Sustentam os mais entendidos que é altamente positiva a proposta do governo.
Que facilita a vida a toda a gente – cidadãos e governo – e que é uma eficaz medida de combate à fraude fiscal.
Porém, os cidadãos mostram-se receosos e descrentes de tanta “bondade”.
Como ouvi alguém salientar, o problema é que o Estado tem ainda um longo caminho a percorrer até conseguir ser considerado “pessoa de bem”.
Daí a retracção e a desconfiança do povo.
Depois… Bem, depois não estou a ver o zé povinho instantânea e milagrosamente transformado em inetrnauta.
Partindo daqui e indo em voo rasante por esse Portugal profundo, estou a ver, numa recôndita aldeia do interior, a “ti” Olinda e o “ti” André, entre a pipa do tinto e o barril do branco, portátil emprestado pelo genro sobre os joelhos, tratando do IRS, online… Ou a “Cidaura” e o “Gato”, a um canto da cozinha, junto do alguidar da loiça para lavar, em cima do aparador, limpas as mãos ao avental, a “Cidaura” matraqueando o teclado do computador emprestado pela Nelita, deitando contas à vida e vendo a matéria do seu IRS… Ou a “Carmita”, junto à máquina registadora do mini-mercado, com o portátil da filha desencantando a verdade ou o erro que acerca dela reporta o site da DGCI… Ou a “Maria Alice” ligando ao filho para a França, onde viveu décadas e onde o deixou, a mandar-lhe um SMS rogando-lhe pelas alminhas: “ó mon fice! Qu’a granda desgraça. Agora já na se trata o IRS como d’habitude! Agora tenho de tratar disso no computador. Imagina bem. Começa logo que na sei que chifres lhe botar em cima: se 2005 ou 2006; ó despois, na sei onde prantar o papiê da retrete qu’a caixa me paga… E sei lá que mais…” E o filho da Maria Alice, que é pasteleiro, entre duas fornadas de pastéis, responder à mãe: “ó ‘nha mãe: na s’apoquente. Os chifres são os do ano passado. Da retrete há-de vir um papier a dezer o que se passa. Veja bem é a praça onde prantar isso, qu’á-de ser na praça dos revenus do anê passado. Assossegue. Tudo s’á-de resudre…”
Bom, que vai haver problemas… creio que sim.
Que a solução é boa… Para a generalidade das pessoas, daqui a uns 50 anos, talvez.
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