Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
Respondendo a uma interrogação,
continuo a dar relevo ao papado.
Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.
E não só, nos últimos séculos.
Os papas sempre foram,
para muitos, figuras de referência,
e para a generalidade, figuras de relevo;
por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.
Alguns
(muitos)
não pelas melhores razões.
Mas foram.
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DE ACORDO COM O CALENDÁRIO DA ONU:
1997/2006 - Década Internacional para a Erradicação da Pobreza.
2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.
2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.
2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.
2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".
2006 Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.
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Há 685 anos, nesta data, segundo a maioria crê, 14.09.1321, numa SG, morreu, em Ravena, com 56 anos, o poeta italiano Dante Alighieri. (Alguns afirmam ter sido no dia anterior, DM 13).
Dante foi contemporâneo do nosso rei D. Dinis - a quem se refere no seu poema -; de Afonso X, de Leão e Castela, O Sábio (avô de D. Dinis); de Filipe, o Belo (Filipe IV) e Luís X, de França; e do imperador do Sacro Império Romano Germânico, Rodolfo I, fundador da casa (dinastia) dos Habsburgos.
Durante os 56 anos de vida de Dante, a cadeira pontifical foi sucessivamente ocupada por 14 papas: Clemente IV (183º), Gregório X (184º), Inocêncio V (185º), Adriano V (186º), João XXI (187º), Nicolau III (188º), Martinho IV (189º), Honório IV (190º), Nicolau IV (191º), Celestino V (192º), Bonifácio VIII (193º), Bento XI (194º), Clemente V (195º) e João XXII (196º).
Durante degli Alighieri, de seu verdadeiro nome, melhor conhecido como Dante Alighieri, ou simplesmente por Dante, nasceu em Florença aos 13.05.1265.
Florença era, ao tempo, uma próspera república italiana, uma das muitas que então existiam no território que hoje se chama Itália. Florença era mesmo, então, uma das mais importantes cidades europeias, igual, em importância e em tamanho, a Paris, com mais de 100 mil habitantes.
A obra prima de Dante foi a, hoje conhecida como, Divina Comédia, mas cujo título inicial não era exactamente esse.
Dante foi o maior poeta da Renascença italiana, mas escreveu também em prosa (De Vulgari Eloquentia, entre 1304 e 1306, uma obra original em latim sobre o italiano, os seus dialectos e línguas aparentadas), além de que foi também crítico literário, filósofo (escreveu, por exemplo, o tratado Convívio, de
O poema épico que o celebrizou tinha, inicialmente, o título de Comédia (Comedia ou Commedia), simplesmente, e foi criado entre 1307 e 1321 – o ano da sua morte. Porém, diz-se, o poeta seu contemporâneo, mas de uma mais nova geração, Giovanni Boccaccio (1313-1375), autor do Decameron, achando-o tão soberbo, designou-o de Divina Comédia. E assim passou a ser conhecido em todo o mundo e para todo o sempre, sendo, quase unanimemente considerado o melhor poema épico da literatura italiana e um dos melhores da literatura mundial.
Trata-se de uma odisseia de cariz religioso cuja personagem principal é o próprio autor, Dante, que realiza uma jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo: o Inferno, o Purgatório e o Céu. Nessas suas trajectórias, Dante é guiado, pelo Inferno e pelo Purgatório, por Virgílio (em melhor rigor, Vergílio, o autor da Eneida). Já no Céu, Dante é guiado por Beatriz (Beatrice Portinari – sua musa em várias das suas obras, o seu grande amor - platónico, embora - descrita na sua obra
O poema é, portanto, constituído por três livros, correspondendo a cada um daqueles destinos do além. O primeiro livro – o Inferno – é constituído por 34 cantos. Os dois seguintes, por 33 cada um. Cada canto abrange entre
Já os seus poemas líricos dispersos constituem o Canzoniere.
Em 1300, Dante foi um dos seis “priores” (líderes) da república florentina, favorecendo a facção moderada dos guelfos e não a facção extremista gibelina.
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Genericamente – recordo - designavam-se como
guelfos e gibelinos
os partidos rivais
na Itália e na Alemanha medievais
que apoiavam, respectivamente,
o partido papal e os imperadores germânicos.
Termos estes que foram introduzidos, por volta de 1242, em Florença,
para designar, correspondentemente,
as facções papais e imperiais
pré-existentes nas cidades-república.
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Práticas muito comuns, nestes tempos, pelas cúpulas da hierarquia da Igreja de Roma, eram certas formas de corrupção, como a simonia, e um escandaloso favorecimento de familiares e amigos, como o nepotismo.
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Simonia:
tráfico (ou negócio fraudulento)
de objectos sagrados ou de culto,
de bens espirituais e de benefícios eclesiásticos.
Mais correntemente, consistia
na compra de cargos ou benefícios na hierarquia da igreja.
Em termos modernos,
digamos que consistia na constituição de lobbies
poderosíssimos e de garantido financiamento,
com vista àqueles fins.
Nepotismo:
protecção baseada em mero favoritismo
(favorecimento, portanto),
dispensada por certos papas e outros altos dignitários da hierarquia,
assim como por governantes,
aos seus parentes,
com a oferta de cargos, dádivas e favores.
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Tais práticas, por vários papas, na Idade Média, acarretaram sérios problemas morais à Igreja, estando mesmo na base, entre outras, da reacção de elementos seus, como a do monge Martinho Lutero (1483-1546), que afixou as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, no dia 31 de Outubro de 1517, rebelando-se contra a autoridade de Roma.
A causa próxima da revolta do pai da Reforma, das sua intervenções, das sua homilias e das suas teses, foi uma particular prática, sobretudo, de simonia, que consistia no tráfico das indulgências (traduzindo-se, estas – em termos chãos - na compra do perdão das penas relativas aos pecados).
Ora é no canto oitavo, do Inferno – que é a morada do demónio e das piores criaturas – que Dante encontra o papa Nicolau III enterrado de cabeça para baixo, com os pés em chamas.
Nicolau III era, digamos, um exemplo, um aviso e uma premonição, relativamente aos papas do seu tempo, Bonifácio VIII, Clemente V, e outros, pela prática de tal pecado.
Nicolau III (188º), que foi papa de
Bonifácio VIII (193º), que foi papa entre 1294 e 1303 (reinado de D. Dinis), ficou a dever o seu cargo à prática da simonia.
Clemente V (195º), que também deve a sua ascensão ao papado a um poderoso lobby, foi papa de
Se Dante tivesse vivido na segunda metade do séc. XV, por certo que lhe não escaparia o encontro, naquela “morada do demónio e das piores criaturas”, dos Bórgias, ambos espanhóis de Valência, Calisto III (209º), Afonso Bórgia, eleito em 1455, e seu sobrinho Rodrigo Bórgia, Alexandre VI (214º), a quem ele, enquanto cardeal e depois como papa, cumulou dos melhores cargos e benesses.
Não se esqueceria de Alexandre VI, sobretudo.
É que Rodrigo Bórgia (Alexandre VI), que foi papa de
Rodrigo Bórgia tomou o pontificado viviam ainda quatro filhos seus dos cinco que houvera de Vanosa de Catancia, uma amante segundo uns, sua mulher segundo outros (diferença que só tem algum significado por se tratar de quem se trata). Promoveu os seus filhos nos melhores cargos de que pôde dispor, sendo este empenho uma das notas características do seu pontificado. Aos quatro fez doação dos Estados da Igreja. A um deles, César, fê-lo cardeal e arcebispo de Valência. (Mas César desistiu da vida eclesiástica, para que nunca sentira o mínimo pendor. Nem de bandeja, nem à força!).
Canaveira (Manuel Filipe Canaveira) em trabalho publicado num destacável d’ “O Jornal”, de 10.05.1991, em síntese, descreve-o assim: "pouco se pode dizer de bom de um homem que teve dois filhos tão "perversos" como César Bórgia e Lucrécia Bórgia. Para nós, ibéricos, foi um bom papa, pois ratificou o Tratado de Tordesilhas e aceitou as doutrinas do 'Mare Clausum'.”
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(Aproveito para corrigir um erro da memória de 10JUL último.
Dizia eu ali, a propósito desta matéria, e em idêntico registo, que Canaveira se equivocara. Mas foi meu o engano.
Na verdade, Alexandre VI ratificou o Tratado de Tordesilhas, e ao ratificá-lo,
o papa - ao tempo, autoridade indiscutível, até nesta matéria –
aceitava a doutrina do “Mare Clausum”,
que defendia a restrição de navegação marítima a certo ou certos países apenas.
Doutrina à qual se opunha, naturalmente, a do “Mare Liberum”,
cujos paladinos defensores, nesses idos, foram os ingleses:
os mares são livres de ser navegados por quaisquer países).
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Completam-se hoje 194 anos (14.09.1812), o que caiu numa SG: na sua campanha expansionista, e em espírito de revanche por a Rússia czarista se ter recusado a cumprir o Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte entra
A campanha russa de Napoleão traduziu-se num rotundo fracasso. Entrado em Moscovo em Setembro, a resistência russa, que incendiou a cidade, e um muito rigoroso Inverno, vitimaram mortalmente cerca de 380 mil soldados franceses e derrotaram o imperador, que, perante inultrapassáveis dificuldades, teve de bater em retirada no mês seguinte.
Napoleão planeara e ordenara o Bloqueio Continental, em 1806, pretendendo, desta forma, levar de vencida o seu pior adversário, a Grã-Bretanha, estrangulando-a e isolando-a economicamente. Uma das causas do insucesso do bloqueio foi a sua rejeição pela Rússia, em 1812, causa mais próxima da decisão de Bonaparte de a invadir.
Foi em memória da vitória russa que Tchaikovsky compôs, em
Três anos depois, em 09.06.1815, era assinada a Acta final do Congresso de Viena, que assentava nos termos de paz do Tratado de Paris de 30.05.1814. Nessa acta final se redefinia o mapa político da Europa, após a derrota de Napoleão. Nove dias depois dava-se a queda definitiva de Napoleão, após a sua derradeira derrota em Waterloo, a sul de Bruxelas, já nos Cem Dias do breve regresso do imperador do exílio.
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Foi há 105 anos (14.09.1901), num SB: - Theodore Roosevelt torna-se o 26.o presidente dos EUA, sucedendo a McKingley, de quem foi o segundo vice-presidente, por morte de Garret A. Hobart, em 1899.
Ao tempo, era rei da Grã-Bretanha Eduardo VII, filho da rainha Vitória e bisavô de Isabel II. O chefe de Estado francês era o Presidente Émile Loubet. Em Portugal, agonizava a monarquia, ainda com D. Carlos (33º) no trono. O papa da igreja de Roma era Leão XIII (256º).
Nascido a 27 de Outubro de 1858,
Em matéria de política externa, já então os líderes norte-americanos praticavam uma política de cariz chauvinista, na altura cingida ao reforço da supremacia dos EU na América do Sul.
Salvo nas circunstâncias de morte de um presidente (que foi aqui o caso), do seu afastamento por impeachment, ou da sua pura e simples renúncia, as eleições presidenciais norte-americanas acontecem na primeira terça-feira depois da primeira segunda de Novembro, de quatro em quatro anos. A data foi fixada por lei de 1845, por razões económicas e religiosas.
“Novembro foi escolhido por razões económicas. Os Estados Unidos eram uma sociedade agrária e queria-se evitar os períodos com mais trabalho, como a Primavera ou o Verão, mas também o Inverno, quando as deslocações eram mais difíceis por causa das intempéries”.
Quanto ao dia da semana, avaliadas as possíveis hipóteses, a escolha recaiu na Terça-feira. (O fim de semana, por exemplo, foi excluído, atendendo às actividades religiosas como às habituais actividades de lazer e desportivas).
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Aconteceu há 83 anos (14.09.1923), era uma SX: Primo de Rivera instaura a ditadura
1923 foi o ano em que, em Portugal
- nasceu o Partido Nacionalista, que resulta da fusão do Partido Republicano de Reconstituição Nacional com o Partido Republicano Liberal (05.02), que realiza o seu I Congresso em 17.03;
- nasceu o ensaísta Eduardo Lourenço (23.05);
- morreu o poeta Guerra Junqueiro (07.07);
- nasceu o escritor
- nasceu o professor e arquitecto Fernando Távora (25.08);
- se realizou, em Portugal, o I Congresso do Partido Comunista Português (10.11), que nascera dois anos antes (06.03.1921);
- nasceu o escritor Urbano Tavares Rodrigues (06.12);
-
O militar e aristocrata Miguel Primo de Rivera y Orbaneja, que nasceu em Jerez de
O seu filho mais velho,
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foi uma figura mítica do franquismo e fundador da Falange Espanhola.
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Depois de várias missões nas colónias, e já no posto de general, Miguel Primo de Rivera foi destacado (1919) para servir na Península. Em 1922 é confrontado com acções e manifestações do nacionalismo catalão e ainda com uma grave instabilidade ministerial acompanhada por uma rápida deterioração do sistema partidário.
É assim que Primo de Rivera (pai) surge como líder do golpe de Estado de 13.09.1923, suspendendo a Constituição, dissolvendo o Parlamento e implantando uma ditadura.
Não foi difícil a instauração do regime ditatorial, já que Primo de Rivera contava com o beneplácito do rei e com a activa colaboração e o apoio do patronato, do clero, das forças armadas e doutros meios conservadores.
Daí até encabeçar um Directório Militar, que concentrava todos os poderes do Estado, foi um curto lapso de tempo.
Dado que viria substituir um regime desprestigiado e em claro declínio e uma vez que prometia uma ditadura transitória, visando restaurar a ordem e extirpar o caciquismo – costumado elixir dos regimes musculados, dos antidemocratas e dos ditadores -, começou por encontrar fraca resistência. “Mesmo os socialistas mantiveram uma neutralidade benévola, dando-lhe o mérito da dúvida”.
Inspirada no modelo fascista de Mussolini, a ditadura de Primo de Rivera perseguiu os anarquistas – cujo sindicato foi ilegalizado -, pôs termo à Mancomunidad de Catalunya (uma primeira experiência de autogoverno catalão), ilegalizou ou “afastou da área da governação os partidos ou instituições representativas da vida política (substituindo-os por tecnocratas conservadores, agrupados, a partir de 1924, na Unión Patriótica)” dando lugar à constituição de um Parlamento fantoche, claramente não democrático, recrutado entre católicos conservadores e “corporativistas autoritários atraídos pelo fascismo”.
Aumentado o seu prestígio consideravelmente a partir de 1925, o ditador viria a demitir-se e a exilar-se, fracassada a constituição da União Patriótica.
“Divididas as hostes primorriveristas e arrefecido o relacionamento do ditador com o rei, as forças que apoiavam a ditadura não foram capazes de afrontar o auge da oposição, crescentemente unida e mobilizada ante a ameaça de ver perpetuar-se o regime. Socialistas e republicanos uniram-se na campanha contra a ditadura, numa oposição que ameaçava arrastar também a Monarquia que a havia apoiado. Estudantes, operários e intelectuais manifestavam-se contra o regime e os próprios militares conspiravam contra Primo de Rivera” – apud Wikipédia.
Desautorizado pelos altos comandos militares e pelo rei Afonso XIII, em 1930 Primo de Rivera demitiu-se e auto-exilou-se em Paris, onde morreu dois meses mais tarde (a 16 de Março).
Seguir-se-ia a proclamação da República em 1931. Em 1936, uma aliança de centro-esquerda, a Frente Popular, subiu ao poder, mas foi confrontada com os estratos mais conservadores, desde os latifundiários à igreja católica. Donde a insurreição militar sob a liderança do general Franco que deu lugar à guerra civil de Espanha de 1936-1939. O caudilho, vencedor da guerra, com o apoio da Alemanha nazi e da Itália fascista, restaurou a ditadura militar, que perduraria até 20.11.1975, data em que morre o afilhado de Afonso XIII. Dois dias depois é restaurada a monarquia, com a subida ao trono de Juan Carlos, neto do anterior monarca.
“A experiência ditatorial de Primo de Rivera foi seguida de perto pelos conservadores portugueses, eles mesmos confrontados com a decadência e a instabilidade permanente da I República. O golpe de 28 de Maio de 1926 teve clara inspiração no modelo espanhol e muitas das forças que o apoiaram tinham como referência política a acção do Directório Militar. Após o 28 de Maio, a política portuguesa manteve essa referência, tendo a fundação da União Nacional, e o respectivo enquadramento orgânico e ideológico, seguido de muito perto o modelo da Unión Patriótica de Primo de Rivera” - id.
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Foi há 15 anos, em 14.09.1991, que caiu num SB: o cineasta português Manuel de Oliveira (aliás, Manoel de Oliveira) recebeu o Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema de Veneza pelo seu filme A Divina Comédia. Na altura Mário Soares cumpria o seu segundo mandato (desde Janeiro desse ano), como presidente da República.
É difícil evitar o lugar comum: Manoel de Oliveira é o mais celebrado cineasta português.
No entanto, se a afirmação de que o realizador mais velho do mundo ainda em actividade, Manoel de Oliveira (que dentro de três meses completará 98 anos!!!), é considerado o maior vulto do cinema português, é dado trivial, já a revelação de que se trata, para muitos experts, de um dos mais conceituados cineastas a nível mundial poderá constituir, para alguns, importante cacha. Polémico e peculiar, na sua técnica e nas suas abordagens, “a sua arte secundariza a técnica face ao radicalismo filosófico e existencial das histórias contadas”. Donde, naturalmente, algumas das críticas à sua obra, desta vez, claro, por parte – ao invés – de tecnicistas radicais.
Verdade que os filmes de Oliveira não são, entre nós, campeões de bilheteira, estando, em geral, longe de serem marcados pelo sucesso comercial. Facto, contudo, que não significa, necessariamente, menor qualidade.
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Vi alguns filmes de Oliveira.
E um deles, Francisca, recordo-me bem, vi-o na
(única, na altura, se bem me lembro)
sala do Centro comercial de Alvalade:
nessa sessão estávamos três casais a assistir à projecção do filme...
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Manoel de Oliveira (de seu nome completo Manuel Cândido Pinto de Oliveira) nasceu no Porto - estava a monarquia portuguesa no seu ocaso - aos 12.12.1908.
O “bichinho” da 7ª arte estava lá desde muito jovem, já que o pai o levava ao cinema a ver fitas de Charlot, Max Linder e outros.
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Eram os tempos do cinema mudo.
Charlie Chaplin estava a lançar-se,
participando em numerosas curtas metragens nos anos dez desse século.
Antes dele (1905) revelara-se outro grande nome do cinema cómico,
o francês Max Linder,
que teve grande influência em Charlot.
Note-se que na mesma referida época a projecção de Charlot foi extraordinária, como se pode avaliar pelo seguinte:
em 1914, quando se iniciou, (rondava os 25 anos)
ganhava 150 dólares por semana;
pouco depois já recebia 1250 dólares por semana,
a que acrescia um significativo bónus de 10 mil;
em 1916-1917 já é pago a 10 mil dólares por semana
e mais um bónus de 150.000;
em 1917 já é o actor mais bem pago dos EU: um milhão de dólares!
Em 1919 (aos 30 anos), fundou o estúdio United Artists com mais três sócios.
Foi uma deslumbrante ascensão.
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Em 1928 (aos 20 anos) inscreve-se na Escola de Actores de Cinema, fundada pelo realizador italiano Rino Lupo
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em Portugal desde 1921,
a quem Georges Pallu
– um dos três realizadores “franceses tipicamente portugueses”,
como escreveu um dia Bénard da Costa
(os outros dois, da mesma época, foram Roger Lion e Maurice Mariaud) -
dera a mão
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e nesse mesmo ano é a sua estreia no mundo do cinema, participando com o irmão, Casimiro de Oliveira, como figurante num filme do mesmo Rino Lupo, Fátima Milagrosa. Em 1933, volta a ser actor, desta vez na Canção de Lisboa, do arquitecto e realizador José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948), que teve também a participação de Vasco Santana,
Em 1930 dá-se o primeiro sinal da notoriedade de Manoel de Oliveira, com a publicação de fotografias suas na revista Imagem, onde era considerado - imagine-se - "um dos mais fotogénicos cinéfilos portugueses".
Mas antes de ganhar nome como cineasta, Manoel de Oliveira tornou-se vedeta através do desporto e em tão diferentes disciplinas como ginástica, natação, atletismo e automobilismo.
E é assim que, em 1938, o Jornal Português – um dos veículos de propaganda do regime autoritário do Estado Novo durante 14 anos (1938-1951) – traz a seguinte manchete: "II RAMPA DO GRADIL GANHA POR MANUEL DE OLIVEIRA, NUM CARRO EDFORD".
“A 21 de Setembro de 1931 estreia a versão muda do Douro, Faina Fluvial no V Congresso Internacional da Crítica, o qual despertou violentas reacções dos nossos críticos e elogios dos estrangeiros. Críticas que nunca mais deixaram a obra de Oliveira. Por uns a sua obra é elogiada, por outros é fortemente crítica, mas Oliveira continua a filmar. As críticas são centradas na forma como estrutura os filmes e a lentidão com que se desenrola a acção. Dá mais importância às palavras e ao conteúdo do que aos actos. A câmara raramente se move, e quando o faz são movimentos subtis para mostrar um objecto, os movimentos corporais de um actor que fala. Tudo é encenado meticulosamente para o espectador não se distrair com pormenores supérfluos, agarrando-o desta forma à história deste génio do cinema” – cfr BIOFILMOGRAFIA abaixo destacada.
Em 1934, com a estreia, no estrangeiro, da versão sonora do Douro..., é a sua consagração como cineasta.
Tirando este filme, na década de 30 o realizador não conseguiu que passassem do papel Bruma, Miséria, Roda, Luz, Gigantes do Douro, A Mulher que Passa, Desemprego e Prostituição.
Em 1942 realiza a sua primeira longa-metragem: Aniki-Bóbó.
E nessa década não consegue que passem de projectos Hino da Paz (documentário), Saltimbancos e Clair de Lune ( conto de Guy de Maupassant). Tal como nos anos 50, Angélica, Pedro e Inez, Vilarinho da Furna (documentário etnográfico sobre a obra de Jorge Dias), A Velha Casa, As Monstruosidades Vulgares (de José Régio), O Bairro de Xangai, De Dois Mil Não Passarás, Palco dum Povo (multifilme), O Poeta, que não chegaram a ser realizados devido a falta de apoio financeiro.
Em 1955 fez em Leverkussen (Alemanha) “um estágio intensivo nos laboratórios da AGFA, para estudar a cor aplicada ao cinema, que veio mais tarde (1957) a aplicar no documentário, O Pintor e a Cidade”, “uma deambulação pela cidade através do olhar do pintor”, curta metragem que realiza sozinho e sozinho suporta os seus custos.
Tivera, entretanto, uma meteórica passagem pela produção agrícola da família, ocupando-se do cultivo do Vinho do Porto.
Em 1957, no Festival de Cork, na Irlanda (Festival Internacional da Curta Metragem), recebe a Harpa de Ouro, e o britânico Basil Wright, presidente do júri, ao anunciar a atribuição do galardão ao Pintor e a Cidade, afirmou: “o filme português "O Pintor e a Cidade" foi o filme mais interessante apresentado neste festival. É uma obra cheia de originalidade, de imaginação, com magníficos exemplos de fotografia a cores, enquadramentos invulgares e uma montagem curiosa. A única razão porque não lhe atribuímos o primeiro prémio - não obstante o seu indiscutível mérito - foi por não ter conseguido, em nossa opinião, tornar bem claras algumas das ideias que procura exprimir” - como pode ver-se na abaixo referida BIOFILMOGRAFIA.
Os anos sessenta foram os da consagração de Oliveira, no plano internacional.
O definitivo arranque de Manoel de Oliveira, já ele era sexagenário, dá-se a partir de 1971, nos chamados "anos Gulbenkian", fase em que a Fundação assumiu o protagonismo do mecenato à produção cinematográfica nacional, com O Passado e o Presente, filme que marca o início da sua "tetralogia de amores frustrados", de que fazem parte, também, Benilde ou a Virgem Mãe (1975), com textos do seu pessoal amigo José Régio, Amor de Perdição (1978), adaptação da mais célebre obra de Camilo Castelo Branco, e Francisca (1981), baseado na obra de Agustina Bessa-Luis “Fanny Owen”.
“Os projectos não realizados, têm sido motivo de interesse, de estudo e de reflexão sobre a sua obra” – como se lê no DOSSIER abaixo também destacado.
Entretanto, os prémios e os louvores multiplicam-se, tal como a polémica à volta da sua obra. E Manoel de Oliveira, serenamente, prossegue.
Entre os primeiros, destaco:
- em
- em 1982 recebe a medalha de ouro no Festival de Sorrento em Itália;
- em 1985 foi galardoado com o Leão de Ouro pelo seu filme Le Soulier de Satin, no Festival de Veneza;
- em 1991 o Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema de Veneza pelo seu filme A Divina Comédia – pretexto para a presente MEMÓRIA;
- em Setembro de 2004 recebe o Leão de Ouro, no Festival de Veneza, pelo conjunto da sua obra;
além de muitos e muitos mais.
Galopando, vivo e activo, para o seu centenário, a última década da centúria passada, e a primeira deste século, são os anos de ouro de Manoel de Oliveira. Vejamos:
de 1990 é NON ou a Vã Glória de Mandar, “uma visão histórica da nossa história”, “uma reflexão que só pude realizar a partir da revolução de 25 de Abril de 1974, sobre a identidade e as perspectivas portuguesas do contexto histórico actual…” - como afirmou o próprio Oliveira.
«Vale Abraão (1993), baseado num livro de Agustina, A Caixa (1994) e O Convento (1995). Na sua obra seguinte, Party (1996), a colaboração entre Agustina e Oliveira mantém-se. Viagem ao Principio do Mundo (1997) é sem dúvida o seu filme mais autobiográfico.
A Inquietude (1998) e A Carta (1999), seguem-se Palavra e Utopia (2000), sobre a vida de
Em 2002 estreia O Princípio da Incerteza, baseando-se mais uma vez na obra de Agustina e em 2003 Um Filme Falado, uma reflexão sobre a civilização ocidental na viragem do milénio» - “PROJECTO EDUCATIVO « ENVOLVER» do AGRUPAMENTO VERTICAL MANOEL DE OLIVEIRA (instituição de ensino público, da educação pré-escolar ao 9º ano de escolaridade, pertencente ao concelho e distrito do Porto).
Em Setembro de 2004 apresenta no Festival de Veneza, o seu filme O Quinto Império – Ontem e Hoje. «Tal como no filme anterior, a situação mundial contemporânea não é estranha a esta obra, mas na sua base está a peça de José Régio (1900-1968) "El-Rei Sebastião", que além do Quinto Império aborda os temas do Desejado e do Encoberto.
A União Europeia é "uma tentativa moderna de chegar ao Quinto Império", afirma o realizador. Possuidor de um inegável sentido ético, Oliveira lê os conflitos actuais - o terrorismo, a guerra, a normalização redutora das expressões culturais da cada povo - reflectindo sobre as lições do passado. É por isso que mais do que um regresso à obra de José Régio - de quem foi amigo e de quem já levou ao grande ecrã textos como "Benilde ou a Virgem-Mãe" ou "O Meu Caso" - Oliveira apresenta esse filme como "um regresso à História", conceito recorrente na sua obra. Esta mais-valia do seu cinema transforma-se assim num recurso didáctico para a reflexão sobre a nossa própria identidade» - id.
Para mais informação, ou mais aprofundada, podem consultar-se inúmeros trabalhos – na NET, inclusive – acerca de Manoel de Oliveira. Deles destaco os já antes resumidamente citados BIOFILMOGRAFIA de Manoel de Oliveira, do Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa, e DOSSIER Manoel de Oliveira, organizado – e muito bem documentado - por Rita Azevedo Gomes, para a “Madragoa Filmes”
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