 1547, onde se realizava o ensino preparatório que dava acesso à Universidade, convertido no século XIX em Liceu. (Imagem da Internet)

Em 1547, e “em virtude de se terem sido detectadas deficiências na preparação dos alunos na Universidade, resolve-se criar um colégio semelhante ao de Stª. Barbara, em Paris e ao de Guiana, em Bordéus, onde tradicionalmente os estudantes portugueses iam estudar, dotando-o de um notável grupo de professores. Surge assim, o célebre Colégio das Artes ou Colégio Real das Artes e Humanidades de Coimbra, onde se ensinava as matérias básicas do ensino secundário da época: gramática, língua latina, portuguesa, grega, e elementos de história e geografia e matemática elementares. Seguiam-se os estudos de retórica e humanidades. No final vinham os estudos filosóficos”. [Transcrito de Carlos Fontes, site “Navegando na Educação”].

A ideia (projecto) deste Colégio nasceu em 1547, da necessidade de ministrar em Coimbra cursos com que se pretendia melhorar e renovar o ensino no nosso país dentro do tradicional cunho humanista mas de sentido mais laico, distinguindo-o das mais instituições congéneres.

André de Gouveia, que trazia uma experiência pedagógica de Bordéus, foi director do Colégio durante muito tempo, e com ele trouxe dali um grupo de docentes, o dito grupo de “bordaleses” que rivalizava com o grupo mais ortodoxo e instalado dos “parisienses”. A luta entre os dois grupos acirrou-se tanto mais quanto a política de D. João III, de protecção da Igreja e da sua doutrina, se tinha radicalizado com a instituição da Inquisição.


O já aludido escrivão da puridade, de então, Pedro Carneiro, a propósito do “estabelecimento do tremendo tribunal da Inquisição” e “apesar da sua influência junto do monarca, [confessava que] nada podia contra o fanatismo de D. João III, que a esse respeito era intransigente”  [apud Portugal - Dicionário Histórico ol; artigo transcrito por Manuel Amaral]

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E foi destarte que o Santo Ofício encontrou no Colégio um rico potencial de perseguição e detenção de professores acusados de tendências protestantes.
A explicação era simples: enquanto os integristas (o grupo dos “bordaleses”) preconizavam uma maior abertura cultural e religiosa, os “parisienses” defendiam que tal abertura era incompatível com a ortodoxia.

Falecido André de Gouveia sucedeu-lhe no cargo Diogo de Gouveia. Mas a situação não melhorou reacendendo-se as velhas querelas entre os dois grupos, continuando os “bordaleses” a serem vítimas da Inquisição. E Diogo de Gouveia foi demitido.

O Colégio, projecto de 1547, sob a designação de Colégio das Artes ou Colégio Real das Artes e Humanidades de Coimbra, iniciou funções em 1548, em instalações provisórias no Colégio de Todos os Santos e de S. Miguel, próximo de Sta Cruz, na “baixa” coimbrã.

“O ambiente que se vivia - implantação da Inquisição, actividade do Santo Ofício, adopção das medidas do Concílio de Trento - isolou a acção do Colégio das Artes com dificuldades em manter a continuidade dos projectos culturais mais avançados”, acabando por ser entregue aos Jesuítas (1555).
Sob a direcção dos padres da Companhia de Jesus, o Colégio “entra em conflito com a Universidade relativamente à concessão de graus académicos”, transformando-se num instrumento da Contra-reforma e acabando por perder a sua autonomia, o que conduziu à sua extinção.
[Infopédia, a Enciclopédia online da Porto Editora]

É claro que só os filhos de famílias abastadas ou os que conseguiam bolsas régias, podiam usufruir desse privilégio de preparar a entrada na universidade num desses colégios, cuja qualidade de ensino era reconhecida em todos os países. “O colégio criado por D. João III, foi dotado de um grupo de professores de grande qualidade nas áreas do ensino ministrado, destacando-se a gramática, o latim, o português, o grego, a história, a geografia e a matemática elementares, matérias básicas do ensino secundário de então” Após o que se seguiam os de retórica e humanidades, e depois os estudos filosóficos [Apud site de Manuel Cordeiro, Professor da UTAD/UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO].

Após o seu funcionamento em instalações provisórias na “baixa” de Coimbra, “o Colégio das Artes foi construído (...) como parte integrante do conjunto jesuítico da Alta de Coimbra, a par do vizinho Colégio de Jesus. O novo complexo, de grandes dimensões, pretendeu estabelecer a influência da Companhia sobre a Universidade situando-se no ponto mais alto da colina universitária. O Colégio das Artes, dotado de igreja própria e sala de actos, hoje desaparecidas, albergava aulas para o ensino das Artes, preparatório dos estudos maiores das Faculdades. Em 1885 foi alvo de um projecto de remodelação e adaptação à nova função hospitalar, realizado pelo Prof. Costa Simões (...)” [Site “dARQ/Departamento de Arquitectura da FCTUC”]

A primeira universidade portuguesa foi instituída em Lisboa,
por diploma régio de D. Dinis (6º), com data de Leiria, 01.03.1290.
É uma das mais antigas da Península Ibérica.
A bula da sua confirmação papal é de 09.08 do mesmo ano,
assinada em Orvieto por Nicolau IV (191º).
Foi transferida para Coimbra 18 anos mais tarde, pelo próprio D. Dinis, em 1308. Em Coimbra fica durante os 69 anos seguintes, até 1377,
e neste ano volta a Lisboa até 1537 (160 anos),
regressando, então, definitivamente a Coimbra nesse ano.
[A J Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, Parte I e II, Gradiva/Público, 1996, pg 119]

A transferência para Coimbra logo em 1308, pelo fundador,
deve-se ao facto de a cidade do Mondego ser, já então,
uma cidade com velhas tradições escolares,
pois aí funcionava desde há muito
uma distinta e reconhecida escola de frades agostinianos,
no Mosteiro de Santa Cruz.
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Nota:
As actuais Universidades de Lisboa e do Porto foram fundadas por decreto de 24.03.1911, do Governo Provisório da República, chefiado por Teófilo Braga.

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Em 1537, no reinado de D. João III, dá-se a transferência definitiva da universidade para Coimbra e para o velho Paço da Alcáçova, acompanhada da reforma dos estudos e do ingresso de novos docentes, não só portugueses como estrangeiros. Data também desta altura a fundação de uma rede de colégios, muitos deles ligados às ordens religiosas, que tinham funções de pensionato, assistência e ensino, dos quais se encontram ainda alguns vestígios arquitectónicos na "Alta" e na Rua da Sofia. O mais importante destes colégios - com uma estrutura diferente de todos os outros - é o Colégio das Artes, que começou a funcionar em princípios de 1548. Em termos de orgânica pedagógica, ele significava um centro de ensino preparatório para a entrada nas faculdades, com funcionamento independente da Universidade, embora a ela acabasse por se ligar, e significava também que Portugal se colocava ao lado de outros países da Europa no campo do ensino das humanidades, pois o Colégio das Artes, delineado segundo os princípios do Humanismo Cristão, adquiriu algum relevo. André de Gouveia, que orientou colégios em Paris e Bordéus e que Montaigne haveria de elogiar, foi quem primeiro o dirigiu e nele leccionaram então mestres ilustres. Mas foi efémero o sentido renovador que a Universidade e o Colégio das Artes chegaram a alcançar. A Contra-Reforma, sentida em Portugal com particular ressonância, acabou por determinar uma viragem em direcção à defesa dos valores considerados "ortodoxos", atacando assim as tentativas de inovação. Desta forma, após ainda um momento brilhante no âmbito dos estudos teológico-filosóficos de sentido tomista, assinalado pela formação de um escol conhecido pelo nome de "conimbricenses" e, depois, durante o domínio filipino, pelo magistério de alguns espanhóis famosos, entre os quais se destaca o nome de Francisco Suárez, que aqui publicou alguns dos seus escritos mais notáveis, a Universidade de Coimbra, esgotadas as potencialidades escolásticas, vai entrar numa longa crise cultural. [Nota Histórica, Prof. Doutor Luís Reis Torgal, site da UC]

“A importância que o poder monárquico dava ao Colégios das Artes está evidenciada no Alvará de 13 de Agosto de 1561, durante a regência de D. Catarina, que instituiu que “ninguém pudesse matricular-se nas Faculdades de Direito da Universidade de Coimbra, sem apresentar certidão do Colégio das Artes, confiado à Companhia de Jesus”. [Apud cit Manuel Cordeiro].
Em terminologia actual diríamos que este alvará deu o monopólio do ensino pré-universitário aos jesuítas.

No Colégio das Artes estudou, por exemplo, durante cinco anos (dos 14 aos 19, isto é, de 1548 a 1553), o padre jesuíta espanhol (canarino) José de Anchieta, fundador da cidade brasileira de São Paulo. (O motivo da escolha dos pais de Anchieta de mandarem o filho estudar para Portugal, e não para Espanha, deve-se ao facto de ser judaica a sua ascendência e ao maior rigor, então, da Inquisição na vizinha Espanha, do que entre nós).

O Real Colégio das Artes é uma construção quinhentista, muito rica em talha e azulejaria. Tal como o seu vizinho Colégio de São Jerónimo (do séc. XVI), foi objecto de muitas intervenções, já que neles se instalou o Hospital da Universidade. Do conjunto primitivo do Colégio das Artes, restam o claustro, com colunas originais, e a capela, com o tecto pintado a fresco, configurando elementos arquitectónicos.

Refira-se, por último, o alvará de D. Maria I visando um especial regime censório para as aulas de Gramática, e de Humanidades do Colégio das Artes.
Recorde-se que em 5 de Abril de 1768 era criada a Real Mesa Censória, que D. Maria I extingue em 21 de Julho de 1787, substituindo-a pela Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros.
Depois, sim, temos o Alvará de 17 de Janeiro de 1791, do seguinte teor:
"Eu a Rainha. Faço saber aos que este Alvará virem: Que sendo servida ampliar, e regular o Plano do Senhor Rei Dom José, Meu Senhor, e Pai, que Santa Glória haja; em quanto Mandou exceptuar da Jurisdição da Real Menza da Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros as Aulas de Gramática, e de Humanidades do Colégio das Artes, e Cidade de Coimbra: Hei por bem declarar, que não só as referidas Aulas, mas as de todos os Primeiros Estudos da Comarca de Coimbra, sejam daqui em diante da Inspecção, e Provimento do Reformador Reitor da Universidade; que procederá a eles com os Exames, e Votos dos Professores do Colégio, e com os dos Lentes das outras Faculdades, que lhe parecer ouvir sobre a Criação, e Conservação das Cadeiras, que já houver, ou se pretender que haja no Distrito. E Ordeno, e Quero que por este mesmo Alvará fique pertencendo à Arrecadação do Subsídio Literário da dita Comarca de Coimbra a Ordem do mesmo Reformador Reitor, e de seus Sucessores; para se empregar nos ditos Primeiros Estudos; principalmente nos que vão estabelecer-se no mesmo Colégio das Artes; que cederão em benefício, não só da Comarca, mas de todo o Reino; pela utilidade que aí poderão receber, aperfeiçoando-se nas Primeiras Letras, os que vão a freqüentar as Ciências Maiores sem os Preparatórios, que não podiam ter nas suas naturalidades"[apud Portal UNICAMP/Universidade Estadual de Campinas/S. Paulo]

E na actualidade, o que se passa: ainda existe o Colégio das Artes de Coimbra? Com que objectivos?
Com data de 02.03.2009, o Público informava que o Colégio das Artes iria aproveitar, a título provisório, as instalações da Faculdade de Letras e da licenciatura dos estudos artísticos da Universidade de Coimbra - em crónica assinada por Adelino Gomes/Público e Francisco Fontes/Lusa, intitulado: «Coimbra: Colégio das Artes para diluir territórios do artístico e ciências», em cujo lead realçavam: «Projecto inspirado nos franceses Colégio Europeu de Filosofia e Colégio de França». E num destaque inicial sublinhavam: «Existem fronteiras entre as artes, as ciências e demais saberes? A Universidade de Coimbra quer desafiar os limites territoriais através de uma instituição de estudos avançados, de ambição internacional, a funcionar no próximo ano lectivo», ou seja, no passado ano de 2010.
«O projecto inédito de Colégio das Artes, que se inspira nos franceses Colégio Europeu de Filosofia e Colégio de França, (…) será uma unidade orgânica equivalente a faculdade que pretende assumir-se como um espaço de criação científica e artística, e de intercepção de saberes» - explicavam.
«"A ideia é de interdisciplinaridade, de elo de ligação. Partindo do território das artes dialogar com saberes que não estão nesse território", revelou à agência Lusa Abílio Hernandez Cardoso, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC), e director da instituição.»
E prosseguem os jornalistas, agora quanto aos objectivos do Colégio: «A sua vocação será a reflexão científica interdisciplinar no domínio das artes e o desenvolvimento do espírito criativo em diálogo permanente com os diversos saberes cultivados na UC.»
«Segundo Abílio Hernandez Cardoso, antigo director da Coimbra Capital Nacional da Cultura, um dos aspectos inovadores do Colégio das Artes é o de potenciar aquilo que se vai fazendo nos diversos domínios do saber, rompendo com a ideia de instituição universitária "fechada no seu casulo"» - esclarecia a crónica. Que acrescentava:
«Os saberes científico-tecnológicos, da filosofia, do direito, da história, da antropologia, ou da arquitectura, poderão estabelecer elos de contacto com a reflexão artística, mas também com o exterior ao mundo universitário, com as práticas artísticas e os artistas».
«"É algo de inédito na universidade portuguesa, a articulação do trabalho de investigação e ensino estritamente académico e ligar isto à prática artística contemporânea, trazendo para aqui grandes nomes da arte nacional e internacional", sublinhou o director da instituição» - explicavam os colunistas, que prosseguiam:
«A intenção é convidar artistas a desenvolver projectos, em seminários e oficinas, no âmbito dos estudos de pós-graduação, que poderão ser dirigidos a alunos de doutoramento e mestrado portugueses e estrangeiros, bem como a artistas com currículo relevante.»
E avançava a local que «outro dos aspectos inovadores do Colégio das Artes é o de conter no seu espaço uma extensa área expositiva, com cerca de 600 metros quadrados, para mostrar a criação artística e o trabalho de produção no âmbito dos projectos académicos.» Explicitando melhor:
«Mediante um protocolo em negociação com o Museu de Serralves, serão aí realizadas exposições temporárias daquela fundação do Porto, onde os alunos poderão partir da reflexão teórica para elaborar trabalhos sobre esse acervo expositivo.»
Ou seja, «O Colégio das Artes será uma instituição "onde se pensa a arte, se faz arte e se mostra a arte", explica Abílio Hernandez Cardoso.»
Em matéria de espaço, «a nova instituição ficará albergada no rés-do-chão de um edifício quinhentista edificado para Colégio das Artes, designação que ainda hoje conserva.
Actualmente tem o seu primeiro andar ocupado com o Departamento de Arquitectura da Universidade, mas durante mais de um século albergou as enfermarias do Hospital da Universidade de Coimbra, até à sua transferência para um edifício construído de raiz nos anos 80, e o Museu da Ciência.»

«Para Abílio Hernandez Cardoso, esta é também uma forma de dignificar a história daquele edifício do século XVI, cujas obras de reabilitação poderão estar concluídas dentro de três anos, a partir de um concurso internacional para a adjudicação da empreitada, a lançar ao longo de 2009.» Isto é, espera-se que este ano essas obras de reabilitação estejam concluídas.

Voltando à ideia inicial desta crónica dir-se-á que «provisoriamente, o Colégio das Artes irá aproveitar as instalações da Faculdade de Letras e da licenciatura dos estudos artísticos, para começar com as suas duas primeiras pós-graduações, em Estudos Curadorias e Crítica de Arte e Arquitectura.»


“Curadoria”, aqui, identifica-se com o “processo de organização e montagem da exposição pública de um conjunto de obras de um artista/conjunto de artistas” [Internet]


Pode assim afirmar-se que o Colégio das artes evoluiu duma formação básica pré-universitária para uma acção complementar da formação superior, de pós-graduação.









(Fontes
Além das referidas ao longo do texto, alguns artigos dispersos da Net)






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