1. Como estamos fartos de saber, nem sempre o que o Expresso diz, se escreve.
Tremenda confusão a do semanário: Cavaco é um professor, não um contínuo (perdão: Auxiliar de Educação) nem um chefe de turma, para denunciar as patifarias da rapaziada.
Posto de parte esse tema (mas que tema!...) para discurso de tão importante data – falo da data da revolução dos cravos, em que o cravo nem sempre esteve presente (por convicção, para muitos; por falta de coragem, para alguns), de que poderia falar Cavaco?
Ou de econonomia, ou de nada.
De economia… Ainda não é a altura (as núpcias ainda não acabaram).
De nada era frustrante.
Vai daí, escolheu o óbvio. E acerca do óbvio sempre ocorrem algumas ideias, sempre se debitam umas palavras.
Falar de inclusão é já um passo andado para enfrentar a exclusão.
E já não há quem tenha coragem de a ignorar. Até o CDS/PP do PP e do TC verteu, a propósito, uma lagrimazita enternecedora!...
Foi a garantia do consenso para o primeiro discurso do novo presidente de TODOS os portugueses.
2. Nesta correria frenética do dia-a-dia nem sempre nos damos conta disso. Mas existe, quer
Da de S. Bento, vê-se um país em tons rosa alaranjados. Vê-se o que se gostaria de ver. O que se gostaria que fosse… Um país plano, sem acidentes “morfológicos”, sem quebras e disparidades “climatéricas”, com “vistas” e “horizontes” tranquilizantes… “imagens” em que o “criador” se conforta e regozija, interiormente, com “a sua obra”…
Parece que não assim, da torre do palácio de Belém.
Desta tem-se uma vista do país profundo e real… A preto e branco… Sem retoques nem gongorismos… Duro e cru.
Surpreendentemente, pouco mais de um mês depois de aí ter entrado
(acompanhado de toda a família
– imagem serôdia, saloia e demagoga, que,
por ser de bacoca “ternurice” e corresponder à mais arreigada “coscuvilhice”,
logo encheu páginas de todas as revistas rosa-pimba)
Cavaco parece ter descoberto que o país não correspondia, afinal, ao seu imaginário.
Cavaco
– que sem hesitações nem hipocrisias –
mostrou ao país que chegaram à suprema magistratura
os velhos senhores
que não “cultivam” o cravo
(uns que o pisam, de raiva;
outros que, simplesmente, o ignoram, o deixam murchar e apodrecer).
Que o detestam.
Para mim, ainda que de mau augúrio, foi corajosa e sincera a atitude.
Mas Cavaco, que da torre de S. Bento recolhera do país certa imagem que o levou a recusar a criação do RMG (Rendimento Mínimo Garantido), agora, e nesta circunstância, de diferente torre e com outra objectiva, não pôs a tónica na crise económica, antes traçou um negro quadro das desigualdades sociais, da cada vez mais preocupante exlusão social.
De todas as reacções ao discurso, desde a mais farisaica (Telmo Correia) à mais encomiástica (M. Mendes) passando pela mais concordante (Sócrates), até às mais atentas, críticas, exigentes e ponderadas (Alegre, Jerónimo e Louçã) subscrevo, sem hesitar, a de Jerónimo de Sousa:
"É um diagnóstico fácil de subscrever. O problema é saber como foi possível chegar aqui, quem foram os responsáveis e corre-se o risco de a culpa morrer solteira. Mas é um discurso pedagógico, deve ser registado este esforço do Presidente. Faltou dizer que esta desigualdade é tanto mais gritante quanto há quem vá somando as mais-valias enquanto aumentam as desigualdades e as injustiças sociais."
Nem mais.
3. Paulo Ferreira, num Editorial do Público, no dia seguinte à efeméride, falou de um “Presidente da República à procura do tom e dos temas certos, enclausurado entre aquilo que se espera que ele diga, aquilo que o próprio não quer nem deve dizer e os temas que lhe são mais estranhos mas que ele sente que tem que começar a abordar, ainda que lhe falte o jeito”.
Por outro lado, Vasco Pulido Valente, mais recentemente, assertou na mouche: o presidente soube escolher o discurso adequado à sua mudez e o conveniente à surdez dos que ouviam no Parlamento: “desde que não se exceda uma vaga generalidade, o Governo e os partidos gostam de se preocupar com o próximo” – concluía o polémico colunista, mas aqui com grande clarividência.
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