terça-feira, maio 10, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.


ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 04 DE MAIO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
e
é, também, o ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA

Além disso
hoje é DIA MUNDIAL DO DOENTE DE LÚPUS


Trago hoje a memória de dois eventos que perturbaram o regime da feroz ditadura salazarista e com que se escreveu, também, o proémio da História do Dia da Liberdade e da moderna História de Portugal.



Completam-se hoje 105 anos (1906), foi numa QI: nasceu D. António Ferreira Gomes, em São Martinho de Milhundos, Penafiel. Reinava, ainda, D. Carlos (33º). No Vaticano pontificava Pio X (257º).

D. António Ferreira Gomes
numa obra cujo autor desconheço

O bispo que teve a ousadia de afrontar a ditadura do Estado Novo e o seu líder, Salazar, doutorou-se em Filosofia na Universidade Gregoriana de Roma.
Foi nomeado bispo de Portalegre, em 1949, e bispo do Porto em 1952.

A 13 de Julho de 1958 (conquanto a notícia, por manifesto lapsus calami referisse 13 de Agosto) D. António escreveu uma carta a Salazar, na qual, mantendo-se fiel à doutrina da Igreja, exprimia a sua preocupação acerca de alguns aspectos negativos do regime então vigente, principalmente por razões sociais.


Por pressão de Salazar, o bispo viu-se constrangido ao exílio, em 1959, em Roma, só regressando a Portugal dez anos depois, altura em que retomou as suas funções clericais, das quais resignou em 1982, ao atingir o limite de idade” – noticiava o PÚBLICO na sua edição de 05.05.05.

Estão associados ao seu nome o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes e a Fundação SPES

O ex-bispo do Porto, que teve coragem de se opor ao regime de Salazar – o que lhe custou 10 anos de exílio - faleceu a 13 de Abril de 1989, perto de perfazer os 83 anos.

Por mim continuo a pensar que mais grave do que as palavras e a consequente defesa da doutrina social da Igreja, foi a atitude contestatária do bispo face às teses e á ideologia do todo-poderoso mentor e líder da situação.

Foi assim que pouco mais de um mês depois das eleições presidenciais de 1958 (que se realizaram no Domingo 8 de Junho de 1958), mais precisamente no dia 13 de Julho, D. António Ferreira Gomes escreveu uma longuíssima e (atendendo às circunstâncias) corajosa carta a Salazar, que lhe valeu dez anos de exílio em Espanha, França e Alemanha (entre 1959 e 1969).
”Essa carta foi um marco na resistência dos católicos (então ainda relativamente incipiente) contra a ditadura.”

Do texto, constante de vários sítios da rede, deixo aqui uma parte - digamos que o seu prólogo - não sem remeter, por fim, para o seu completo conteúdo, para os que nele estiverem interessados, que se encontra num sítio da blogosfera intitulado “Entre os Textos da Memória”.

«AO EX.mo PRESIDENTE DO CONSELHO

Porto, 13 de Julho de 1958

Excelência,

Cumpre-me, antes de mais, agradecer a V. Ex.ª o ter manifestado a boa disposição de me ouvir.
Na verdade, estando eu, na ocasião das eleições, legitimamente ausente em Barcelona, a deslocação a Portugal, que se me pedia, por forma tão extraordinária e pública, não poderia deixar de considerar-se propaganda da Situação, visto que, nas condições das duas candidaturas, sem falar sequer da posição ideológica de quem me pedia, era praticamente voto aberto. Isto tinha talvez menos importância; o que a tinha máxima era o carácter plebiscitário que se tem dado às nossas eleições, carácter que eu procurei fazer compreender ao grupo de pessoas que se me dirigiu e que depois V. Ex.ª publicamente reconheceu.

Em tais condições e forçado a ser, diametralmente ao contrário do meu desejo, uma bandeira, eu não podia deixar de fazer uma declaração de voto. Como a não deveria fazer em público, requeri fazê-lo a V. Excelência.

Acho porém preferível enviar primeiro, por escrito, os pontos fundamentais desta minha declaração a fim de poder ser útil à nossa conferência.

Quero, sobretudo e antes de tudo, acentuar que aquilo que se me põe à minha consciência é um problema directamente da Igreja.

A grande e trágica realidade, que já se conhecia mas que a campanha eleitoral revelou de forma irrefragável e escandalosa, é que a Igreja em Portugal está perdendo a confiança dos seus melhores. Não direi se este processo está, em princípio, no meio ou perto do fim; o que é evidente é que tal processo está em curso, por mim penso que muito e muito adiantado.»

Ler o texto completo aqui.

O cinquentenário da carta foi largamente recordado.

Assim, por exemplo, na imprensa laica:

Jornal de NotíciasDomingo 2008-07-13

Faz 50 anos que o bispo do Porto enviou o "pró-memória" a Salazar, uma "carta-aberta" que questionava o ditador e as ligações do regime à Igreja

A "carta" que sacudiu o salazarismo
Alfredo Maia

Há 50 anos, um bispo sacudiu o salazarismo e a cumplicidade católica. Um memorando enviado ao ditador apontou mazelas e requereu mudanças. D. António Ferreira Gomes foi para o exílio, mas nada ficou como dantes.


Mas já nada era como dantes. Estávamos em 1958, o ano do sismo eleitoral que abalou a ditadura. Na campanha para a Presidência da República, centenas de milhar de pessoas ousaram apoiar nas ruas Humberto Delgado, opositor ao candidato do regime, Américo Thomaz.


A resistência ganha uma nova frente. Militantes da Acção Católica (AC) reclamavam mudanças, questionando o Estado Novo e a aliança com a Igreja Católica que o incensava. E o bispo do Porto já incomodava.


Voz dissonante na Igreja, com preocupações sociais desde o seu primeiro magistério, em Portalegre (1948) e aprofundado no Porto (1952), D. António Ferreira Gomes era ouvido entre os militantes da AC e os jovens das novas elites e mantinha contactos com católicos progressistas como António Alçada Baptista, Nuno Teotónio Pereira e Francisco Lino Neto e Manuela Silva.


A partir de 1956, questiona, em conferências e homílias, a organização corporativa, a falta de liberdade de expressão e de associação, a exploração dos operários e a miséria rural. Salazar suspeita que pretende transformar a AC em partido (democrata cristão) elege-o como inimigo.


Na altura das eleições, conferências afastam D. António do país. Salazar não gosta e estende a garra sobre a presa. Envia três senhoras de sua confiança a Barcelona para persuadirem o bispo a vir votar, prometendo-lhe um encontro com o ditador, para discutirem os assuntos que entender.


D. António regressa, vota e prepara o encontro. A 13 de Julho de 1958, envia um "pró-memória" a Salazar, com as matérias a abordar. E descobre-lhe o jogo: a deslocação "não poderia deixar de considerar-se propaganda da Situação, visto que, nas condições das duas candidaturas, sem falar sequer na posição ideológica de quem mo pedia, era praticamente voto aberto", escreve.


A reunião nunca se realizou. O documento, apesar de confidencial ("A cópia que me enviou era acompanhada de um cartão pessoal no qual pedia absolutamente reserva", conta Manuela Silva) escapou com "fugas" da Presidência do Conselho e descuido no círculo do bispo. Distribuído pelo aparelho fascista, apodando-o de comunista, e pela oposição, que apropriava uma nova voz, mudou muitas consciências.


Salazar exigiu a demissão do bispo, ameaçando romper a Concordata; o episcopado isolou-o; e o clero e os católicos situacionistas vilipendiaram-no. Acabou por aceitar a "sugestão" do enviado do Vaticano e do ditador: férias fora do país "para acalmar as coisas". Partiu a 24 de Julho de 1959, mas o regresso foi barrado pela PIDE na fronteira. Reentrou na sua diocese a 5 de Julho de 1969, com a benevolência da sombria "Primavera marcelista".


Mais explícita e completa (ainda que um pouco longa) é a comemoração do mesmo evento pela (católica) “Agência Ecclesia” no seu próprio site, onde disseca a carta, digamos:

«50 anos da Carta a Salazar

A missiva de D. António Ferreira Gomes dá a conhecer as misérias da época e aponta soluções fundamentadas nos documentos pontifícios

Nunca um «pró-memória» foi objecto de tanta investigação como aquele que D. António Ferreira Gomes escreveu a António de Oliveira Salazar. Redigido a 13 de Julho de 1958, este documento está a celebrar o seu cinquentenário. À carta-denúncia das injustiças sociais, Salazar respondeu, um ano depois, com o exílio do bispo do Porto.


Depois das eleições de 1958, cujo vencedor foi Américo Tomás, o célebre bispo do Porto remeteu a Salazar a missiva que referenciou como «pró-memória» para um seu eventual encontro com o presidente do Conselho. “Cumpre-me, antes do mais, agradecer a V. Exª o ter manifestado a boa disposição de me ouvir” – início do documento de D. António Ferreira Gomes ao Presidente do Conselho.


Depois de explicar as razões da sua vinda a Portugal para votar – estava “legitimamente ausente em Barcelona” -, D. António Ferreira Gomes considera que o pedido que lhe foi feito, “por forma tão extraordinária e pública, não poderia deixar de considerar-se propaganda da Situação” – realça o «Pró-Memória». A «história» dessa carta começou, no exacto momento, em que o bispo do Porto se recusou a servir de bandeira do regime nas eleições para a Presidência da República no mês transacto. “Em tais condições e forçado a ser, diametralmente ao contrário do meu desejo, uma bandeira, eu não podia deixar de fazer uma declaração de voto. Como a não deveria fazer ao público, requeri fazê-la a V. Exª” – escreveu no documento.


Após as explicações iniciais, o prelado natural de Milhundos mostrou-se preocupado pelo facto da Igreja em Portugal, como a “campanha eleitoral revelou de forma irrefragável e escandalosa”, estar “perdendo a confiança dos seus melhores” – sublinha. Com o intuito de esclarecer a sua afirmação, D. António Ferreira Gomes apresenta dois casos ao Presidente do Conselho. No Minho - “coração católico de Portugal” – “mal os padres começavam a falar de eleições, os homens, sem se importarem como sentido que seria dado ao ensino, retiravam-se afrontosamente da igreja”. Nas juventudes da Acção Católica, os dirigentes “mais responsáveis saltam fora dos quadros e da disciplina, para manifestarem a sua inconformidade e desespero, fugindo ao conhecimento dos assistentes (que, apesar de tudo, lhes aconselhariam paciência)”.


Estes dois factos causam preocupação ao bispo do Porto. “Está-se perdendo a causa da Igreja na alma do povo, dos operários e da juventude; se esta se perde, que poderemos esperar da sorte da nação?” – lê-se no «Pró-Memória.


A missiva recorda também alguns pontos caricatos da imagem que Portugal tinha no estrangeiro. “Há trinta anos estava eu, em Roma, sob o esplendor do sol ascendente do fascismo”, e um jornal humorístico mostrava Portugal “mendigando à porta da S. D. N. e obtinha esta resposta: - aqui não se entra «a la portoghesa»”. Como a imagem da Pátria no exterior não era muito abonatória, D. António confessa: “lembro bem a comoção e o entusiasmo, o sobressalto de esperança com que acompanhámos os inícios da carreira” de António Oliveira Salazar. E acrescenta: “mais do que para todos, era para nós, afastados da Pátria, uma espécie de resgate e reabilitação perante o estrangeiro desprezador”.

Crise nacional


Nos primórdios do Estado Novo, D. António Ferreira Gomes guardava “religiosamente” as palavras ou as referências que eram feitas ao Presidente do Conselho. Reconhecia-lhe “competência profissional” e as “actividades no campo católico”. Passados os anos, o Bispo do Porto frisou que “não diminuiu a minha estima e respeito pela personalidade de V. Exª nem a admiração pela sua inteligência”.


A “tremenda crise nacional” que a campanha eleitoral “pôs a nu” merecia umas palavras de António Oliveira Salazar. Depois de ouvir e ler o discurso do Presidente do Conselho, a 31 de Maio de 1958, o bispo do Porto lembra no documento: “enquanto trata das políticas externa e ultramarina e do problema económico, salvas pequenas diferenças, não pude senão admirar a lucidez do raciocínio e o bem fundamentado das posições”. Não deixou, porém, de discordar das suas doutrinas relativamente ao problema social. “Tudo começou a ser difícil” – lê-se na carta.


Após fazer um exercício lógico – “o qual depois segui conscientemente” -, D. António Ferreira Gomes procurou “a exacta contraditória das posições expressas” pelo Presidente do Conselho. Após analisar o discurso de António Oliveira Salazar, o bispo do Porto escreve que crê “bem-estar com a doutrina da Igreja ao discordar de doutrinas que, sendo de V. Exª, são da situação”.


Como gosta de explicar as suas posições e fundamentá-las, D. António Ferreira Gomes alinha algumas dessas oposições “com um mínimo de aclarações”.


Depois de António Salazar referir que “a greve é entre nós um crime”, o bispo do Porto lamenta tal posição do Chefe de Estado. Fazendo referência às reivindicações da campanha de Humberto Delgado – “a reclamação de ser reconhecido o direito à greve” -, o prelado do Douro afirma: “eles estão com a doutrina da Igreja”.

Pulsar da sociedade


D. António sentia o pulsar da sociedade portuguesa e reflecte-o no «pró-memória». Apesar da sua formação filosófica, o «celebre bispo do Porto» olha para os problemas sociais com preocupação. “Não poderei dizer quanto me aflige o já hoje exclusivo privilégio português do mendigo, do pé-descalço, do maltrapilho, do farrapão; nem sequer o nosso triste apanágio das mais altas médias de subalimentados, de crianças enxovalhadas e exangues e de rostos pálidos” – sublinha na missiva.


Um documento que analisa a sociedade da época. As tensões sociais e políticas não paravam de subir. Antes de D. António Ferreira Gomes colocar o dedo nesta ferida social, já o Pe. Abel Varzim, Joaquim Alves Correia e outros tomavam posições críticas em relação ao regime.


O próprio bispo do Porto só avançou com a «carta» ao Presidente do Conselho porque a Conferência Episcopal Portuguesa não publicou, três anos antes, um texto sobre a situação dos trabalhadores no nosso país e, nomeadamente a situação do corporativismo. Como os seus colegas do episcopado não deram o passo fundamental para denunciar os casos, D. António Ferreira Gomes viu-se «obrigado», mas em consciência a escrever o que lhe ia na alma. Com este documento exerceu o seu múnus de pastor.


A missiva dá a conhecer as misérias da época e aponta soluções fundamentadas nos documentos pontifícios.

O exílio


A conversa entre os dois Antónios não chegou a realizar-se devido a vários factores, mas o bispo condensou em quatro questões aquilo que desejaria perguntar a António de Oliveira Salazar. “Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja ensine livremente e por todos os meios, principalmente através das organizações e serviços da Acção Católica e da Imprensa, a sua doutrina Social?”; “Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja autorize, aconselhe e estimule os católicos a que façam a sua formação cívico-política, de forma a tomarem plena consciência dos problemas da comunidade portuguesa, na concreta conjuntura presente, e estarem aptos a assumir as responsabilidades que lhes podem e devem caber, como cidadãos católicos?”; “Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos definam, publiquem e propaguem o seu programa ou programas, politicamente situados, em concreto hic et nunc, o que evidentemente não pode ir sem o despertar de esperanças de mutações ousadas e substanciais e do seu clima emocional?” e “Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos, se assim o entenderem e quando entenderem, iniciem o mínimo de organização e acção políticas, a fim de estarem aptos, nas próximas eleições legislativas ou quando julgarem oportuno, a concorrer ao sufrágio, com programa definido e com os candidatos que preferirem?”.


As questões chegaram aos nossos dias. Como resposta teve um exílio de dez anos.»




Foi há 53 anos, (no Sábado 10.05.1958): Humberto Delgado proferiu a histórica frase que o celebrizaria: “obviamente, demito-o”.

A quatro semanas da retumbante fraude que viriam a ser as presidenciais do Domingo 8 de Junho seguinte, numa conferência de imprensa no Café Chave d’Ouro, ali mesmo no coração de Lisboa, o “general sem medo” (afinal um conservador que teve um momento de lucidez, nada mais que isso), candidato pela Oposição Democrática à Presidência da República, profere - em resposta a uma pergunta (absolutamente impensável) sobre qual seria o destino do ditador, caso – como tudo fazia garantidamente prever – ganhasse as eleições - a não menos retumbante frase que abanou (um ligeiro abalo, é óbvio) o regime, qual inexplicável, impossível, inacreditável, imperdoável, despudorada, ímpia, sacrílega, inexorável e absurda heresia.  


(Alguns pensarão que estou a carregar nas cores:
enganam-se!
Para os bonzos do salazarismo,
estes eram apenas alguns dos inumeráveis adjectivos com que
- incrédulos, pasmados –
classificariam a ousadia do “traidor” general.

O regime
até às vozes “de dentro”
- raríssimas –
era surdo.
Absolutamente.
E insensível).


Delgado na conferência de imprensa

A pergunta não foi feita – podia lá sê-lo? E as consequências de tal acto suicida? – por nenhum representante de agência ou órgão de informação nacional… “Estavam todos nas encolhas”, comentou a esse respeito o herói que se afoitou, o jornalista da France Press, Lindorfe Pinto Basto, que muito simplesmente quis saber que faria o general a Salazar, caso – como tudo indicava – ganhasse as eleições… Decidida, enérgica e sem a mínima hesitação, a resposta não se fez esperar: a célebre “obviamente, demito-o” ecoou como uma bomba na sala apinhada do Chave d’Ouro, inscrevendo imediatamente na História perguntador e perguntado.

Humberto Delgado entrara no golpe de (Sexta-feira) 28 de Maio de 26 e fora uma destacada figura da situação, mas um dia um lampejo (durante os cinco anos que viveu nos EEUU) fá-lo-ia mudar o sentido do “trajecto” que o traria, nessa data, aqui: em 1958, acedendo a um “desafio” da oposição democrática candidatou-se, como independente, às presidenciais desse ano.
uma imagem da vaga que se seguiu à candidatura do general 
 
 


A enorme vaga que se seguiu possibilitou uma dinâmica nunca antes experimentada de unidade da oposição contra o regime do Estado Novo e o seu condutor.
Mas… E a ousadia do general não pagou por isso nenhum preço?

Claro que sim, e aqui foi o preço máximo: atraído a uma cilada em Badajoz, a pretexto de uma eventual reunião com militares portugueses da oposição, foi morto às mãos da PIDE, cujo grupo de agentes era liderado por Rosa Casaco, próximo da fronteira, em Villanueva del Fresno, no Sábado 13 de Fevereiro de 1965.

Sem comentários:

free web counters
New Jersey Dialup