domingo, julho 02, 2006

O MUNDIAL


Como dizia, num post recente, não cortei relações com o futebol – desporto e espectáculo de que até gosto.

NÃo, claro que não é o futebol (*) que está em causa, mas o seu endeusamento por parte da grande massa dos seus admiradores neste nosso recanto do Ocidente europeu.

Vi o Portugal x Inglaterra. E, como todos, não me restaram dúvidas sobre quem foi a grande figura do embate: Ricardo.

Um sportinguista, como é óbvio. Como têm algo de muito importante a ver com os leões grande parte dos craques do futebol português (que o são alguns do mundo) dos tempos que correm: Figo, Cristiano Ronaldo, Futre, Simão Sabrosa, Boa Morte, Nuno Valente, Hugo Viana, Ricardo Quaresma são alguns dos nomes, entre tantos, “nados e criados” nos “alfobres” do Sporting e que passeiam a sua classe pelos relvados deste mundo e que fazem jus ao grande gabarito das escolas leoninas e à formação nelas prestada.

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Isto para só citar o futebol,

onde não cabem outros grandes nomes

doutras modalidades desportivas,

como Carlos Lopes, Fernando Mamede,

Francis Obikwelu, Rui Silva, Naide Gomes,

Joaquim Agostinho ou António Livramento,

entre muitos mais.

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O Portugal x Inglaterra foi um jogo sem golos nos 90 minutos regulamentares, assim como nos 30 suplementares que se lhe seguiram.

Mas não foi só nos 120 minutos de jogo que o guardião português daquela área, de mais de 17 m2 (17,8608), Ricardo, “autorizou” a entrada de qualquer bola.

Nos pontapés da marca dos 11m, que tiveram de decidir o resultado, o felino Ricardo, defendeu três desses remates, não permitindo que deles resultasse o rompimento dessa parede invisível de 7,32m por 2,44m.

Embora todos saibamos como é importante o factor sorte na defesa desses remates da marca das grandes penalidades, a verdade é que a classe, o instinto e o mérito de Ricardo estiveram lá. Penso que é irrecusável esta evidência.

Como resulta claro que o maestro da “equipa das quinas” é Luís Figo.

Tudo isto é um facto. Tudo isto não sofrerá grande discussão.

Que gosto de um bom desafio de futebol, não posso negar.

Não concordo, claro, com aquelas ou aqueles que alardeiam a sua ignorância ou má vontade, ou antipatia, ou relutância, ou despeito (atletas ou simpatizantes de outras modalidades) relativamente ao futebol.

Os bravos do pelotão” a que, há dias, se referia José Miguel Júdice (JMJ), na sua coluna semanal do Público, caracterizava mais, em meu entender, o futebol de antigamente: “heróis, conflito, ardor guerreiro, combate sem luvas, coração, raça, tensão, campo de minas, choque embrutecido” – como descrevia o colunista (referindo-se ao Portugal – Holanda). Era um futebol onde a técnica era escassa e predominava a tática, baseada na velocidade e na força. Um Eusébio, ou um Pelé, faziam a diferença – porque dotados, desde o berço, de uma habilidade diferente.

Hoje, além de a táctica ser mais inteligente (porque baseada numa preparação, não essencialmente física, como dantes, mas igualmente psicológica, além do recurso a outras disciplinas, “ontem” desconhecidas ou ignoradas) – o futebol é cada vez mais um jogo de xadrez, jogado num tabuleiro não quadrado mas rectangular, de cerca de 100 por cerca de 70 metros, em que os atletas são as pedras e os treinadores os jogadores.

É claro que, nos tempos que correm, a técnica dos jogadores é muito importante.

Qual de nós, com todo o tempo deste mundo e sem qualquer pressão, é capaz de pôr uma bola, com um chuto, onde quer?

Pois, mas um Figo ou um Cristiano Ronaldo, sob a pressão do tempo e duma massa de adversários, colocam-na, seja a 6 metros seja a 60, no pé esquerdo ou no direito, ou na cabeça, dum colega de equipa, consoante a preferência do destinatário e esteja ele isolado ou num “molho” de jogadores e rodeado de adversários!...

E qual de nós é capaz de chutar dando um efeito ao esférico, como se de uma bola de bilhar se tratasse e em que o taco é substituído pelo pé? Fazendo a bola – na marcação dum canto, por hipótese - descrever um arco, como se fosse com outro destino, e enfiá-la na baliza ou colocá-la na cabeça ou nos pés dum colega de equipa, na pequena área, rodeado de adversários?

Pois, mas um craque dos que falamos, não consegue sempre, mas fá-lo muitas vezes e sem ser por mera sorte.

Ora bom: o futebol é de facto um desporto muito interessante de se assistir. É uma autêntica festa.

Mas uma selecção, mesmo com a melhor das performances, não melhora o PIB de um país, não reduz uma milésima do seu défice, não faz crescer uma economia. Não pode, obviamente, transformar-se na razão única de existência de qualquer cidadão. Nem única nem predominante.

O futebol como é visto por grande parte dos portugueses e até pelos seus governantes e deputados, não o aceito.

Não compreendo o futebol quando ele se torna no “circo” dum país decadente, a sublinhar essa decadência.

Não o vejo como definitivo motivo e exclusivo “orgulho pátrio”, nem quero encará-lo como “lógica tribal”, para usar de novo expressões de JMJ.

Pois se mesmo relativamente ao meu sportinguismo nunca o vi como predominante ou única ou sequer importante razão da minha existência (até tenho sido sempre muito crítico relativamente às suas actuações) como posso ser diferente relativamente à selecção?

Não, é a minha resposta à nova idolatria.

Não ao patrioteirismo bolorento.

(*) Para me redimir da minha “falta” de “patrioteirice”, já que não pus bandeirinha em nenhuma janela de casa, nem na varanda, nem nos vasos, nem na chaminé, nem na antena ou na parabólica, nem no carro... Aí fica a minha bandeira.

(Até me senti muito mais inchado, orgulhoso e muito mais português...!)


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