O sr Vicente, nos seus esplendorosos 77 anos, rijo, de carnes secas, tem gozado do que, sem o fazer por menos, o vulgo chama uma saúde de ferro.
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Com um senão: de há tempos a esta parte começou a apoquentá-lo uma “maior dificuldade e demora no verter das águas”, como confessava a raros. E confessou também um dia, pouco àvontade, à médica de família, lá na terra, “uma garotelha atrevidota, mas que dava ares de saber da poda”... Queixou-se a medo, contrafeito, sabe-se lá o que a “garota” quereria ver ou fazer?
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Mas ela limitou-se a mandá-lo fazer uns exames e a prencher o P1 remetendo-o ao especialista, a quem devia entregar os exames.
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“Seja o que Deus quiser” – pensou de si para si o sr Vicente. Lá fez os ditos exames. E lá se apresentou, na cidade, ao dr desses assuntos.
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Conversaram. Ele – já que o outro era homem – contou-lhe com mais pormenores as suas queixas. O dr ouvia, escrevia, perguntava, escrevia e ouvia – quase nem o encarou. Acabada a “escritura”:
- “deite-se ali em cima da marquesa”!
O sr Vicente suspendeu a respiração, levantou o sobrolho, abriu muito os olhos, carregou o sobrolho, olhou
- “Deite-se de barriga para cima, baixe as calças e as cuecas, puxe os pés bem para trás, levante e afaste bem essas pernas”.
- ?????!!!!!... (O sr Vicente não estava a crer acreditar que aquilo lhe estivesse a acontecer de verdade... Mas sonho não era, não.)
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O médico calça uma luva na mão direita. Avança em direcção ao sr Vicente...
E...
- UUUUuuuuuiiiiiiii!!!!! Qu’é lá isso, dr? Olhe que está enganado! Ou o sr não sabia qu’aí só tem serventia de saída, não de entrada?
- Não se assuste. Nada de grave. Só queria ver a sua próstata...
- Ah! E o sr “vê” isso enfiando um fueiro, ou lá que raio foi, “pida riba”?
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A conversa serenou, mas o mal estar, esse, ficou.
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Chegado a casa, a Sra Alzira, preocupada:
- “atão, homem?”
- “prosta”, uma maleita de teimosia e enervamento
que se “vê” com descarada ousadia.
Não volto lá, sequer, mais um dia
não vou aceitar um tal atrevimento.
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A sra Alzira, indignado que sentiu o seu homem, mais preocupada ficou.
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1 comentário:
Tive uma tia em casa,que faleceu aos 96 anos,mas esteve acamada mais de 15.
Assisti à 1ªconsulta domiciliária que ela teve.
Nesses tempos a minha tia ainda via.
Quando chegou a médica,que acompanharia durante o resto da vida,ela perguntou:
Ó menina,a sua mãezinha ainda demora muito?
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