Para muitos é altura de ir começando a treinar a respiração para, no momento oportuno, tentar engolir o sapo.
Mário Soares, em Maio de 2004, confirmava à SIC que seria um erro político candidatar-se de novo à PR
E em Dezembro do mesmo ano, na festa dos seus 80 anos, esclarecia que acabara a política e o exercício de cargos políticos. “Basta”, disse.
A expectativa era a de que, finalmente, chegara a hora do repouso do guerreiro. A de que o senador, finalmente, se afastava, se aposentava.
Eis senão quando, após insinuações, depois de afirmações, perante certas insistências anuncia, na Quarta 31.08.05, a sua 3ª candidatura…
Segundo o omnisciente Nuno Rogeiro, comentador assíduo sobre qualquer matéria (todas) na RTP, Soares não é fixe… Soares é fixo! (Até teve graça, desta vez, o "enciclopédico" comentador).
Seria interessante que Soares nos desvendasse e enumerasse os "amplos sectores da sociedade" que o “empurraram” para esta aventura… Mas é claro que o sentido do ridículo o não deixa fazer essa revelação.
O “Presidente-Sol” (como se lhe referia, recentemente, o Inimigo Público) submete-se a todos os sacrifícios e incómodos SÓ “por amor a Portugal”, como ele próprio afirmou aquando do seu morno e acidentado discurso de anúncio de candidatura. É contrariado e muito a contra-gosto que avança… Mas avança!
E Cavaco?
Dele escreveu Vasco Pulido Valente, na sua habitual coluna do Público de SX 16SET05:
“Resta evidentemente o espectro de um Cavaco autoritário e "gaullista", pronto a subverter a República e a varrer a politicagem. Há, no entanto, um perigo nisso: e se o país gosta da ideia?”
Qual Messias redentor dum Portugal indolente, incapaz, abúlico, atrasado, sem ânimo nem vontade, sem fé e sem confiança, um Portugal à deriva, por ele (ou também, e especialmente, por ele) moldado… Quem acreditará nele?
A direita, sobretudo a apartidária, a anti-democrática, aposta nele como um mal menor.
Afinal também ele não aprecia partidos, como sobejamente tem demonstrado. Nem sequer aquele de que foi presidente (como o seu desprezo tem evidenciado).
O que o distingue de um Salazar (já que tanto têm de comum) é o pudor que (ainda) tem de recusar a democracia. Nasceu noutro tempo: tem outros temperos!
Mas para além da direita revanchista, também a outra direita, mais civilizada, e o centro, que é o habitat dos camaleões, atento o momento que se vive (e esquecendo a responsabilidade do próprio Cavaco nesta situação), vão seguramente apostar nele.
Não deixando de ter presente que o centro abrange o centro, propriamente dito, mas também, ainda, os chamados centro-direita e centro-esquerda, Cavaco é capaz de provocar o maior desgosto que Soares alguma vez teve: o de não ter tido o senso de sair na hora certa!
Soares sempre foi um pimpão, e nunca se vai curar disso.
Além de que, segundo a generalidade das opiniões, também teve grandes culpas neste cartório. Também teve graves responsabilidades na situação que ora vivemos.
Acerca desta matéria – presidenciais - escrevia João Marques dos Santos, no dia 02.09, no Correio da Manhã:
«No funeral das suas ilusões, Alegre foi eloquente. Cavaco é o projecto contabilístico. Manga de alpaca. Cinzentão. O tesoureiro unhas de fome que boicotará todas as iniciativas que se não encaixem nos seus rígidos esquemas académicos.
Soares é “o mero deleite do jogo político”. De economia e finanças só sabe de ouvir dizer. Para isso tem, no sítio certo, todos os economistas que quiser. Que é para o que eles servem.
No dia em que a contabilidade eliminar a acção e o pensamento políticos, teremos encontrado o sucessor do sistema democrático. A contabilidade faz-se com números. Os maiores dos tiranos. A política faz-se com ideias, criatividade, imaginação e esperança. Política, ou se faz com gozo, ou não se faz.
É esta a nossa realidade. É aí que encaixa Soares. Com todos os seus defeitos e qualidades.»
E mais abaixo continuava o mesmo articulista:
«Soares está em casa! A sua majestade pode ser decrépita, mas é a única que nos resta.
É um soberano polémico. Acusado de não ter pensamento político nem ser capaz de mostrar um mínimo de coerência nas suas intervenções públicas. Puro engano. Historicamente, o seu pensamento político é um enfeite de que muda com o mesmo à vontade com que as madames mudam de fatiota. Sempre teve um para cada ocasião. Coerência também nunca lhe faltou. Negá-lo é equívoco de analistas menos atentos.
Mário é, talvez, a mais coerente das personagens da nossa história contemporânea.
Pauta sempre os seus comportamentos pelo seu interesse pessoal. Que por vezes coincide com o interesse comum.»
E é isto. Não é caricatura, é retrato.
E Alegre?
Era difícil, mas seria melhor.
E sobre Manuel Alegre escreveu Miguel Carvalho, na Visão de 01 de Setembro.
O título: “Alegre se fez triste”.
O destaque:
«Perder ou ganhar, pouco interessava, se acima disso estava, como ele disse, a vontade de ser livre. Alegre quis o verso, esboçou o poema. Saiu-lhe um epitáfio. O seu.»
Recentemente o deputado-poeta reafirmou a sua intenção de se candidatar.
Talvez na esperança de um maior apoio, antes anunciado, de “dentro” do partido… Que, afinal, lhe escapou.
Mas não está só. Nem pensar…
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Mas o drama maior – a somar ao da grave situação em que nos encontramos – é o de hoje termos de optar entre uma ala “jurássica” (coloco comas por tão repetida ser neste momento a expressão, no âmbito deste assunto) e uma ala de imaturos. Na verdade são muito raros os políticos credíveis com idades situadas entre os 30 e os 50 anos. (Mas é claro – a propósito de credibilidade – que entre os “jurássicos” também temos os Jardins, os Loureiros, os Isaltinos, os Ferreira Torres e quejandos…).
Eu, por mim, que ainda tenho uma réstia de esperança, estou numa terrível encruzilhada: que caminho seguir?
Não, não estarei disposto a engolir o sapo. Mesmo com bochechas!...
Muito menos, ainda, a apoiar o “providencial” professor.
“Que fazer”?
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(Reflexão de 20SET05)
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