quinta-feira, setembro 08, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA



Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
ESTAMOS NA QUINTA-FEIRA DIA 08 DE SETEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

É ainda
DIA INTERNACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO (UNESCO)
DIA DA SOLIDARIEDADE DAS CIDADES PATRIMÓNIO MUNDIAL
DIA NACIONAL DE ANDORRA.





Morto depois Afonso, lhe sucede
Sancho II, manso e descuidado;
Que tanto em seus cuidados se desmede
Que de outrem quem mandava era mandado
Camões

Estão decorridos 802 anos, foi na TR 08.09.1209: nasceu, em Coimbra, D. Sancho II (4º), filho de D. Afonso II (3º).

bandeira da descendência da Casa de Borgonha da realeza portuguesa (1ª Dinastia)

Em Portugal, que então ainda não tinha atingido a dimensão que tem hoje, reinava seu avô, D. Sancho I (2º), o Povoador.
Em Inglaterra reinava João I, mais conhecido como João Sem Terra, da Casa Plantageneta.
Em França reinava Filipe II, da Dinastia Capetiana, cognominado A Dádiva de Deus.
Na Alemanha governava Oto IV, da Casa de Guelfos.
Em parte do que hoje é a Espanha governavam, então, os monarcas dos reinos cristãos formadores desse país, a saber: em Leão e na Galiza reinava Afonso IX, da Dinastia de Borgonha; em Castela reinava Afonso VIII, também da dinastia de Borgonha; em Navarra governava Sancho VII, o Forte, da Casa de Aragão e Dinastia Jiménez; em Aragão reinava Pedro II, o Católico, da Dinastia de Barcelona, aliás simultaneamente Pedro I de Barcelona.
Na suprema direcção da igreja de Roma pontificava Inocêncio III (176º). É no pontificado deste papa que explode um movimento de hostilidade contra a Santa Sé, associada ao conflito entre D. Sancho I de Portugal e Afonso IX de Leão, em consequência da imposição por parte do anterior pontífice (Celestino III) de que Afonso IX repudiasse sua mulher, Teresa, filha de D. Sancho (casados em 1191), fazendo-a regressar a Portugal (em 1195), em razão do grau de parentesco entre o casal, pois eram primos.
Inocêncio III, eleito sumo pontífice com apenas 37 anos, foi um papa notável, segundo rezam as crónicas.
Relativamente a Portugal: reclamou de D. Sancho I o pagamento do censo prometido por D. Afonso Henriques; interveio nos conflitos de D. Sancho I com os bispos do Porto e de Coimbra e nas questões entre o rei e as suas irmãs. Também teve intervenção na antiga questão sobre primazia em que se opunham Toledo e Braga. Problema que se arrastava desde muito antes e que Urbano II resolvera a favor de Toledo em 1088. Solução que agudizou o problema e que Eugénio III se prestara a resolver, sem que o tivesse conseguido. Inocêncio III, numa primeira tomada de posição, confirmou a decisão dos seus antecessores (em 1210). Mas três meses depois suspendeu essa resolução. Acabando por deixar esta questão em aberto para o seu sucessor, Honório III.
Quando D. Afonso II subiu ao trono, solicitou ao papa a confirmação do reino. O que Inocêncio III fez através da bula Manifestis probatum, de 16ABR1212, "em que recebia sob sua protecção o monarca, o reino e todas as terras que fossem libertadas, do jugo dos infiéis, terras sobre as quais nenhum direito podiam alegar príncipes cristãos circunvizinhos".


D. Afonso II era casado com D. Urraca (que viria a morrer a 03NOV1220) de quem teve, além dos seus sucessores, D. Sancho II e D. Afonso III, pelo menos mais um filho: D. Fernando (que ficou conhecido por infante de Serpa).
D. Sancho II teve o cognome de Capelo, por ter usado, em criança, quando doente, essa espécie de capuz de frade.
Foi o quarto rei de Portugal, filho de D. Afonso II, o Gordo, e de D. Urraca. Nasceu em Coimbra na referida data e subiu ao trono com 13 anos de idade, em 25.03.1223, data em que morreu seu pai. O governo do reino esteve primeiramente a cargo de ricos-homens que estabeleceram como primeiro e mais urgente ponto da agenda do pequeno rei a regularização das relações com a Igreja que, como vimos, se deterioraram no reinado de seu pai. Reinou até 1245, embora só em 1248, por sua morte, seu irmão – D. Afonso III (5º) – lhe tenha sucedido, oficialmente.
Era, pois, neto de D. Sancho I e bisneto de D. Afonso Henriques.
D. Afonso II, por sua vez, era filho de D. Sancho I e da rainha D. Dulce de Barcelona, infanta de Aragão. D. Sancho I morreu em 26.03.1211, data em que lhe sucedeu D. Afonso II.
Além da coroa, D. Sancho II herdou também as tensões do reinado precedente (os privilégios senhoriais de sua tias, D. Mafalda, D. Teresa e D. Sancha) e foi pela tentativa da sua resolução que iniciou a acção governativa. Entrou ainda em negociações com os grandes prelados do reino, com os quais o seu pai estivera também em discórdia permanente.
Na verdade, com a existência e independência de Portugal firmemente consolidadas, Afonso II, seu pai, procurou minar a estrutura do poder eclesial no país e aplicar parte das receitas das igrejas em fins de utilidade nacional. Esta atitude deu origem a um conflito diplomático entre a Santa Sé e Portugal, o que levou a que D. Afonso II tenha sido excomungado pelo Papa Honório III (177º).

Realizaram-se, no reinado de D. Sancho II, as primeiras Cortes de que há notícia: Coimbra. "Nessa assembleia foi decretada a primeira colecção de leis escritas de aplicação geral, e a leitura desses textos não deixa dúvidas sobre a orientação política do monarca. Eis o preâmbulo de uma das primeiras leis nacionais: «porque a nós pertence de fazermos mercê aos mesquinhos e de os defendermos contra os poderosos...» " (José Hermano Saraiva, Breve História de Portugal, ilustrada; Bertrand, Março de 1981, pág 34).

D. Sancho II casou por volta de 1240 com D. Mécia Lopez de Haro, fidalga da Biscaia. Não deixou sucessão.

A historiografia esforçou-se por nos apresentar um D. Sancho II bom comandante de tropas, mas inapto, não apenas para o exercício do governo, como também do ponto de vista físico, dizendo-se ser impotente.
Assim, apesar de bom comandante militar, o rei, no que concerne à administração, revelou-se fraco e indeciso, de tal modo que aquela se tornou negligente e descurada. O que tudo corresponde ao perfil que dele traçou Camões (cfr quadra acima, no início deste post).

O certo é que o seu reinado se caracterizou por uma desordem social crescente.
Os nobres abusavam pela sua prepotência de vencedores, os bispos aproveitavam os distúrbios causados por aqueles para se imiscuírem na vida pública e política. A luta entre homens da Igreja e ricos-homens tornou-se quase permanente. Também as ordens monásticas reclamaram dos abusos por parte dos nobres. O bispo do Porto, Martinho Rodrigues, queixou-se ao papa de que o rei usurpava o direito de jurisdição sobre a cidade, que dependia da Sé. O papa admoestou o rei, que pareceu submeter-se, assinando um tratado de 10 pontos com o Papa, mas não fez muita questão em passá-lo à prática, dando mais atenção ao alargamento das fronteiras do país. Também o bispo de Lisboa se rebelou contra o rei, acusando-o de ofender as liberdades religiosas. Mais uma vez o papa recorreu a admoestações. Contudo, quando em 1238 outras queixas, do novo bispo do Porto, se levantaram contra o rei, o bispo de Salamanca lançou um interdito (condenação visando a exclusão) que o papa confirmou. Todas estas queixas mostram a desordem que grassava no reino devido às constantes brigas entre nobres e clero, brigas que o rei se mostrava incapaz de sanar. Todas estas queixas por parte do clero foram ainda agravadas por intrigas alimentadas pelo príncipe D. Afonso, que desde 1238 vivia em Bolonha. No concílio de Lião, prelados e nobres portugueses descreviam a desordem do reino em termos tais que deles se pode inferir a deposição do rei. A resposta por parte do papa foi uma bula onde dizia dever incumbir-se da restauração do reino alguém activo e prudente, e que esse alguém só poderia ser D. Afonso (III). Numa assembleia de prelados e nobres portugueses, reunida em Paris, D. Afonso jurou que guardaria e faria guardar todos os privilégios, foros e costumes dos municípios, cavaleiros, peões, religiosos e clérigos seculares do reino. Em finais de 1245 ou nos princípios do ano seguinte, o conde de Bolonha desembarcou em Lisboa. Da luta entre partidários do rei e de D. Afonso saiu vitoriosa a facção de D. Afonso. D. Sancho II retirou-se para Toledo, onde viria a falecer pouco tempo depois. [In Infopédia [online]. Porto: Porto Editora, 2003-2011].

No plano externo, a conjuntura revelou-se mais favorável. D. Sancho II iniciou uma nova fase de expansão territorial, que durou todo o seu reinado e terminou apenas com D. Afonso III, para o que terá contribuído a relativa estabilidade que se vivia no vizinho reino de Leão. A partir de 1226, as campanhas de reconquista, em que se destacou a Ordem de Santiago, estenderam-se à região alentejana e ao litoral algarvio (“praças como Elvas, Juromenha, Serpa, a importante cidade de Mértola, Aiamonte e, possivelmente, Tavira e Cacela, foram nesta altura saqueadas ou definitivamente conquistadas”). A 2 de Maio de 1229 D. Sancho II concede a Salvaterra o seu primeiro Foral, assim como privilégios e isenções em recompensa  dos serviços prestados ao Reino de Portugal, criando-se assim o seu Concelho e Comarca.
Repetindo, a instabilidade interna e a inabilidade política do rei e daqueles que o rodeavam conduziram, no entanto, à sua deposição.
No mencionado concílio de Lyon, o Papa Inocêncio IV (180º), através da bula Inter alia desiderabilia, de 24.07.1245, excomungou e depôs Sancho II, considerando-o um «rex innutilis», tendo ordenado aos portugueses que escolhessem um novo rei para substituir o herege, não sem aconselhar que o substituto fosse seu irmão, D. Afonso (III), como acima se refere. Mas também este se viu envolvido em conflitos com a Igreja, tendo sido excomungado em 1268 pelo arcebispo de Braga e pelos bispos de Coimbra e Porto, para além do próprio Papa Clemente IV, à semelhança dos reis que o precederam.

De novo se constata como o Papa, nestes idos, detinha o poder de escolher e destituir reis, colocar e retirar coroas conforme os seus interesses. Detinha e exercia um poder que ultrapassava o das soberanias dos países.

A oposição a D. Sancho, uma vez que não teve descendência directa, passou a estar personificada na figura do seu irmão, o infante D. Afonso, então conde de Bolonha (futuro D.Afonso III, o Bolonhês), desembocando em guerra civil declarada, como do exposto antes se infere.
Como acima ficou dito, o rei, entretanto deposto, acabava derrotado, e retirou-se para Toledo, onde veio a falecer no SB 04.01.1248.
Como secundogénito, Afonso não deveria herdar o trono destinado a Sancho e por isso viveu em França, onde se casou com Matilde II de Bolonha em 1235, tornando-se assim conde jure uxoris de Bolonha, onde desempenhava o papel de um dirigente militar, combatendo em nome do Rei Luís IX, rei de França seu primo. Todavia, em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja tornaram-se insustentáveis e o Papa Inocêncio IV ordenou a substituição do rei pelo conde de Bolonha, como sabemos. Afonso não ignorou a ordem papal e dirigiu-se a Portugal, onde se fez coroar rei em 1248, mas tão só após o exílio e morte de Sancho II em Toledo, sendo que até então apenas usou os títulos de Visitador, Curador e Defensor do Reino.

(Uma curiosidade: D. Afonso III teve – que se saiba – 20 filhos: 2 do seu primeiro casamento com D. Matilde de Bolonha; 8 do seu segundo casamento com D. Beatriz (Brites) de Castela, filha de Afonso X, O Sábio (entre os quais D. Dinis, que lhe sucedeu). E teve mais 10 filhos naturais de várias outras ligações extra-conjugais).

(Fonte: basicamente as enciclopédias)







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