terça-feira, novembro 28, 2006

A REALIDADE SEM MAIS PERSPECTIVAS (II)


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O livro tem provocado um enorme gáudio pelas suas infanto-confissões e análises.

Algumas de manifesto excesso de imbecilidade, como a de que, em sua opinião, Durão Barroso "se tornou um dos portugueses mais influentes no mundo, depois de D. João II", perante a qual, Pulido Valente, cáustico e frontal como sempre, e já sem pingo de paciência, comenta: “Só uma criança escreveria isto” (Público, SB 18NOV06).

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(Como é diferente a História vista por “pigmeus”!...)

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E mais: sem se exaltar, pouco depois, PV traça o perfil trágico do meteórico PM:

“Claro que um primeiro-ministro com a idade mental de um pré-adolescente não ilustra especialmente o país, mas pelo menos mostra um lado inesperado do PSD e da política. Santana não se fez sozinho”.

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Mas, atenção que há sempre os mais pacientes, aqueles em quem a perspicácia vence o enfado, e que concluem, como Rui Ramos, na sua coluna, no Público de QA 22NOV006, esclarecedoramente intitulada “Os sonhos deles”: “O livro de Santana Lopes sobre a "crise de 2004" merece ser lido”.

E esclarece: «todos parecem muito satisfeitos com a teoria de que Santana foi um caso isolado de incompetência e irresponsabilidade, e como tal uma aberração singular e passageira da política portuguesa. Imagino que isto não desagrade totalmente ao próprio. Encaixa, de algum modo, na sua tese de que é um político diferente, destinado a estragar os arranjos dos outros. Ora, o livro lembra outra coisa: que o "populista", a quem os sábios de serviço fizeram o favor de promover a perigoso condutor de multidões "anti-sistémicas", era de facto um velho insider do regime, fechado no mundo dos acordos e intrigas da classe política estabelecida, de que dependia totalmente».

Ou seja: destrói a “cândida” e linear tese do petulante incompetente e irresponsável...

No “olimpo” da garotada (um sótão, algures, com um rico guarda-roupa e espelhos a condizer, e espaço, e muitos figurantes, onde se ensaiam muitas façanhas e travessuras) é delineada uma estratégia; talvez não, propriamente, selado um pacto de sangue, mas estabelecido um gentlemen agreement: «Santana não estava identificado com as políticas de Barroso. Pelo contrário. Mas estava identificado com a estratégia pessoal de Barroso. O pacto entre eles assentava nisto: Santana só podia querer o que Barroso não quisesse. Era a política reduzida ao pessoalismo mais básico.
Subitamente, Barroso deixou de querer ser primeiro-ministro. Santana passou então a poder querer ser primeiro-ministro. E por isso não quis eleições antecipadas.»

Nada mais simples.

«Para subir ao poder, Santana dependeu da chantagem patriótica de Barroso. Para continuar, apostou em duas coisas: no medo de Sampaio ao "precedente" constitucional e no fim da "crise".»

E a dado passo interroga-se Rui Ramos: mas “que género de político é, então, Santana Lopes?”

E vai buscar a resposta a um ensaio do próprio SL, publicado em 1989, em que ele «argumentou que o líder do PSD teria de ser um líder "carismático e populista", como Sá Carneiro. Conseguiu assim enganar os seus rivais, que se convenceram de que, se ele dizia isso, é porque talvez fosse "carismático e populista"...»

A poucas páginas do começo do livro, SL «mostra-se a si próprio e a Barroso, muito jovens e sonhadores, a partilharem antecipadamente entre os dois as regedorias do regime. Ungidos por uma aproximação precoce ao poder, propiciada pela revolução de 1974, pertencem a um pequeno grupo desde sempre convencido de que o poder em Portugal seria distribuído em função das relações de força entre eles. Tornaram-se exímios na criação de "percepções" e "factos políticos" (...) Quanto ao povo, esperaram que, à porta do palácio, lhes fosse admirando a esperteza e a sorte, enquanto roía os sobejos do Estado social.»

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E com uma aparente serenidade (mas sabe Deus com que revolta interior), termina Rui Ramos: «Eis os políticos que temos. Não formam, de facto, uma classe política democrática, mas uma "camarilha" digna de qualquer corte absolutista do século XVIII. Têm muitos sonhos. Mas nós - os eleitores - não fazemos parte desses sonhos.»

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Será preciso pôr mais na carta?

Terá acabado, mesmo, a hora do recreio?

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O livro, imagine-se bem, já vendeu mais de 10 000 exemplares. Já vai na 3ª edição...

Surpresa?

Não. Para mim, não.

As revistas cor de rosa, e a MRP e o Quim Barreiros, e... e... e... Também vendem muito bem... E depois?

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2 comentários:

Anónimo disse...

O Pedrocas também tem direito ao Natal...
Vai vendendo aqueles livros que nem vale a pena abrir.
Ainda não consegui entender é porque é que se perde tanto tempo com o rapazola.

Jorge P. Guedes disse...

Estará o meu amigo recordado que eu disse que o livro de SL iria fazer parte de muitos presentes natalícios?
"Compre já , antes que esgote!" Uma vozinha avisando assim, soou à orelha do português médio que acha bonito e "culto" oferecer um livreco de fofocas,convencido que vai ofertar cultura pelo Natal.
E na calha já Menezes se perfila. Aguardemos. Talvez para o próximo Natal...

Um abraço.

Jorge G - o sineiro da aldeia

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