sexta-feira, dezembro 28, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:

. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)

. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)

. ano 4703/4704 do calendário chinês. ano 5767/5768 do calendário hebraico



DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:



2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".2007 Ano Internacional da Heliofísica




o pianista e compositor
Domingos Bomtempo


Estão decorridos 232 anos, foi na QI 28DEZ1775: nasceu, em Lisboa, o pianista e compositor João Domingos Bomtempo.
Nesse ano reinava D. José (25º) e pontificava Pio VI (250º), que fora eleito em 15FEV do mesmo ano; e também nesse ano foi inaugurada em Lisboa, no Terreiro do Paço, da estátua equestre de D. José, da autoria do escultor Machado de Castro (06JUN).
Como foi ainda o ano em que se iniciou a revolução americana e se realizou o II Congresso Continental em Filadélfia; em que Diderot iniciou a crítica de arte; em que o dramaturgo francês Beaumarchais escreveu a peça “O Barbeiro de Sevilha”, que Rossini transformaria em ópera.
D. Bomtempo morreu, igualmente em Lisboa, na QI 18AGO1842, com 67 anos incompletos. Ano em que reina D. Maria II (30º), pontifica Gregório XVI (254º); se dá o golpe de Costa Cabral e o início da ditadura (27JAN); é aclamada a Carta em Lisboa (11FEV); morre Stendhal (23MAR) e nasce Antero de Quental em Ponta Delgada (18ABR).

Bomtempo era filho do músico italiano Francesco Saverio Buontempo, oboísta na Corte de Lisboa, e seu primeiro professor de Música.
Domingos fixou-se em Paris (1801), onde as suas obras foram aclamadas. A partir de 1810, dividiu o seu tempo entre Portugal, Paris e Londres, instalando-se definitivamente em Lisboa em 1820, para criar a primeira sociedade filarmónica portuguesa — Filarmónica de Lisboa (1822).
Liberal convicto, foi impiedosamente perseguido pelos absolutistas.
Restabelecido o poder dos liberais, foi professor de música da rainha D. Maria II e o fundador e primeiro director do Conservatório Nacional de Lisboa (1835).
Virtuoso intérprete, deixou obra importante, como a op. 23, Missa de Requiem (à Memória de Camões), a quatro vozes para coro e grande orquestra.
Em Maio de 1809, o jornal Le publiciste assinalava: a sua maneira de tocar piano conquistou todos pela sua agilidade e energia de execução, pela nobreza e grandeza de estilo que tão raramente se vêm unidos no mesmo grau. No ano seguinte a sua 1ª Sinfonia é alvo dos maiores elogios por parte da crítica parisiense.
A sua obra como compositor é relativamente extensa, abrangendo trabalhos das mais variadas formas musicais: concertos, sonatas, fantasias e variações que compôs para o seu instrumento de eleição, o piano (algumas com acompanhamento de violino), que combinam uma escrita brilhante muito ao estilo de Clementi (o compositor italiano que mais o influenciou e a quem o ligavam laços de amizade desde Paris), que nasceu em Roma em 23 de Janeiro de 1752 e morreu aos 80 anos, em Worcestershire, perto de Londres, em 10MAR1832, e que compôs mais de 100 sonatas, as famosas sonatinas Op. 36 e 38; sinfonias; aberturas... Além de que foi director da Phillarmonic Societ em Londres.

Estrelas de primeiríssima grandeza na arte musical, na época, como foram um Beethoven, um Mozart e um Haydn, entre outros, ofuscavam, naturalmente, outros grandes valores que emergiam na mesma área.
Daí que não restasse tempo nem espaço aos amantes e estudiosos da música, para descobrir, estudar e apreciar um Clementi, de créditos mais firmados, quanto mais um Bomtempo, de menor projecção e mais reduzida obra.

Na verdade, Bomtempo foi contemporâneo, e praticamente da mesma geração que Beethoven (este mais velho 5 anos) como foi contemporâneo, mais de Mozart e Clementi (o primeiro mais velho que ele 19 anos, o segundo 23) do que de Haydn, em relação ao qual era mais novo 43 anos.

As duas sinfonias de Domingos Bomtempo (admitindo-se a existência de mais cinco) revelam talvez de uma forma mais evidente a sua personalidade, mostrando uma assimilação, muito rara em músicos ibéricos daquele tempo, da música germânica do período clássico de Haydn (31 de Março de 1732- 31 de Maio de 1809), Mozart (27 de Janeiro de 1756-5 de Dezembro de 1791) e Beethoven (16 de Dezembro de 1770-26 de Março de 1827).




Contudo, “a música de Bomtempo, apesar de revestida de inegável qualidade e de ter alargado o panorama musical português da época, não é vanguardista sendo mesmo menos moderna que a de Haydn e Mozart e muito menos do que a de Beethoven (...). Por último é importante referir que João Domingos Bomtempo foi sempre defensor dos valores portugueses e na sua obra assumem posição de relevo os valores da liberdade individual e da soberania da nação portuguesa”. (cfr Wikipédia)

Deixando uma obra a que muitos críticos estrangeiros fazem lisonjeiras referências, “Domingos Bomtempo foi, a todos os títulos, uma figura notável da história da arte em Portugal, ocupando, sem favor, lugar entre os grandes reformadores oitocentistas da cultura portuguesa. A sua obra, à frente do Conservatório foi inovadora e imbuída de uma modernidade notável para a sua época. Se não produziu, depois, melhores frutos, foi porque, infelizmente, não houve continuadores à sua altura. Virtuoso de craveira internacional (...) como compositor, grande parte da sua obra é desconhecida, o que torna difícil a avaliação exacta do seu talento. No entanto, e se outros méritos não houvesse que lhe atribuir - coube-lhe o papel histórico de ter sido o primeiro português a tentar as formas sinfónicas, quebrando uma tradição que muito diminuía a nossa cultura musical”. (Cfr site Compositores portugueses).

Da sua obra há que destacar as Sonatas para piano, a já referida Missa de Requiem (à Memória de Camões), a 2.ª Sinfonia, Variações «Alessandro in Éfeso», Fantasia e Variações sobre Uma Ária de Mozart, etc. A Secretaria de Estado da Cultura, na sua Biblioteca Básica Nacional, tem editado as suas obras – pode ler-se em “Vidas Lusófonas”






capa de uma Marcha




“O período de 1810 a 1814 , período em que permanece ininterruptamente em Londres foi, de facto, fértil em produções, às quais pertencem, por exemplo, as 3 Grandes Sonatas, op. 9, o Hino Lusitano, op.10, a I Grande Sinfonia, op. 11, a Marcha de Lord Wellington , assim como mais sonatas e concertos. Em 1820 e, na sequência do movimento liberal em Portugal, Bomtempo regressa a Lisboa, desde logo mostrando-se simpatizante da causa e compondo diversas obras evocativas desses novos momentos da nação portuguesa. É o caso, por exemplo , da Missa "composta em obséquio da Regeneração Portugueza" e que será executada , juntamente com o Te Deum em Fá M na festa do juramento das Bases da Constituição, na Igreja de S. Domingos (29 Março de 1821). No mesmo ano dirige o Requiem, em primeira audição lisboeta, na mesma igreja, em memória dos supliciados de 1817 e do General Gomes Freire de Andrade. Compõe, ainda uma Serenata em Fá M a qual inclui várias variações sobre o Hino da Carta. Em Junho de 1834 retoma o projecto de criação de um estabelecimento de ensino da música, que ficara adiado em 1822 (...) Finalmente, a 5 de Maio de 1835 é criado, por decreto o "Conservatório de Música", que ficou anexo à Casa Pia e, do qual Bomtempo foi nomeado Director. Mais tarde, no âmbito do projecto de Almeida Garrett, esse mesmo Conservatório seria transformado em Escola de Música e anexado ao Conservatório Geral de Arte Dramática que se instalaria no Convento dos Caetanos, escola de que permanece director. escrevendo no seu último ano de vida um "Tantum Ergo, Kyrie, Gloria e Credo", dedicado a D.Fernando II, mas cuja partitura (como tantas outras ), se perdeu” – cfr site do Conservatório Nacional - dados de Maria José Borges.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:
. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)
. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)
. ano 4703/4704 do calendário chinês
. ano 5767/5768 do calendário hebraico

DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.
2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.
2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.
2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".
2007 Ano Internacional da Heliofísica






Salazar estava convencido que ainda governava...
(Quem se atrevia a desiludi-lo?)
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Não foi assim há tanto tempo como isso. Imaginar-se-ia que tinha sido lá para os primórdios do século passado... Não: foi apenas há 39 anos, na QA 26DEZ1968: é publicada, em Portugal, a lei da igualdade de direitos políticos entre homens e mulheres, seja qual for o seu estado civil, salvo quanto às eleições para as juntas de freguesia, relativamente às quais permanecem, apenas, como eleitores, os chefes de família.

Salazar ainda era vivo. Mas algo acontecera.
“A 3 de Agosto de 1968 a cadeira prega-lhe realmente uma partida: queda, a cabeça a bater no chão, hematoma cerebral, bloco operatório, diminuição das faculdades mentais. Depois de muito hesitar, Américo Tomás acaba por nomear Marcelo Caetano para a Presidência do Conselho de Ministros. Alguns destes, junto de Salazar, fingem que é ele ainda o Presidente do Conselho; ou ele finge acreditar na encenação e, a fingir, lá vai dando despacho aos assuntos correntes. Morre a 27 de Julho de 1970. 81 anos de idade, 42 de poder ininterrupto.” (Vidas Lusófonas; texto de Fernando Correia da Silva)

1968 foi o ano em que: foram assassinados Robert Kennedy (5 de Junho) e Martin Luther King (4 de Abril); em que foi eleito Richard Nixon para presidente norte-americano (Novembro). Foi ainda o ano em que se realiza a união aduaneira da CEE, com a eliminação total dos direitos entre os Seis e o estabelecimento de uma taxa aduaneira comum (1 de Julho), enquanto se institui o princípio da liberdade de circulação de trabalhadores (8 de Novembro). Como foi o ano em que rebenta a crise estudantil parisiense do Maio de 1968 e se dá a ascensão e queda da chamada Primavera de Praga. Em 19 de Agosto, já depois da queda, mas com Salazar ainda na direcção efectiva do Governo, efectiva-se uma remodelação ministerial: Gonçalves Rapazote no interior; José Hermano Saraiva, na educação; João Dias Rosas, nas finanças; Bettencourt Rodrigues no exército; Pereira Crespo na marinha; Jesus dos Santos na saúde. Como subsecretário de Estado da educação, Elmano Alves e como CEMGFA, Venâncio Deslandes. “Os últimos conselheiros da remodelação foram Mário de Figueiredo, Luís Supico Pinto, Soares da Fonseca e Castro Fernandes que tiveram uma reunião como o supremo seleccionador em 10 de Agosto.
Portanto, a remodelação acontece ainda “antes de surgirem os primeiros sinais de desconexão mental do presidente do conselho que passa a sofrer de doença incapacitante (4 de Setembro). Operado de urgência ao cérebro por Vasconcelos Marques (6 de Setembro), é, depois, acometido de trombose (16 de Setembro). É neste contexto que surge a inevitável reunião do Conselho de Estado (17 de Setembro), onde se discute a substituição do omnipotente cônsul, sendo consensual a opinião sobre a nomeação imediata de um novo Presidente do Conselho” – como se pode ler num dos inúmeros trabalhos do Prof José Adelino Maltez publicados na net.

Perante o avanço que no mundo se ia verificando em matéria de direitos, liberdades e garantias,
Portugal não tinha outro remédio que “parecer” ser um país moderno.
Porque só parecia. Continuava longe de o ser.
Quem se debruçasse sobre as nossas leis encontrava surpresas, relativamente ao que se proclamava em todo o mundo. Coisas interessantes, havia-as. Mas só no papel. Recorde-se que até tínhamos um artigo 8º da nossa Constituição de 1933 (de 1933, sublinho) que nos reconhecia direitos, liberdades e garantias… Mas sabemos todos bem (os que não têm memória curta) como é que a lei era aplicada pelo poder e respeitada pelos seus algozes, e pelos tribunais, sobretudo pelos tribunais especiais, os Plenários…
Todo o aparelho estatal – não esqueçamos -, TODO, obedecia cega e zelosamente aos ditames do todo-poderoso “salvador” da Pátria… Que já não liderava o governo, embora cuidasse que sim.

O Decreto da Presidência da República (Américo Tomás) 48 597, 27SET1968, “exonera o Doutor António de oliveira Salazar do cargo de Presidente do Conselho, do qual manterá todas as honras a ele inerentes, e nomeia, para o substituir, o Doutor Marcelo José das Neves Alves Caetano.”

Foi, pois, recentemente, e neste contexto, que Portugal deu um passo, medroso, no sentido da definitiva igualdade de direitos entre todos os cidadãos, de qualquer sexo ou condição. Que esta só viria mais tarde.

terça-feira, dezembro 11, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

imagem Wikipédia
Guerra colonial: Angola (1961)
uma coluna militar portuguesa

O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:
. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)
. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)
. ano 4703/4704 do calendário chinês
. ano 5767/5768 do calendário hebraico



DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.
2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.
2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.
2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".
2007 Ano Internacional da Heliofísica


Dia Internacional das Montanhas
Dia Nacional do Burkina Faso (antigo Alto Volta)


Aconteceu há 43 anos, na SX 11DEZ1964: foi divulgado um manifesto intitulado “Amangola”, por um grupo de angolanos da UPA (União dos Povos de Angola) exilados em Brazaville, que constituiam a base da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola)”.

Tudo isto no mesmo ano em que
- são fundados a FAP (Frente de Acção Popular), os GAP (Grupos de Acção Popular) e o CMLP (Comité Marxista-Leninista Português). (JAN)
- é criada a ASP (Acção Socialista Popular) em Genebra, liderada por Tito de Morais, Ramos da Costa e Mário Soares. (ABR)
- a FRELIMO inicia a luta armada a partir do distrito de Cabo Delgado, nesta altura ainda sob a chefia de Mondlane. (SET)
25NOV1964: a OUA reconhece o MPLA como único representante legítimo do povo angolano.

O regime da ditadura de Salazar já estava em manifesto declínio, desde os finais da década anterior. Teoricamente, a suprema magistratura da nação estava, então, entregue ao submisso e fiel Américo Tomás. Só na aparência e para estrangeiro impressionar, pois que o líder do regime nunca deixou de ser Salazar.
Como se vê acima, à medida que o regime se radicaliza, também do outro lado, na metrópole e nas colónias, se vão cavando posições cada vez mais extremadas. E recorde-se que os movimentos de libertação iniciaram a sua acção armada em 1961.
A crise política em Portugal vinha-se acentuando, num crescendo veloz, desde, sobretudo, como se disse, os finais da década anterior. Crise para o controle da qual o regime começa a mostrar que não tem resposta adequada e satisfatória. Nem é possível que tenha – dentro dos seus rígidos e anquilosados parâmetros de actuação.

Claro que nesta movimentação anti-ditadura, nas colónias, não era de incluir o embrião que significava o manifesto Amangola. O movimento daqui resultante mais viria a parecer uma invenção dos “buldogues” do regime…

“Desde o início da sua actividade política, Savimbi manteve contactos privilegiados com organizações políticas e religiosas conotadas com a CIA americana e promoveu repetidamente tendências fraccionárias de raiz étnica.”

Em 1964, demitiu-se de ministro do GRAE/Governo Revolucionário de Angola no Exílio e de secretário-geral da FNLA e terá tido especial intervenção naquele manifesto, propondo a luta armada como solução contra o colonialismo português.

Mas claro que não era contra o colonialismo português, como apregoava.

O GRAE era dominado maioritariamente pela FNLA. E chegou a ser reconhecido como representante de Angola na recém-formada (1963) OUA, organização esta que recomenda aos países africanos o reconhecimento do GRAE e o apoio à FNLA.

Sabe-se, igualmente, que Savimbi desde 1969 contactou as autoridades coloniais portuguesas (já com Marcelo Caetano na chefia da ditadura), nomeadamente a PIDE (nessa altura já DGS. “Esta acção traduziu-se num protocolo de colaboração de Savimbi com as forças portuguesas, em que este se comprometeu combater o MPLA no Leste de Angola, em troca do apoio dos militares à acção da UNITA junto das populações controladas por este movimento.”
Dum lado e doutro da mesa era só bleuf. E conivências.

Nesta altura já a OUA apoiava e incentivava o apoio ao MPLA. Que tinha, então, outro e bem diferente líder!





segunda-feira, dezembro 10, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:
. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)
. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)
. ano 4703/4704 do calendário chinês
. ano 5767/5768 do calendário hebraico


DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.
2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.
2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.
2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".
2007 Ano Internacional da Heliofísica


Dia Mundial dos Direitos do Homem



sede da PIDE, em Lisboa


Foi há 58 anos, no SB 10DEZ1949: embora continue excluído da ONU, Portugal subscreve aí a Declaração Universal dos Direitos do Homem, cuja comemoração do 30º aniversário da sua adopção o mundo comemorara no ano anterior.
Em Portugal entrava-se no auge do poder da ditadura conduzida por Salazar, nessa altura acolitado pelo general Carmona.

“Direitos do Homem”? No Portugal da ditadura? Com os processos e as práticas utilizados pelo governo de Salazar na Metrópole e nas colónias?
O que fez correr Salazar?
Que pressões internas e do exterior terá suportado?

Deve ter sido puro engano. Ou farsa bem montada.

O Portugal de Salazar tinha tão só a preocupação de parecer ser “humano”, moderado e disciplinado quer dentro de portas, quer, em especial, passadas elas. Um “humanismo” sui generis, é evidente, como era a praticada pelos seus inquisidores, intolerantes e torcionários.
Claro que na perspectiva do discurso oficial e da aparência, vivia-se, então, em Portugal, no melhor dos paraísos.

Mas, perante o Mundo, faltava-lhe a necessária coerência. Portugal só tinha preocupação em parecer ser. Não em ser. O que é próprio de ditadores e fariseus.

Os atropelos constantes aos referidos “Direitos” e a todas as práticas humanitárias, à tolerância, à convivência democrática, eram a prova provada de que o autoritarismo salazarista se regia por outros códigos, por outras matrizes. Daí que fosse interna e externamente repudiado e combatido.

Parafraseando um velho ditado: “Salazar preferia estar só ou mal acompanhado” (com nazis, fascistas e franquistas). Ou: “Salazar preferia estar só que bem acompanhado” (pelos democratas).

O medo, a intimidação e o terror que essa sombria organização policial todo-poderosa, que se chamava PIDE, espalhava é que mantinha a ditadura salazarista.

Uma breve e insuspeita nota histórica do que foi a PIDE pode encontrar-se no site da Universidade Nova de Lisboa, no respectivo CITI (Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas da Faculdade de Ciências sociais e Humanas). É a seguinte a apresentação:


«A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (anterior PVDE) foi criada em 1945
para defender o regime contra todos aqueles que dele discordavam, nomeadamente o PCP.
Dos diversos modos que a PIDE dispunha para alcançar os seus objectivos
destacam-se a vasta rede de informadores por todo o país
e a intercepção de correspondência e telefonemas.
Milhares de opositores foram enviados para prisões
(Caxias, Peniche, Tarrafal, por exemplo),
muitas vezes sem julgamento,
onde eram sujeitos aos mais variados maus tratos e torturas.
A PIDE instalou um clima de horror, onde até era proibido pronunciar a palavra "liberdade".»


Recordo que por brindarem à liberdade, em público, foram presos e condenados a sete anos de prisão dois estudantes da Universidade de Coimbra, em 1961, acontecimento que deu brado e foi noticiado pela imprensa estrangeira, acabando por dar origem à prestigiosa organização política internacional não-governamental que é a Amnistia Internacional/AI (como recentemente recordei, com mais pormenor, num outro local.

Claro que existe imenso material de consulta e inúmeros testemunhos do que foi esse (um deles) suporte da ditadura.
Os outros eram o exército e a Igreja, cujo contributo não foi nada despiciendo.


Acerca dos direitos humanos (e por certo com o pensamento na Cimeira EU-África, de que se desmontou ontem a “tenda”) diz hoje Carla Machado no Público/Opinião (“Do relativismo ao compromisso”):
“A Europa deve exigir o cumprimento dos direitos humanos, não porque "saiba mais" ou porque está "num estádio superior de evolução", mas porque eles representam o seu compromisso e opção ética. E, não baseando esta exigência em critérios de autoridade, deve fortalecê-la com argumentos diplomáticos e contrapartidas relevantes. Mas adoptar um discurso ético requer coerência e persistência. A sua defesa tem que se sobrepor aos interesses e às conveniências. Não há semidireitos nem quase-liberdades - contemporizar significa ser conivente”.
Reflexão que se aplica, em grande medida, mesmo aos cidadãos.

As organizações internacionais têm de procurar maneira de exigir o cumprimento dos direitos humanos em tantos países onde eles são permanentemente violados.
E não se pense que me refiro, apenas, aos distantes países africanos ou asiáticos... Muito perto de nós há quem tenha outras responsabilidades e os não respeite, a cada passo.

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