quinta-feira, maio 18, 2006

“OS HOMENS SÃO MULHERES AVARIADAS”?... HOMESSA!...


Trata-se de um mail que recebi.

Subject: Fwd: Artigozinho engraçado



"Os homens são mulheres avariadas" - by Nuno Markl



As invenções geniais nasceram, por mero acaso, de ideias e invenções falhadas...

OS HOMENS SÃO MULHERES AVARIADAS

O que os cientistas descobriram agora é que o cromossoma Y é uma versão degradada, estragada e avariada do cromossoma X. Há umas semanas, uma discreta notícia publicada na inofensiva secção de curiosidades bizarras de uma revista abriu-me os olhos para uma incrível revelação que deveria ter feito a Humanidade parar, para além de, num mundo justo, valer aos autores da descoberta o Prémio Nobel.
A revelação afectou-me de tal maneira que já dissertei sobre ela na rádio, já desenhei um cartoon sobre o inquietante assunto e quando me contactaram da Activa, convidando-me a escrever um artigo, achei que fazia todo o sentido falar sobre isto numa revista feminina.
A verdade é que, perante a revelação de que vos falo, nem sequer a expressão "revista feminina" por oposição a "revista masculina" faz sentido. A verdade é que nós, homens, somos no fim de contas, mulheres avariadas.

Passo a explicar. Dizia a notícia, disfarçada de inofensivo... para jantares de empresa, que cientistas chegaram à conclusão de que os homens estão muito mais sujeitos a apanhar todo o tipo de doenças do que as mulheres, uma vez que as mulheres possuem a famosa combinação de cromossomas XX, enquanto os homens possuem a não menos famosa combinação de cromossomas XY. O que os cientistas descobriram agora é que o cromossoma Y (que, no fundo, é o que faz de nós uns homens - não a tropa) é, no fim de contas, uma versão degradada, estragada e variada do cromossoma X. E que o equilíbrio que as mulheres têm com a dupla XX os homens não têm com o deprimente XY, daí as doenças e o facto de morrermos mais cedo do que elas.

O que está aqui a ser dito é que a norma seria o XX. A Humanidade deveria ser toda XX.

Calhou, no entanto, a algumas criaturas à face deste planeta a infelicidade de ter a combinação não de dois X mas de um X e um Y, essa versão arruinada do X. Aliás, basta olhar para as letras: o que é o Y, senão um X a quem caiu uma das pernas e que tem que se equilibrar precariamente, qual Saci Pererê, num único e frágil suporte?

Para quem ainda não percebeu - e eu ainda não fui suficientemente claro porque estou meio em negação -, o que este estudo nos está a dizer é que era suposto existirem apenas mulheres no mundo. Por um azar, uma corrente de ar, qualquer coisa que correu mal na Criação, um cromossoma X estragou-se. E aparecemos nós: esta anomalia a que se convencionou chamar "homem".

Tenho tonturas ao pensar nisto. Ao pensar que sou uma anomalia. Isto põe em causa séculos e séculos de conceitos que tínhamos como certos.
A ideia que somos o sexo forte. A importância que damos ao nosso pénis. Sendo que somos uma anomalia, à luz destas novas descobertas, a importância do nosso pénis é a mesma de uma borbulha ou de um furúnculo, uma vez que, tudo indica, era suposto termos uma vagina. Isto é uma situação profundamente dramática, pelo que quero apelar às mulheres de Portugal que, perante a bombástica revelação, não a usem contra nós, evitando assim expressões tais como: " Estás a ver?", "Ora toma !" ou "E agora, quem é o sexo forte?".

Mais do que nunca, precisamos de carinho e compreensão. Contamos convosco!

Pronto. Está escrita toda a parte do artigo que é para ser lida pelas mulheres, público-alvo desta revista.
Obrigado pela vossa atenção e passem à frente: há muito bom artigo, nas próximas páginas, à vossa espera, sobre hidratação da pele e dietas. O que se segue é só para os homens. Vão em frente, mulheres. Estejam à vontade. Obrigadíssimo. Até um dia destes. Tchau. Boa viagem.


PARA OS GAJOS:
Malta, isto não são más notícias.
Já se aperceberam bem do potencial desta coisa em termos de auto-vitimização? É lindo! "Não grites comigo, sou uma anomalia".
Estamos safos por uns tempos. Acho eu.


Nuno Markl - criativo, in "ACTIVA" nº 175, Junho 2005

Pois eu não acho – que estejamos safos por uns tempos (como pensa Nuno Markl)

Se o assunto não fosse tão sério, eu não teria senão uma resposta e uma reacção: ora adeus, caro Markl!... Estórias!...

Mas não. Fiquei deprimido. Muito assustado. Acabrunhado. Se não fosse deselegante, diria, à rasca. Se não fosse grosseiro, diria estragado.

Fiquei basto preocupado. Sem saber que pensar. Que fazer.

Fui a correr à Net, às enciclopédias, aos tratados (que todos nós temos em comprimidos). Bati à porta de amigos: sensatos, uns; outros, nem por isso, mas médicos.
Incomodei especialistas.
Incomodei meio mundo (porque o outro não o conheço).
Ninguém me soube explicar o fenómeno.
Ninguém conseguiu acalmar minha ansiedade.

Mas achei que não podia entrar em desespero.

Respirei fundo.

Matutei.

Não desisto de um esclarecimento.
E resolvi: fecho-me num quarto. Corro persianas.

Na escuridão total, isolado do mundo, entregue a mim mesmo, dialogando com o meu outro eu, tentei encontrar o salvador. Quem me pudesse elucidar sobre o assunto. Esclarecer sobre a verdade ou o exagero. Sossegar-me deste trauma, explicar-me os prós e os contras. Apontar-me processos de contornar o problema. Decifrar-me, em linguagem entendível, o que descobriram os cientistas. Se isso é dramático ou não. Confrontar, de vez, o arrazoado de Nuno Markl...

E os olhos cerravam-se-me. A cabeça fervia. A ansiedade crescia. O desassossego cada vez maior: não me ocorria ninguém. Não encontrava a tábua salvadora para este naufrágio em que me sentia.

Não desisti.
Fechei ainda mais os olhos. Pedi a todos em casa que "emigrassem", que me deixassem só.

E insisti.
E mergulhei no mais fundo de mim. à espera de um clique.

Mas ele não surgia.

A angústia crescia.
O desespero tomava cada vez mais conta de mim...

E insisti, de novo.

E voltei a concentrar-me com mais “força”, se possível…

E percorri, de novo, mentalmente o mundo: indagando possíveis eminências na matéria…

Qual quê!

Terrível!

Até que...

EUREKA!!!!!

Uma luzinha acendeu cá dentro!

O tal clique surgiu.

Fiquei eufórico.

Com o quarto na escuridão total, tropecei em tudo, mas precipitei-me para o telefone: tinha encontrado o salvador.
O único expert que me podia esclarecer... Talvez sossegar...
O único de opinião firme e cientificamente consolidada.
O único fiável.

Ligo, exausto mas esperançoso… Mas…

Nuno Rogeiro não estava.

Foi o desaire total.
A desilusão absoluta.

Que só daqui por uns meses estará.
Que está num seminário em Teerão acerca de não sei o "enriquecimento do urânio"; que depois segue para Alhos Vedros para uma conferência sobre esse drama que é a gripe das aves; que de seguida embarca na Portela com destino a Calcutá onde vai dirigir um mestrado sobre "o ecumenismo e as mais recentes teorias de entrosamento das políticas sociais com as novas teses neo-liberais nas comunidades em vias de desenvolvimento"; depois segue para Kioto para participar num debate sobre o ambiente; depois tem agendada a participação, em Moscovo, num congresso sobre "a consequência e os eventuais efeitos resultantes da guerra das estrelas num mundo globalizado"; de seguida uma palestra em Ovar acerca das "consequências das novas políticas marítimas e a desova das ostras"; mais tarde, mas, de imediato, nova conferência, desta vez em Katmandu, versando "a raiz do maoismo e as políticas de incremento dos possíveis equilíbrios socio-económicos nos países centro-asiáticos; a que se se vai seguir a participação, em Vilar de Perdizes, num seminário sobre as medicinas alternativas no tratamento dos calos; voando de novo, a seguir para Chicago, onde vai presidir a um colóquio, na academia militar local sobre "balística interior, balística exterior e a balística terminal, no que respeita aos novos projécteis de médio e longo alcance, tendo em conta a recém-inventada tabela de resistência balística Modulaço", etc, etc, etc.

E eu, desesperado, à espera.
Mas confiante no seu saber, na sua reconfortante palavra.

Aguardo

(E até lá... Seja o que Deus quiser. Que me chamem o que entenderem. Vou fazer ouvidos de mercador)

Desculpem o desabafo.
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