quarta-feira, março 09, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos,
revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Relembro datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
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ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 09 DE MARÇO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO

e

é, também, o ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA

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Sublinhemos três efemérides que hoje se comemoram:

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Foi há 932 anos (09.03.1074), um DM: O papa Gregório VII (157º na sucessão a contar com S. Pedro), eleito em meados do ano anterior, excomungou todos os padres casados.
Gregório VII fora frade beneditino. Foi, por excelência, o representante das pretensões temporais do papado medieval. Deu os primeiros passos para a codificação da legislação eclesiástica e foi por insistência sua que o celibato dos padres se tornou COSTUME (ao cabo e ao resto nada mais que isso) na Igreja católica.
Portugal, por essa época, ainda não existia. Cerca de onze anos depois, "por notável coincidência, no mesmo dia em que S. Gregório VII agonizava em Salerno, o rei Afonso VI de Leão conquistava aos mouros a cidade de Toledo (25.05.1085)" (Pe Miguel Oliveira, História Eclesiástica, pág 69).
Ora, Afonso VI era não só rei de Leão como também de Castela – donde a designação de Imperador - e foi o pai de D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques), logo, avô do nosso primeiro rei.
E, já agora, esse mesmo Afonso VI era neto de Afonso V, rei de Leão (m. 1027), porque filho de sua filha D. Sancha, que casou com Fernando de Castela (Fernando Magno - que morreu em 1065) e que levou como dote exactamente o reino de Leão.
Portanto, o nosso primeiro monarca, D. Afonso Henriques, era neto de Afonso VI e trineto de Afonso V. Explicando melhor, temos a seguinte ordem genealógica (mais próxima do início da nacionalidade portuguesa): Afonso V » D. Sancha » Afonso VI » D. Teresa » D. Afonso Henriques.
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Decorreram 555 anos, foi a 9 de Março de 1451, uma TR: nasceu Américo Vespúcio, navegador italiano ao serviço da Espanha. Em Portugal reinava D. Afonso V (12º). Na cátedra de Pedro sentava-se Nicolau V (208º).
Américo Vespúcio nasceu no mesmo ano em que se crê que tenha nascido Cristóvão Colombo e um ano antes de ter nascido Leonardo da Vinci.
Seu nome foi dado ao novo continente descoberto por Cristóvão Colombo, a América.
Em 1505, o rei Fernando, o Católico, concedeu-lhe a cidadania castelhana.

Recapitulando a matéria – e porque vem a propósito: Cristóvão Colombo partiu do porto andaluz de Palos, a 3 de Agosto de 1492, com três pequenos navios, o Niña, o Pinta, e o navio almirante, por ele comandado, o Santa Maria, com a intenção de chegar à Índia (que ele pensava atingir rumando a Ocidente, atravessando o Atlântico). Mas a viagem terminaria na América… (A equipa de assessores de D. João II, nesta matéria, é que tinha razão).

«Ao cair a noite de 11 de Outubro
D. Cristóvão pensa ter visto ao longe uma luzinha.
Mas cala, ajoelha-se e reza.
Amanhã será o fim do prazo prometido.
Possa ele ser amparado pelo que seu Anjo da Guarda...
Às duas da madrugada de 12 de Outubro,
mas a lua a cintilar sobre as ondas, do alto da Pinta um gajeiro grita:
- Terra, aleluia, agora é terra, é mesmo terra!
Realmente a palidez de um areal.
Mais ao longe colinas e montes, sombreado.
Trinta e três dias de viagem. Chega a alvorada e desembarcam.
Ajoelham-se na praia. Benzem-se, oram, contrição.
Um povo desnudo e pacífico contempla-os. Os corpos cor do cobre, os olhos rasgados. Não será Cipângu. Não será Catai ainda.
Mas certamente a Ásia, certamente a Índia.
D. Cristóvão aponta, define: - Índios ! São índios !
O Anjo assopra-lhe que tem razão.
(…)
Primeira ilha da Ásia recém descoberta por Ocidente!
Como se chama ? O Anjo assopra e D. Cristóvão dá-lhe o nome de S. Salvador.
Está perto do continente [um novo continente que virá a ser chamado América, porque será Américo Vespúcio o primeiro a divulgar as aventuras que nele viveu – esclarece o autor], sabe disso. Irá pisá-lo mais tarde, numa próxima viagem».
(Excertos de Vidas Lusófonas, Online, de Fernando Correia da Silva)
Índio, indígena ou nativo americano são nomes dados aos habitantes da América antes da chegada dos europeus, e os seus descendentes actuais. O termo "índio" provém do facto de que Cristóvão Colombo, quando chegou à América, estava convencido de que tinha chegado à Índia, haja em vista que o gentílico espanhol para a pessoa nativa da Índia é índio, e dessa maneira chamou os povos indígenas que ali encontrou. Por essa razão também, ainda hoje se refere às ilhas do Caribe como Índias Ocidentais.
Porém, a hipótese mais aceite e verosímil para a sua origem é que os primeiros habitantes da América tenham vindo da Ásia atravessando a pé o Estreito de Bering, no final da idade do gelo, há 12 mil anos.


Vê-se aqui a evolução do trecho de terra que ligava o nordeste asiático às Américas. A teoria mais aceite para a origem dos ancestrais dos povos ameríndios, é a de que eles seriam povos nómadas caçadores-colectores (logo, situando-se, no tempo, entre os 2,5 milhões de anos a.C. e 10 000 a.C.) que atravessaram a pé este trecho que ligava o continente asiático à América e uma vez na América, foram migrando em direcção ao sul. Uma das etnias ameríndias que tem mais parentesco com os povos do nordeste asiático são os esquimós.

Explicitando melhor, até recentemente, a interpretação mais largamente vencedora, baseada nos achados arqueológicos, era de que os primeiros humanos nas Américas teriam vindo numa série de migrações da Sibéria para o Alasca através de uma língua de terra chamada Beríngia, que se formou com a queda do nível dos mares durante a última idade do gelo, entre 24 e 9 mil anos atrás. (Imagem e anotação da Wikipédia)
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Estão decorridos 493 anos (09.03.1513), foi numa QA: Giovanni di Lorenzo de Medicis é eleito papa, escolhendo o nome de Leão X. Em Portugal reinava D. Manuel (14º).

A subida ao trono de D. Manuel I foi um
autêntico caso de pura e rara fortuna
para a qual contribuíram bem diferentes situações:
na realidade nada faria prever que, ao nascer em Alcochete no último de Maio de 1469,
D. Manuel viesse a ser Rei de Portugal.
Vejamos:
A linhagem normal sucessória (digamos assim) que começara no filho primogénito
(porque varão) de D. Duarte, D. Afonso V,
e se transmitira ao filho do Africano, o príncipe perfeito, D. João II,
foi aqui interrompida, por falta de sucessor legítimo.
Efectivamente, D. Afonso V, que ficara viúvo com menos de 24 anos,
morreu 25 anos depois sem ter casado de novo nem ter tido mais filhos.
D. João II teve, de facto um filho, D. Afonso, que morreria,
já casado mas sem filhos, muito novo, em 1491,
num desastre de cavalo na Ribeira de Santarém.
Por outro lado, D. João II morreu também muito novo (com 40 anos)
e tinha apenas uma irmã que seguira a vida religiosa (Santa Joana Princesa).
Ou seja, no momento da sucessão ao trono (Outubro de 1495)
houve necessidade, de recorrer a outra linhagem,
à do segundo filho de D. Duarte, D. Fernando, 2º duque de Viseu que,
porém, também perecera antes daquela data, em 1470.
Assim, seria na descendência de D. Fernando que recairia a herança do trono.
Mas, o mais curioso é que, da sua vasta prole masculina,
todos os filhos de D. Fernando, à excepção do mais novo, D. Manuel
(D. João, D. Diogo, D. Duarte, D. Simão e D. Dinis),
morreram até 1484.
Quem poderia, pois, prever na data do nascimento do duque de Beja
- o mesmo D. Manuel -
que ele, fora da linha normal sucessória
e, mesmo aventando a mais remota hipótese de sucessão da linha secundária,
ocupando um longínquo sétimo lugar, viria a ser rei de Portugal?
Tirando os casos de D. Afonso Henriques e de D. João IV,
D. Manuel viria, mesmo, a ser o único rei que não era filho de rei
(aliás, não contando com D. Sebastião,
que não sendo, também, filho de rei era, contudo, neto
– de D. João III, tal como D. Manuel era neto de D. Duarte –
com uma diferença entre ambos:
é que D. Sebastião sucedeu naturalmente ao avô, enquanto que o Venturoso, não.
Este sucedeu ao primo – e cunhado – D. João II)
- Colecção Reis de Portugal, do Círculo de Leitores, XIV, D Manuel I, de João Paulo Oliveira e Costa,2005, pág 25

Voltando ao fio da meada, curiosamente, quer o papa quer o monarca português morreram em datas muito próximas: Leão X a 01.12.1521, D. Manuel, onze dias depois, a 12.12.
Leão X (217º), era filho de Lourenço de Medicis, o Magnífico. E como sabemos, Lourenço reunia na sua corte uma notável plêiade de artistas, filósofos, humanistas, homens de letras e de ciências, tornando-se o mais generoso dos mecenas.
Os Médicis deram à Igreja 3 papas: o acabado de referir Giovanni L. de Medicis, Leão X (217º), que foi papa de 1513 a 1521; Júlio de Médicis, que adoptou Clemente VII (219º), contemporâneo do nosso rei D. João III, cujo pontificado decorreu de 1523 a 1534; por fim Leão XI (232º), Alexandre Otaviano de Médicis (1535–1605), cujo pontificado – no tempo em que reinava em Portugal Filipe II – apenas durou 26 dias, de 1 a 27 de Abril de 1605. Há, porém, quem considere um quarto papa Médicis, o Papa Pio IV (1559-1565), nascido Giovanni Angelo de Medicis, de pais modestos, que nem pertenceriam ao ramo principal da família, mas que adoptou o seu brasão.

Mas recuemos um pouco: em síntese diremos que Salvestro de Médicis (1331-1388), obscuro ditador de Florença, expulso e desterrado em 1382, assim como Averardo Bicci de Medicis, também pouco abastado, terão sido dois dos fundadores da que se tornaria famosa família de banqueiros de Florença.
João de Bicci de Médicis (1360–1429), filho daquele Averardo, banqueiro, foi quem restaurou a fortuna da família que se tornou a mais rica da Europa, e este é que é geralmente apontado como o fundador da poderosa e famosa família dos Médicis. Mas seu filho, Cosme de Médicis (Cosmo, o Velho (1389–1464), é que costuma ser considerado o fundador da dinastia política dos Médicis.
Poderemos, contudo, recordar outros Médicis renomados que ocuparam vários tronos na Europa, além dos mencionados que passaram pela cadeira pontifícia. Entre os primeiros contam-se Lourenço de Médicis (Lourenço, o Magnífico (1449–1492), governante de Florença durante a Idade de Ouro da Renascença; Cosme I de Médicis (Cosimo I, o Grande: 1519–1574), primeiro Grão-Duque das Toscana; Catarina de Médicis (1519–1589), Rainha de França, mulher de Henrique II; Maria de Médicis (1573–1642), Rainha e Regente de França e Francesco I de Medicis, Grão-Duque da Toscana, filho de Cosimo I, a quem sucedeu como regente em 1564 casou com Joana de Áustria de quem teve 7 filhos. Joana foi a filha mais nova de Fernando I, Sacro Imperador Romano e Ana da Boémia e da Hungria. Pelo casamento, ela era a princesa da Toscana Grande e mais tarde a Grã-Duquesa da Toscana. Uma de suas filhas foi a já mencionada e famosa Maria de Médicis , a segunda mulher do rei Henrique IV de França.


Assim, Médicis é o nome da mais célebre família ducal da república florentina. E recordo que foi principalmente Giovanni (de Bicci) de Médicis (falecido em 1429) – o banqueiro mais rico da Itália - o iniciador da grandeza da família, que deixou aos seus dois filhos - (Cósimo e Lourenço) uma herança de riqueza e honrarias nunca até então igualadas.
Com Cosme de Médicis (Cósimo de Medici: 1389-1464), a quem chamaram “Pai da Pátria”, começou a época gloriosa dos Médicis. E com o neto deste, Lourenço, o Magnífico (1449-1492), Florença atinge o apogeu, quer no poder político, como nas realizações artísticas, nas letras, nas artes plásticas.

Voltando aos papas da família Médicis, no dia 21 do mês anterior (Fevereiro de 1513) finara-se o antecessor de Leão X, o papa Júlio II.
Leão X nasceu em Florença, na família Medici, recordo de novo, (João de Médicis de seu nome, como vimos) em 11.12.1475. "Deram-lhe uma educação brilhante. Desde os sete anos recebera grandes benefícios eclesiásticos e aos 12 anos era cardeal." Por morte de Júlio II foi eleito papa, com apenas 37 anos de idade.
Tomou diversas providências em matéria religiosa.
Foi patrono das artes e das letras.
Em política, lutou pela independência da Itália do domínio estrangeiro.
Manteve relações amistosas com o nosso rei D. Manuel I, por mor dos empreendimentos missionários dos portugueses em África e na Ásia.

De início não se apercebeu de todo o perigo e toda a gravidade que envolvia o movimento de Martinho Lutero. Tentou, mesmo, o diálogo com ele, mas acabou por excomungá-lo, pedindo a Carlos V que o prendesse. Era mais um príncipe esclarecido e magnânimo, do que um homem de Igreja zeloso ou um asceta.

Foi a este papa que D. Manuel I enviou a célebre embaixada, em 1514, chefiada por Tristão da Cunha. E por esse motivo Leão X conferiu ao monarca português a Rosa de Ouro e um chapéu e uma espada benzidos por ele na noite de Natal.
Em 1514 criou o bispado do Funchal.

Em 15.04.1516, uma Terça, beatificou a Rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis, a instâncias de D. Manuel, por breve dessa data e “só para Coimbra e seu bispado”. (A mesma Isabel de Aragão seria canonizada em 25.05.1625, pelo papa Gregório XV (234º), no reinado de Filipe III)

Em 1517 elevou ao cardinalato o infante D. Afonso, que contava apenas 8 anos de idade.
Esmiuçando, porque curioso:
o Infante D. Afonso nasceu em 1509. Era filho de D. Manuel I,
que pretendera fazê-lo nomear cardeal aos 3 anos de idade!
Mas o pedido foi indeferido por inconstitucionalidade:
o concílio de Latrão estipulara que não podia ser “dada catedral a menores de 30 anos”.
D. Manuel I conseguiu, no entanto, que o Infante fosse investido no arcebispado de Braga, ainda criança.
E, pouco depois, tendo enviado ao Papa a famosa embaixada de Tristão da Cunha, em 1514,
com as primícias dos descobrimentos
(até um elefante, como nos recordamos todos, fazia parte dessa luxuriante embaixada)
e testemunho de obediência,
acabou por conseguir que o Papa Leão X elevasse a cardeal o Infante D. Afonso,
aos oito anos, em 1517.
Foi o 10º cardeal português.

Segundo Canaveira, Leão X (217º), para encher o Vaticano das obras de arte que tanto apreciava, abusou das indulgências e dividiu para sempre a "christianitas". Foi ele, e não o monge agostinho de Vitemberga (Martinho Lutero), que ele excomungou através da bula Exsurge, de 15.06.1520), o verdadeiro causador da Reforma protestante.

Voltando à arte, uma curiosidade:
diz-se que o qualificativo gótico/gótica, para designar o estilo ou a arte que nascera e se desenvolvera no Norte da França, teve origem numa comunicação de Rafael ao papa Leão X.
Aí era referida a arte gótica num sentido pejorativo, onde gótica equivalia a bárbara - o que se compreende se nos lembrarmos que se vivia, então, o apogeu da Renascença clássica.

A Leão X sucedeu Adriano VI (218º), que era holandês (em termos actuais) e foi o último papa não italiano até João Paulo II (264º), 456 anos depois, o polaco que o século, recentemente, conheceu como Karol Józef Wojtyła (1920–2005), Sumo Pontífice de 16 de Outubro de 1978 até a sua morte em 2.4.2005 (26 anos), a quem sucedeu o cardeal alemão Ratzinger (1927), o pontífice actual, Bento (ou Benedito) XVI.


Uma última nota:
“Leão X (1513-1521) [...] os registos de sua carreira resumem aquele tempo com todas as suas tendências. Ele tinha recebido o chapéu [cardinalício] do papa Inocêncio VIII, na idade de 13 anos – uma condição entre o papa e seu pai, Lourenço, o poderoso governante de Florença – até então contra os pontífices. Leão X, no seu 1° consistório, deu o chapéu a um neto de Inocêncio VIII, o qual era também seu próprio sobrinho, pois – segundo item do pacto – a irmã de João de Médici (Leão X) se tinha casado com o filho natural deste papa.”
(Fonte: HUGHES, Philip. História da Igreja Católica. Dominus Editora S.A. São Paulo, 1962)
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