quinta-feira, agosto 04, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:







Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.



ESTAMOS NA QUINTA-FEIRA DIA O4 DE AGOSTO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao

Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)

Ano 4707 a 4708 do calendário chinês

Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico

Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico


Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO

ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA

ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS



Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África,
Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.
(pintura a óleo atribuída a Cristóvão de Morais, patente no Museu Nacional de Arte Antiga).
A representação do rei vestido com armadura e acompanhado por um galgo
retomam simbolicamente a imagética imperial
do seu bisavô D. Manuel e do seu avô Carlos V da Alemanha.


Foi há 433 anos, na SG 04.08.1578: deu-se a batalha de Alcácer-Quibir, na qual desapareceu o rei português D. Sebastião, de 24 anos.


O panorama das casas reais europeias, ao tempo deste acontecimento, era o seguinte:
rainha de Inglaterra era Isabel I, da dinastia dos Tudor. Filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, era cognominada Rainha Virgem. Sucedeu a seus dois meios-irmãos: Eduardo VI e Maria I, a Sangrenta.
Na França, era detentor do poder Henrique III, da dinastia de Valois, filho de Henrique II de quem foi o terceiro sucessor, depois de seus irmãos Francisco II e Carlos IX, a quem sucedeu. Também foi rei da Polónia, de 1573 a 1575.
Imperador da Germânia era Rodolfo II, filho do Imperador Maximiliano II, de quem foi co-regente entre 1575 e 1576, da Casa de Habsburgo. Também era rei da Itália.
Em Espanha governava Filipe II, da Casa de Habsburgo (Casa de Áustria), depois também Filipe I de Portugal, após o desaparecimento de D. Sebastião.

Relativamente ao desaparecimento de D. Sebastião o mistério que subsiste é: desapareceu nessa data de 1578, mas quando e onde morreu?
Supõe-se que terá falecido aí e na mesma data, na batalha travada na localidade marroquina de (Ksar-el-Kebir) Alcácer Quibir, entre o exército português, liderado pelo rei D. Sebastião e o exército marroquino. Este último, maior e mais bem organizado, venceu. D. Sebastião morreu, deixando Portugal sem sucessor e sem grande parte da nobreza, também ela morta ou aprisionada. A crise dinástica agravou-se, abrindo caminho à perda da independência nacional. (BU/Biblioteca Universal, da Texto Editora)

Terá morrido, pois, nesta data, D. Sebastião, décimo sexto rei de Portugal, entre 1557 e 1578, neto de D. João III. Nasceu em 1554 e era filho do infante D. João Manuel (filho de D. João III) e de D. Joana de Áustria, filha de Carlos V de Espanha. Sendo menor à morte do seu avô, em 1557, teve de esperar até 1568 para atingir a idade (14 anos) que lhe permitia ascender ao trono, permissão que lhe foi dada pelas Cortes reunidas para o efeito.
Deve o seu cognome, o Desejado, ao facto de o seu nascimento ter permitido viabilizar a sucessão masculina por portugueses, após a morte, ainda na infância, de todos os mais filhos varões de D. João III. O próprio infante D. João, pai de D. Sebastião, morrera nas vésperas do seu nascimento.


D. Sebastião, ao morrer nesta data, na referida batalha, com apenas 24 anos, deixou de novo a questão da sucessão em aberto.


Na sua menoridade, a regência foi entregue a sua avó D. Catarina de Áustria, viúva de D. João III, próxima dos interesses castelhanos. A partir da década de 60, começou a esboçar-se uma oposição à regente em certos meios influentes da corte. A alta administração da coroa, partidária de uma maior autonomia face a Espanha, apoiou, a partir de 1562, o cardeal D. Henrique, que vinha substituir D. Catarina na regência. A subida ao trono de D. Sebastião ter-se-á verificado neste momento de encruzilhada da sociedade portuguesa quanto às opções a tomar em política externa.


Educado no meio de padres e cavaleiros, o novo rei foi submetido a forte pressão e expectativa. Os sucessivos ataques das potências norte-europeias aos entrepostos e fortalezas portuguesas no Índico e no Atlântico mais terão reforçado a atracção de D. Sebastião pelo Norte de África. Desde 1572, que a passagem a Marrocos se tornara um objectivo explícito do rei, apoiado pela jovem nobreza do reino, e envolvido de uma forte componente ideológica e cruzadística.


Em Agosto de 1574, o rei foi pela primeira vez a Marrocos, sem sucesso. Nos anos seguintes preparou a grande expedição contra o xerife marroquino, procurando o apoio papal e de seu tio, Filipe II, que o tentou demover até ao fim, e com quem se encontrou em Guadalupe, em finais de 1576. Mas D. Sebastião reocupava Arzila em 1577 e, no ano seguinte, a 4 de Agosto, conduzia, finalmente, um mal preparado exército à derrota e à morte nos campos de Alcácer Quibir.


O seu abrupto desaparecimento estaria na origem do sebastianismo, um dos mitos mais duradouros da história de Portugal - a crença no seu regresso redentor numa manhã de nevoeiro.


O nosso poeta maior esboçou-o assim:


Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais do que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

"Mensagem", Fernando Pessoa

A questão sucessória foi vencida pelo partido do rei de Espanha, Felipe II (Filipe I de Portugal).



Filipe I de Portugal (Valladolid, 1527 — El Escorial, 1598) desde 1580, tendo sido coroado nas Cortes de Tomar de 1581 (II, de Espanha, desde 1556) era filho do Imperador do Sacro Império Romano Germânico e rei das Espanhas Carlos V de Habsburgo e de Isabel de Portugal, governou um vasto território integrado por Aragão, Castela, Catalunha, ilhas Canárias, Maiorca, Navarra, Galiza e Valência, Rossilhão, Franco-Condado, Países Baixos, Sardenha, Córsega, Sicília, Milão, Nápoles, além de territórios ultramarinos na África (Orão, Túnis, e outros), na América e na Ásia (Filipinas). Em termos de política externa, sua mais significativa vitória sucedeu contra os turcos otomanos: a Batalha de Lepanto, em 1571. Cognominado o Sábio, era irmão da mãe de D. Sebastião, portanto seu tio.


Por outro lado, enquanto Filipe I era neto de D. Manuel I, D. Sebastião era seu bisneto.


O primeiro casamento de Filipe I (aos 16 anos) foi com uma sua prima direita, D. Maria (Manuela?), filha de seu tio D. João III e neta de D. Manuel (ora se filha de D. João III, tia do jovem rei). Mas D. Maria morreria (de parto: príncipe D. Carlos) passados dois anos.
Assim, quando D. João III morreu (em 1557, com 55 anos) já não era vivo nenhum dos seus 9 filhos (8 que teve com D. Catarina; mais um filho natural, Duarte, que foi arcebispo de Braga e teve, por sua vez outro filho natural, seu homónimo). Daí que lhe tenha sucedido um neto: D. Sebastião (que tinha, então 3 anos - donde as regências, primeiro, da avó, D. Catarina de Áustria, e depois do tio-avô, o cardeal D. Henrique). E D. Sebastião era, também, neto - pelo lado materno - de Carlos V, e sobrinho-neto do mesmo imperador, pelo lado paterno.

A propósito da relação de D. Sebastião com Marrocos, é oportuno lembrar o programa de História do 8º ano, de há anos, e que era o seguinte: Compreender as motivações de D. Sebastião, ao projectar a expedição a Marrocos:
- Ambição de travar combate [vitorioso] contra os infiéis.
- Desejo de encontrar fontes de rendimento e lucro mais próximas de Portugal.
- Corresponder às ambições de grandeza e prestígio de grande parte da nobreza nacional.
- Evitar os inconvenientes de um império colonial disperso e de difícil administração.
Projecto que não teve ocasião de pôr em prática com sucesso.

Mas D. Sebastião não podia queixar-se da fortuna. O seu destino prendia-se com a sua imaturidade, a sua imprudência e com os maus conselheiros que o rodeavam e influenciavam. Não houve pessoa de senso, desde seu tio, Filipe II de Espanha (conquanto eventual pretendente ao trono de Portugal) aos mais experimentados capitães, que conseguisse movê-lo do irremediável desastre em que prosseguia.


Muito duro, impiedoso, sarcástico e sem cerimónias, António Sérgio, um autor de créditos firmados, na sua Breve Interpretação da História de Portugal, traça o seguinte retrato de D. Sebastião, em pinceladas vigorosas e impressivas: "O reizito, em 1568 [tinha 14anos], foi declarado maior pelas Cortes. Este rapazola tresloucado foi convencido por alguns fanáticos a fazer-se paladino da fé católica, contra o Protestante e o Maometano. Por isso (...) se abalançou a conquistar Marrocos, contra o conselho sensato dos mais experimentados capitães. Reuniu em Lisboa um exército aparatoso (...). Chegado a África, cumulou erro sobre erro, com desespero dos capitães, que pensaram em prender o tonto. No dia da batalha (Acácer Quibir, 04.08.1578) mandou que ninguém se mexesse sem ordem sua; mas esqueceu-se de dar a ordem. O exército inimigo, formado em crescente, envolveu a pequena hoste, e submergiu-a. Foi um desastre completo (...).
Não é propriamente a imprudência o que deploramos em D. Sebastião, mas a estupidez, o desvairamento, a tontaria, a explosividade mórbida, a ferocidade inútil, a pataratice constante desse impulsivo degenerado, que era de todo destituído das qualidades de comando absolutamente indispensáveis para a execução do que ambicionava. Se um acaso, por exemplo, lhe desse a vitória em Alcácer Quibir, logo outras asneiras o haveriam perdido, porque o dom da asneira em jacto contínuo era nesse jovem uma propriedade congénita" (op. cit., págs 88/89).

O sebastianismo, tão ao jeito da idiossincrasia da lusa gente, é (!?) um movimento que se encontra muito bem definido e explicado numa entrada com essa designação na Wikipédia, a enciclopédia livre, que transcrevo:

«O Sebastianismo foi um movimento místico-secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei Filipe II do ramo espanhol da casa de Habsburgo. Basicamente é um messianismo adaptado às condições lusas e à cultura nordestina do Brasil. Traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre. Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém [terá, mesmo? O acontecimento carece de provas], o povo nunca aceitou o facto, divulgando a lenda de que o rei se encontrava ainda vivo, apenas esperando o momento certo para voltar ao trono e afastar o domínio estrangeiro. O seu mais popular divulgador foi o sapateiro de Trancoso, Bandarra, que previu nas suas trovas o regresso do Desejado (como era chamado D. Sebastião). Explorando a crendice popular, vários oportunistas apresentaram-se como o rei oculto na tentativa de obter benefícios pessoais. O maior intelectual a aderir ao movimento foi o Padre [António] Vieira. No dia 1 de Dezembro de 1640, um grupo de conjurados chefiados pelo Duque de Bragança (futuro D. Joao IV - dinastia de Bragança), depôs em Lisboa o representante de Filipe III e restaurou a independência de Portugal e o movimento começou a arrefecer no interior do Nordeste brasileiro, onde tomou a forma de crença na chegada de um "rei bom". O poeta português Fernando Pessoa, em seu livro Mensagem, faz uma interpretação sebastianista da História de Portugal [de que vimos um trecho lá mais acima], em busca de um patriotismo perdido. O poema reinterpreta a História de Portugal em função de uma ressurreição de um passado heróico ("é a Hora!").»



Pobre povo português cuja mórbida natureza quadra com tais crendices quebrando-lhe, ainda mais, um ânimo já de si propenso a um doentio fatalismo…




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