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A reforma, em qualquer parte do mundo, é um instituto que respeita ao limite de idade e à incapacidade para trabalhar.
Assim, na generalidade dos países, só os idosos e os inválidos se reformam.
Bom, mas isso é num mundo de vistas curtas, de fracos recursos, de tacanho espírito humanitário, de má gestão dos recursos humanos.
Num país avançado e próspero, como Portugal, a bitola é outra. Os critérios são mais sofisticados.
Na realidade, existem entre nós, também, a reforma por limite de idade e por invalidez. Mas isso para a grande “marabunta” (passe a expressão, embora expressiva). Isso é para aqueles que passam a vida “numa boa”, de costas direitas, de mãos nos bolsos, sem nada produzirem, sem nada fazerem.
Sim, porque também há – e é preciso atentar neles, coitados – os que trabalham frenética e desenfreadamente. E tanto que, ao fim de fugazes passagens pelos mais altos cargos da função pública ou para-pública, têm de parar, antes que sucumbam.
Velhinhos?!
Isso sim! Nem pouco mais ou menos. Gente com quarenta e tal, cinquenta e poucos anos. Só que, neles, a usura do tempo deixa bem mais vincados estragos.
Assim, para que o escândalo não fosse tamanho, ao atribuir-se-lhes um “prémio”, inventaram uma “outra reforma” – afinal o tal “prémio”.
Então, com quarenta e tal, cinquenta e poucos anos, vão, com essas magras reformas, a banhos para a Trafaria ou para a praia de Algés!?
Ou tavez jogar dominó para o grupo recreativo lá da freguesia!?
Ora que disparate. Claro que não. Marginalizados como são, como a vida está cara e como não se sabe o dia de amanhã, têm de se virar para outro lado: toca a trabalhar, para ganhar “por outro carrinho”.
E é aqui que entra o jornalista – pouco compreensivo – a quem roubei o título desta croniqueta, Joaquim Fidalgo, que ontem escrevia: «num capítulo ninguém nos bate, seja na Europa, nas Américas ou na Oceânia: nas políticas sociais de integração e valorização dos reformados. Aí estamos na vanguarda, mas muito na vanguarda». E, pouco depois, prosseguia: «Ora veja-se: o nosso Presidente da República é um reformado; o nosso mais "mortinho por ser" candidato a Presidente da República é um reformado; o nosso ministro das Finanças é um reformado; o nosso anterior ministro das Finanças já era um reformado; o ministro das Obras Públicas é um reformado; gestores ilustres e activíssimos como Mira Amaral (lembram-se?...) são reformados; o novo presidente da Galp, Murteira Nabo, é um reformado; entre os autarcas, garantiu-o o presidente da ANMP, há "centenas, se não milhares" de reformados; o presidente do Governo Regional da Madeira é, entre muitas outras coisas que a decência não me permite escrever aqui, um reformado; e assim por diante...
Digam-me lá qual é o país da Europa que dá tanto e tão bom emprego a reformados, que valoriza os seus quadros independentemente de já estarem a ganhar uma pensãozita, que combate a exclusão e valoriza a experiência dos mais (ou menos...) velhos! Ao menos neste domínio, ninguém faz melhor que nós. Ainda hão-de vir todos copiar este nosso tão generoso "Estado social"...».
Mas é um exagerado, este Joaquim Fidalgo. Certo que Mira Amaral, por exemplo, nem teve tempo de aquecer o lugar, na CGD. Mas, que diabo, é exactamente “um ilustre e activíssimo gestor”, como toda a gente sabe… E isso não tem um preço?
AJJ? Pelo amor de Deus: compreende-se lá a má vontade: um devotado democrata! Um desinteressado benfeitor! Um político equilibrado na postura, contido na palavra, sensato na atitude e nas apreciações… ! Digo-o eu. Não tenho dúvidas. Toda a gente vê.
Só faltou morder nos calcanhares de Santana Lopes! Outro exemplo de reconhecidíssimo mérito. Só esteve 4 ou 5 meses como primeiro-ministro? Pois sim. Mas e o trabalho desenvolvido? E as raríssimas qualidades que ele tem? Isso não conta?
Tamanha capacidade de trabalho, tão grande lucidez, tão inegável sentido de Estado e de responsabilidade, tão grande competência! E o ser uma pessoa de outras raras qualidades como hábil, leal, coerente e sério, nada disso conta? Não merecerá a reformazinha? Aposto que até o seu exigente crítico, Luís Delgado, concordará…
É evidente que sim.
Cá por mim até acho que mereciam mais, coitados!
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