quinta-feira, setembro 06, 2007

“NO PASSADO 6 DE SETEMBRO DE 1968”





Há vilezas que nem a morte consegue branquear.
A um monstro ou a um tirano ou a um déspota ou a um ditador não pode bastar que se lhe lavem os pés para se colocar no altar dos bem-lembrados! Claro que não.
Quando, faz hoje 39 anos, Salazar foi operado na sequência da queda da mais badalada cadeira, em 03 de Agosto anterior, e ficou irremediavelmente perdido para a função que desempenhava, não se converteu num santo, nem passou a merecer a veneração que alguns, tanto ou mais que antes, lhe dispensavam. Tal como não passou a merecê-la 22 meses depois, ao sucumbir definitivamente (27JUL1970).
De forma nenhuma para muitos de nós.
A bicentenária tartaruga da historieta, afinal, sobreviveria mesmo. E longamente.
E ele, por mais eterno que, como qualquer ditador, se tenha imaginado, por mais benditamente imortal que alguns lhe tenham acenado ser a sua imagem e a sua memória, ele aí está, como todos, finito e pasto de vermes.
De nada serve, aos tiranos e ditadores, a vã glória de tanto terem despoticamente dominado. O sangue que fizeram correr, inocente e injustamente, o sofrimento que provocaram a tantas e tantas das suas vítimas, não lhes darão nunca o descanso que imaginaram ter garantido.




... pensava que ocupava ainda a cadeira do poder
Mas melhor que eu recorda, em curto espaço, o jornalista do Público, hoje, na rubrica diária “no passado” e que deu o título a esta memória, os factos. Texto que, curiosamente, é acompanhado, na edição impressa pela imagem que se segue. (Imagem recuperada através do próprio Público, em 10.09.07, e que substitui a anterior, que não estava em condições)


a cadeira
a habitual, não a da efeméride
(O texto que acompanhava a imagem anterior)
“SALAZAR OPERADO DE URGÊNCIA
Uma testemunha ocular, citada pelo Diário de Notícias, viu-o chegar ao Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, pelas 23h15 deste dia 6 de setembro de há 39 anos. António de Oliveira Salazar saía do automóvel, “pelo seu pé, sem gravata”. Acompanhavam-no os médicos Vasconcelos Marques e Bissaia Barreto e o director da PIDE/DGS, major Silva Pais. No átrio, aguarda-o uma cadeira de rodas, “que só assentiu em utilizar a rogo do dr Vasconcelos Marques”.
Menos de quatro horas depois, o ainda então Presidente do Conselho – vítima da queda de uma cadeira, cinco semanas antes, na sua residência de Verão, no Estoril – era submetido a uma operação cirúrgica, que consistiu na aspiração e remoção de um hematoma intracraniano subdural, praticada “sob anestesia local, por implicações de ordem técnica”.
Contará o jornal, no estilo untuoso da imprensa oficial ou oficiosa da época, que o doente, “que suportou toda a operação sem um gemido, concitou por isso mesmo toda a admiração de todos quantos participaram na intervenção ou a ela assistiram”.
“Com o profundo afecto de sempre”, o ditador Franco telegrafou, de bordo do iate Açor, os seus “ardentes votos” de “rápido e feliz restabelecimento”.
Ainda antes de os portugueses tomarem conhecimento da “inesperada e algo dramática” notícia, às 9 horas da manhã, “pela voz timbrada do locutor Pedro Moutinho”.
Sublinha o jornal: “o optimismo é comum a toda a equipa cirúrgica e clínica”. Em 16 deste mesmo mês porém, entra em estado de coma e dez dias depois é substituído por Marcelo Caetano.
Em estado semivegetativo, Salazar continuará, durante meses, a dar audiências, a presidir a reuniões, a conceder entrevistas. Como se ocupasse ainda a cadeira do poder. Numa espantosa encenação, sem precedentes na História de Portugal. A.G.”


Mas mais curioso ainda é que, na edição online do jornal, e só nessa, além daquela imagem, uma outra está disponível: a que se segue, que deixa transparecer a perplexidade em que os boys de então se encontravam...






chocados e perplexos, os boys...







2 comentários:

bettips disse...

Parecem aves de rapina... O problema é poucos perceberem o que ficou de tudo isso, as décadas de atraso, o definhamento de cultura e liberdade em seu tempo... E claro, tinhas que notar "descubra as diferenças"...
Abç

Isamar disse...

Tempos de má memória, estes que aqui recordas mas que não devem ser esquecidos. Foram muitas décadas de opressão, de obscurantismo para que possamos esquecê-las de ânimo leve.
Beijinhos

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