Na “Idade das trevas”, iluminados que se achavam os seus defensores, eram normais as lutas religiosas.
Um credo, então como hoje, não maioritário, impôs-se pela força e porque associado ao poder dominante.
Império que se seguiria poucos séculos depois com outras demonstrações, com outros métodos.
Na verdade, cruzadas e inquisição não são páginas dignificantes da história do mundo e muito menos da história da igreja católica.
Mas que não podem apagar-se, por mais que se queira enfraquecer e “branquear” a sua memória.
Eram os tempos em que o crime organizado (expressão e conceitos então ignorados, mas já praticados), a barbárie mais desumana fizeram do mundo de então o seu palco. A cruz alçada pelos fanáticos, com a fervorosa unção dos bispos, a paternal bênção pontifícia e o beneplácito régio, conduziram as hordas brutais que dizimaram, primeiro, os “infiéis”, e depois crentes e incrédulos, mas todos “agentes das forças do mal” – geralmente homens de superior cultura ou cientistas de superior inteligência que pretendiam modernizar na sua compreensão, ou punham em causa, verdades “canonicamente correctas”.
E eis que…
Passados séculos – um milénio volvido -, vencidas as ditaduras, implantada a democracia, retomada a liberdade, refreados os ânimos com os avanços do conhecimento e a maior abertura das mentes, aplicadas as novas tecnologias numa aproximação sem precedentes entre todos os países e todos os povos, quando a tolerância está na ordem do dia e é proclamada como passo imprescindível para a manutenção da paz… Uns loucos terroristas, em nome de um Deus que proclama a pacificação, contrariam os preceitos do seu credo, tornando-se nos algozes desapiedados da humanidade, espalhando o terror, a morte indiscriminada, a destruição, condenando vítimas inocentes e indefesas em nome de valores perversos e indefensáveis.
E outros loucos – para quem, num mundo desses, naturalmente, a vida não tem significado nem valor – suicidas destemidos, em busca de uma heroicidade nunca reconhecida, e por prémios mesquinhos que nunca gozarão, obedecem cegamente às ordens dos tiranetes que os subjugam, provocando onzes de setembro, onzes de março, setes de julho e o que mais adiante se verá.
Muito mais de vinte séculos… E o homem ainda não aprendeu a conviver com o homem.
Do mundo desconhecido e inexplorado passámos à “aldeia global”. Mas se antes o homem não conhecia o seu vizinho, e por isso o guerreava e o queria dominar, hoje conhece-o, mas continua a abominá-lo, por minúsculas e insignificantes diferenças, e por isso a persegui-lo.
A religião ligada ao poder foi sempre, e sempre terá de ser, uma “mistura” altamente explosiva.
Urge, pois, que o mundo entenda, de vez, que credo e política têm de confinar-se aos respectivos âmbitos, sem se imiscuírem mutuamente e mutuamente se reforçarem e, perversamente, se apoiarem.
O fundamentalismo, o cego fanatismo religioso, se sempre foi condenável, hoje é-o por redobrados motivos: representa um retrocesso civilizacional. Cada vez mais incompreensível, repugnante e inaceitável.
Desta vez a jihad da Al-Qaeda actuou em quatro pontos de Londres, no dia da abertura da cimeira dos ricos, o G8, em Gleneagles, na Escócia, agora, e enfim, envolta de uma auréola de esperança.
Antes, como hoje, os “terroristas” pretendiam, e pretendem, que os seus valores substituam os dos seus perseguidos.
É a religião exponenciada politicamente ao absurdo.
1 comentário:
Mas o fanatismo religioso foi sempre um retrocesso civlizacional. E a própria religião, mesmo sem fanatismos, não será ela própria um retrocesso civilizacional?
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