quinta-feira, setembro 07, 2006

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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DE ACORDO COM O CALENDÁRIO DA ONU:

1997/2006 - Década Internacional para a Erradicação da Pobreza.

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2006 Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

Dia Nacional do Brasil.

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Aconteceu há 847 anos (07.09.1159), numa SG: foi eleito o papa Alexandre III (170º). No Sacro Império Romano-Germânico reinava o imperador Frederico I. Na Inglaterra reinava o primeiro rei da dinastia plantageneta, ou angevina (de Anjou), Henrique II. Em França reinava Luís VII, da dinastia capetiana. Em “Espanha” reinavam, em Castela Afonso VIII, da dinastia de Borgonha; em Leão, Fernando II, da mesma dinastia. Em Portugal, reinava ainda igualmente um rei da Casa de Borgonha, D. Afonso Henriques.

Afonso VIII era sogro de D. Afonso II (3º) de Portugal

(que casou com a sua filha Urraca),

como também era sogro de D. Mafalda de Portugal, filha de D. Sancho I (2º),

(que casou com seu filho, Henrique I de Castela).

Por sua vez,

Fernando II de Leão era genro de D. Afonso Henriques,

já que casou com sua filha, D. Urraca.

O italiano Orlando Bandinelli, nasceu em Siena, cerca de 1120. Foi chefe de fila dos cardeais que se opunham ao imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico I, que a história também regista como Frederico Barba Ruiva.

Eleito papa na data que hoje se recorda, na sequência da morte do (único) papa de nacionalidade britânica Adriano IV (169º), adoptou o nome Alexandre III. Mas não foi pacífica a sua eleição: uma minoria de cardeais elegeu (o antipapa) Octaviano, que tomou o nome de Vitor IV. Este, bem como os antipapas seus sucessores, Pascoal/Pascal III (1164-1168) e Calisto III (1168-1178) eram apoiados pelos gibelinos (recordo: facção pró-imperador da Alemanha). Finalmente Alexandre III foi reconhecido. Voltou, pois, a Roma, de onde por duas vezes se vira obrigado a fugir (de 1162 a 1165 e em 1167). Teve de enfrentar ainda um outro antipapa (Inocêncio III: 1179-1180). Em Março de 1179 convocou o (terceiro sínodo de Latrão) 11º concílio ecuménico de que uma das principais conclusões foi a de que a eleição do papa exige 2/3 dos votos dos cardeais.

Em Fevereiro deste ano de 1159 terá sido feita, por D. Afonso Henriques, a doação do Castelo de Ceras (zona próxima de Tomar – que já existia nesse tempo), e respectivo distrito (e respectivas terras, era o que se queria dizer com essa expressão da época) aos templários/Ordem do Templo.

Nesta data (1159) da eleição de Alexandre III pontificava em Lisboa o seu primeiro bispo: D. Gilberto, que era inglês, e que anos antes passara por Lisboa com os cruzados, aos quais D. Afonso Henriques pedira auxílio para a conquista da cidade aos mouros.

Alexandre III (170º) confirmou o direito de D. Afonso Henriques à coroa portuguesa, sancionando-lhe o título de rei e reconhecendo-lhe o domínio de todos os territórios conquistados aos Mouros (bula Manifestis Probatum de 23.05.1179).

“O Papado, quando compreendeu e aceitou a seriedade e a viabilidade do projecto político português, facilitou e até favoreceu a concretização dos intentos dos primeiros líderes portugueses: concedeu a autonomia à Igreja Portucalense (sediada em Braga)”, autonomia renovada em 1163 por Alexandre III. É que, “segundo as convicções da época e as circunstâncias da Península Ibérica, a independência política do Condado Portucalense não podia ser separada da sua autonomia religiosa” – (Manuel Gonçalves Martins, da Universidade do Minho, comunicação ao IV Congresso Português de Sociologia)

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Aconteceu há 194 anos (07.09.1812), era SG: os russos são derrotados por Napoleão, na batalha de Borodino. No Reino Unido reinava Jorge III, da Casa de Hanôver, pentavô de Isabel II. Em Portugal, com D. Maria I já louca, decorria a regência de seu filho, D. João VI, e já a partir do Brasil, do Rio de Janeiro.

A terrífica batalha nas proximidades de Moscovo (a 110 km), em Borodino, foi a maior, mais feroz e mais sangrenta batalha de todas as guerras napoleónicas. Muitos autores designam-na de batalha de Moscovo.

Do lado das forças russas, sob o comando de Kutusov, contabilizaram-se 15 mil mortos e 25 mil feridos; do lado francês, 28 mil baixas, incluindo 12 generais.

Perante o fracasso militar dos russos (que recuaram para leste), Napoleão pôde prosseguir o seu avanço sobre Moscovo sem qualquer obstáculo.

Uma semana depois as tropas invasoras entravam na capital russa. Donde adviria a mais terrível catástrofe para as forças francesas, que um rigoroso Inverno ajudaria a bater em retirada, absolutamente destroçadas e rendidas.

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Foi há 184 anos (07.09.1822), era SB: D. Pedro solta o "grito do Ipiranga" ("Independência ou morte!"), nas margens do Ipiranga (nesse tempo um rio, hoje, um pequeno riacho), arredores de S. Paulo, proclamando a independência da colónia. Reinava D. João VI (27º), regressado a Portugal no ano anterior. Em Inglaterra reinava (Jorge III?). Em França... A suprema direcção da igreja de Roma cabia ao papa Pio VII (251º).

Recuemos um pouco e contextualizemos a declaração de independência, avançando, resumidamente, até o surgimento da República e aos reflexos imediatos da independência em Portugal.

O Brasil foi “descoberto” (para o mundo da época, claro, centrado na Europa) a 22 de Abril de 1500 – pouco mais de quatro meses antes da data que ora se comemora, haviam-se completado 322 anos - , quando o navegador Pedro Álvares Cabral partiu de Portugal em direcção à Índia, mas com o pedido expresso de D. Manuel para descobrir as terras que se sabia estarem em frente a África, do outro lado do Mar Oceano. O novo território recebeu os nomes de Terra de Santa Cruz e Vera Cruz. Depois Brasil.

Sem meios de manter o Brasil e a Índia ao mesmo tempo, D. Manuel colocou o Brasil ao cuidado de uma companhia de comércio. Informado com o facto de as terras continuarem desocupadas e a serem pilhadas pelos franceses, foi D. João III quem deu início (1530) a um programa de colonização do território, organizando uma expedição, chefiada por Martim Afonso de Sousa, com três objectivos: explorar a costa, travar os franceses e criar núcleos com população europeia. Ciente de que não podia custear a colonização de terras tão extensas, o rei dividiu-as em «capitanias», doadas a quem quisesse nelas investir. Foram inicialmente distribuídas 15, mas só duas, Pernambuco e São Vicente (hoje S. Paulo) vieram a prosperar.

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O padre Manuel da Nóbrega,

primeiro missionário jesuíta no Brasil,

e José de Anchieta, também jesuíta,

fundaram, em 25.01.1554,

o colégio (jesuíta) para índios, S. Paulo,

que foi o embrião da segunda cidade do país.

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Em 1548, após a morte do seu donatário, D. João III decidiu apropriar-se da capitania da Baía e torná-la capitania da coroa, para defender a terra dos estrangeiros e de colonos indesejáveis. Para seu administrador foi nomeado Tomé de Sousa, que fundou Salvador. Aí permaneceu a capital da colónia, até 1763, altura em que se transferiu para o Rio de Janeiro, a fim de, a partir daí, melhor se defender a região sul, atacada por espanhóis que, desde há cem anos atrás, colonizavam a região de Buenos Aires. Foi, portanto, até então – século XVIII – que o sistema de capitanias se manteve. Porém, só durante o século XVI a colonização se não afastou do litoral, respeitando o Tratado de Tordesilhas de 1494.

A atenção de D. João V (primeira metade do século XVIII) estava, em particular, dirigida ao Brasil. Fomentou o povoamento do território com emigrantes, introduziu várias reformas administrativas e militares, fomentou a produção da cana-de-açúcar e procurou delimitar mais rigorosamente as fronteiras.

Nesta matéria – delimitação de fronteiras – o mais difícil foi o apaziguamento do Sul. E para ele concorreu uma série de acordos bilaterais entre os dois Estados ibéricos: Tratado de Utreque, assinado em 06.02.1715, entre D. João V e Felipe V de Espanha; Tratado de Madrid, firmado na capital espanhola entre D. João V e Fernando VI de Espanha, a 13 de Janeiro de 1750 (em que teve papel relevante o brasileiro Alexandre de Gusmão, paulista de Santos, que era o secretário particular do monarca português); o Tratado de El Pardo (de 1761, entre representantes de D. José e Carlos III de Espanha, que suspendia o Tratado de Madrid); o Tratado de Santo Ildefonso ou Tratado dos Limites (1777), entre representantes de D. Maria I e do mesmo Carlos III; por fim, o Tratado de Badajoz, firmado em 06.06.1801, entre ministros do regente D. João (VI) e de Carlos IV.

E o resultado de tais acordos foi, inclusive, que a área da colónia portuguesa (Brasil) quase triplicasse relativamente ao que decorria da aplicação do Tratado de Tordesilhas.

O Brasil era, de facto, a “jóia da coroa”. Não só, pois, D. João V (como acima referido) se ocupou particularmente com essa colónia. O marquês de Pombal, por exemplo, planeou e deu execução a uma “série de medidas que influenciaram todas as colónias: extinguiu as donatarias;

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(donatarias ou capitanias hereditárias

representam o primeiro projecto político-administrativo

para colonização do Brasil,

reproduzindo, com algumas diferenças,

o sistema já experimentado pelo governo português

nas suas ilhas atlânticas:

em suma, a doação, pela Coroa, a donatários,

de extensões de território para povoar, explorar e administrar.)

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criou, restabeleceu ou extinguiu capitanias importantes no processo geopolítico; acabou com a ordem dos jesuítas (por forma a unificar a estrutura política e administrativa centralizadora) e criou novos órgãos administrativos e fiscais”. Aliás, essas medidas - aumento da carga fiscal e excesso das contribuições - estiveram na origem da Inconfidência Mineira (1789), uma conspiração em torno dos ideais de um grupo de intelectuais, clérigos e militares que, sofrendo influências dos filósofos franceses das Luzes, se opunham às medidas da metrópole e desejavam a independência. A conspiração falhou, mas gerou vários conflitos que estiveram na base da independência, acelerada com a deslocação da família real portuguesa para o Brasil. O príncipe-regente, D. João, ocupando o trono em lugar da mãe, D. Maria I, decidiu transferir a corte para o Rio de Janeiro, quando as tropas de Napoleão invadiram Portugal, em 1808.

A esse tempo já o casamento do regente com D. Carlota Joaquina tinha soçobrado, vivendo D. João VI no Palácio de Mafra, o resto da Família real no de Queluz e D. Carlota no solar do Ramalhão, nas proximidades de Sintra, onde se envolvia “numa série de casos amorosos” (Patrick Wilcken, Império à Deriva, Civilização Editora, Outubro de 2005, pág 78).

Quando as tropas napoleónicas, lideradas pelo general Junot, que em 1805 fora embaixador da França em Lisboa, estão prestes a entrar na capital, mais de dez milhares de pessoas – corte, funcionários públicos, aristocratas, ministros, padres e criados e amigos duns e de outros – amontoaram-se a bordo da frota real. Às sete da manhã de 29 de Novembro de 1807, o comboio de navios aprovisionado à pressa deixava a barra lançando-se ao mar Oceano, escoltado por vasos britânicos.

Depois de quase dois meses de mar e uma paragem em Salvador da Baía, a corte chega ao Rio de Janeiro aos 21.01.1808, instalada em mais de dez navios, sob escolta britânica, e desembarcam todos, “imundos, cheios de piolhos e esfarrapados, para grande surpresa dos súbditos do Novo Mundo” (Cit. Patrick Wilcken, id, da apresentação da obra, na contracapa). “Com as minas de ouro há muito exauridas, a colónia tinha regressado ao seu papel tradicional de quinta agrícola da Europa movida pelo trabalho escravo” (Id, id, 18).

A 20.03.1816, com a morte da rainha D. Maria I (26º), no Brasil, o príncipe regente foi coroado rei, como D. João VI (27º). Em 1821, a evolução dos acontecimentos – a onda liberal - precipitara o regresso do rei a Portugal (na QI 26.04.1821), chegando a Lisboa a 03.07.1821. Deixou, porém, o seu filho, D. Pedro, como regente. Durante a sua regência foram claros os sinais de que as cortes portuguesas queriam devolver ao Brasil o estatuto de colónia.

Em Janeiro de 1822, D. Pedro foi intimado a regressar a Portugal, mas desobedeceu. A 7 de Setembro desse mesmo ano, e perante novas intimações do Governo da província, na margem do Ipiranga lançou o célebre grito «Independência ou Morte» — um mês depois (12.10), foi aclamado imperador: o Brasil tornava-se uma monarquia independente. E cerca de três anos depois (29.08.1825) é assinado o tratado do reconhecimento da independência do Brasil (diligências de Lord Suart).

D. Pedro, que aí chegara com 9 anos de idade, já levava 14 anos de Brasil. Tinha então 23, a cerca de um mês de concluir os 24 anos.

“A sua educação decorreu à rédea solta, sem estudos sistemáticos”. “Educado sem «luzes excessivas», os anos depressa lhe atribuem funções cada vez mais elevadas”. E para melhor compreender a sua personalidade era preciso, ainda, não esquecer que sofria de frequentes ataques de epilepsia.

Atendendo à sua idade - vivência, amizades, influências – tudo terá sido mais marcante, aí, que na metrópole.

Se a sua infância decorrera “em ambiente carregado, entre o instável ambiente familiar e os acontecimentos sociais e políticos, desde os ecos da Revolução Francesa, às ameaças napoleónicas, culminando pela fuga da corte para o Brasil perante as invasões francesas (1807)” a sua adolescência e a sua juventude eram entremeadas com uma ambiência frenética pré-independentista (com agitação popular de inspiração liberal um pouco por todo o território, por exemplo, no Rio, Pará e na Baía,) que lhe moldavam o carácter e definiam os intentos, o que tudo fora facilitado com a “promoção” da antiga colónia a reino.

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E qual o cenário do país e do mundo, nesse ano de 1822?

Esse foi o ano em que

- em 23 de Setembro foi assinada a I Constituição Portuguesa [Constituição de 1822] (elaborada pelas Cortes Constituintes em 1821), marcando o domínio do Vintismo;

- em 01 de Outubro, D. João VI jurou a Constituição (D. Carlota Joaquina negou-se sistematicamente a jurá-la);

- em 12 de Outubro, D. Pedro foi aclamado imperador do Brasil (até 1831);

- em 18 de Outubro, decreto reduzindo as casas conventuais e proibindo a admissão de noviços;

- foi fundada a Sociedade Promotora da Indústria Nacional;

- não muito longe da antiga colónia do Brasil, deu-se a libertação do Equador;

- Beethoven compôs a Missa em Ré e Schubert a Sinfonia Incompleta.

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Entretanto, tornara-se incontornável, no Brasil, a perda de prestígio de D. Pedro I, arrastando-o para a dramática abdicação em seu filho, Pedro de Alcântara, então com seis anos, Pedro II (na QI 07.04.1831).

Até 1840, o país passou por uma das suas fases mais difíceis, com graves conflitos sociais. As disputas pelo poder entre as várias correntes políticas tornaram-se frequentes. Em 23 de Julho de 1840, D. Pedro II foi declarado maior, dando início a um reinado marcado pela pacificação e conciliação nacionais, e pelo desenvolvimento económico.

Entre 1841 e 1889, registam-se importantes mudanças a nível económico e social, e um grande fluxo de imigrantes. Várias atitudes do Governo e repetidas ingerências imperiais geraram conflitos que levaram à proclamação da República a 15 de Novembro de 1889, num golpe militar liderado por Manuel Deodoro da Fonseca. Dois anos depois (1891) é adoptada uma Constituição federal para os Estados Unidos do Brasil.

A partir da revolução liberal portuguesa de 1820, os acontecimentos com ela relacionados, quer no Brasil quer em Portugal, repetem-se em ritmo acelerado.

Com a morte de D. João VI (27º), D. Pedro foi proclamado rei de Portugal, conforme as determinações de seu pai. Confirma, então, sua irmã, D. Isabel Maria, na regência do reino, outorga, aos seus lusos súbditos, a Carta Constitucional e abdica em sua filha, D. Maria da Glória, com a condição de ela casar com seu tio D. Miguel, na altura ausente em Viena de Áustria, o qual deveria jurar a Carta.

Contudo, os acontecimentos precipitaram-se e, em 22.02.1828, D. Miguel regressa a Lisboa, a bordo do mesmo navio em que partira para o exílio em 1824 (fragata Pérola) e tem uma recepção apoteótica. Oliveira Martins, em Portugal Contemporâneo, diz que é o regresso do "Enviado", do "Messias", do "Salvador". Inicia-se, nesse ano, o breve reinado do antiliberal, do reaccionário, do absolutista D. Miguel.

Tendo resignado e abdicado das duas coroas, D. Pedro, aos 33 anos, ex-imperador do Brasil e ex-rei de Portugal, fica reduzido ao título de duque de Bragança e encaminha-se para Portugal, acompanhado de sua filha, a rainha D. Maria II, por cujo trono e por cuja causa se batiam os liberais portugueses. O duque de Bragança decide, então, empenhar-se, pessoalmente, na solução do pleito que opõe liberais a absolutistas, e em 03.03.1832 assume a regência, nomeando novo ministério de que faz parte Mouzinho da Silveira.

Decorria a guerra civil portuguesa, entre 1828 e 1834, em que se opunham miguelistas (absolutistas ou realistas do general Póvoas) e liberais ou constitucionalistas, afectos a D. Pedro. O conflito, que levou à guerra, iniciou-se após a morte do rei D. João VI (na SX 10.03.1826), que jurara a constituição de 1822, resultado da revolução liberal de 1820.

Por outro lado, era manifesto e incontornável – tamanha a dependência - o clima de antipatia à presença do aliado inglês (despotismo de Beresford), sendo a Revolução Liberal iniciada no Porto (Campo de Santo Ovídio) na QI 24.08.1820, “uma reacção dos brios nacionais feridos, mormente do exército português”.

A convenção de Évora Monte (26.05.1834) põe fim a esta cruel guerra civil, depois de deixar pelo caminho muito sangue e morte no cerco do Porto e nas batalhas da Asseiceira e Almoster, e exila o rei absoluto, D. Miguel. Pouco mais tempo viveria D. Pedro, que se finaria, no Palácio de Queluz, onde nascera, em 24.09.1834, aos 36 anos de idade, cinco dias após o início do reinado de D. Maria II (30º), que atingira a maioridade em 19.09 anterior.

Com a partida da rainha, do regente e da corte para o Brasil, a dependência do pequeno reino ibérico relativamente ao aliado inglês não parava de crescer cada vez mais. Os tratados de aliança e comércio com a Inglaterra reforçam-se em 19.02.1810, e, como sempre, muito mais em proveito do interesse britânico: "mais uma vez a dinastia vendia o reino, como Esaú a primogenitura; mais uma vez, depois de tantas, o Bragança, para conservar o trono, sacrificava o país. (...) A consequência destes tratados era de ver, e desde logo se viu. O comércio, a indústria portuguesa ficaram de todo arruinados. (Lê-se em Oliveira Martins, História de Portugal, edição ... excertos de pp 525 a 527)

E mais adiante prossegue o mesmo autor “(...) Arruinada no fim do XVI século, e perdida a independência, a nação arrasta uma vida pedinte e miserável no XVII século, à mercê da Europa e das suas intrigas de equilíbrio. No século XVIII o rendimento do Brasil vem dar riqueza a um país desolado e despovoado; e agora, de facto perdida outra vez a independência – se alguma houve realmente a não ser durante o reinado do marquês de Pombal - perdia-se com ela o tesouro português. No fim do XVI século, era o desabar do império ultramarino que fazia cair por terra a nação.” O Bragança “sabia fugir em vez de morrer; sabia apenas sacrificar tudo para se salvar a si, como fizera o avô, D. João IV. Por tudo isto (...) o último homem dos Braganças deixou apenas aquele enjoo que provoca o vómito..." (Id, id)

Em 1808, dá-se a abertura dos portos do Brasil ao comércio externo, medida que até então fora proibida, necessariamente na defesa de interesses do país colonizador. Uma das consequências dessa medida foi o disparo do desenvolvimento comercial, mercantil e cultural da colónia. Donde, por exemplo, a criação do Banco do Brasil, a saída da Gazeta do Rio de Janeiro e a fundação, em Inglaterra, do Correio Brasiliense, a que ficou ligado o nome de Hipólito Furtado de Mendonça.

O Rio de Janeiro era uma “cidade que se transformava e passava de posto avançado colonial a capital do império de um dia para o outro”. “Para os brasileiros, o impensável acontecera: figuras míticas materializavam-se, irrompiam, na colónia. Os ícones estampados nas suas moedas, as pessoas que apenas conheciam das estátuas e gravuras, estavam agora entre eles, em carne e osso” (Patrick Wilcken, id, 19).

Em finais do século, a 15.11.1889,

é proclamada a República, sendo destronado o rei Pedro II.

O ano de 1889 foi aquele em que:

- em 16 de Fevereiro, morreu o escultor António Soares dos Reis;

- em 19 de Março, nasceu, no Palácio de Belém, o príncipe D. Manuel, futuro D. Manuel II;

- em 28 de Abril, nasceu António de Oliveira Salazar, o ditador que subjugaria o país com o seu autoritarismo e cujos métodos e polícia política amordaçaram a liberdade e a criatividade dos seus cidadãos durante metade do século XX;

- em 19 de Setembro, morreu D. Luís;

- em 19 de Outubro, D. Carlos subiu ao trono;

- o governo britânico anexa um vasto domínio de influência portuguesa, a que dá o nome de Rodésia e Londres reage contra o "mapa cor-de-rosa". A que se sucedem atritos diplomáticos;

- os caminhos de ferro avançam e a linha férrea do Sul chega a Faro;

- é inaugurada a iluminação eléctrica da Av da Liberdade em Lisboa;

- são publicadas, em Coimbra, as revistas literárias - estética simbolista – Boémia Nova (Alberto de Oliveira e António Nobre) e Insubmissos (Eugénio de Castro);

- Maria Amália Vaz de Carvalho deu à estampa Alguns Homens do Meu Tempo;

- Fialho de Almeida começa a publicação de Os Gatos;

- de Oliveira Martins sai Portugal nos Mares (vol I).

- morreu o actor António Pedro;

- houve uma vaga de greves na Europa;

- é concluída a construção da Torre Eiffel em Paris (símbolo da Idade do ferro na construção civil), que se iniciara em Janeiro de 1887;

- Edison inventa um aparelho cinematográfico e Eastman cria uma película fotográfica;

- Gauguin pinta O Cristo Amarelo e Van Gogh o Retrato de Um Homem com a Orelha Cortada.

A infanta D. Isabel Maria era a filha mais velha do “indolente” D. João VI, logo, irmã de D. Pedro IV e de D. Miguel. D. João VI, falecido a 10.03.1826, deixou a administração do reino de Portugal entregue a uma Junta de Regência, presidida por sua filha D. Isabel Maria, “enquanto o legítimo herdeiro e sucessor desta coroa não der as suas providências a este respeito”. Assim, D. Isabel Maria ordenou que todos os assuntos do governo passassem pela assinatura de seu irmão, D. Pedro IV (então também imperador do Brasil, como D. Pedro I). Entretanto, D. Pedro é aclamado rei e, no SB 29.04.1826, outorga a Carta Constitucional de 1826 – “compromisso entre o velho sistema absolutista e a nascente onda liberal”.

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Foi há 105 anos (07.09.1901), num SB: assinatura da Paz de Pequim, pondo termo à revolta boxer na China. Decorria, nesse país o reinado de Guangxu, imperador da dinastia Qing. Nos EU era presidente (25º) William McKinley, que seria assassinado uma semana depois, e a quem sucederia Theodore Roosevelt. Na Grã-Bretanha reinava Eduardo VII, avô de Isabel II. Em França era presidente Émile Loubet. Em Portugal reinava D. Carlos (33º e penúltimo monarca de Portugal), enquanto o governo era dirigido pelo regenerador Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro (no seu segundo mandato, não consecutivo, nesta função).

As embaixadas ocidentais apresentam um utimatum, dando um prazo de 24 horas para o governo chinês dissolver a "Sociedade dos Boxers", designação depreciativa para a I Ho Chuan (ou I Ho Chi ?) que significa Sociedade dos Harmoniosos Punhos Justiceiros, considerada responsável pelo crescente clima de hostilidade contra os ocidentais e, em especial, contra os missionários cristãos e os chineses convertidos. Esta Sociedade, que já existia desde o século XVIII, corporizava o ódio aos “diabos estrangeiros”, responsabilizados pela destruição da cultura tradicional chinesa e pelo progressivo domínio económico da China pelas potências ocidentais. A Paz ou Protocolo de Pequim, assinada em 7 de Setembro de 1901, pôs fim à revolta boxer, obrigando a China a pagar avultadas indemnizações às grandes potências (cerca de 330 milhões de dólares em ouro), impondo a soberania estrangeira em zonas da capital, entregando numerosos portos à exploração ocidental, abrindo novos tratados comerciais de "porta aberta" com as potências signatárias e proibindo a importação de armamento. A cedência chinesa acentuou a humilhação sentida, abrindo, no entanto, caminho à aplicação de reformas na administração pública, no ensino e nas forças armadas, que haviam sido iniciadas em 1898 por K'ang Yu-wei. (Transcrito, com a devida vénia, do site da Fundação Mário Soares, Cronologia do séc. XX, Arquivo & Biblioteca)

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Passaram-se 66 anos (07.09.1940), foi num SB: decorria já a II Guerra Mundial e os alemães lançam, sobre Londres, um ataque aéreo (raid) que, pela sua intensidade, tomou o nome de Blitz. Reinava, em Inglaterra, Jorge VI, pai da actual monarca, sendo o Governo presidido por Winston Churchill (seu primeiro mandato nesta qualidade). Na Alemanha o presidente era Adolf Hitler (Führer). Em Portugal já estávamos na ditadura do Estado Novo, ocupando a cúpula do regime Salazar – como líder supremo – e o general Carmona – o primeiro na chefia do Governo, o segundo na chefia do Estado.

A origem do termo é alemã: Blitzkrieg, que significa “campanha militar caracterizada pela rapidez, como a utilizada pelos alemães no início da II Guerra Mundial, em 1939-41. Era caracterizada por rápidos movimentos das forças mecanizadas, apoiadas por forças aéreas tácticas que actuavam como «artilharia voadora», cujo melhor exemplo é dado pelas campanhas da Polónia em 1939 e da França em 1940”.

A abreviatura Blitz passou, então, a ser aplicada para designar o bombardeamento maciço de Londres pela força aérea alemã entre Setembro de 1940 e Maio de 1941.

O Blitz (anglicismo de Blitzkrieg) respeita àqueles raides aéreos alemães contra a Inglaterra, em 1940-41, que se seguiram ao fracasso dos alemães em estabelecer a superioridade aérea durante a batalha de Inglaterra.

Estima-se que durante o Blitz terão morrido 40 000 civis e ficado feridos 46 000. Mais de um milhão de casas terão sido destruídas ou danificadas e imensos prejuízos foram causados a instalações industriais.

Os raides sobre Londres iniciaram-se a 7-8 de Setembro de 1940 e continuaram até 12 de Novembro, à excepção de dez noites. Os bombardeamentos centraram-se depois em cidades industriais como Coventry (14 Novembro), Southampton, Birmingham, Bristol, Cardiff, Portsmouth e Liverpool, e ocasionalmente em Londres. Na Primavera de 1941, as defesas aéreas, devido aos avanços nos radares para combate nocturno e controlo de artilharia, começaram a provocar baixas nas forças atacantes. Os raides diminuíram no princípio do Verão, à medida que as forças da Luftwaffe eram retiradas do ocidente para preparar a invasão da URSS.

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Aconteceu há 38 anos (07.09.1968), foi num SB: Salazar é internado na sequência duma queda. Decorria o segundo mandato do que se previa (nas hostes do regime) ser um mandato vitalício, do submisso e macambúzio Américo Tomás, que se iniciara em 1965, mas desta vez já não por sufrágio directo (muito menos universal), mas sim por um colégio eleitoral restrito. Depois do susto que foi a campanha das presidenciais de 1958, o regime não estava disposto a correr cada vez mais prováveis e sérios riscos

No Verão desse ano, Salazar, de 79 anos, que gozava férias no forte de S. João do Estoril, deu uma queda de uma cadeira de que resultou a sua incapacidade física e intelectual. Essa queda e uma hemorragia cerebral afastaram-no definitivamente do poder. Morreria perto de dois anos depois, em 27 de Julho de 1970.

Esta cadeira está desengonçada mas arrisco-me. Gosto muito de estar sentado aqui ao sol, no terraço do Forte de Santo António do Estoril, a contemplar a foz do Tejo e o oceano. (Vidas Lusófonas, coordenação e textos de Fernando Correia)

Depois do 28 de Maio de 1926, e após uma meteórica passagem pela pasta das finanças, começou uma muito calculada ascensão política.

Foi o inspirador e líder do regime autoritário que ficou conhecido pelo nome de Estado Novo — ou salazarismo — dada a importância que nele assumiu como seu principal dirigente. (BU, da Texto Editores)

O "28 de Maio" de 1926 como antecâmara do Estado Novo? Fantasias do António Ferro, pois aquele foi tempo em que se fez política com pistolas em cima da mesa... Eu apenas fiquei à espera da minha oportunidade, soube jogar com o benefício do tempo. (Cit Vidas Lusófonas...)

Não foi um golpe, foi um passeio de Braga até Lisboa, uma grande parada militar chefiada pelo Gen. Gomes da Costa. (Id)

Entrada a década de 1930, o ditador já gozava de posição de real hegemonia no governo. E no regime. (BU)

Nos corredores da Ditadura militares conspiram com liberais (os "bonzos" recuperados) e conservadores para me derrubarem. Mas em 1930 já ninguém consegue remover-me, peguei de estaca. Não sou ainda o presidente do Conselho de Ministros, mas hei-de ser, não tarda muito. Com o auxílio do exército imponho novas contribuições. Veto despesas públicas e alcanço o equilíbrio do orçamento, liquido a dívida flutuante, estabilizo a moeda. Não me arredam, já não conseguem, ou eu ou a bancarrota. (Cit Vidas Lusófonas...)

O Sinel arrebenta com as Finanças públicas, défice de 700 mil contos, a Nação à beira da bancarrota. Ai os militares, os militares... Convidam-me e a 26 de Abril de 1928 sou empossado como Ministro das Finanças. Depois do "28 de Maio" é a segunda vez que isso acontece. (Id)

Comecei por aforrar prestígio. Agora vou aplicá-lo na formação de um partido, a União Nacional. Deus, Pátria e Família é investimento seguro. Não eu, mas outros por mim, devem começar a fazer o alarde, nacionalistas que beberam do Integralismo. Eu ficarei na sombra, serei sempre o desejado, o encoberto, o Anjo da Guarda em retiro. Não vou desgastar a minha imagem junto da populaça, nem isso me apetece, omnipresença será um dos meus atributos. Embora com objectivos convergentes, sou o avesso do Mussolini.

Uma intentona malograda dos "reviralhistas" e logo se precipita o previsível: ainda em 1930 tomo posse como Presidente do Conselho de Ministros. Trato de oficializar a União Nacional. Declaro:

- Temos uma doutrina e somos uma força!

Recomendo ao Cerejeira que encerre o Centro Católico Português. Saiba ele, e saibam todas as direitas, que a União Nacional passou a ser a Direita, a única. (Id)

Exijo disciplina, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. O lugar dos políticos é na Política, o dos militares é nos quartéis, o do clero é na Igreja.

Em 1932 recomponho o Governo. Dos quatro generais dispenso três, apenas reservo o Carmona para continuar como Presidente da República. (Id)

Chamado em Abril de 1928 para o governo de José Vicente de Freitas. As condições que impôs tornavam-no, na prática, coordenador de todos os ministérios através da pasta das Finanças. (BU)

O Cerejeira manda-me um bilhete: "António, foi Deus que te chamou para salvar a Nação". Respondo com outro: "Manuel, quem me chamou foi o José Vicente de Freitas, o presidente do Governo". (Cit Vidas Lusófonas...)

Os grandes homens, os predestinados, os grandes chefes, não se embaraçam com preconceitos, com fórmulas, com preocupações de moral política.

(Id)

Entre 1930 e 1934 Salazar, em sucessivas depurações políticas, congrega em torno de si monárquicos, católicos e os nacional-sindicalistas, de inspiração fascista. Começava a tomar forma o Estado Novo, com Salazar na presidência do conselho, em 1932. (BU)

Digo, ao tomar posse:

- Sei muito bem o que quero e para onde vou. (Cit Vidas Lusófonas...)

A nova Constituição, ratificada em 1933, prevê eleições? Pois prevê, assim travo os republicanos conservadores e vagamente democratas que herdámos do "28 de Maio". Mas quem controla as eleições sou eu, é a União Nacional, através das restrições relativas ao grau de instrução, ao sexo e à propriedade do eleitorado. (Cit Vidas Lusófonas...)

Infelizes ficam os conservadores. Se a letra da Constituição é o que é, só agora lhe entrevêem o espírito: antiliberal, antiparlamentar e antidemocrático. (Id)

Começava a edificação legislativa e institucional do regime corporativo. (BU)

Um grupo, de gente moça, a que depois se juntarão Teotónio Pereira e Marcelo Caetano, já fala em corporativismo de inspiração cristã. Todos lêem, comentam, interpretam e reinterpretam os textos do António Sardinha, do Sorel e do Maurras, também as encíclicas de Leão XIII. Todos se dizem mais ou menos integralistas. É urgente aglutinar toda aquela gente. Começo por participar na reorganização do CADC - Centro Académico da Democracia Cristã. Em 1912 sou eleito 1.º secretário da direcção. O vice-presidente é o Manuel Cerejeira. Quem sempre me apoia é o Santos Costa; um dia será general e meu sempre fiel Ministro da Guerra. Entretanto concluo o curso de Direito e sou logo chamado para leccionar. Em 1918 já sou lente de Ciência Económica. Em 1921 sou eleito deputado pelo círculo de Guimarães nas listas do CCP - Centro Católico Português. Assisto a umas poucas sessões e logo renuncio ao mandato, tamanha é a confusão na Câmara. (Cit Vidas Lusófonas...)

Tornando-se o chefe da União Nacional, partido único do regime, e rejeitando qualquer plataforma de entendimento com as oposições, instituiu um poder em que o chefe de governo era o supremo decisor. (BU)

No exílio, uma vez a rainha D. Amélia disse que, se pudesse, de mim faria o rei de Portugal. Enganou-se. Eu gostava era de ter sido primeiro ministro de um rei absoluto. Só consigo estar no Governo porque nunca saio da rotina. (Cit Vidas Lusófonas...)

A proibição e a repressão das oposições, sobretudo a comunista, sindicalista e anarquista, não impediram no entanto a existência de focos de contestação, tendo Salazar sofrido, em Julho de 1937, um atentado de origem anarquista, de que saiu ileso. (BU)

Reorganizo as forças militarizadas, a GNR - Guarda Nacional Republicana, a PSP - Polícia de Segurança Pública, e a Guarda Fiscal. E chamo ao meu gabinete, primeiro o Agostinho Lourenço, director da PVDE; mais tarde o Silva Pais, director da PIDE. Alerto:

- Mais vale um safanão a tempo do que deixar o Diabo à solta no meio do povo.

Contam-me como fazem. Localizam onde pousa um dos suspeitos. A meio da noite arrombam a porta, dão-lhe voz de prisão e uns sopapos, arrastam-no para a sede, interrogatório, safanão primeiro. Se o subversivo conta o que sabe, é porque já está a caminho da salvação. Se não fala, safanão segundo, espancamento. Se calado continua, safanão terceiro, é a penitência da estátua, dias e noites obrigado a ficar sempre de pé, até que as suas pernas se transformem em dois trambolhos. Variante do terceiro safanão é a penitência do sono, dias e noites sem dormir; quando cabeceia, logo acendem um holofote contra os seus olhos. Um dos possessos, ao fim de quinze dias e quinze noites sem dormir, começou a beijar a parede, alucinações, pensava que estava na cama com a mulher. Depois entrou em coma. Normalmente, depois do terceiro safanão, os inconfessos entram em coma. Ninguém os mata, eles é que se deixam morrer porque se negam à salvação.

Alguns sobrevivem ao terceiro safanão, mas nada mais podemos fazer por eles, almas penadas já são em vida. Com ou sem julgamento são despejados em masmorras. Em 1936 inauguro as colónias penais do Tarrafal e de Peniche. É no Tarrafal que vai morrer Bento Gonçalves, secretário do Partido Comunista. Outros seguem-lhe o exemplo; no Tarrafal e em Peniche, no Aljube e em Caxias.

Não, não é preciso usar da violência, somos um povo de brandos costumes. Aqui, para governar, um safanão a tempo é quanto basta. (Cit Vidas Lusófonas...)

Na ideologia, o regime foi nacionalista...

Nacionalistas, legionários e lusitos [entre os quais nunca faltava a presença estratégica de um negrinho], de braços estendidos em saudação romana, andam sempre a marchar pelas ruas, congregam multidões, fazem grande alarido:

- Quem vive?

- Portugal, Portugal, Portugal!

- Quem manda?

- Salazar, Salazar, Salazar! (Cit Vidas Lusófonas...)

... e a sua prática política foi autoritária e repressiva.

Os povos antigos, ou são tristes ou são cínicos; a nós, portugueses, coube ser tristes. É frase lapidar e assim descarto o cinismo que me assacam. (Cit Vidas Lusófonas...)

O colonialismo, o anticomunismo, a aliança com a igreja (traduzida em 1940 na assinatura da Concordata com a Santa Sé) eram outros traços do regime, que perdurariam, no essencial, até ao fim. (BU)

E os padres? Quando é que sobem ao púlpito a louvar o Estado Novo? Aguardemos o benefício do tempo... (Cit Vidas Lusófonas...)

O fim da guerra veio pôr Salazar em situação delicada: a vitória das democracias na Europa criou condições para uma maior pressão externa sobre o Estado Novo. (BU)

Se abandonados à liberdade, os homens logo se convertem em libertinos. Reforço a proibição das greves e em 1933 fundo a PVDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Agentes italianos e depois uns alemães, com as suas técnicas, virão ajudar-nos a torná-la mais eficaz. Rapidamente a PVDE estende uma rede de informadores de norte a sul da Nação, nas cidades, nas vilas e até em aldeias. É fácil, muita gente ambiciona ganhar mais uns tostões. (Cit Vidas Lusófonas...)

Em 1958, a candidatura do general Humberto Delgado, com a congregação de toda a oposição, pôs pela primeira vez seriamente em risco o regime, ao mesmo tempo que se agravavam os sinais de descontentamento no próprio interior do aparelho político. (BU)

Dez anos depois era a fatídica queda e a incapacitante hemorragia.

Antes desta agonia de dois anos, estava já, também, o regime agonizante.

Cairia de podre, seis anos depois.

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Passaram-se 20 anos (07.09.1986), e foi num DM: o bispo Desmond Tutu é nomeado arcebispo da cidade do Cabo, tornando-se o primeiro arcebispo negro anglicano na África do Sul. O Chefe de Estado da África do Sul – que aí se designava Presidente de Estado - era Pieter Willem Botha. Em Portugal, restabelecida a democracia, na década anterior, era agora PR Mário Alberto Nobre Lopes Soares, primeiro presidente civil democraticamente eleito em mais de meio século.

O activista sul-africano Desmond Mpilo Tutu, nasceu em 1931, em Klerksdorp, Transvaal. Licenciado em 1954, seis anos depois tornava-se padre da igreja anglicana e viria a ser o primeiro bispo (aliás, arcebispo) negro da Cidade do Cabo.

Distinguiu-se na luta contra o apartheid, marca da fase de colonização do território e dos seus primeiros tempos como país independente.

A política do apartheid, ficou seriamente ameaçada durante a década de 80 do século passado, com a estagnação económica e com as novas orientações em política internacional e as correspondentes pressões diplomáticas sobre o país. Foi então – em 1984 – que o bispo foi distinguido com Nobel da Paz. O que lhe proporcionou o insistente pedido de sanções contra a África do Sul.

O fruto das políticas anti- apartheid só se tornaria perceptível, a nível das estruturas do poder, com a vitória de Frederik de Klerk nas presidenciais de 1989. O primeiro resultado concreto do processo de abolição da segregação racial iniciado por de Klerk foi o anúncio, em fins de 1993, das primeiras eleições multiraciais.

O golpe fatal no apartheid deu-se com a eleição do novo presidente da África do Sul, Nelson Mandela, aos 27.04.1994 - com posse em 10.05 seguinte.

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Nelson Mandela

foi condenado a prisão perpétua em 1964.

E foi no consulado de de Klerk,

mais de 26 anos depois, em 1990, que foi libertado.

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Em 1995, Desmond Tutu foi designado para presidir a uma comissão que investigava os crimes praticados durante a época do apartheid (Comissão Verdade e Reconciliação da África do Sul).

Em 1996 Tutu decidiu dedicar-se exclusivamente àquela comissão, demitindo-se da função episcopal.

Erradicado da África do Sul o apartheid, Desmond Tutu passa a ocupar-se de idênticas questões segregacionistas que ainda preocupam o mundo, como o conflito israelo-árabe.

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