segunda-feira, outubro 08, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA



O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:
. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)
. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)
. ano 4703/4704 do calendário chinês
. ano 5767/5768 do calendário hebraico



DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.
2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.
2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.
2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".
2007 Ano Internacional da Heliofísica

Semana Mundial do Espaço Sideral



Aconteceu há 62 anos, nessa SG 08OUT1945: foi criado o Movimento de Unidade Democrática/MUD, de oposição ao regime salazarista.

Perpetuava-se, em Portugal, a dupla Salazar/Carmona.
Em França era presidente, provisoriamente, Charles de Gaulle, entre a Terceira e Quarta República.
No Reino Unido reinava Jorge VI, pai da actual soberana.
Na Alemanha vivia-se o post nazismo, uma época em que o país era presa dos aliados, na sequência da sua recente vitória e partilha. Só em 1949 encontraríamos a Alemanha dividida entre RFA e RDA.
Nos EUA era presidente (33º) Harry Truman, do partido democrata.
Em Espanha vigorava o “franquismo - regime político baseado no fascismo aplicado em Espanha entre 1939 e 1975, durante a ditadura de Francisco Franco”.
No Vaticano pontificava o diplomata Pio XII (260º), cujo papel na Segunda Guerra foi considerado, pelo menos, controverso.

Tanto quanto o feroz regime salazarista ia permitindo, ou por muito que estrebuchasse, a oposição nunca se conteve nem se calou. Bem vistas as coisas, não era a ditadura que ia permitindo coisa nenhuma. Não conseguia era controlar tudo, embora tudo fizesse por isso.
A oposição movia-se sempre sobre brasas e cinzas incandescentes: o risco da prisão, do degredo, da tortura, da despromoção ou irradiação do emprego, da perseguição impiedosa e do mais desumano tratamento. Mas agia.

Desde os alvores da ditadura que se verificaram acções de protesto e de exigência de reposição da legalidade democrática.


A da criação do MUD foi uma de muitas.

Claro que os comunistas de Portugal eram os oposicionistas (clandestinos) mais fortes, uma vez que a sua existência, como partido organizado é de data anterior à instauração da ditadura do Estado Novo.
Qual de nós, de esquerda, com idade superior a 50 anos, não esteve algum dia no PC ou por aí muito perto?

O regime salazarista nunca escondeu ser autoritário, anti-liberal, anti-democrático e repressivo. Mesmo em momentos de maior pressão exterior (quando o isolamento de Portugal mais se acentuava). O que por vezes aconteceu foi que, na sequência dessa pressão, o regime simulava uma certa abertura. Mas durante escassíssimo tempo.

Estávamos, então (nesses primórdios da ditadura), no que alguns classificam de primeira fase da oposição: fraca, desorganizada e violenta.
Esta fase durou até 1943, altura em que, já próximo do final da Segunda Grande Guerra, Portugal era severamente apontado como um péssimo exemplo em matéria de direitos, liberdades e garantias, e de deficit democrático.
No princípio da ditadura, a oposição era desorganizada, como se disse acima, e dominada por concepções anarquistas que privilegiavam a acção violenta, radical e armada. Mas os opositores democráticos organizaram e comandaram várias revoltas como as de 1927, 1928 e 1931. Todas fracassadas, contudo.
E outras se seguiram, em 1934 e 1935. Até que, em 1938, um grupo anarco-sindicalista tentou assassinar Salazar, quando ele se dirigia para a missa. Mas o ditador escapou ileso.

Um país apontado como opressor e usurpador dos direitos dos seus cidadãos, Portugal afrouxa (?), ou finge abrandar a sua tenaz perseguição aos democratas. E é então, mas ainda clandestinamente, que surge o MUNAF, “Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista. Organização clandestina presidida por Norton de Matos, surgida em Dezembro de 1943.”
Com ele se propunha “a constituição da unidade nacional de todas as organizações, grupos e individualidades antifascistas e patrióticas, visando o derrube do governo de Salazar e a instauração de um Governo Democrático de Unidade Nacional.
Dotado de um conselho nacional, de uma comissão executiva e de Comissões de Unidade Nacional (CUN). Os membros da comissão executiva são Piteira Santos, Bento de Jesus Caraça, Jacinto Simões, José Magalhães Godinho, Moreira de Campos, Francisco Ramos da Costa e Manuel Serra. No conselho nacional, está Álvaro Cunhal, Dias Amado e Bento de Jesus Caraça. No Comité Regional de Lisboa, José Magalhães Godinho, Manuel Mendes e Inácio Fiadeiro. No Comité Regional do Porto, Mário Cal Brandão, Azeredo Antas, António Veloso, Veiga Pires e Jorge Delgado. Cria em 1944 os GAC, Grupos de Acção e Combate. Nesse mesmo ano, em Junho, fiado que a vitória dos Aliados derrubaria automaticamente o salazarismo, cria um Programa de Emergência do Governo Provisório” – cfr José Adelino Maltez e a sua página profissional: http://maltez.info.

No MUNAF estava o germe do MUD.

“O MUD (Movimento de Unidade Democrática) foi uma organização política que surgiu em oposição ao Estado Novo, no contexto do final da Segunda Guerra Mundial. Com a vitória dos Aliados e a consequente democratização de toda a Europa Ocidental, o regime fascista de Salazar ficou numa posição isolada e bastante incómoda a nível internacional, o que o levou a "simular" uma política de abertura.
A oposição organiza-se e a 8 de Outubro de 1945 nasce, com autorização do Governo, numa reunião efectuada no Centro Escolar Republicano Almirante Reis, em Lisboa, o MUD.
"A orgânica interna do MUD passava a ser a seguinte: para além da comissão central existia também uma assembleia de delegados (com poder deliberativo), uma junta consultiva (...), comissões distritais, concelhias, de bairro, de freguesia, profissionais e outras comissões de auxiliares e de técnicos."(Fernando Costa, 1996) Havia portanto uma estrutura bem montada e credível” – segundo o CITI-Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.




Comissão Central do MUD
da esquerda para a direita: Maria Isabel Aboim Inglês, Mário Soares (em representação da juventude), Mário de Azevedo Gomes, Gustavo Soromenho, Manuel Mendes e, sentado, Fernando Mayer Garção(Bento de Jesus Caraça não estava presente, por doença)

Como, porém, muito rapidamente o movimento se sente credor de uma muito apreciável adesão popular (a ansiedade era enorme), da mesma forma se tornou uma ameaça para o regime. Assim, Salazar (para quem, quem não fosse por ele era contra ele e comunista), pouco mais de três anos depois, em Janeiro de 1948, ilegaliza-o, sob o pretexto de ligações ao PCP. (Argumento que hoje também colheria a simpatia de alguns “democratas”)
No entanto, ainda viria a apoiar a candidatura de Norton de Matos, às presidenciais, em 1949.

A par do MUD existia o MUDJ, entre os quais militavam Salgado Zenha, João Sá da Costa, Júlio Pomar, Maria Fernanda Silva, Mário Sacramento, Mário Soares, Fidelino Figueiredo e Rui Grácio.
E o MUD Juvenil era exactamente um alfobre democratas, onde se cruzavam e conviviam várias ideologias e tendências, que de comum tinham o serem oposicionistas à Ditadura e ao Estado Novo – escrevi nestas páginas, uma vez.

Qualquer acontecimento que tivesse a marca da oposição, como as crises académicas, era um dos pretextos para que a polícia política fizesse umas “purgas”. O regime não desistia de se impor... Mas as adesões, ao mesmo, eram cada vez mais escassas e a oposição cada vez maior e mais coesa – recordo também uma vez mais.

2 comentários:

Anónimo disse...

Artigo muito interessante que merece ser lido com atenção.

Anónimo disse...

Salgado Zenha, grande jurista

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