quarta-feira, março 16, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

.
Recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos,
revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Relembro datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
.
.

ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 16 DE MARÇO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO

e

é, também, o ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA

.
.

Alguns dos eventos que hoje se comemoram

.
.
Foi há 37 anos (1974), um SB: tentativa frustrada de golpe militar, desencadeado por uma coluna que saiu do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, sob o comando do capitão Armando Marques Ramos, e que foi neutralizada pelas forças governamentais. Américo Tomás era o PR. Marcelo Caetano o PM. Paulo VI (262º), o papa reinante.


A primeira reunião do embrionário movimento que havia de derrubar a ditadura deu-se em Bissau na TR dia 21 de Agosto de 1973.
Menos de três semanas (20 dias) depois, e já em Portugal, numa reunião de oficiais das Forças Armadas, realizada no DM dia 9 de Setembro de 1973, certo que a partir dum pretexto reivindicativo de carácter corporativista, nasceu o Movimento de Capitães, embrião do MFA, com a assinatura de 400 oficiais do quadro no activo.
Ao cabo e ao resto o que se pretendia, mesmo, era dar o safanão final que deitasse por terra um regime em ruínas, contrariando as teses integracionistas da direita radical do que se autodenominou Congresso dos Combatentes do Ultramar. (Passe a blague: a única e mais importante coisa com que aquele congresso se não preocupou foi com as suas vítimas: os “ultramados”, quer entre a população indígena, quer entre a população branca!)

Um toque dos exageros em que a direita mais radical se envolveu e do desnorte cada vez mais evidente do Governo está no ataque da população branca da Beira (Moçambique) aos militares aí estacionados em Janeiro de 1974.

De realçar é o tão curto lapso de tempo decorrido entre o despoletar da magna ideia (o derrube do regime, nos tais idos de Agosto de 73) e a execução do golpe, (na festiva QI 25.04.74): cerca de oito meses, apenas, depois. Mas oito meses de muita discussão, de alguns sacrifícios, de muito risco, de grande e impressionante amadurecimento de tão responsável e histórica decisão.

Passemos uma sintética vista de olhos pelos acontecimentos que, nesse ano de 74, precederam o glorioso dia 25 de Abril, onde se falará, como é evidente, com mais algum desenvolvimento, da data que hoje se comemora:
- SX 22.02.74: ia a gestação do fenómeno com seis meses decorridos e é publicado o livro de Spínola, “Portugal e o Futuro”que, conquanto não envolvesse qualquer arrojado projecto foi o suficiente para abanar o regime, particularmente o seu líder, Marcelo Caetano.
- 12 dias depois, na TR 05.03.74, numa reunião de cerca de 200 oficiais dos três ramos das Forças Armadas, em Cascais, no atelier do arq. Braula Reis, é pela primeira vez abordada a possibilidade do fim da guerra colonial e o estabelecimento de um regime democrático, mediante o derrube da ditadura. Nessa reunião é aprovado o documento programático «O "Movimento" das Forças Armadas e a Nação», apresentado pelo Major Melo Antunes.
Outra novidade dessa reunião de Cascais é a participação, pela primeira vez, de ex-oficiais milicianos que aderiram ao Movimento.
- decorridos três dias, na SX 08.03.74, e na sequência da reunião de Cascais (não esqueçamos que a PIDE já estava a par do que se passava, embora eu creia que não muito profundamente) algumas das figuras de proa do Movimento são transferidas pelo Governo, com o óbvio objectivo de enfraquecer o Movimento: os capitães Vasco Lourenço e Carlos Clemente para os Açores, Antero Ribeiro da Silva para a Madeira e David Martelo para Bragança. Dois apontamentos de curiosidade: o Capitão Clemente é levado à força para o aeroporto, mas elementos do Movimento conseguem raptar e esconder os capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva.
No dia imediato,
- SB 09.03.74, os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva decidem apresentar-se no Quartel-general da Região Militar de Lisboa, na companhia do Capitão Pinto Soares: são os três detidos e enviados para a Casa de Reclusão Militar da Trafaria.
- Dois dias depois, na SG 09.03.74, Marcelo Caetano, num golpe de teatro, pede a demissão em carta dirigida a Américo Tomás, como que assumindo responsabilidade pelo livro de Spínola acabado de sair nas bancas. É claro que teve a manifestação de confiança do Presidente que não aceitou a demissão.
Mais: numa encenação própria de qualquer ditadura, três dias depois, na QI 14.03.74, Marcelo recebe Oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas, acção com que se pretendia mostrar ao Mundo (que tanto o contrariava) lealdade e apoio ao Governo; e que, ao fim e ao cabo, tudo estava sob controlo. Marcelo Caetano afirmou em agradecimento, talvez com pouca convicção: «O país está seguro de que conta com as suas Forças Armadas e em todos os escalões destas não poderão restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos»(!). Foi a chamada manifestação da “Brigada do Reumático”.
Mas a essa “chamada” não responderam os então chefe e vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, respectivamente generais Costa Gomes e Spínola. Donde, obviamente,
- a respectiva demissão, no dia imediato, na SX 15.03.74.
A reacção do Movimento (e agora somos chegados ao evento que hoje se comemora) não se fez esperar, e no dia seguinte, no SB 16.03.74 dá-se uma tentativa de golpe militar contra a situação. Mas a que só respondeu o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha, que marcha sobre Lisboa. Há quem afirme ter sido a ala afecta ao General Spínola que, em reacção às demissões e transferências levadas a cabo, levou por diante esta acção de forma precipitada e sem planificação adequada.
Melhor: há, de facto, duas versões sobre esta acção do 16 de Março: «Numa das versões, terá sido uma tentativa de os seguidores do general Spínola assumirem o controlo do Movimento das Forças Armadas, impedindo os capitães de o liderarem e evitando radicalismos com que não concordavam. Noutra versão, teria sido, pelo contrário, uma manobra para afastar os spinolistas.»
Não sei. E até pode acontecer que tudo se deva a uma terceira hipótese…
A verdade é que os capitães do RI 5 tomaram, nessa madrugada, o comando do quartel e decidiram avançar sobre Lisboa, sob o comando do capitão Armando Ramos.
Mas era evidente que o golpe iria falhar, por falta de coordenação ou por outra razão, conduzindo à prisão de 200 militares, de entre os mais envolvidos no Movimento e no derrube do regime.

Relativamente a este assunto as agências noticiosas distribuíram a seguinte nota: «Na madrugada de sexta-feira para sábado, alguns oficiais em serviço no Regimento de Infantaria 5, aquartelado nas Caldas da Rainha, capitaneados por outros que nele se introduziram, insubordinaram-se, prendendo o comandante, o segundo comandante e três majores e fazendo em seguida sair uma Companhia auto transportada que tomou a direcção de Lisboa.
O Governo tinha já conhecimento de que se preparava um movimento de características e finalidades mal definidas, e fácil foi verificar que as tentativas realizadas por alguns elementos para sublevar outras Unidades não tinham tido êxito.
Para interceptar a marcha da coluna vinda das Caldas foram imediatamente colocadas à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da GNR. Ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por Unidades da Região Militar de Tomar».
“Após terem recebido a intimação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo. Reina a ordem em todo o País».
“O coronel Ferreira da Silva, na altura do golpe o principal instigador da saída dos militares do Regimento de Infantaria 5 (actualmente, Escola de Sargentos das Caldas da Rainha), admitiu ter telefonado para o R15 (Tomar) informando que a sua unidade iria avançar sobre Lisboa, com ou sem outras adesões, provocando a saída precipitada da unidade em direcção a Lisboa.”
Já em Lisboa, foi mesmo um elemento do MFA, o coronel, digo Capitão Monge, quem, percebendo inequivocamente que o golpe iria fracassar (tal o aparato de forças que a aguardavam), foi ao encontro da coluna militar mandando-a dar meia volta e regressar à base. O que aconteceu.

“Ainda quanto ao 16 de Março, Otelo revelou que o major Casanova Ferreira procurou aliciar unidades militares, sobretudo, os pára-quedistas e a Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Contudo, estas recusaram participar face à fragilidade do plano. Casanova Ferreira não desarmou, acreditando que, mesmo sem plano, “basta sair uma unidade para saírem todas as outras atrás.”
O adiamento da revolta proposto por Otelo e aceite por Casanova, seria, contudo, contrariado pelo capitão Virgílio Varela que não acatou a ordem de desmobilização. Os militares do RI 5, apesar das dúvidas que os assaltavam, como foi testemunhado nesta conferência, neutralizaram o seu comandante e saíram em direcção a Lisboa. O 16 de Março estava na rua. Uma aparente derrota, mas um excelente ensaio para a grande vitória do mês seguinte.”
Perante o fracasso desta operação ficaram incumbidos o Major Otelo e os capitães Vasco Lourenço e Vítor Alves (uma das mais proeminentes figuras do MFA) da direcção do Movimento e de uma acção convenientemente planificada.
- Oito dias após, no DM 24.03.74, reúne-se pela derradeira e decisiva vez, clandestinamente, a Comissão Coordenadora do MFA, em casa do Capitão Candeias Valente, onde se decide que o golpe militar derrubador do regime se verificasse entre 22 e 29 de Abril seguinte e que o responsável pelo “Plano Geral das Operações” fosse o Major Otelo Saraiva de Carvalho.
- Quatro dias depois, na QI 28.03.74, e manifestando indisfarçável mal estar, Marcelo aparece na RTP fazendo a última “Conversa em Família”, de que deixo uma nota do seu esclarecimento, de que ele sabia que o Mundo o não aceitava, mas em que esperava (?!) que os portugueses acreditassem:

Derradeira Conversa em Família


- Menos de um mês depois, no DM 21.04.74 é aprovada a versão definitiva do Programa do MFA; e
- no dia seguinte, na SG 22.04.74, concluído o "Plano Geral das Operações: Viragem Histórica", as unidades militares afectas ao MFA ficam à espera do início da operação. Por decisão de Otelo é escolhido o Regimento de Engenharia N.º 1 na Pontinha, para instalar o Posto de Comando das operações.
- No dia imediato, TR 23.04.74, “Otelo Saraiva de Carvalho comunica que as operações militares se iniciariam às 03.00h do dia 25 de Abril e entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25, com a senha "Coragem" e contra-senha "Pela Vitória" e um exemplar do jornal Época, como identificação, para as Unidades participantes.”
- Enfim, na QA 24.04.74, “o jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa "Limite" dessa noite, na Rádio Renascença.”
Na mesma data Otelo Saraiva de Carvalho faz chegar às mãos do General Spínola a “Proclamação ao País do Movimento das Forças Armadas Portuguesas” para ser lido no dia seguinte.
Ainda na QA dia 24.04, pelas 22 horas começam a reunir-se os elementos do MFA no Posto de Comando, instalado no Regimento de Engenharia N.º 1, na Pontinha: os Tenentes-Coronéis Lopes Pires e Garcia dos Santos, os Majores Otelo Saraiva de Carvalho, Sanches Osório e Hugo dos Santos, o Capitão-Tenente Victor Crespo e o Capitão Luís Macedo.
Quase uma hora depois, às 22:55, Os Emissores Associados de Lisboa transmitem a canção "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, primeiro sinal do MFA, confirmando que tudo corria bem.
Por fim, às 00:25 da QI 25 de Abril de 1974, a canção "Grândola, Vila Morena", composta e interpretada por Zeca Afonso, era transmitida na Rádio Renascença, a emissora católica portuguesa, como segunda senha de sinalização da Revolução dos Cravos e como sinal para confirmar o desencadeamento, já verificado, das operações da revolução.

Vítor Alves – uma das mais eminentes figuras do MFA foi quem substituiu Otelo Saraiva de Carvalho no comando das Operações no Quartel da Pontinha, cerca das 16 horas do dia da revolução e foi ainda o redactor do primeiro comunicado do MFA, divulgado à população, no 25 de Abril.

(fontes: diversas, designadamente o blog Aventar, CITI/Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e um trabalho de “Mapa das Ideias” para a CM de Odivelas)
.
.
.
.

Foi há 18 anos (1993), uma TR: morreu em Lisboa, aos 69 anos, Natália Correia (1923-1993), açoreana, poetisa, romancista, ensaísta e pintora. Era Mário Soares o PR. Pontificava João Paulo II (264º).
Foi directora da revista “Vida Mundial”.
Entre outras, refira-se a sua obra “Dimensão Encontrada”, 1º edição, Edição da Autora, 1957. E também “O Sol nas Noites e o Luar nos Dias”, nºs I e II, Edição Projornal, 1ª edição, 1993.
Foi, também, deputada. Pelo PSD.
Natália Correia era um espírito franco, aberto, alegre, nada conservador, liberal. E a propósito trago à colação uma das suas pertinentes e bem-humoradas “intervenções” na Assembleia da República quando se discutia a legalização do aborto. Numa dessas sessões o infeliz deputado do CDS João Morgado teve uma não menos feliz e polémica intervenção ao afirmar que, em abono da sua tese de proibição do aborto, o acto sexual visava apenas a procriação.
Claro que Natália Correia não ia deixar escapar um momento destes sem o pôr em causa e sem o cobrir de ridículo. E, pouco depois, já circulava pelas bancadas da Assembleia, para gáudio de todos, o seguinte

“«O acto sexual é para ter filhos»
- disse ele
Um poema de Natália Correia
a João Morgado (CDS)


«O acto sexual é para ter filhos – disse com toda a boçalidade, o deputado do CDS no debate anteontem sobre a legalização do aborto. A resposta em poema, que ontem fazia rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:

«Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
Ficou capado o Morgado.»


In Diário de Lisboa, 5 de Abril de 1982”
(e transcrito no II daqueles volumes de “O Sol nas Noites e o Luar nos Dias”, a págs 195)

1 comentário:

Anónimo disse...

Publicou no seu Blogue, em 2005, um texto sobre a Editora Ulmeiro que contém preciosas informações históricas. Porém, ao fazer a pesquisa na net sobre a Ulmeiro fui ter a um "sítio" sobre Salazar, inteiramente revivalista... Fiquei horrorizada: é possível esta apropriação do nome? O endereço do "site" dá mesmo a ideia de que é a editora Ulmeiro. Não é esta uma utilização que se possa contestar judicialmente?
Cumprimentos pelo seu blogue
Maria Joao Simoes

free web counters
New Jersey Dialup