sábado, junho 10, 2006

AO CORRER DO TECLADO


1. Um banco português anunciou, recentemente, que ia abrir 15 novos balcões (agências) no país, frisando que o fazia sem admissão de novos empregados.

Claro que a acção pode ser considerada – e é, certamente, pelos entendidos - como um índice de boa gestão dessa empresa.

Porém…

Porém, houve, há tempo, aquela pergunta macaca, muito inconvemiente, do Dr Louçã, ao Engº Sócrates, Na AR: “Senhor primeiro-ministro, qual é a produtividade de um banco? O que é que ele produz?”

É claro que os entendidos (neste caso Louçã mais que Sócrates) podem dar uma resposta em abono da actidade bancária.

Mas Louçã estava a fazer outra leitura, e Sócrates entendeu o alcance da pergunta marota.

Todos sabemos que os bancos são empresas de florescente sucesso, de fabulosos lucros…

Como todos sabemos à custa de quem se constrói esse sucesso. Como todos sabemos com que apoios governamentais, também, o mesmo é conseguido, através de benefícios tantos… E tais…

Por outro lado, quanto mais despesa o banco paresentar, mais se torna credor (merecedor) desses benefícios.

Todos entendemos – e, muitos, NOS SURPREENDEMOS – com tudo isto. E assim ficamos a perceber, melhor ainda, o quanto essas entidades contribuem para produzir riqueza no nosso país e para, por exemplo, combater o desemprego!...

“O capital não tem pátria”, mas a nossa banca não sabe que mais fazer para o engrandecimento e a resolução da grave crise do seu país. Só isso a preocupa.

Filantropia.

2. Todos os partidos, através dos seus deputados, criam o dia de qualquer coisa. Desta vez são os do PSD a quererem escolher o seu: o dia do cão.

“Honi soi”…

3. Hoje, que tanto se fala em “Estados falhados” – agora, e virtualmente, acerca de Timor Leste – a corrente ideológica que o Dr José Miguel Júdice tão bem representa, vem fazer uma proposta.

Claro que essa corrente ideológica, bem lá no fundo, suspira é pelos impérios coloniais.

Mas o Dr Júdice, inteligente que é, e menos perro e mais actualizado, que se mostra, na articulação do pensamento com o verbo, não cai nessa. Não fala de colonialismo. Sugere o regime de protectorado. E, curiosamente, não se inibiu de referir que os protectorados “definiram épocas pretéritas”. (Sublinho: “definiram épocas pretéritas”)

Ora, protectorado – explica o dicionário – é o apoio dado por uma nação a outra menos poderosa.

Os protectorados foram, pois, territórios sob tutela, administrados pelos países mais poderosos, numa época – a partir dos anos 20, depois da I Grande Guerra – em que o colonialismo já estava prescrito da ordem internacional (salvo em Portugal, que estava, na verdade absolutamente descontextualizado do concerto mundial).

Pressurosos, os grandes deram logo voltas para regressar às velhas práticas, contornando, tão só, a questão vocabular. Ou, em bom rigor, pouco mais.

O sistema de protectorados vigorou por grande parte do séc XX, de cerca dos anos 20 aos 60, na generalidade dos casos, nalguns até aos anos 80 daquela centúria.

Inteligente e mais actualizado que a maioria dos seus companheiros ideológicos, repito, o Dr J M Júdice propõe o renascimento desse sistema de tutela. O que, do mal o menos, já serve aos mais saudosistas dos seus confrades políticos. Tudo, evidentemente – e apenas para isso – para ajudar os países mais pobres e ou atrasados a amadurecerem e adquirirem a sua independência.

Filantropia e solidariedade.

4. Os professores vão ser avaliados pelos pais dos alunos – é um cenário provável, dentro de algum tempo.

Ouvem-se vozes discordantes por todo o país, que não só entre os professores.

Não compreendo o alarido. Muito menos o problema ou o desacerto da medida.

Então não se vê logo que um engenheiro de máquinas é a pessoa indicada para avaliar um professor de português, ou um estucador avaliar o professor de filosofia do seu filho?

Qual a dificuldade em aceitar que um advogado, um sociólogo ou uma licenciada em Línguas e Literaturas Modernas vão discutir o mérito e a competência de um professor de matemática?

Não será mais que evidente que um matemático ou um trolha estão à altura de medir a competência e o valor do professor de português dos seus filhos?

O que pode levar a pôr em causa a avaliação do professor de francês por um engenheiro agrónomo ou por um polícia?

Que importam os pruridos que um professor de filosofia, chumbado pelos pais dos seus alunos na sua escola, possa ter, quando vai avaliar o seu colega da mesma cadeira, doutra escola, professor do seu filho?

Mas que dificuldade em aceitar que os pais dos alunos, pelo menos desordeiros e malcriados, quando não mesmo potenciais criminosos ou já “estagiários” na arte, vão ajuizar a competência e as qualidades dum professor desses seus exemplares filhos?

Não! Os cidadãos deste país e a totalidade dos professores estão equivocados quando, nesta matéria, criticam e se opõem a tal medida da Senhora ministra da tutela.

Então, como pais, não somos todos super-competentes e escrupulosos?

Então, os professores, na sua generalidade, e enquanto tais, não são todos uma cambada de inúteis e incompetentes?

Valha-nos Deus!

(E siga o Mundial!)

1 comentário:

Anónimo disse...

è giro que os professores não gostem de ser avaliados,seja por quem for.Eles têm razão:são professores!
É também giro que não aceitem o que há décadas vêm justamente reivindicando:permanência estável numa escola.
É tudo da má imagem da tal MILU...
Vendo bem as coisas,já no nosso tempo os professores tinham sempre razão.
A propósito:quem ganhou a guerra,Avelãns ou Sucena?

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