Em artigo de SB 01ABR último, escrevia, no Público, Margarida Gomes (MG), acerca de um jantar que, no Porto, reuniu apoiantes do Movimento de Intervenção e Cidadania (MIC), criado na sequência da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República.
O título rezava: «Alegre compara política actual "ao pior dos tempos do salazarismo"».
E no lead, adiantava:
«Ex-candidato ataca relações externas, encerramento de maternidades e nomeações públicas, e incita cidadãos a cometerem "heresias"».
Durante o jantar, o deputado do PS e vice-presidente da Assembleia da República «trouxe para o centro do debate o papel do Estado» – escreve MG.
E continua: «numa altura em que se comemora os 30 anos da Constituição e em que o Executivo de José Sócrates anunciou um vasto pacote de reformas, Manuel Alegre interrogou-se mesmo sobre se "o Estado vai passar à clandestinidade ou se vai privatizar-se a ele próprio". "O Estado não pode capitular, nem dissolver-se. É bom que seja amigo dos empresários. Mas também dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos", defendeu, manifestando-se "pessimista em relação à situação portuguesa". Perante este quadro, Alegre incitou os apoiantes a mobilizarem-se no sentido da participação cívica: "Se ficarmos à espera, isto não vai lá."»
Mais adiante, prossegue a jornalista: «assumindo-se como o porta-voz de "algumas heresias", Alegre voltou à candidatura presidencial para sustentar que a sua "candidatura vencedora, pela perspectiva e pelos horizontes que abriu contra as arrogâncias, os fetichismos e os dogmas", continua a ser olhada, pelos seus colegas de bancada, "com algum incómodo". Alegre diz que segue em frente e terminou o debate desafiando os cidadãos a cometerem "mais heresias"».
As declarações não terão sido tão “mornas” como a jornalista deu a entender.
Mas uma coisa é certa: a Alegre e seus apoiantes falta aquela caixa de ressonância que em política – hoje – é indispensável…
Verdade que o país não se salva nem se afunda se as maternidades da nossa raia se mantiverem ou forem encerradas… Mas que é verdade que os espanhóis nunca admitiriam a inversa do que cá se planeia… Parece-me não restarem grandes dúvidas.
Não será uma questão fulcral… Como o não será a do fecho de algumas escolas… Mas estes e outros são preocupantes índices da gravidade do critério que parece preside às reformas socráticas… Tudo sacrificar à perspectiva única e todo-poderosa da Economia!!! (Embora algumas vozes digam que não é tal).
Acho que sim, que temos de responder ao desafio e cometer “mais heresias”…
NOTA A POSTERIORI, MAS EM TEMPO:
Falou-se muito – talvez demais – acerca da problemática do fecho de algumas maternidades.
Acusavam uns (contra) que se tratava de razões puramente economicistas; defendiam outros (pró) que tal política se fundamentava em puras razões técnicas.
Perante uma decisão tomada sem grandes explicações, fácil é que, como por efeito de uma mola, todo o mundo se tivesse insurjido contra a medida.
Para o que muito contribuiu o habitual rastilho “incendiário” de certos jornalistas e de certos meios de comunicação.
Porém…
Porém, tudo parece navegar nas ondas alterosas dos costumados juízos precipitados.
J Vítor Malheiros, por exemplo (Público, TR 09.05.06), ajudou-nos a ponderar e a concluir pelo acerto da medida.
O próprio colégio de especialidade da Ordem dos Médicos se pronunciou sobre a matéria, e favoravelmente à decisão do ministro. Opinião técnica, a desse colégio, obviamente.
O Dr Albino Aroso, esse, hoje, simpático Ansião, mas, como sempre, inteligente, lúcido e competente profissional e cidadão de enorme verticalidade, está em perfeita sintonia com o ministro Correia de Campos nesta matéria.
Dr A. Aroso a quem um dia (em 1952!) o bispo do Porto, D.
Dr Albino Aroso que, há muitos, muitos anos, já, não quis acreditar, e se recusou a aceitar, que houvesse mulheres criminalmente condenadas por abortarem!
Dr Albino Aroso que integrara governos de Sá Carneiro e Cavaco, e que só à sua conta, fechou 150 maternidades
O Dr Octávio Cunha - Membro da Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal e director dos Serviços de Cuidados Intensivos Neonatais e de Pediatria do Hospital-Geral de Santo
E, perguntado sobre se “há razões para tanta contestação”, não hesita: “onde falta bom senso sobra a demagogia”.
Será que todos os entendidos na matéria, os acabados de referir e outros, que estão de acordo com a medida do M. da Saúde, têm o cartão de militante do PS, ou, caso contrário, são traidores dos seus partidos?
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