segunda-feira, novembro 21, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.


ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

Hoje é, ainda,
DIA MUNDIAL DA TELEVISÃO
e
DIA MUNDIAL DA MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DAS ESTRADA



Não é uma perspicácia superior que faz os homens de Estado,
é o seu carácter.
Voltaire




Voltaire com 24 anos,
por Nicolas de Largillière




Foi no DM 21.11.1694, há 317 anos, que nasceu Voltaire, escritor e filósofo francês.

No seu país natal reinava Luís XIV (46) O Rei-Sol, da Dinastia de Bourbon, também Luís III de Navarra. Luís XIV governou sem um ministro principal (Chefe Ministerial, que era a designação que tinha aí, então, o cargo correspondente ao de primeiro-ministro) nos anos mais tardios de seu reinado (1683 a 1715), mas o cardeal Mazarino (nomeado cardeal sem nunca ter sido padre; herdeiro na função, do cardeal Richelieu) e Colbert foram, antes, seus primeiros-ministros.
Em Inglaterra reinavam Maria II (53) e seu marido Guilherme III (54) da Casa de Stuart que governou sozinho após a morte de Maria II. Foi também Guilherme II da Escócia e Guilherme III, Príncipe soberano de Orange.
Em Portugal, por essa altura, governava D. Pedro II (23), cujo cognome era O Pacífico, pese embora tenha “roubado” o trono e a mulher a seu irmão, D. Afonso VI (22), ao qual levantou um bárbaro e escandaloso processo, a quem mandou prender e ao qual sucedeu, ambos da Dinastia de Bragança.
O Sacro Imperador Romano-Germânico era Leopoldo I (38) da Casa dos Habsburgo.
Rei da Espanha unificada era Carlos II (5), cognominado «El Hechizado» (O Enfeitiçado), filho de Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal) que foi o último rei da Casa dos Habsburgos/Casa d’Áustria a reinar sobre a Espanha, Nápoles e Sicília, senhor de quase toda a Itália excepto dos Estados Papais e da Sereníssima República de Veneza, e do império ultramarino castelhano, do México à Patagónia e que incluía Cuba e as Filipinas. Era, como Rei de Nápoles, da Sicília e de Navarra, Carlos V, rei titular de Jerusalém e Rei da Sardenha e dos Países Baixos, duque de Milão, conde da Borgonha e conde do Charolais. Somente. Não esqueçamos que a Espanha desses idos era o tal país onde o Sol nunca se punha!
(Uma curiosidade: Os sucessivos casamentos consanguíneos entre os Habsburgos, dada a sua convicção de que deveriam manter o seu sangue puro, produziram uma tal degenerescência que Carlos acabaria por nascer raquítico, quase louco, impotente e com outras doenças como epilepsia - além de possuir o célebre maxilar proeminente dos Habsburgos - uma afecção chamada de prognatismo mandibular - característica da interconsaguinidade familiar. Foi ainda conhecido pelo cognome o Amaldiçoado. Morreu a 5 dias de completar os 39 anos).
Na suprema direcção da Igreja católica estava Inocêncio XII (242º). Foi este papa que, a pedido de D. Pedro II, beatificou Santa Joana Princesa (filha de D. Afonso V e irmã de D. João II), reconhecendo o culto que já então lhe era prestado em Portugal.

Voltaire era o nome literário de François-Marie Arouet, que foi escritor, ensaísta, deísta (adepto da concepção filosófico-religiosa, muito divulgada no período iluminista, que admite a existência de Deus como criador de todas as coisas, mas nega a Sua intervenção no mundo, regulado por leis inalteráveis, e rejeita a revelação religiosa, aceitando, todavia, a imortalidade da alma – cfr dicionário da Porto Editora) e filósofo iluminista francês.
É uma entre tantas destacadas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores importantes da Revolução Francesa e até da Americana.
Pode mesmo com propriedade dizer-se que ele foi a personificação do iluminismo do séc. XVIII.

A maioria dos autores não está de acordo com a delimitação temporal do iluminismo, mas muitos situam o seu início no séc. XVIII, que já consolidara a denominação de Século das Luzes. Quanto ao seu termo é geralmente assinalado no início das Guerras Napoleónicas.
A noção de iluminismo varia consoante as tradições filosóficas, sociais, políticas, temporais, regionais e de matiz religioso ou intelectual que lhe estão na base. Immanuel Kant (1724-1804), um dos mais conhecidos expoentes do pensamento iluminista, define o iluminismo - um dos mais importantes e prolíferos períodos da história intelectual e cultural ocidental -  assim: "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutela que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direcção de outrem. É-se culpado da própria tutela quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direcção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".
Acerca do Iluminismo podemos, ainda, encontrar na Biblioteca Universal (a Enciclopédia da Texto Editora) a seguinte noção: “Movimento intelectual europeu que atingiu o seu auge no século XVIII. Os pensadores iluministas acreditavam no progresso social e nas capacidades libertadoras do conhecimento racional e científico. Eram frequentemente críticos da sociedade do seu tempo e manifestavam-se hostis à religião, que consideravam manter a mente humana aprisionada pela superstição. As revoluções americana e francesa foram justificadas à luz dos princípios iluministas dos direitos humanos naturais. Os principais representantes do movimento iluminista foram Voltaire, Gotthold Lessing e Denis Diderot. A partir do século XVIII o movimento iluminista desenvolveu-se em Portugal personificado por José Anastácio da Cunha, Bocage, Filinto Elísio e Nicolau Tolentino, autores que dotaram o iluminismo português de um carácter mais literário do que filosófico. A grande dinamizadora da corrente iluminista foi, contudo, a Academia das Ciências de Lisboa, sendo o abade Correia da Serra o seu maior representante.

Voltaire foi um dos mais significativos nomes “do espírito, do humorismo e da espirituosa crítica tipicamente gaulesa e iluminista”. Na verdade, não obstante as rígidas leis de censura e severas punições para quem as infringisse, ele foi um franco defensor da reforma social e um polemista satírico, que frequentemente usou as suas obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo, designadamente por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da nobreza.



O Terceiro-Estado carregando o Primeiro e o Segundo Estados às costas



Em 1717 é encarcerado (pela segunda vez) na Bastilha na sequência da publicação da sátira J'ai vu, cuja autoria alguns lhe atribuem mas que, segundo outros, é de autor desconhecido. E foi aí que mudou o seu nome de Arouet para Voltaire.

Na SX 24.05.1726, após a sua libertação da Bastilha, o escritor, para escapar a uma nova prisão, refugiou-se na Inglaterra, donde regressaria a França cerca de três anos depois, em 1729.  
Esse exílio e a causa que o determinou estão na origem das suas Lettres anglaises, que o Parlamento mandou queimar (1734). E durante esses três anos conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke cujas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra.
Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões.

Voltaire destacou-se, pois, pela sua perspicácia na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa, e livre transacção de bens. Opôs-se, designadamente, à intolerância religiosa e à intolerância de opinião existentes na Europa no período em que viveu.

No fundo, foi Voltaire quem introduziu várias reformas na França, como a liberdade de imprensa, tolerância religiosa, tributação proporcional e redução dos privilégios da nobreza e do clero. Mas também foi precursor da Revolução Francesa, ela que instaurou a intolerância, a censura e o aumento dos impostos para financiar as guerras, tanto coloniais, quanto napoleónicas (Europa).

No campo das letras, Voltaire deixou uma obra vastíssima e polícroma, sempre polémica e comprometida, que ia da tragédia à epopeia, do romance ao ensaio e à narrativa alegórica. “O gosto do exótico, tão próprio do século XVIII, matiza a sua obra, mais como recurso crítico do que como tendência realista”.
Escritor assaz prolífero, “produziu cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfletos”.
“A crítica moral empreendida na sua obra, a sátira social por vezes violenta e o ataque frequentemente certeiro aos costumes, leis e instituições não deixam de lhe acarretar a desconfiança e até a hostilidade dos seus contemporâneos. É esse, de resto, o tributo imposto a um espírito tão brilhante como combativo. A sua vida agitadíssima foi marcada pela paixão da marquesa de Châtellet (1706-1749), espírito cultivado que deixou algumas obras e exerceu sobre o escritor poderosa influência. Voltaire permaneceu alguns anos na Prússia e mais tarde retirou-se para o Castelo de Ferney, perto da Suíça, onde passou 23 anos da sua vida, talvez o período de mais intenso labor.
Foi admitido como membro da Academia Francesa em 1746”.

Voltaire, em sua vida, também foi "conselheiro" de alguns reis, como é o caso de Frederico II, O Grande, da Prússia, “um déspota esclarecido”.
Filho de abastada família burguesa, estudou no colégio de jesuítas de Clermont onde se revelou um aluno brilhante. E frequentou, ainda, a Societé du Temple, de livres pensadores.

De entre os numerosos títulos da sua obra destaco os seguintes: as tragédias Oedipe (1718), Zaire (1732), Mérope (1743) e uma epopeia, La Henriade (1728). Contudo, é sobremaneira no romance e no conto de essência filosófica, de cariz alegórico e tom mordaz e satírico, que se distingue. São deste tipo: Micromégas (1747), Zadig (1748) e “Cândido ou o optimismo” (1759), conto filosófico em que critica as teses do filósofo Leibniz.
Além das Lettres philosophiques ou Lettres anglaises (1734), uma colecção de ensaios escritos por Voltaire baseado em suas experiências vividos na Inglaterra, onde ele contrapunha, em espirituosas comparações, a erudita, culta e progressista Inglaterra, nos seus costumes, liberdade, pensamento e prática política à, na sua opinião, absolutista, clerical e arcaica França. Como se imagina, obra logo condenada pelas autoridades.


Página de titulo da edição de 1734 das
Cartas Inglesas ou Cartas Filosóficas




Chocou ao mesmo tempo os católicos com La Pucelle (A Donzela), sobre Joana d'Arc, (1755), e os protestantes com o  Essai sur lês moeurs (1756), Mais, ainda, publicou o Dictionnaire philosophique (1764), celebrou a liberdade numa tragédia (Brutus, 1730), criticou a guerra (História de Carlos XII, 1731), os dogmas cristãos (Epístola a Urânio, 1733), as falsas glórias literárias (O templo do gosto, 1733), e o pensamento de Rousseau (em Poème sur le désastre de Lisbonne - sobre o terramoto de Lisboa de 1755 -,  em 1756).

Em 1753, depois de um conflito com o rei Frederico II, retirou-se para perto de Genebra, como já foi dito. Aí, em Fernay, onde se refugiou, deu um novo e frenético impulso à sua obra. Escreve, por exemplo, a novela Candide, ou l'Optimisme, de matriz sátiro-filosófica cuja primeira edição data de 1759, mas que segundo se diz foi escrito em três dias, em 1758, e que foi “traduzida em centenas de línguas”, designadamente em português sob o título Cândido, ou O Optimismo, sob o pseudónimo “Monsieur le docteur Ralph”. Para nós, portugueses, Cândido – como, singelamente, também é conhecido – tem o especial interesse de ser um dos temas de novo abordado por ele acerca do ainda bastante recente terramoto de Lisboa, de 1755.
Este conto picaresco é, também ele, caracterizado pelo seu género sarcástico, “bem como pelo seu enredo errático, fantástico e veloz.”
Cândido, geralmente reconhecido como a obra maior (“magnum opus”) de Voltaire, atendendo ao seu “retrato profundo da condição humana”, exerceu notória influência em diversos autores, como em Aldous Huxley, no seu Admirável Mundo Novo, de 1932, e em Orwell, no seu 1984, de 1948.




Frontispício da primeira edição de 1759,
publicada em Paris, onde se lê
Cândido, ou O Otimismo,
traduzido do alemão do Sr Doutor Ralph




Mas no seu remanso de Fernay, a meros 8 km a Norte de Genebra, Voltaire entrega-se à produção da sua obra notável, para além de Cândido: escrevendo tragédias (vg, Tancredo, 1760), contos filosóficos visando e ridicularizando os oportunistas (Jeannot e Colin, 1764), os abusos políticos (O ingénuo, 1767), a corrupção e a chocante desigualdade distributiva (O homem de quarenta escudos, 1768), denunciando, contundente, o fanatismo e o farisaísmo clerical assim como as deficiências da justiça, e celebrando o triunfo da razão (Tratado sobre a tolerância, 1763; Dicionário filosófico, 1764).
Na sua obra tão diversificada Voltaire dava preferência à produção épica e trágica, mas foi nos contos e nas cartas que ele se impôs e mais notabilizou.

“Iniciado maçom no dia 7 de Março de 1778, mesmo ano de sua morte, numa das cerimónias mais brilhantes da história da maçonaria mundial, em “as Musas”, Loja Les Neuf Sœurs, Paris, inicia o octogenário Voltaire, que ingressa no Templo apoiado no braço de Benjamin Franklin, alto dignitário da Maçonaria Americana, um dos interventores na Independência dos Estados Unidos (“founding fathers”), embaixador deste país na França nessa data. A sessão foi dirigida pelo Venerável Mestre Lalande na presença de 250 irmãos. O venerável ancião, orgulho da Europa, usou o avental que pertenceu a Helvetius e que fora cedido, para a ocasião, pela sua viúva.

Chamado a Paris, no derradeiro ano da sua vida, em 1778, foi recebido em triunfo pela Academia, de que era membro, e pela Comédie-Française, o célebre e único teatro estatal de França, em Paris, onde lhe ofereceram um busto. Esgotado, morreu no SB 30 de Maio de 1778, com uma avançada idade, a 6 meses de completar os 84 anos.

Voltaire deixa transparecer nos seus escritos uma teoria coerente, conquanto que por vezes contraditória, como é característico do iluminismo. Em matéria política sustenta o primado da lei, baseado numa acção liberal e racional, devendo, na sua perspectiva, a sociedade ser reformada pelo progresso da razão e pelo incentivo à ciência e tecnologia, pelo que atacou com veemência alguns abusos praticados pelo Antigo Regime. Contudo não era um democrata e acreditava que o comum das pessoas estava dominado pelo fanatismo e pela superstição. Donde que ele se tenha transformado num perseguidor feroz dos dogmas, sobretudo os católicos, por entender que contrariavam a ciência.
“Como filósofo, foi o porta-voz dos iluministas. Não seria exagero dizer que Voltaire foi o homem mais influente do século XVIII. Seus livros foram lidos por toda a Europa e vários monarcas pediam seus conselhos.”

O homem perseguido, preso e exilado pelas autoridades do seu país, vê, no entanto, e ainda em vida, o reconhecimento do seu elevado valor intelectual traduzido nas triunfais recepções que lhe dispensaram nesses templos da cultura francesa que são a Academia e a Comédie-Française.

E depois do seu passamento a distinção que representou a trasladação dos seus restos mortais para o Panteão de Paris, em 1791.







(Fontes: várias entradas das enciclopédias da Porto Editora – Infopédia –, da Texto Editora – Biblioteca Universal – e da GEPB/Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira; várias entradas da Wikipédia, a enciclopédia livre; Portal da História e outros artigos da Net)







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