sexta-feira, fevereiro 17, 2006

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Desta vez, por razões que não vêm ao caso, recordo, apenas, três ou quatro eventos. E muito resumidamente.

Da próxima vez (daqui por um ano) recordarei muitos mais, acerca desta data.

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DE ACORDO COM O CALENDÁRIO DA ONU:

1997/2006 - Década Internacional para a Erradicação da Pobreza.

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2006 Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

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Faz hoje 333 anos (1673), o que aconteceu numa SX: morreu o dramaturgo francês Molière. Reinava, em França, Luís XIV, o Rei-Sol, que governou sem primeiro-ministro. Em Portugal decorria a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II (23º), que traira o irmão, o frágil D. Afonso VI, que substituira no trono e na real alcova, já que lhe roubara, também, a mulher. Pontificava o papa Clemente X (239º).

Se hoje falarmos em Jean-Baptiste Poquelin, quantos o reconhecem?

Mas se referirmos o seu pseudónimo, quem não conhece Molière?

Não se sabe ao certo quando nasceu o dramaturgo, encenador e actor, mas sabe-se que foi baptizado em Paris a 15 de Janeiro de 1622.

Teve um importante papel na dramaturgia da época, até então, e em geral, quase só versando a temática da mitologia grega, sendo mesmo “considerado o fundador, indirecto, da Comédie-Française”.

De tal forma usou a sua obra para criticar os costumes da época, que seria ele que ditaria a máxima “ridendo castigat mores" – ironizando se criticam os costumes (ou numa tradução mais ao pé da letra: rindo se castigam os costumes). Máxima cuja expressão verbal ainda não existia, mas cujo espírito já, antes, estava, por exemplo, em Gil Vicente e nas suas obras.

Como não podia deixar de ser, Molière sofreu influências de Aristófanes, Plauto e Terêncio, assim como da Commedia dell'arte italiana.

Em Molière (cujo nome adoptou em homenagem a uma localidade do Sul de França), “os seus protagonistas vivem dominados por uma ideia fixa, um vício, que é normalmente secundarizada por virtudes; com excepção de Le Misanthrope [1666], onde o vício do misantropo é a sua extrema exigência moral, anulando os momentos risíveis pela ausência de ambiguidade psicológica na personagem” – in BU, da Texto Editores.

Depois da sua primeira peça L'Etourdi (1655) seguiram-se muitas outras, das quais, além da já aludida destacarei mais: Le médecin malgré lui (1666), Tartuffe (1664, peça censurada e proibida por atacar a hipocrisia do Clero e pela ambiguidade do herói, e que só cinco anos volvidos subiria ao palco), L'Avare (1668), Monsieur de Pourceaugnac (1669), Le bourgeois gentilhomme (1670), Les Amants magnifiques (1670), Les Fourberies de Scapin (1671) e La Comtesse

Existe uma versão portuguesa, de António Feliciano de Castilho (falecido cerca de dois séculos depois de Molière) da peça L'Avare (“O Avarento”), on line, ainda que em português do Brasil.

Começarei pela advertência que, em lugar de constar antes da apresentação da obra, vem no final da mesma, e onde, nomeadamente, se pode ler: “…não se trata, aqui, de uma mera tradução, mas de uma autêntica recriação da obra de Molière, pelo génio de Castilho.

A trama é toda de Molière, e quem leu ou ler o original não estranhará a história. Mas encontrará um gosto novo, uma, diríamos, adaptação, ou se preferirem, uma releitura da obra de Molière.

Para os puristas, recomenda-se a leitura do original, em francês, que pode ser facilmente localizado na web, por exemplo, no rigoroso e rico www.toutmoliere.net.”

Atentos cautelas e avisos, leia, pois a versão castilhiana de “O Avarento”

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Completam-se, hoje, 150 anos (1856), foi num DM: morreu, aos 58 anos, em Paris, o poeta alemão Heinrich Heine.

“Onde queimarem livros,

mais tarde, ou mais cedo,

o homem também acabará destruído”

Heinrich Heine

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Christian Johann Heinrich Heine, nasceu em Düsseldorf, aos 13DEZ1797.

Os poemas políticos e satíricos de Heinrich Heine situam-se entre o Romantismo e o Realismo.

Figura-chave do Romantismo, Heine era um declarado adversário da tirania e da “mediocridade satisfeita”.

Veja uma muito breve síntese biobibliográfica do poeta.

Uma curiosidade acerca das suas relações: foi descoberta, num arquivo em Moscovo, uma carta de Heinrich Heine à mulher de Karl Marx, com data de 01 de Janeiro de 1845. A carta foi encontrada por dois funcionários do Instituto Heine (Düsseldorf). Nela, além de tratar de assuntos do interesse de ambos, desejava feliz Ano Novo à "doutora" Jenny Marx e mandava saudações a Karl.

Algumas frases, que proferiu ou escreveu, definem a personalidade e a postura de Heinrich Heine:

“Deus me perdoará. É a Sua profissão.”

"Quem na vida nunca foi louco, jamais foi sábio."


”Se bem reflectirmos, veremos que não deixamos de estar nus dentro das nossas vestes.”

”Roma quis dominar: quando suas legiões cairam, ela mandou às províncias os dogmas.”

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Nos últimos anos de vida, Heinrich Heine viveu exilado em Paris.

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Foi há 45 anos (1961), era uma SX: regressa a Lisboa o paquete Santa Maria, desviado pelo capitão Henrique Galvão. Era PR o almirante Américo Tomás, o submisso servo do ditador, que continuava, ele (Salazar), sim, detentor único do poder absoluto. No Vaticano pontificava “O Bom papa João”, João XXIII (261º).

Henrique Galvão (1895-1970) foi “militar, político e escritor, com obra apreciável sobretudo de temas africanos. Depois de ter sido adepto fervoroso da ditadura salazarista aderiu à oposição democrática e celebrizou-se pela "Operação Dulcineia" - assalto e ocupação do paquete Santa Maria (1961) - como forma de protesto contra a falta de liberdade cívica e política em Portugal. Morreu exilado no Brasil”. (Fonte: Centro de Documenta­ção 25 de Abril/Universidade de Coimbra)

Em síntese: em 06JAN1952, Henrique Galvão é preso pela Pide.

Em 22JAN1961: numa atitude de denúncia internacional da ditadura portuguesa,

o capitão Henrique Galvão assalta, de surpresa, o paquete “Santa Maria”, nas Caraíbas. Ao «Santa Maria» foi dado o nome de «Santa Liberdade», e ao plano de assalto ao paquete foi dado o nome de código de «Operação Dulcineia», em que também participou Humberto Delgado.

Em10NOV1961, «Operação Vagô»: desvio de um avião da TAP, da carreira Lisboa-Casablanca, por membros da oposição ligados a Henrique Galvão e dirigidos por Palma Inácio, com lançamento de panfletos sobre Lisboa contra o regime salazarista e as eleições a realizar brevemente.

Aos 25JUN1970: morre, com cerca de 75 anos, o resistente Henrique Galvão.

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Completam-se hoje 36 anos (1970), foi numa TR: a vaga de prisões da PIDE abrange Raul Rego, director do “República”, o advogado F. Salgado Zenha e Jaime Gama. O PR, na sua única missão de cortar fitas, continuava a ser Américo Tomás. Que, muito pesaroso e muito contra vontade, tivera de nomear novo chefe de governo: Marcelo Caetano.

Bom… Um momento! Estamos na segunda e derradeira fase da monarco-República presidencialisto-governamental (e eu quero lá saber se os constitucionalistas concordam ou não, tecnicamente, com a minha leitura desse longo lapso que separou a I República – de 10 a 26 – e a actual II República iniciada em 74!...).

Bem, quem fez estas prisões, foi a DGS. Melhor, a PIDE/DGS. Eu explico: a PIDE foi extinta (!) [por favor não se riam com coisas sérias], e em seu lugar nasceu a muito mais liberal e humanizada [já disse: nada de sorrisos. O assunto é sério], que se chamou DGS/Direcção Geral de Segurança.

Alguns críticos – ora quem… os “comunistas” do costume – diziam “… de segurança da situação”. (Não se pode dar importância e valor a tais vozes. Mais que visto).

Mas – por mor das dúvidas – o novo condutor dos destinos do país, delfim do (nesse momento) moribundo e agonizante ditador – que deixaria este mundo a 27 de Julho seguinte -, mandou que se lhe chamasse PIDE/DGS.

Por muito que se tentasse o disfarce, o povo sempre viu nessa organização o mesmo rosto e o mesmo carrasco: a PIDE.

De vez em quando, não diariamente – que dava muito nas vistas para o exterior –mas dia-sim, dia-sim, fazia-se uma limpeza.

(Na Argentina, por essa época, nos anos 70 e tal,

com o Videla no poder,

os políticos do regime eram muito mais originais

e chamavam a tais operações

“desratização”

[não me contaram. Assisti. Estava um pacato cidadão, da Argentina ou do mundo,

num café, saboreando a bica enquanto passava os olhos por um jornal,

e entram dois soldados, fardados e de capacete, canhota em riste,

olhando com ar um misto perscrutador e ameaçador em redor…

E saem minutos depois.

Ou entram dois bufos paisanos,

sem qualquer preocupação de esconder as armas,

e sentam-se conversando e espiando… E ouvindo…]

Ainda a era dourada dos anti-democratas).

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Limpeza ou purga. Ou, em linguagem tecnológica, hoje muito mais impressiva, clean up!

Ora essas limpezas ou purgas (ou desratizações) mais não eram que uma medida pedagógica, designadamente, pois o incrédulo, e ingénuo e indefeso povo era muito assediado pelos demónios do progresso e das novas mentalidades…

Todo o cuidado era pouco…

E havia de revelar-se, daí a nada, infrutífero!

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