quarta-feira, dezembro 21, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA



Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
DECORRE O 11º ANO DO 3º MILÉNIO
ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 21 DE DEZEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS





"É antidemocrático um Parlamento ter poderes para fazer as leis."
Muamar Kadafi


Kadhafi, de Leibholz

Foi na QA 21.12.1988, há 23 anos: Na Escócia, um Jumbo da Pan-American explode no ar e despenha-se sobre a aldeia de Lockerbie, matando 270 pessoas: 259 que seguiam a bordo e 11 em terra; o atentado terrorista teve origem numa bomba escondida num rádio.

No Reino Unido reinava a actual rainha, Isabel II, e primeiro-ministro era Margaret Thatcher, do Partido Conservador.
Em França decorria a Quinta República com François Mitterrand na chefia do Estado.
Em Itália era Francesco Cossiga, do Partido da Democracia Cristã, o presidente em exercício, na qualidade de presidente do Senado, por demissão de Alessandro Pertini, do PS italiano, e o Primeiro-ministro era Ciriaco De Mita.
Nos EUA decorria o segundo mandato do 40º Presidente, Ronald Reagan.
Na Grécia decorria o mandato do 4º Presidente da Terceira República Helénica, Christos Sartzetakis, apoiado pelo PASOC, confirmada a abolição da monarquia e o estabelecimento da actual república parlamentar em 1974, e chefe do Governo era Andréas Papandréu, também do PASOK (partido socalista/social-democrata da Grécia).
Presidente da República Federal da Alemanha era Richard von Weizsäcker, e Chanceler era o democrata cristão (CDU), Helmut Kohl.
O trono espanhol era ocupado pelo rei Juan Carlos e (primeiro-ministro) Presidente do Governo era Felipe González.
Em Portugal tínhamos Mário Soares na presidência da República (17º) (4º depois da revolução de Abril), e era primeiro-ministro Cavaco Silva.
Na Bélgica reinava Balduíno I, da Casa de Saxe-Coburgo-Gota e primeiro-ministro era Wilfried Martens, no seu segundo mandato.
Mikhail Gorbachev era o Secretário-geral do PCUS, que viria a ser pouco depois presidente do país (15.03.1990), cargo a que renunciaria a 25.12.1991, um dia antes da formal dissolução da União Soviética. Gorbachev foi,assim, o último líder soviético.
Decorria o longo pontificado (o terceiro mais longo da história da Igreja) de João Paulo II (264º).

O ano de 1988 foi aquele em que, designadamente:
- Vítor Constâncio foi reeleito secretário-geral do PS – decorria o VII Congresso do partido (19FEV);
- Foi editado um conto inédito de Fernando Pessoa: A Hora do Diabo (14MAI);
- Começou a circular o semanário O Independente (20MAI);
- Vergílio Ferreira ganhou o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (26MAI);
- Os Lusíadas foram traduzidos e editados na Rússia (18JUN);
- Um violento incêndio deflagrou no Chiado, em Lisboa, destruindo grande parte da sua zona comercial, designadamente, os Grandes Armazéns do Chiado e os Armazéns do Grandela (25AGO);
- Rosa Mota recebeu a medalha de ouro na maratona feminina, nos Jogos Olímpicos de Seul (23SET);
- Siza Vieira, arquitecto portuense, foi distinguido com o Prémio Europa da Arquitectura (29NOV);
- Morreu o retratista Henrique Medina (30NOV).




Memorial às vítimas do atentado,
no cemitério de Lockerbie

O atentado de Lockerbie foi um ataque terrorista ao voo 103 da, então, Pan American World Airways, em 21 de Dezembro de 1988. O avião Boeing 747-121 partira do Aeroporto de Londres, Heathrow, com destino a Nova Iorque, e explodiu no ar sobre a localidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas (259 no avião e 11 em terra) de 21 nacionalidades diferentes. Deste total, 189 vítimas eram cidadãos dos Estados Unidos da América.
O voo 103 da Pan Am foi o terceiro voo transatlântico da Pan Am daquele dia. O Clipper Maid of the Seas vinha do Aeroporto de Frankfurt, fez escala no Aeroporto de Londres Heathrow e dirigia-se para o Aeroporto Internacional John F. Kennedy. 

Nada melhor que trazer o testemunho dos jornalistas, os cronistas da actualidade.
A memória do homem é curta, sem dúvida, mas a de certos políticos parece esfumar-se, quando muito, em escassos anos, quando não em breves semanas ou meses.
Em 17.05.2006, pouco mais de 17 anos depois do bárbaro atentado em que o maior número de vítimas era de nacionalidade norte-americana, um artigo de Jorge de Almeida Fernandes no Público constatava: “A democracia já não é a máxima prioridade de Bush”, transcrevendo o Washington Post, numa clara alusão à normalização das relações dos EUA com a Líbia de Muammar Kadhafi, como prenúncio dessa “pragmática viragem na política” dos States. Na verdade, salienta o Los Angeles Times, "a expiação de uma nação pelo seu passado terrorista mostra que a dura diplomacia dos EUA pode funcionar no mundo árabe". E de seguida vem a explicação: «"A normalização das relações EUA-Líbia é o casamento natural de uma Administração americana desesperada por amigos e petróleo no Médio Oriente e um Governo que precisa de abrir a sua economia ao mundo exterior", observam no Cairo árabes e líbios exilados a Daniel Williams, correspondente do Washington Post.» Ou seja, o interesse pelo petróleo líbio sobrepôs-se ao clamor das vítimas do atentado.
A Líbia indemnizou as vítimas da sua acção terrorista no caso Lockerbie, o que parece traduzir a suprema contradição de uma observância dos direitos humanos por parte de uma ditadura. Donde que as famílias das vítimas do atentado estejam divididas: «uns saúdam a conversão da Líbia. Outros denunciam: "Kadhafi ganhou."»
Tudo isto acontece, já neste milénio, porque “o susto do 11 de Setembro levou Kadhafi a uma viragem política, não à mudança do regime.” E a verdade é que Kadhafi conseguiu ficar bem na fotografia, nesta pirueta de obra-prima de sobrevivência, e ficar de fora do “Eixo do Mal”, com uma significativa ajuda da diplomacia britânica.
Ainda não há muito (em Dezembro de 2007) o sanguinário ditador Muammar Khadafi conseguia o feito de ser recebido, com pompa e circunstância, e de posar, em Lisboa, num retrato de família dos dirigentes políticos ocidentais, aquando da assinatura do Tratado de Lisboa [tratado que altera o Tratado da União Europeia (TUE, Maastricht; 1992) e o Tratado que estabelece a Comunidade Europeia (TCE, Roma; 1957)].

Quem entende bem estas variações bruscas na “cotação” dos regimes e dos seu líderes é o nosso velho amigo Alfredo. Senão, veja:

Luís Afonso/Bartoon/Opinião/Público SG 12.09.2011

Entretanto, Almeida Fernandes explica: «Há quem olhe o precedente líbio como uma mensagem aos iranianos, diz ao Washington Post Edward Walker, presidente do Middle East Institute. "Tão longe quanto posso ver, a mensagem é que [o modelo] funcionou porque houve conversações directas com os líbios."»
De facto, nesses idos de 2006 eram muitos os que propendiam a defender que, a exemplo do processo líbio, “a Administração Bush deve explorar a possibilidade de conversações directas com Teerão.”
«O caso do Irão é muito mais complicado e de outra dimensão estratégica que o da Líbia. Mas ontem o secretário de Estado assistente David Welch admitiu que a Líbia possa ser um "modelo" para tratar o Irão» - rematava Almeida Fernandes na mesma coluna.

 Público 17.05.2006/P2/Cartoon/Pancho

Mas voltemos ao atentado, em si.
A Líbia foi, desde logo, acusada da introdução de uma bomba no Jumbo da Pan American World Airways que fazia o voo 103, quando, a caminho dos EUA, sobrevoava a aldeia escocesa de Lockerbie, nesse dia 21.12.1988, fazendo-o explodir e despenhar-se vitimando mortalmente 270 pessoas.
Assim, Em Fevereiro de 1990 foi descoberto um fragmento do detonador nos escombros do avião que o inquérito atribuía a acção terrorista da Líbia. E em Novembro de 1991, foram acusados dois agentes dos serviços de informações líbios, com o posterior pedido de extradição. Logo em 1992, a ONU, mediante a Resolução 731, condenou a explosão do voo da Pan AM, pedindo à Líbia para colaborar nas investigações. Mas a Líbia recusou-se a extraditar os dois suspeitos e a ONU decretou um embargo aéreo e militar à Líbia. Depois, em Setembro de 1998, foi assinado, em Haia, um acordo entre Holanda e a Grã-Bretanha, onde ficou decidido que o processo deveria decorrer num tribunal escocês, mas em território neutro, na Holanda. Em Março de 1999 é anunciado, em Tripoli, que os dois suspeitos seriam entregues à ONU. O que realmente aconteceu, sendo, depois transferidos para a Holanda. E assim, as sanções impostas pela ONU, em 1992, para forçar Tripoli a entregar à justiça os dois suspeitos, foram, consequentemente, suspensas, assim como foram reatadas as relações diplomáticas com o Reino Unido. Em Junho, ainda de 1999, o tribunal escocês adiou o processo por seis meses, a pedido dos advogados. E em Outubro, os dois suspeitos líbios foram formalmente acusados de assassínio, conspiração e violação da legislação sobre a segurança aérea. Em Fevereiro de 2000, os dois suspeitos declararam-se inocentes e, em Maio, pouco mais de onze anos depois do atentado, teve início o processo. A defesa rejeitou a responsabilidade de grupos palestinianos.
Em Janeiro de 2001, a acusação apelou aos juízes para considerarem os suspeitos como culpados de homicídio - o que implicaria pena de prisão perpétua.
No mesmo mês, o tribunal escocês reunido em Camp Zeist, na Holanda, condenou o líbio Abdel al-Megrahi e absolveu Al Amin Fhimah, ambos suspeitos do atentado. Os EUA e o Reino Unido exigiram à Líbia que reconhecesse a sua responsabilidade no atentado de Lockerbie e indemnizasse as famílias das vítimas, mas a Líbia considerou que, como Estado, não tinha qualquer responsabilidade no atentado. Porém, em Agosto de 2003, a Líbia assinou um acordo com os advogados das famílias das vítimas do atentado, onde se obriga a pagar uma indemnização milionária pelas mortes ocorridas em 1988, tal como assumiu a responsabilidade pelo atentado numa carta ao Conselho de Segurança da ONU. Face a esta atitude da Líbia, aquele Conselho votou a favor do levantamento das sanções impostas ao país de Khaddhafi. Em Dezembro de 2003, a Líbia anunciou o abandono do seu programa de desenvolvimento de armas de destruição maciça. Um mês depois, concordou em compensar as famílias das vítimas de mais um atentado perpetrado por líbios - o abate de um avião comercial francês, da UTA, no deserto do Sara em 1989.

Entretanto, um recente telegrama da Associated Press informava que o governo escocês libertou Abdel al-Megrahi em 2009, dado ele encontrar-se entre a vida e a morte, vítima de cancro. Mas ao voltar para a Líbia, o terrorista foi recebido como herói e encontrou-se com Muammar Kadhafi.
Em 22 de Agosto último, senadores de Nova York subscreveram o pedido de muitas entidades de que Abdel Baset al-Megrahi voltasse à prisão, no Ocidente. Mas um irmão do terrorista líbio responsável pelo atentado de Lockerbie, disse na recente segunda-feira, 29.08.11, que ele está em coma e não pode mais comunicar com ninguém.




Nota final: Os encontros, os desencontros e os recontros (de que resultam aqueles) da História:
De inimigos figadais a Líbia de Kadhafi e os Estados Unidos de Bush (filho) passaram a ser amigos cordiais. E o mesmo Muammar Kadhafi, no Ocidente, passou igualmente de terrorista confesso a respeitável líder, ombreando com os mais, inclusive na cimeira de Lisboa, em 2007.
Mas o ignominioso ditador teve a sorte que alguns dos sanguinários ditadores tiveram: após uma guerra civil de oito meses entre as suas milícias e as de forças rebeldes (Conselho Nacional de Transição/CNT) que pretendiam pôr termo à sua longa ditadura, com o apoio aéreo da NATO, Kadhafi foi capturado, num esgoto, e foi bárbara e sumariamente executado pelas forças revoltosas, em Sirte, sua cidade natal, na QI 20.10.11.







(Fontes: para além das referidas no texto, ainda várias entradas da Wikipédia, da Infopédia e da Biblioteca Universal)






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