Aqui há atrasado, andava meio desmoralizado, matutando no PIB, no défice, na Educação, na Saúde, na balança comercial, nos problemas da interioridade e em mais outras coisas de somenos... Ao fim e ao cabo, à cata dum partido e dum dirigente partidário que me inspirasse aquela necessária empatia e confiança e que fosse capaz de resolver todas estas minudências que teimam em preocupar-nos… Eis senão quando vejo um artigo do sr Manuel no Público, intitulado “a defesa da transparência”.
Pronto. Ora aí está – pensei de mim para comigo.
Eu não sabia quem era o sr Manuel, mas vi que se tratava dum presidente dum partido (como se assinava), pelo que presumi que devia tratar-se de alguém importante e responsável. Mas presidente de que partido? Voltei a espreitar, e li, presidente da Nova Democracia.
Alto: como a nossa está bem velha, era com o que eu sonhava, com uma nova democracia. Vem mesmo a calhar. Era ouro sobre o azul.
Cheio de esperança, precipitei-me para o jornal. Li as gordas, em destaque: “temos o direito de saber a verdade e temos o dever, inegociável, de a exigir. O Estado não é uma coutada de alguns e o governo não é uma sociedade por quotas possuídas, à vez, por certos dirigentes partidários.”
Esmoreci um bocado.
Lembrei-me de uma das máximas que o sr Felisberto costuma invocar: será que se trata de um daqueles casos em que “pede o guloso para o desejoso”?
Mas insisti.
“A defesa da transparência é um dever fundamental que deveria constar
Desanimei. Tive a impressão de já conhecer aquela “música”... Cheguei à conclusão de que se trataria de um daqueles “partidos” que pouco mais são do que pequenas capelitas ou clubes onde se congregam “meia dúzia” de pessoas.
Nah! O sr Manuel não me convence.
Lembrei-me, de novo, do sr Felisberto que diz: “de boas intenções está o inferno cheio. Já ninguém acredita no canto de sereias porque todos sabem que elas não existem”.
Mas, não. Imaginemos que o sr Manuel nos convencia. Imaginemos, por segundos, que ele reunia uma dúzia de pessoas que, desdobrando-se e multiplicando-se, durante umas semanas, convenciam os eleitores a votarem, maioritariamente, no clube do sr Manuel. Vamos supor que ele conseguia contratar os préstimos de dois ou três Santana Lopes, com a sua aparente calma e sensatez, e com aquela facúndia que lhe conhecemos, de vendedor de produtos dietéticos ou de lugares em nave espacial para viagens siderais a uma nova galáxia; ou os de três ou quatro Paulinho das Feiras, nas suas másculas e dinâmicas campanhas; ou os de meia dúzia de finórios majores Valentins e outros tantos machacazes Albertos Joões... Tudo isto com a mediática cobertura de três ou quatro ideólogo-jornalistas, quais Luís Delgados...
Se acaso não ganhasse... Ai fazia grande mossa, isso fazia.
Vamos, por instantes, supor que ganhava!
(Que grande partida lhe pregavam!!!)
O sr Manuel era convidado para formar governo... Mas como é que ele, depois, resolvia o problema, se o universo do seu clube só tinha duas dúzias de “sócios”?
Bom, tinha de aceitar os imediatos préstimos de muitos desinteressados e abnegados servidores da causa pública, mesmo que vindos de outras conhecidas coutadas. Ou a chusma de “independentes” que logo nasceriam das pedras da calçada.
Ficava era sem deputados.
Bom, mas não haveria crise... Num instante adeririam ao seu clube umas dezenas de fervorosos patriotas, prontos a salvar a pátria, sem nada pretenderem de volta...
E estava tudo resolvido.
Depois?
Depois só íamos encontrar e ver caras mais que conhecidas...
Era como se os mesmos baralhassem e dessem de novo.
Bom. Então, deixemos que o sr Manuel sonhe e escreva. Deixe-mo-lo em paz, conversando com os seus botões.
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