Em recente artigo no Público, escrevia o jurista e deputado do PSD, Paulo C Rangel, sobre as últimas presidenciais. E com o muito sugestivo (!) título “A eleição presidencial e o fim da história”. De que transcrevo apenas (e chega) o respectivo destaque:
“A consumação das eleições presidenciais e a vitória pela primeira vez de um candidato não oriundo da esquerda consubstanciam a ideia de que só aqui se fechou o ciclo revolucionário. As notórias mudanças por que passam a Galp, a PT e a EDP representam a expulsão dos "últimos" resquícios de uma economia empresarial colectivizada, marcada pelo "sobrepeso" do Estado”
“Ciclo revolucionário”? Ui! Mas onde isso já vai! Isso já foi no século passado, dr Rangel!
Passado o susto, para os seus correligionários, serenados os ânimos, ficaram algumas muito boas sementes. Algumas ainda não germinaram por completo. Outras precisam de ser mais cuidadas e regadas. Estamos atentos, dr.
Mas oiça, não foi a direita que ganhou, e tangencialmente, foi a esquerda que perdeu desta vez, e por pouco – meu caro dr.
E por razões conjunturais – não de fundo – bem detectáveis. Tristes mesmo.
Mas passageiras, estou em crer.
Talvez não seja ainda o momento para se regozijarem tanto e datar como o grande dia, não o 22 de Janeiro, como “à cautela” sugere a historiadora M Fátima Bonifácio, mas a vossa maior efeméride, o 28 de Maio.
É cedo.
O dr é muito jovem, ainda. Não tenha pressa. (Se é que lhe vale a pena tê-la).
Não é só a memória “vivida” que lhe falta (nem podia ter), estimado dr; é uma memória transportada pela história e que não conhece, mesmo, ou de que já se esqueceu.
O saudosismo de certos “companheiros” seus (é assim que se tratam lá no PPD, não é?), mais veteranos no integrismo, é para vocês, mais jovens, a “memória” de um Portugal virtual.
Que, muitos, esperamos que não passe de uma miragem.
(Estou a aperceber-me da sua (pretensa) alfinetada, fitando-me, matreiro: “então e lá no seu partido? Continuam todos camaradas, não é isso?”
Só que está enganado. Duplamente.
Primeiro, porque não estou enfeudado a qualquer agremiação política.
Depois, porque não me assusta nada o tratamento de camarada. Impressiona-me tanto como o de amigo, irmão ou companheiro. Só que os últimos, por exemplo, despidos daquele sentido de “co-acólito” que os da sua “ordem” - que tanto pode beneditina, opus dei, ou sei bem qual -, lhe emprestam.)
“Resquícios de uma economia empresarial colectivizada”?
Ora deixe-se disso, de fórmulas estereotipadas, de cassetes, em que a sua área política se não cansa, erradamente, de martelar.
Sou um velho colega seu, mas não estigmatizado pela visão cultural e política passadista que caracteriza a generalidade da nossa classe. Nem seduzido pelas, bem pouco abnóxias, mas ao contrário bem comprometedoras, socialmente, políticas neo-liberais, que caracteriza grande parte dos da sua geração.
Na profissão (que já não exerço) como na vida (de que ainda me não dimiti), a experiência é um grande mestre.
A própria e a alheia.
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