sábado, janeiro 14, 2006

OS HERÓIS DE SEMPRE


A coluna RETRATO DA SEMANA de António Barreto, de 08JAN06, DM, no Público, desta vez com o título «O EXEMPLO VEM DE CIMA», deixou-me apreensivo e engasgado.

É de uma ironia triste.

Para usar, basicamente, as suas palavras, não é o António Mexia, presidente indigitado da EDP, o António Mexia, ex-ministro social-democrata da Economia do governo do surrealista, imaturo, irresponsável, incompetente (sobram imensos adjectivos) Santana Lopes, o António Mexia, ex-presidente da Galp, o António Mexia, ex-presidente da Transgás e o António Mexia, ex-funcionário do Espírito Santo que me surpreende.

Deviam surpreender-me o Manuel Pinho, deputado socialista, o Manuel Pinho, ministro socialista da Economia e o Manuel Pinho, ex-funcionário do Espírito Santo; assim como o Joaquim Pina Moura, presidente da Iberdrola, o Joaquim Pina Moura, deputado socialista, o Joaquim Pina Moura, ex-ministro socialista e o Joaquim Pina Moura, ex-funcionário do BCP…

Infelizmente já não me surpreendem…

Este PS faz-me lembrar um edifício em ruínas de que uma certa erosão ainda não deitou abaixo a fachada.

E António Barreto distribui felicitações. A vários (indivíduos) e a várias (instituições).

Sem esquecer, obviamente, Pina Moura, já que “este homem não brinca em serviço. Nunca. Mesmo quando muda de serviço”. Atribuindo eu a este “mesmo quando muda de serviço” um sentido muito mais amplo do que o que me parece que ele lhe concede.

E sem esquecer nas felicitações, claro, “finalmente o governo e os socialistas”, já que “foram eles que conceberam, desenharam, escolheram e nomearam”. E mais: “tentaram, modestamente, convencer a opinião de que o mercado produzira esta solução, mas toda a gente percebeu que tudo se deveu à sua decisão e aos seus interesses”.

Aqui só farei uma correcção, atendendo à minha perspectiva: eu diria antes “este governo e o gémeo que o antecedera, anos atrás, e os respectivos socialistas.”

É diferente. Não sei bem relativamente a quem, é certo. Mas é diferente. Pelo menos em relação a um ideal.

A acção do actual PR, durante os seus dois mandatos, não me pareceu merecer grandes críticas. Pareceu-me, antes, pautada pela craveira, inteligência e seriedade que lhe são reconhecidas. E que as situações exigiam. Salvo no imbróglio Santana Lopes: o homem da tanga, que sucedera ao do pântano, deixaram o pobre na incubadora, e Sampaio só com algum atraso viu o que devia fazer com tal “criança”.

Mas nesta matéria da energia e da EDP/Iberdrola, embora tenha de reconhecer, infelizmente, que, perante matéria tão grave e um horizonte tão carregado, ele deveria ter sido mais explícito, não vou, contudo, conceder, como sugere António Barreto, que Sampaio “juntou os seus esforços aos [“esforços”] do governo, dos [ditos] socialistas”… etc.

Quanto ao brilharete humorístico que António Barreto fez com as “chamadas a Belém”… Também aí, e de novo infelizmente, sou levado a concluir que, geralmente, e desde sempre é um facto: “quando alguém é chamado a Belém, não só não se sabe o que se passa, como é certo que nada se passará”. Mas julgo dever ser justo e reconhecer que com Sampaio essa não tem sido a regra, como antes era, mas a excepção.

Já estive bem distante de António Barreto.

Mas neste momento e neste particular (da EDP/Iberdrola e respectivos sanguessugas) estou (quase) ao seu lado. Melhor explicado: quanto aos tais sanguessugas, ao problema de fundo, estou com ele. Subscrevo as suas palavras.

Quanto à generalização de governo socialista, socialistas e PR, aí estou ainda a uma certa distância.

Se, como escreveu o ensaísta argentino Ernesto Sabato, “(uma) convicção tem de levar-nos até ao compromisso”, pois eu quero continuar com a minha convicção, fundamentada, e comprometer-me com ela.

Não me quero afundar na descrença e no desânimo.

É uma verdade que tudo isto é triste.

Mas tudo isto é fado?

Não me resigno.

Sem comentários:

free web counters
New Jersey Dialup