A OCASIÃO

Alcides Sakala, líder do grupo parlamentar da UNITA, apresentou, recentemente, o seu livro "Memórias de Um Guerrilheiro". A jornalista Maria Antónia Palla, autora do prefácio e membro do Fórum Português para a Paz e Democracia em Angola, fez o elogio do autor e de Jonas Savimbi. "De tudo o que o acusaram", disse, referindo-se ao líder da UNITA, nunca constou a corrupção. "O que é inédito em África e insuportável para quem trata com a África", comentou.

O evento só poderia ter ocorrido num lugar, com um anfitrião, sob o mecenato e a presidência de uma única figura que só poderia ser Soares de apelido. Neste caso, Mário, o pai.

Corrupção: a festa e a mesa farta dos tiranos e ditadores e do seu reduzido círculo de “próximos” e protegidos. Ou a maior pecha e a pior endemia das democracias.

De todo o modo com raízes ou extensões no poder.

Não se pode, todavia, dizer, é que o mais impoluto dos governantes é, exactamente, o que nunca foi governante.

Como é evidente não ser, minimamente, verdade, que só a ocasião faça o ladrão.

Mas quando o sujeito é desse jaez, a circunstância e a existência do objecto apetecido dão uma extraordinária ajuda.

O “assassino” é absolutamente inatacável até ao momento em que empunha a arma e atira à vítima para a abater.

O corrupto tem de estar na esfera do poder e tem de o usar e, mais e sobretudo, abusar.

Reflecte Palla: “O que é inédito em...” – mera confirmação da trama, da laçada.

“E insuportável para...” – o nó.

Tudo dito assim com o ar mais natural, como quem afirma uma inevitabilidade.

Ou o traço indelével duma personalidade: o homem é, por natureza, corrupto...!

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Não queiramos forçar o rol dos labéus do soba dos ovibundus, diligente cooperador da polícia política da ditadura salazarista. Mas lá porque a criatura morreu, não queira alguém, também, lavar-lhe os pés para o pôr no altar. Não se lhe atribuam qualidades e méritos que não demonstrou ou não teve oportunidade de demonstrar...

Deixemo-lo.

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