Fez ontem 455 anos
que morreu D. João III, "numa Sexta-feira, 11 de Junho" de 1557, 3
anos depois de ter morrido o seu último filho sobrevivente - dos 10 que teve
-, o infante D. João Manuel [1554] que foi o pai de D. Sebastião - que nem
chegou a conhecer. A D. João III sucedeu, pois, o neto, D. Sebastião, nessa
altura com cerca de três anos de idade (nasceu a 20.01 daquele ano de 1554).
Assim, o reinado do novel rei começou com a regência da rainha viúva D.
Catarina, sua avó.
Continuação…
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D. Manuel I morreu com 52 anos, na
SX 13.12.1521. E D. João III, com 19 anos, foi aclamado numa cerimónia pública
na igreja de S. Domingos, 6 dias depois, na QI 19.12.
D. João III
e D. Catarina tiveram 9 filhos: Afonso, que morreu ainda criança; Maria
Manuela, que foi a primeira mulher de Filipe II de Espanha (I de Portugal)
e que morreu de parto; Isabel, que também morreu criança; Beatriz,
que morreu ainda bebé de berço; Manuel, que apenas viveu cerca de três
anos; Filipe, que morreu com cerca de 6 anos; Dinis, que morreu
com cerca de dois anos; João Manuel, que nasceu em 1537 e morreu antes
de fazer os 17 anos (casou com 15 anos [1552], com Joana, filha de Carlos V e
de D. Isabel, filha de D. Manuel [logo, sobrinha de D. Catarina, e sua - do
príncipe - prima direita, de quem teve um filho - D. Sebastião - que viria a
nascer em 1554, já depois do pai ter morrido]; por fim, António
que também morreu ainda bebé. D. João III teve ainda um filho fora do casamento,
também Manuel, mas a quem foi mudado o nome, por causa das confusões com seu
outro filho, para Duarte. Este filho natural de D. João III morreu com cerca de
22 anos, quando era arcebispo de Braga e teve, também ele, um filho natural, igualmente
chamado Duarte.
Assim,
quando D. João III morreu (com 55 anos, completados cinco dias antes) já não
era vivo nenhum dos seus 10 filhos. Daí que lhe tenha sucedido o neto: D.
Sebastião (que tinha, então 3 anos - donde as regências, primeiro, da avó, D.
Catarina de Áustria, e depois do tio-avô, o cardeal D. Henrique ).
E D. Sebastião era, também, neto - pelo lado materno - de Carlos V (sua mãe era
Joana, filha de Carlos V e de D. Isabel, filha de D. Manuel), e sobrinho-neto
do mesmo imperador, pelo lado paterno (seu pai era João, filho de D. João III e
de uma irmã do imperador, logo sobrinho deste).
“Foi durante o seu reinado que
Portugal viveu o período de maior projecção internacional, encontrando-se em
pleno apogeu da expansão”. [BU]
Na verdade, quando do
passamento de D. Manuel e da aclamação de D. João III, “Portugal estava no
apogeu da expansão ultramarina por vários continentes, mas também com problemas
de uma grande complexidade.” [Info: João]
D. João III “manteve grandes
preocupações ao nível da cultura, promovendo bolsas de estudo no estrangeiro,
fundando o Colégio das Artes e transferindo a universidade para Coimbra.” Além
de que “financiou, ainda, inúmeros colégios sob a orientação dos jesuítas” [BU], sendo que a Companhia de Jesus foi fundada em 1534, tendo sido aprovada em
1540 pelo papa Paulo III, “e nesse ano
entraram em Portugal os primeiros jesuítas, que o fanático monarca acolheu com
o maior entusiasmo. E, na verdade “a Companhia de Jesus tomou toda a
preponderância que desejava.” [Dicionário]
D. João III assistiu, de facto, a
uma notável expansão do renascimento português, no seu reinado. Na literatura destacou-se
o poeta (épico) Luís Vaz de Camões, o maior vulto nacional nessa área e um dos
mais celebrados mundialmente, como também surgiu Garcia de Resende, Sá de
Miranda, Bernardim Ribeiro e João de Barros. Nas ciências náuticas sobressaiu o
nome de Pedro Nunes, na botânica Garcia da Orta, na arquitectura Francisco de
Holanda, Miguel de Arruda e João de Castilho. Mas outros nomes são igualmente
de sublinhar como André de Resende, Damião de Góis, João de Ruão e Fernão
Mendes Pinto. Em 1533 Erasmo de Roterdão (1466-1536), que havia dedicado uma
sua obra a D. João III, é por este convidado a leccionar em Portugal, na
Universidade que se preparava para transferir de Lisboa para Coimbra. O convite
só se não concretizou por Erasmo ter morrido no ano anterior àquela
transferência, que se realizou em 1537.
Mas O Piedoso, em 1526, havia
também atribuído 50 bolsas de estudo para estudantes portugueses poderem
frequentar a Universidade de Paris.
«Depois de 1542, Camões veiu frequentar a côrte de D. João III, na qual
o beatério extinguira o explendor dos serões do paço, em que a aristocracia
portugueza revelara uma extraordinaria cultura (…). O livro dos «Luziadas» tornou-se para os portuguezes o depósito dos
germens da sua liberdade, e para Portugal ficou o eterno pregão da historia, o
monumento imperecivel do seu passado. Tres gerações passaram, para que a
intelligencia portugueza comprehendesse a synthese profunda contida no nome e
na obra de Camões “tal é o sentido do jubileo nacional do Centenario de 1880”.»
Theophilo Braga [prefácio d'Os Lusíadas duma edição de 1881]. [Site
da Internet]
Os Lusíadas estão traduzidos em
quase todas a grandes línguas vivas do Mundo. Designadamente em alemão,
castelhano, catalão, inglês (que foi a
primeira tradução fora da Península Ibérica), em francês, russo, italiano,
chinês, konkani, dinamarquês e em
eslovaco. Além de estarem traduzidos em latim (versão de Frei Tomé de Faria,
datada de 1745) e em esperanto. Até em mirandês há uma versão da epopeia.
Camões, nos Lusíadas não refere
explicitamente D. João III, mas tem um soneto acerca (da sepultura) do rei:
Quem
jaz no grão sepulcro, que descreve
tão ilustres sinais no forte escudo?
- Ninguém; que nisso, enfim, se toma tudo
mas foi quem tudo pôde e tudo teve.
Foi Rei? - Fez tudo quanto a Rei se deve;
pôs na guerra e na paz devido estudo;
mas quão pesado foi ao Mouro rudo
tanto lhe seja agora a terra leve.
Alexandre será? - Ninguém se engane;
que sustentar, mais que adquirir se estima.
- Será Adriano, grão senhor do mundo?
Mais observante foi da Lei de cima.
- É Numa? - Numa, não; mas é Joane:
de Portugal terceiro, sem segundo.
Luis de Camões
tão ilustres sinais no forte escudo?
- Ninguém; que nisso, enfim, se toma tudo
mas foi quem tudo pôde e tudo teve.
Foi Rei? - Fez tudo quanto a Rei se deve;
pôs na guerra e na paz devido estudo;
mas quão pesado foi ao Mouro rudo
tanto lhe seja agora a terra leve.
Alexandre será? - Ninguém se engane;
que sustentar, mais que adquirir se estima.
- Será Adriano, grão senhor do mundo?
Mais observante foi da Lei de cima.
- É Numa? - Numa, não; mas é Joane:
de Portugal terceiro, sem segundo.
Luis de Camões
“Em versos de grande
nobreza, Camões homenageia seu rei, D. João III, morto em 1557. Junto ao seu
túmulo, uma voz misteriosa pergunta sobre quem estaria ali no sepulcro ornado
de ilustres sinais. Outra voz responde e, num suceder de interrogações e
respostas, vai-se compondo uma visão-de-mundo amarga: a de que a morte converte
tudo em nada. O poeta sabia que, apesar de sua grandeza, seu rei não
perduraria, na memória do mundo, como Adriano, o imperador romano, nem como
Alexandre Magno, o maior conquistador da Antiguidade.” [Versos]
Numa, creio tratar-se de Numa
Pompílio, segundo rei de Roma, sacerdote, espírito pacífico a quem coube a
organização religiosa do Estado [GEPB]
Já quanto ao aventureiro e
explorador português Fernão Mendes Pinto e à sua obra, Peregrinação, esta é o
diário ou crónica de viagens da literatura portuguesa mais famoso e mais
traduzido. Foi publicado em 1614, trinta anos após a morte do autor, pelos
prelos de Pedro Craesbeeck (a dinastia de tipógrafos flamengos que trabalhou em
Portugal a partir de 1597, quando o país se encontrava sob o domínio dos
Filipes)
Obra de conteúdo “picaresco” e “exótico”
na qual se combinam a história e a fantasia, sendo por vezes difícil saber onde
começa uma e a outra termina, “aliando aspectos
autobiográficos e uma ficção verosímil e convincente, Fernão Mendes Pinto
oferece-nos uma curiosa reportagem do impacto que tiveram os costumes orientais
sobre os europeus da época, assim como um interessante testemunho da acção dos
portugueses no Oriente.[Wiki: peregrinação].
Notável [na obra] é também a
previsão da derrocada do Império Português, corroído por muitos vícios e
abusos. [Wiki:
peregrinação]
Mas ouçamos o próprio F. Mendes
Pinto:
“Prouve a Nosso
Senhor que cheguei a salvamento à cidade de Lisboa, aos vinte e dois de
Setembro do ano de 1558, governando então este reino a rainha Dona Catarina,
nossa senhora que santa glória haja, a quem dei a carta que lhe trazia do
governador da Índia, e lhe relatei por palavras tudo o que me pareceu que fazia
a bem do meu negócio.
(…)
E nisto vieram a
parar meus serviços de vinte e um anos, nos quais fui treze vezes cativo e dezasseis
vendido, por causa dos desventurados sucessos que atrás no decurso desta minha
tão longa peregrinação, largamente deixo contados.” [História].
Duas notas acerca desta fala do
autor: a) D. João III morrera em 1557, donde a sua referência ao exercício do
poder por D. Catarina em 1558; b) as aventuras do autor terão começado em 1537,
pois que em 1558 “vieram a parar [os seus] serviços de vinte e um anos” da sua
“tão longa peregrinação”.
Assim, toda a acção da narrativa
decorre durante o reinado de D. João III, ao qual se refere implicitamente a
seguinte passagem do livro quando alude ao “rei de Portugal”: “… A mim me recebeu [o rei do Bungo] com a boca muito cheia de riso, e me
perguntou miudamente por muitas particularidades, a que eu respondi acrescentando
muitas coisas que me perguntava, por me parecer que era assim necessário à
reputação da nação portuguesa, e à conta em que até então naquela terra nos
tinham, porque todos [os reis do Oriente] então tinham para si que só o rei de Portugal era o que com verdade se
podia chamar monarca do mundo, tanto em terras, como em poder e tesouro, e por
esta causa se faz naquela terra tanto caso da nossa amizade.” [Peregrinação]
… continua amanhã, QA 13.06.2012…
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