segunda-feira, julho 18, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:



Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

ESTAMOS NA SG DIA 18 de Julho DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO
Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico


Mais:


DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".


Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO,
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
e ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS




Trata-se da imagem mais vulgarizada
do Pe António Vieira



Completam-se hoje 314 anos (foi na QI 18.07.1697): faleceu o Padre António Vieira. Missionário jesuíta, escritor, diplomata e orador sacro, o seu passamento deu-se em São Salvador da Baía, no Brasil, aos 89 anos (52 dos quais passados no Brasil).


O realizador Manoel de Oliveira (1908) inspirou-se na sua figura para o filme Palavra e Utopia.


O contexto político Ocidental era, então, o seguinte:
Em Inglaterra reinava Guilherme III (54º), da dinastia dos Stuart, também Guilherme II da Escócia e, igualmente, Guilherme III, Príncipe soberano de Orange. Era, também, o soberano das treze colónias norte-americanas que foram como que o fermento do que viriam a ser os EUA.
Na Germânia governava o imperador Leopoldo I, da dinastia de Luxemburgo.
Em França detinha o poder máximo Luís XIV, o Rei Sol (46º), da dinastia de Bourbon (também Luís III de Navarra)
Em Espanha reinava Carlos II último rei da casa dos Habsburgos (Casa de Áustria) a reinar sobre a Espanha, Nápoles e Sicília, senhor de quase toda a Itália excepto dos Estados Papais e da Sereníssima República de Veneza, e do império ultramarino castelhano, do México à Patagónia e que incluía Cuba e as Filipinas. Era, como Rei de Nápoles, da Sicília e de Navarra, Carlos V, rei titular de Jerusalém e Rei da Sardenha e dos Países Baixos, duque de Milão, conde da Borgonha e conde do Charolais. Era filho e sucedeu a Filipe IV (Filipe III de Portugal). Não deixou herdeiros, donde a Guerra de Sucessão Espanhola.
Em Portugal reinava D. Pedro II (23º), irmão de D. Afonso VI que, frágil e apoucado, fora destronado por maquinações do irmão que lhe roubou o trono e a mulher.
No Vaticano pontificava Inocêncio XII (242º), que também figurou nos jogos de bastidores que afastaram e desterraram e interditaram D. Afonso VI – uma vergonha miserável.


O padre jesuíta António Vieira (1608-1697) foi um dos maiores escritores barrocos da língua portuguesa. Nascido em Lisboa numa família pobre, emigrou aos seis anos com os pais para a Baía, no Brasil, tendo aí iniciado os seus estudos. Estudou no colégio dos jesuítas, em Salvador, e entrou na Companhia de Jesus aos 15 anos. “Os jesuítas tinham sido desde sempre os portadores da cultura e civilização no Brasil, com relevo especial para os Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega. Assim sendo, cursou Humanidades no colégio da Companhia de Jesus, onde revelou bem cedo dotes excepcionais.” “Ao entrar no segundo ano do seu noviciado, assistiu à brusca invasão dos holandeses na Baía.” “Começara, então, a Guerra Santa entre Portugal e os inimigos de Deus, a que Vieira não ficou alheio durante mais de 25 anos. Descrevendo estes eventos calamitosos do ano de 1624, na "Carta Ânua" (sua primeira obra literária) ao Padre Geral em Roma, Vieira deixou claro que a sua actividade não se limitaria a ser meramente religiosa, pois os preceitos jesuíticos, que apontavam para a emulação e o instinto de luta, levavam-no a bater-se pela justiça.”

As Cartas Ânuas (ou anuais), documento jesuítico, síntese de muitas cartas parciais enviadas pelas unidades como colégios ou missões, constituem a actividade obrigatória de um jesuíta Provincial perante o religioso Geral em Roma,
posto que fundamentam as decisões sobre a actuação dos jesuítas.
Esta de Vieira, mais que de uma espécie de relatório anual
da actividade da congregação, é uma verdadeira peça literária

Ordenou-se padre em 1635, mas mesmo antes já proferira alguns sermões e se iniciara na catequização dos indígenas. “Em 1641, restaurada a independência, Vieira acompanhou o filho do governador, que vinha trazer a adesão do Brasil a D. João IV, à Metrópole.” “Nos numerosos sermões desta época da sua vida, Vieira não se cansava de animar o auditório a perseverar na luta desigual com Castela e propunha medidas concretas para a solução de problemas, inclusive de ordem económica. A sua situação privilegiada dentro da corte teria contribuído para que fosse encarregue de diversas missões diplomáticas na Holanda, França e Itália, como foi o caso do casamento do príncipe Teodósio.

D. Teodósio de Bragança (1634-1653) era o primogénito
do Rei de Portugal
D. João IV e da Rainha D. Luísa de Gusmão.
Herdeiro da coroa portuguesa,
foi o 9º Duque de Bragança (como D. Teodósio III) e 1º Príncipe do Brasil,
título especialmente criado em sua honra,
enquanto herdeiro do trono,
por carta do pai de 27 de Outubro de 1645.
Desde cedo vocacionado para o exercício do poder,
revelou grandes dotes para as letras e para a música, à semelhança de seu pai;
contudo, a sua morte prematura, aos 19 anos, apartou-o do trono,
levando ao poder, em seu lugar, seu irmão segundogénito D. Afonso [VI],
mentalmente débil e,
depois de um infame processo contra este,
seu terceiro irmão D. Pedro [II].

Entre 1641 e 1652 viveu em Portugal, onde actuou como pregador da Corte, conselheiro e confessor do rei D. João IV. Ao mesmo tempo que firmava seu prestígio como um grande orador e autor de sermões, Vieira atraiu suspeitas da Igreja, por sua pregação em favor dos judeus (vistos por ele como necessários ao desenvolvimento económico do reino e da colónia), pela moderação da perseguição inquisitorial aos cristãos-novos e pelas profecias que sustentava (nomeadamente as “trovas” do Bandarra). A própria Companhia de Jesus começou, também ela, a ver com maus olhos a sua influência nos destinos do país, ameaçando-o de ser expulso da Companhia. “A pedido da mesma, voltou ao Brasil em 1653, para o estado do Maranhão e aí assumiu um papel muito activo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. No ano seguinte pregou o Sermão de Santo António aos Peixes. Foi expulso do Maranhão pelos colonos, em 1661, e regressou a Lisboa.” Assim, de regresso ao Brasil em 1652, Vieira foi portador de um decreto de libertação dos índios: O Padre António Vieira mais não foi, pois, que um defensor dos direitos humanos dos índios do Brasil (avant la lettre). Realmente “ele fez da defesa dos cristãos novos,” dos judeus, “dos índios e dos negros o ponto alto da sua poderosa retórica.”


Foi esta a sua fase de mais intensa acção evangélica. Com a morte de D. João IV, seu protector, e tendo deflagrado conflitos entre os colonos e os missionários, estes últimos foram expulsos do Maranhão. Data do ano seguinte o seu «sermão da Epifania», constituindo uma defesa dos missionários e um ataque aos colonos. Apoiante de D. Pedro II, foi perseguido pelos partidários de D. Afonso VI. Em 1661 foi levado como prisioneiro para Lisboa.


Entretanto, a Inquisição, acusando-o de heresia, instaurou-lhe um processo e prendeu-o, entre 1665 e 1667. As acusações dirigiam-se à crença messiânica e visionária de Vieira. Apoiado nas «Trovas» do Bandarra e nas Sagradas Escrituras, profetizava a ressurreição de D. João IV, a quem caberia a concretização do Quinto Império português, que coincidiria com o reino de Cristo na Terra — crença mítica descrita no texto «Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo, primeira e segunda vida d’el-rei D. João IV». Enfim, um esoterismo algo preocupante para um sacerdote que também misturava exemplos bíblicos com outros mitológicos.

Ao fim e ao cabo, advogado dos marginalizados (dos judeus, dos negros, dos cristãos-novos, dos índios e dos indígenas), despertou a ira da Inquisição que o encarcerou durante aqueles dois anos.


Em 1668 conseguiu ser amnistiado.


“Em 1669 parte para Roma como diplomata e obtém grande sucesso como pregador, combatendo o Tribunal do Santo Ofício. Na Cidade Eterna, continuou a defesa acérrima dos judeus e ganhou grande reputação, encantando com a sua eloquência o Papa Clemente X e a rainha Cristina da Suécia. Em 1675 volta a Lisboa, onde inicia a publicação dos seus Sermões, entre os quais se encontram os célebres Sermão de Santo António aos Peixes e o Sermão da Sexagésima. Depois de viver em Roma, voltou em 1681 à Baía, onde morreu em 1697.


A obra de António Vieira, de que é indissociável a sua intensa acção como homem público, compõe-se de cerca de 200 sermões, mais de 500 cartas e uma série de documentos vários — de política, diplomacia, profecia, religião...


Nos sermões Vieira demonstra uma profunda capacidade de análise e denúncia dos vícios humanos, com grande realismo e inteligência implacável na sua acção moralista. Simultaneamente, Vieira foi o visionário do Quinto Império, o idealista utópico e profético de um messianismo em que se conjugavam as crenças sebastianistas tradicionais e as crenças messiânicas de origem judaica, como já antes referido. Em ambos os casos, socorreu-se da sua extraordinária capacidade oratória, pela qual, num estilo claro, sedutor e simples, e segundo os preceitos escolásticos e retóricos da escola jesuíta, recorria a processos pseudo-lógicos (!) de interpretação das escrituras, num discurso fortemente alegórico e metafórico, aplicando os sinais e passagens da Bíblia à realidade sua contemporânea. Os seus textos revelam um grande virtuosismo no domínio da língua e no domínio dos seus efeitos no auditório, expandindo cada motivo de forma dialéctica e envolvente, causando espanto pelas revelações e consequências do seu jogo de raciocínios, que por vezes se aproximam do maravilhoso. Exprimiu, de forma exemplar e viva, muitos dos princípios artísticos do barroco, o que levou, no iluminismo oitocentista, a um certo descrédito da sua figura.


Considerado frequentemente um dos paradigmas da prosa clássica portuguesa, foi o maior orador sacro da literatura do país e, simultaneamente, um dos maiores apologistas do messianismo nacional, que justificava todo o seu empenho na valorização e reforma da economia e na força política do país.


Os seus Sermões foram publicados entre 1679 e 1748. Conservam-se também as Cartas (1735), a História do Futuro Livro Ante-Primeiro (1718, obra do seu profetismo milenarista) e uma «Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício» (1957), para além de uma série de outros textos variados, entre os quais se encontram os célebres «Sermão de Santo António aos Peixes» e «Sermão da Sexagésima».


Em síntese, jesuíta brilhante, cosmopolita, diplomata do reino, conselheiro de reis, polemista, perseguido pela inquisição, o padre António Vieira foi uma personagem multifacetada, talvez até, por vezes, contraditória. Mas há um ponto em que o consenso é inegável: quanto à genialidade dos seus sermões. Donde que o nosso poeta maior, F Pessoa, o tenha apelidado de imperador da língua portuguesa.







(Síntese da Folha de S. Paulo, do site “educar para crescer”, da Wikipédia, da BU/Biblioteca Universal, da Texto Editores e da Infopédia, da Porto Editora. Alguns dos trechos sublinhados são, mesmo, parte do artigo Padre António Vieira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-07-03]. Disponível na www: .)

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