segunda-feira, julho 25, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:







Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.




ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 25 DE JULHO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:


DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:


De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado


2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

Hoje é ainda o
DIA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS


Aconteceu há 872 anos, na Terça-feira 25.07.1139: o, então, infante D. Afonso Henriques vence os mouros na batalha de Ourique.

A data passou a ser assinalada como Dia do Exército Português.

Vejamos a distribuição do poder nos vários reinos da Europa, nessa era.
Em Portugal vamos recuar um pouco no tempo, para melhor entender a matéria:

1095: Bandeira de D. Henrique,
mais tarde a primeira bandeira do Reino de Portugal


D. Henrique de Borgonha (1066- 1112) foi conde de Portucale desde 1093 até à sua morte. Na sequência dos serviços prestados ao rei Afonso VI de Leão e Castela na conquista do Reino da Galiza, recebeu como recompensa a mão de sua filha (ilegítima), Teresa de Leão, em casamento. E depois, em 1096, o conde D. Henrique recebeu também de Afonso VI o Condado Portucalense, que passava a prestar-lhe vassalagem directa, pretendendo, assim, limitar o poder do conde Raimundo de Borgonha, casado com Urraca de Leão e Castela. O conde D. Henrique teve 6 filhos com Teresa, mas só o mais novo sobreviveu à infância: D. Afonso Henriques (6º filho na ordem geral, mas 2º do nome, nascido depois do passamento do mais velho), que sucedeu ao pai e se tornou no segundo conde de Portucale em 1112. No entanto, o jovem D. Afonso Henriques (1109-1185), que casou com D. Mafalda, condessa de Sabóia, pretendia ser mais do que conde, daí que em 1128 (com 19 anos) se tivesse rebelado contra a sua mãe, que pretendia manter-se no governo do condado. Esse acto de rebeldia traduziu-se na Batalha de São Mamede (travada a 24 de Junho daquele ano de 1128), entre D. Afonso Henriques e as tropas de sua mãe, D. Teresa, e do conde galego Fernão Peres de Trava, que se tentava apoderar do governo do Condado Portucalense. As duas facções confrontaram-se no campo de São Mamede, perto de Guimarães. Com a derrota, D. Teresa e Fernão Peres abandonaram o governo condal, que ficaria agora nas mãos do infante e seus partidários.


Nesses idos de 1139 (tinha D. Afonso Henriques 30 anos), nos vizinhos estados ibéricos reinavam monarcas dos reinos cristãos formadores da Espanha, a saber: no reino de Leão e Castela governava o Imperador Afonso VII, da dinastia de Borgonha, filho de Raimundo, primo de D. Henrique, e de Urraca I, filha de Afonso VI e rainha de Leão e Castela, meia irmã de D. Teresa (irmãs consanguíneas, filhas do mesmo pai, mas de mães diferentes); em Navarra reinava Garcia IV, o Restaurador, da Casa de Aragão e dinastia Jiménez; e o trono de Aragão era ocupado pela imperatriz Petronila, igualmente da dinastia Jiménez.

Como se deixa ver, Afonso VII e D. Afonso Henriques eram ambos netos de Afonso VI, logo, primos entre si, tal como os respectivos pais (Henrique e Raimundo, ambos de Borgonha) o eram um do outro.
Os monarcas britânicos desdobram-se, ao longo dos séculos, em três grupos: reis de Inglaterra, de 829 a 1707; reis da Grã-Bretanha, de 1707 a 1801; Reis do Reino Unido, de 1801 até ao presente. Então reinava na Inglaterra Estêvão I, da Dinastia Normanda.
Também quanto à França e à Alemanha vamos recuar um pouco no tempo, para melhor compreendermos a situação.
Em 843, os três netos de Carlos Magno repartiram o império, que ele havia fundado, pelo tratado de Verdun: Carlos o Calvo recebeu a Frância ocidental (que se tornará a França), Luís o Germânico a Frância oriental (que se tornará a Germânia - que compreendia o território da actual Alemanha, Áustria, Suíça, República Checa, Eslovénia, Países Baixos, bem como partes das actuais França e Polónia -, núcleo do futuro Sacro Império Romano-Germânico), e Lotário, que se reserva o título imperial, o centro da Itália até a Frísia (que se tornará a Lotaríngia).
Na época em que nos situamos, no reino da França governava Luís VII, O Jovem, da dinastia Capetiana, e no da Germânia reinava Conrado III da Casa de Hohenstaufen.
Na cadeira de Pedro sentava-se Inocêncio II (164º).


Várias localidades, conforme as épocas, os estudiosos e as lendas, têm sido aventadas como teatro do recontro que se deu nessa incursão de D. Afonso Henriques, que partira de Coimbra, pelos domínios sarracenos e que os fastos referem com aquela designação de Batalha de Ourique: desde uma povoação com esse nome perto do Cartaxo, até outra mais ou menos homónima nos arrabaldes de Leiria, ou ainda o bairro lisboeta de Campo de Ourique, além da vila alentejana de Ourique…

Vista panorâmica de Castro Verde
a partir da visão geral do local Histórico da Batalha de Ourique — 25 de Julho de 1139

Parece que o lugar eleito por maior e mais conceituado número de entendidos para referir o local do recontro é o de Ourique, no Alentejo. Hoje, não exactamente no termo da secular vila de Ourique nem no do respectivo concelho, fronteiriço do Algarve… Nesses idos Ourique não passaria de lugarejo (teve foral de município em 1290) em cuja área se situaria o território que hoje pertence à mais recente vila de Castro Verde (que lhe fica a Oriente) e em cujo termo, mais precisamente em S. Pedro das Cabeças, aí sim, se terá dado o recontro das tropas de D. Afonso Henriques com as de cinco reis mouros, de que este saiu vencedor, conforme reza a lenda.

Acontece este facto em 1139, a um ano da independência efectiva de Portugal (1140), a quatro da Independência de jure (1143: Tratado de Zamora).



Em 4 e 5 de Outubro desse ano de 1143, encontram-se em Zamora, no reino de Leão, na presença do cardeal Guido de Vico, Afonso VII e D. Afonso Henriques: neste encontro assinaram um tratado de paz e deu-se o reconhecimento, pelo monarca castelhano-leonês, do título de rei ao príncipe português (reconhecimento da independência) (Tratado de Zamora). Nesse ano Guido de Vico estava em Portugal como legado do papa Inocêncio II (que morreu uns 10 dias antes, a 24SET), para tratar de diversos diferendos eclesiásticos.
E foi ainda, então, que recebeu, na qualidade de que vinha investido, o juramento de vassalagem à Santa Sé, prestado por D. Afonso Henriques. (História Eclesiástica de Portugal, Pe Miguel de Oliveira, pág 115)

Portanto, a batalha de Ourique dá-se nos anos 30 do séc. XII, mais exactamente (considerando-a um facto, não lenda) em 1139, quando D. Afonso Henriques ainda não era rei de Portugal, mas mero infante, filho do Conde D. Henrique e de D. Teresa, a quem Afonso VI, rei de Leão e Castela e pai de D. Teresa, entregara o governo do CONDADO Portucalense…

Esses anos 30 do séc. XII foram anos de pouca acalmia para a Igreja, cuja importância, na era medieva, era assinalável. Gregório Papareschi era romano e tomou o nome de Inocêncio II quando eleito papa. Teve a oposição de um grupo de cardeais que nomearam outro papa (antipapa Anacleto II).Teve de fugir, depois de eleito. No entanto, com o apoio de Luís VI e dos bispos franceses, o rei Lotário, da Saxónia, reconduziu-o a Roma. De onde, porém, teve de estar ausente por largo período, até à morte de Anacleto (1138), que se manteve no Castelo de Sto Ângelo (situado na margem direita do rio Tibre, diante da ponte Sant'Angelo, a pouca distância do Vaticano; durante a época medieval esta foi a mais importante das fortalezas pertencentes aos Papas).
O Segundo Concílio de Latrão é tido pela Igreja Católica como o décimo concílio ecuménico (um concílio ecuménico é uma reunião de todos os bispos cristãos convocada para discutir e resolver as questões doutrinais ou disciplinares da Igreja Cristã). Foi realizado pelo Papa Inocêncio II em Abril de 1139, no ano em que se daria a batalha, e teve o comparecimento de quase mil clérigos. Sua tarefa mais premente era neutralizar os efeitos do cisma que tinha surgido após a morte do Papa Honório II em Fevereiro de 1130 e a ascensão de Petris Leonis como o Antipapa Anacleto II. Em 1135, Inocêncio segundo realizou um concílio em Pisa que confirmou sua autoridade e condenou Anacleto. A morte deste em 1138 ajudou muito à solução da tensão entre as facções rivais.
As mais importantes conclusões (cânones) deste concílio incluem: Cânone 4: ordem formal (imposição) contra os bispos e outros clérigos para que não provoquem escândalo ao vestir roupas muito ostensivas e recomendando que se vistam modestamente. Cânones 6, 7 e 11: repetiram a condenação do Primeiro Concílio de Latrão sobre o casamento e o concubinato entre padres, diáconos, subdiáconos, frades, monges e freiras. Cânone 10: excomungou os leigos que falhassem em pagar os dízimos devidos aos bispos. Cânone 27: proibição de as freiras cantarem no mesmo coro que os frades ou monges.

Já o reconhecimento oficial da Igreja da dignidade de rei de D. Afonso Henriques, e da independência do Condado Portucalense (reino de Portugal) relativamente ao reino de Leão, dá-se em 1179: pela bula “Manifestis Probatum”, de 23.05.1179, Alexandre III, "tratando D. Afonso Henriques pelo título de rei, confirmou-lhe e aos seus sucessores a protecção da Santa Sé para defesa da integridade do reino e de todos os territórios que conquistasse aos muçulmanos" (Padre Miguel de Oliveira, História Eclesiástica de Portugal, 116)

selo real de D. Afonso Henriques

A Bula reza assim (em português actual):

Alexandre, Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao Caríssimo filho em Cristo, Afonso, Ilustre Rei dos Portugueses, e a seus herdeiros, in perpetuum.
Está claramente demonstrado que, como bom filho e príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno de memória e exemplo merecedor de imitação.
Deve a Sé Apostólica amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governo e salvação do povo.
Por isso, Nós atendemos às qualidades de prudência, justiça e idoneidade de governo que ilustram a tua pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos.
E para que mais te fervores em devoção e serviço ao príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus, prometemos defender-lha, quanto caiba em nosso apostólico magistério. (…)






Em 1989, o então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Firmino Miguel (um dos militares de Abril) promoveu a comemoração dos 850 anos da Batalha de Ourique, exactamente em Castro Verde, mais precisamente em S. Pedro das Cabeças, onde existe uma ermida mandada construir por D. Sebastião no lugar em que se supõe ter-se dado a célebre batalha. O local, repito, não é longe da lendária vila de Ourique e como logo se deixa ver S. Pedro DAS CABEÇAS … como referência às cabeças degoladas às tropas do cinco reis mouros com que D. Afonso Henriques se defrontara vitoriosamente, pouco antes de se tornar o primeiro rei de Portugal.
Esta (nome actual do lugar), pois, outra lenda, como é de calcular, que me foi contada por um coronel tirocinado do exército, meu amigo, que assistiu àquela comemoração.


«Associada à batalha surgiu no século XV uma outra lenda, a do milagre de Ourique. Dizia esta lenda que, antes da batalha, teria surgido Cristo a D. Afonso Henriques, assegurando-lhe a vitória e a protecção futura do reino. Desta forma a independência de Portugal assentava na vontade expressa de Deus. Esta lenda surgiu em 1485 (três séculos após a batalha), quando Vasco Fernandes de Lucena, embaixador de D. João II enviado ao papa Inocêncio VIII, incluiu no relato da batalha de Ourique o aparecimento de Cristo. No século XVII, o frade [e historiógrafo] alcobacense Bernardo de Brito aperfeiçoou a mesma lenda pormenorizando-a e conferindo-lhe uma nova importância. De notar que a lenda surgiu e foi reforçada em duas situações em que Portugal necessitava de consolidar a sua independência e autonomia. A partir do século XIX a lenda foi posta em causa, primeiro por Herculano e posteriormente pela moderna historiografia.»
[Batalha de Ourique. In Infopédia [online]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-07-06]. Disponível na www: ]

«Lenda da Batalha de Ourique: conta a lenda que a Batalha de Ourique foi o momento decisivo da independência do pequeno condado portucalense e que, no fim da peleja, D. Afonso Henriques foi aclamado pelos combatentes como Rei.
Era noite. Véspera de batalha. Os guerreiros tentavam descansar. Nas coloridas tendas mouras o movimento fora intensíssimo durante todo o dia. De cinco reinos haviam chegado homens aguerridos, decididos a não deixar progredir o pequeno exército dos cristãos. Tinham vindo muitos de Sevilha e de Badajoz para se juntarem à hoste composta por gente de Elvas, Évora e Beja. Diz-se mesmo que tinha vindo gente de além-mar. Durante o dia, não tinha havido descanso para ninguém. As setas tinham sido cuidadosamente afiadas e guardadas nas aljavas. Os velozes alfarazes (do dicionário: cavalos árabes velozes preparados para a guerra) da cavalaria moura tinham tido ração suplementar e relinchavam respondendo aos puros-sangues árabes dos grandes senhores que, impacientes, esperavam pela acção, pelo combate. Enfim, era noite e a algazarra que pairava todo o dia sobre o arraial esmorecera um pouco e só se ouvira como que um zunir de moscas. No acampamento cristão pairava o silêncio. Também os ginetes da guerra estavam prontos e impacientes, as espadas tinham sido afiadas, os peões haviam experimentado as bestas para que tudo corresse como desejavam. Os guerreiros descansavam nas tendas, recostados em leitos improvisados com as peles dos animais mortos, lá mais ao norte, nas selvas que bordejavam as suas tendências [? Por certo quer-se dizer tenências: posse por investidura ou doação de lugares ou terras, com domínio sobre os habitantes] e propriedades. Também Afonso Henriques estava recostado na sua tenda. Dera ordem para que ninguém o incomodasse. Não conseguia dormir. Pensava na batalha do dia seguinte, na enorme cópia de gente moura contra a sua minúscula hoste. Corria até que o exército árabe tinha uma ala de mulheres guerreiras... Mas, era necessário vencer... Deus se encarregaria de mostrar ao infiel o seu poder pelo braço do guerreiro. Semi-adormecido, apareceu-lhe como que em sonho, um ancião. Fez sobre ele o sinal da cruz, chamou-lhe escolhido por Deus e alertou-o da batalha. Entretanto, apareceu-lhe um escudeiro, que vinha dizer-lhe que estava ali um velho que queria falar-lhe com muita urgência: Afonso Henriques viu, diante dos olhos, bem despertos, o velho do sonho: - Tu, outra vez? Quem és afinal, ancião? O que me queres? - Quem sou não interessa... Acalma-te e ouve o que venho dizer-te da parte de Jesus, Nosso Senhor: daqui a instantes, quando ouvires tocar os sinos da ermida onde há já sessenta e seis anos vivo, deves sair do arraial, só e sem testemunhas. É isto o que ele manda dizer-te! Antes do guerreiro abrir a boca, o velho desapareceu na noite, sem deixar rasto. Daí a instantes, soou, efectivamente, o sino da ermida e Afonso Henriques pegou na espada e no escudo, com gesto quase automático, saiu da tenda embrenhando-se na noite, sem destino, só, como lhe fora recomendado. Subitamente, um raio iluminou a noite e de dentro dele saiu uma cruz esplendorosa. Ao centro estava Jesus Cristo rodeado de anjos. Afonso Henriques, ajoelhado, deixou-se ficar boquiaberto, sem saber o que dizer, sem se atrever a quebrar o instante, até que dentro de si, ouviu Jesus dizer-lhe: - Afonso, confia na vitória de amanhã. Confia na vitória de todas as batalhas que empreenderes contra os inimigos da Cruz. Faz como a tua gente que está alegre e esforçada. Amanhã serás rei... Apagou-se o céu e a visão celestial desapareceu, como viera. No dia seguinte a batalha foi terrível. Os mouros eram aos milhares e avançavam ferozmente contra os guerreiros de Afonso Henriques. Ao Primeiro embate muitos homens caíram no chão trespassados pelas lanças. Puxou-se então por espadas e alfanges e a planície foi invadida por um tinir de ferros misturados com a gritaria de toda aquela multidão e os relinchos doloridos dos cavalos feridos. Durante muito tempo, foi um verdadeiro inferno. Os guerreiros cristãos, porém, levaram a melhor. Os mouros sobreviventes, fugiram pela planície fora, deixando os cadáveres naquele imenso chão. Do lado cristão também eram muitos os mortos e feridos, mas os sobreviventes proclamavam a vitória, gritando: - Real! Real! Por Afonso, Rei de Portugal! Diz a tradição que nesse momento e em memória do acontecimento, o rei pôs no seu pendão cinco escudos, representando os cinco reis mouros que derrotara. Pô-los em cruz, pela cruz de Nosso Senhor e dentro de cada um mandou bordar trinta dinheiros, que por tanto vendera Judas a Jesus Cristo. Esta é a patriótica lenda com que os portugueses quiseram perpetuar um facto que na realidade foi bem diverso.


As fontes históricas não concordam com a lenda, que se sabe ter sido forjada séculos depois do acontecimento. A batalha não foi de modo algum tão importante para a independência do novo reino que se afirmava na Península Ibérica. Os documentos, especialmente os da historiografia árabe, tão pródiga na descrição de acontecimentos deste tipo, ainda que fracassados para o seu lado, não faz menção de tal batalha, que, ao acreditar na lenda, teria sido importante e decisiva para o poderio muçulmano no Além-Tejo Árabe. Sob o ponto de vista militar e estratégico, a Batalha de Ourique não passou de mais um fossado (incursão ou investida militar sobre território inimigo) cristão, isto é, uma surtida em território inimigo como era frequente fazer-se de ambos os lados. Quanto ao título de Rei que esta lenda diz ter sido dado por aclamação a D. Afonso Henriques, já o utilizara em documentos escritos que se conservam nos arquivos.» [Fonte: Instituto de Estudos de Literatura Tradicional]

Quanto ao local da peleja, como já vimos, não há consenso entre os estudiosos acerca do lugarl exacto onde se travou a batalha de Ourique. A mais antiga descrição da batalha figura na “Crónica dos Godos” sob a entrada “acontecimentos da Era Hispânica de 1177” (1139 da Era Cristã).

Como se sabe a diferença entre as datas da era de César, ou hispânica ou gótica,
em relação à era cristã é de mais 38 anos.
Ou seja, sendo necessário converter uma data da era de César (ou hispânica ou gótica, recordo)
em data da era cristã, essa conversão faz-se subtraindo àquela (de César…) 38 anos
para encontrarmos esta (a cristã).
Na verdade, e neste caso em apreço, queremos saber a que ano da era cristã corresponde o evento ocorrido no ano 1177 da era de César.
Claro que subtraímos a 1177, 38, o que dá o ano de 1139,
que é aquele em que se deu a batalha, situando-nos, como nos situamos, na era cristã.

Séculos mais tarde, um dos primeiros autores a abrir a polémica sobre a autenticidade das narrativas foi Alexandre Herculano quando, ao afirmar que “Ourique não passa de uma lenda”, foi acusado de anti-clericalismo. Contemporaneamente, outros historiadores, entre eles José Hermano Saraiva, voltaram a abordar e a reinterpretar essa questão, analisando as várias hipóteses de localização da batalha. Isto é: Herculano ao afirmar que o evento não passa de uma lenda, nem entra na discussão do local em que terá tido lugar. Já J Hermano Saraiva admite que a batalha se tenha dado e por isso entrou na discussão de que em que lugar terá acontecido.

Mas esta matéria da localização (e para a hipótese de ser verdade ter-se verificado esse acontecimento) já a vimos, em breve síntese, mais acima.






Durante o Estado Novo embora vagamente se admitisse a hipótese de a batalha de Ourique se tratar de uma lenda, quadrava bem ao espírito nacionalista da época tomá-la como uma demonstração do portuguesismo, da audácia e do heroísmo dos nossos “egrégios avós”…
E um certo esoterismo calculado desses tempos também se coadunava bem com o hipotético, mas pouco provável, milagre de Ourique. Uma gesta gloriosa, uma chama, que interessava manter com objectivos de pura demagogia política que alimentava um dúbio espírito nacionalista que caracterizava os regimes ditatoriais desses idos.
Aos meninos desses tempos que tivessem o privilégio de frequentar a escola ensinava-se que a batalha de Ourique se dera mesmo e que Cristo aparecera miraculosamente a D. Afonso Henriques. E que essa batalha teria sido decisiva para a consolidação do poder do futuro monarca como primeiro rei de Portugal. Espírito que era igualmente incutido nos jovens adolescentes através de outros graus de ensino mais avançados (onde o privilégio da sua frequência era ainda maior), assim como noutras actividades que concorriam para incentivar aquele orgulho nacionalista, como, por exemplo, através da Mocidade Portuguesa – que por via das dúvidas e do decoro, e para manter uma interessada distinção de género, se dividia em Mocidade Portuguesa Feminina e meramente Mocidade Portuguesa (para os rapazes).


Menos dados a tal espírito, os portugueses de hoje acreditam mais na eventualidade de se tratar de pura lenda.
E de tal maneira os feitos narrados acerca dessa lendária batalha tinha um cunho de determinado patriotismo, que um dia o regime elevou essa data a Dia do Exército Português. Comemorado, por sinal, no dia de São Tiago, por razões evidentes apelidado de “matamouros” (aos gritos de Santiago! Santiago! O nosso pequeno exército ia dizimando os mais numerosos e poderosos exércitos da “moirama”) …




(Fontes: além das diversas que já foram mencionadas há que assinalar vários artigos da Wikipédia, a enciclopédia livre, assim como alguns outros artigos de outros sites da Net)

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