sexta-feira, outubro 03, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 19

John McCain para Sarah Palin (na antevisão e no traço de Tom Toles)



Depois de ter estado uns meses em Portugal, eis que o nosso “enviado especial” regressou aos EU para, nomeadamente, acompanhar a ponta final das presidenciais naquele país.

E retoma as suas crónicas, curiosamente, pelo fim: pelo derradeiro espectáculo que foi o confronto dos vices dos candidatos democrata e republicano.

Por último, e a propósito da dramática e grave crise que se abateu sobre o mercado financeiro americano, que vai rompendo fronteiras, o nosso amigo deixa um texto, de cariz pedagógico, que circula na rede acerca dessa matéria.

“Ouçamos”, então, o Fernando

Obama News
- 20081002 -
Espectáculo!
Caros amigos,
Depois de quase 3 meses em Portugal, acabo de regressar aos States e ao espectáculo que as eleições proporcionam.
Este é um dos traços culturais mais marcantes desta "sociedade de informação (!?)". Mais do que o conteúdo das coisas, contam os
aparentes resultados, a batalha das audiências, a exploração do
caricato, as sondagens sem qualidade, a opinião de meia dúzia, o
provincianismo de quem se julga no centro do universo.
Ontem foi o segundo debate deste ciclo. Desta vez entre os
vice-presidentes dos dois principais partidos. Comecemos por aqui.
Onde estão os outros candidatos a vice-presidentes? Que oportunidades (nesta que é a badalada "terra das oportunidades") são dadas aos que também estão nestas eleições, mas não pertencem a este imenso "bloco central" constituído pelos Partidos Democrático e Republicano?
No debate de ontem assistimos ao confronto entre quem, apesar de tudo, pretende modificar o status, e quem fala sem parar e sem responder às perguntas incómodas ou para as quais não sabe responder. Assistimos a um Joe Biden assertivo, acusador, sensível e inteligente e a uma máquina falante chamada Sarah Palin, bem preparada na arte de dizer o que convem e de se mostrar ao lado do bébé deficiente como se este
fosse um trunfo da campanha. Sobre isto ninguém falou. Os analistas, comentadores, jornalistas, preferiram, na maior parte dos casos falar da forma e dos tiques das personagens.
No final ficou a saber-se que a tendência de vitória de Obama / Biden continua a consolidar-se. Mas, atenção, o jogo não chegou ao fim e qualquer manobra suja é, não apenas possível, mas provável. Porque aqui vale tudo, até arrancar olhos!

Um abraço,
fernando

PS: Envio um texto que circula na web. Chegou-me por várias vias.
Talvez o conheçam. É um texto simples que mostra como o ultra
liberalismo funciona. Curiosamente, McCain, para ter hipóteses de
vencer estas eleições, deveria opor-se à socialização dos prejuízos
proposta por Bush. Mas seria um jogo demasiado perigoso,
principalmente para quem confessa nada saber de economia. Para quem gosta de propôr soluções militares para problemas políticos, sociais ou económicos, desta vez, não há guerra que o salve!...
.
.
...


A CRISE DA ECONOMIA AMERICANA

Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000
dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a
valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou pro Paul se ele
não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu
apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova
hipoteca e pegou os 800.000 dólares.

Com os 800.000 dólares. Paul, vendo que imóveis não paravam de
valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como
400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do
banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu um
carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv
de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado,
tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no
cartão de crédito.

Em Agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis
estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em
construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais
liquidez...

O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar
outras casas e revender com lucro. Fácil....parecia fácil. Só que todo
mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul pagava
começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Paul percebeu que
seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma idéia do Paul. Tinha casa pra vender como nunca.

Paul foi aguentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as
das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para
revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks,
da TV de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele
tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava
que já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os
que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul
se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele
morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os
bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.

Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os
bancos que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as 3 casas
que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul
quebrou. Ele e sua família pararam de consumir...

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que
haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam
transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos
negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de
face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer
pó.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos
estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos
americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos
foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... Preço que
despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em
500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo
pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava,
como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos
milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam
centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba.
Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de
emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque
não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia
crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro
emprestado.

O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é
sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.

O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as
taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também
começou a injectar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O
governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de
devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o
consumo porém essas acções levam meses para surtir efeitos práticos.
Essas acções foram correctas e, até agora não é possível afirmar que
os EUA estão tecnicamente em recessão.

O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas.
Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para
uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para
sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da
América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira última, quebrado,
insolvente.

No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado
pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o
Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano
elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos
voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o
Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o
que nos espera na próxima segunda-feira.

O que começou com o Paul hoje afecta o mundo inteiro. A coisa pode
estar apenas começando. Só o tempo dirá.

Dia 15 de Setembro/2008, o Lehman Brothers pediu falência,
desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de
500 (quinhentos ) pontos no Índice Dow Jones, que mede o valor
ponderado das acções das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de
Valores de New York - a maior queda em um único dia, desde a quebra de
1929 ...

O dia 15 de Setembro de 2008, certamente, será lembrado para sempre na
história do capitalismo.


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Pequenas adições ao texto original:

Hoje, dia 29 de Setembro de 2008, o indice DOW JONES caiu 778 pontos,
sua maior queda de toda a sua história, após a rejeição ao plano de
salvação proposto pelo Governo Bush. Notícia original da CNN:

-- Dow suffers biggest point drop in history, falling nearly 778
points in reaction to House vote rejecting economic rescue.

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