quinta-feira, maio 18, 2006

MODELOS DESFASADOS MAS AINDA MODELOS


Em artigo de SB 01ABR último, escrevia, no Público, Margarida Gomes (MG), acerca de um jantar que, no Porto, reuniu apoiantes do Movimento de Intervenção e Cida­dania (MIC), criado na sequência da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República.

O título rezava: «Alegre compara política actual "ao pior dos tempos do salazarismo"».

E no lead, adiantava:

«Ex-candidato ataca relações externas, encerramento de maternidades e nomeações públicas, e incita cidadãos a cometerem "heresias"».

Durante o jantar, o deputado do PS e vice-presidente da Assembleia da República «trouxe para o centro do debate o papel do Estado» – escreve MG.
E continua: «numa altura em que se comemora os 30 anos da Constituição e em que o Executivo de José Sócrates anunciou um vasto pacote de reformas, Manuel Alegre interrogou-se mesmo sobre se "o Estado vai passar à clandestinidade ou se vai privatizar-se a ele próprio". "O Estado não pode capitular, nem dissolver-se. É bom que seja amigo dos empresários. Mas também dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos", defendeu, manifestando-se "pessimista em relação à situação portuguesa". Perante este quadro, Alegre incitou os apoiantes a mobilizarem-se no sentido da participação cívica: "Se ficarmos à espera, isto não vai lá."»

Mais adiante, prossegue a jornalista: «assumindo-se como o porta-voz de "algumas heresias", Alegre voltou à candidatura presidencial para sustentar que a sua "candidatura vencedora, pela perspectiva e pelos horizontes que abriu contra as arrogâncias, os fetichismos e os dogmas", continua a ser olhada, pelos seus colegas de bancada, "com algum incómodo". Ale­gre diz que segue em frente e terminou o debate desafiando os cidadãos a come­terem "mais heresias"».

As declarações não terão sido tão “mornas” como a jornalista deu a entender.

Mas uma coisa é certa: a Alegre e seus apoiantes falta aquela caixa de ressonância que em política – hoje – é indispensável…

Verdade que o país não se salva nem se afunda se as maternidades da nossa raia se mantiverem ou forem encerradas… Mas que é verdade que os espanhóis nunca admitiriam a inversa do que cá se planeia… Parece-me não restarem grandes dúvi­das.

Não será uma questão fulcral… Como o não será a do fecho de algumas escolas… Mas estes e outros são preocupantes índices da gravidade do critério que parece preside às reformas socráticas… Tudo sacrificar à perspectiva única e todo-poderosa da Economia!!! (Embora algumas vozes digam que não é tal).

Acho que sim, que temos de responder ao desafio e cometer “mais heresias”…

NOTA A POSTERIORI, MAS EM TEMPO:

Falou-se muito – talvez demais – acerca da problemática do fecho de algumas maternidades.

Acusavam uns (contra) que se tratava de razões puramente economicistas; defendiam outros (pró) que tal política se fundamentava em puras razões técnicas.

Perante uma decisão tomada sem grandes explicações, fácil é que, como por efeito de uma mola, todo o mundo se tivesse insurjido contra a medida.

Para o que muito contribuiu o habitual rastilho “incendiário” de certos jornalistas e de certos meios de comunicação.

Porém…

Porém, tudo parece navegar nas ondas alterosas dos costumados juízos precipitados.

J Vítor Malheiros, por exemplo (Público, TR 09.05.06), ajudou-nos a ponderar e a concluir pelo acerto da medida.

O próprio colégio de especialidade da Ordem dos Médicos se pronunciou sobre a matéria, e favoravelmente à decisão do ministro. Opinião técnica, a desse colégio, obviamente.

O Dr Albino Aroso, esse, hoje, simpático Ansião, mas, como sempre, inteligente, lúcido e competente profissional e cidadão de enorme verticalidade, está em perfeita sintonia com o ministro Correia de Campos nesta matéria.

Dr A. Aroso a quem um dia (em 1952!) o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes (!!!), encorajou para que continuasse o seu trabalho relacinado com o Planeamento Familiar!...

Dr Albino Aroso que, há muitos, muitos anos, já, não quis acreditar, e se recusou a aceitar, que houvesse mulheres criminalmente condenadas por abortarem!

Dr Albino Aroso que integrara governos de Sá Carneiro e Cavaco, e que só à sua conta, fechou 150 maternidades

O Dr Octávio Cunha - Membro da Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal e director dos Serviços de Cuidados Intensivos Neonatais e de Pediatria do Hospital-Geral de Santo António, no Porto – afirma tratar-se de “uma medida [o encerramento dos blocos de partos de algumas unidades hospitalares] correcta, urgente e corajosa”.

E, perguntado sobre se “há razões para tanta contestação”, não hesita: “onde falta bom senso sobra a demagogia”.

Será que todos os entendidos na matéria, os acabados de referir e outros, que estão de acordo com a medida do M. da Saúde, têm o cartão de militante do PS, ou, caso contrário, são traidores dos seus partidos?

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