segunda-feira, fevereiro 27, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 27 DE FEVEREIRO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4709 do calendário chinês
Ano 5772 do calendário hebraico
Ano 1434 da Hégira (calendário islâmico)

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado 2012 é o
ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS COOPERATIVAS

DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA MATERNA (UNESCO)

«Acima de tudo, exijo que o governo e o povo sustentem
a lei racial até o limite e resistam impiedosamente
ao envenenador de todas as nações, o Judaísmo internacional».
Adolfo Hitler


Assinatura do Führer

Foi na SG 27.02.1933, há 79 anos: Hitler manda incendiar o Reichstag (Parlamento). Para um recém-nomeado chanceler, foi um auspicioso gesto, o de Adolfo Hitler. E a meritória acção deu-lhe ensejo a incriminar os comunistas (como urgia e convinha) e suspender a Constituição. Esse estorvo.

O Parlamento Alemão


Isto quando, sendo ele chanceler da Alemanha, Presidente (último da República de Weimar) era Paul von Hindenburg.

Em Portugal a chefia do Estado estava entregue ao general Carmona e Presidente do Conselho (designação do cargo de primeiro-ministro durante o Estado Novo) era Salazar. Personalidades da estirpe do Führer.

No Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda decorria o reinado de Jorge V (63º monarca britânico), da Casa de Windsor (em bom rigor da Casa de Saxe-Coburgo-Gota, mudança que se deve, não a quebra dinástica, mas ao sentimento antigermânico que se vivia desde a Primeira Guerra Mundial). Jorge V era avô da actual rainha. Primeiro-ministro era, na altura, Ramsay MacDonald (no seu terceiro mandato).

Presidente de França (último da 3ª República) era Albert Lebrun, e primeiro-ministro era Édouard Daladier.

Governava no seu único mandato Herbert Hoover, o 31º presidente dos Estados Unidos da América.

Niceto Alcalá-Zamora y Torres era o primeiro presidente da Segunda República Espanhola, e presidente do Governo era Alejandro Lerroux García.

Vítor Emanuel III era o terceiro rei da Itália unificada e independente e decorria o governo fascista de Benito Mussolini, outro ditador da igualha de Hitler.

No Vaticano reinava o papa Pio XI (259º). Foi durante a sua vida (era ainda o bispo ou cardeal Aquiles Ratti) quando se deu a queda dos impérios centrais, no fim da Primeira Grande Guerra; quando estalou a revolução bolchevique; quando ressurgiu o Estado livre da Polónia.
De entre os assuntos sobre que mais debruçou a sua atenção como papa conta-se a regulação da questão romana com o governo fascista italiano, por meio do tratado de 1929, que concedeu a soberania temporal ao papa na "cidade do Vaticano".

O ano de 1933 foi ainda o ano em que
- A Empresa Nacional de Publicidade lança uma edição de 125 mil exemplares do livro Salazar, o Homem e a Obra (24FEV).
- É plebiscitado o texto constitucional (MAR).
- É promulgada e entra em vigor a nova Constituição. E com ela inicia-se o regime do Estado Novo, que vigoraria até 25ABR1974 (09ABR)
- Na mesma data é legalizada a censura.
- Nasce o arquitecto Álvaro Siza Vieira (25JUN).
- O governo (de Salazar) extingue a Polícia Internacional Portuguesa e a Polícia de Defesa Política e Social e cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado/PVDE (polícia política e instrumento de repressão do Estado Novo, antepassada da PIDE e da PIDE-DGS) (29AGO).
- É promulgado o estatuto do trabalho nacional. E o governo decide suspender o jornal Revolução, órgão do Movimento Nacional-Sindicalista (23SET).
- É criado, por iniciativa e sob a directa supervisão de Salazar, o Secretariado da Propaganda Nacional/SPN, antepassado do Secretariado Nacional de informação, ambos à boa maneira nazi, cuja direcção foi entregue a António Ferro (25SET).
- Morre o pintor José Malhoa (26OUT).
- O governo cria o Tribunal Militar Especial para o julgamento dos “crimes contra a segurança do Estado” (06NOV). Também este à boa maneira nazi, onde o Supremo Tribunal foi substituído pelo dito Tribunal do Povo.


Foi quase um mês depois da nomeação de Hitler para o cargo de Chanceler da Alemanha que o Reichstag foi incendiado. Hoje já não restam dúvidas de que, por detrás dos autores materiais do acontecimento, estavam Hitler e Göring.

Reichstag é o nome do edifício, em Berlim, onde o parlamento da Alemanha (Bundestag) se reúne.

O Reichstag (termo alemão que significa "Dieta Imperial" e equivale a Assembleia Imperial) foi «uma instituição política do Sacro Império Romano-Germânico, bem como o parlamento da Confederação da Alemanha do Norte e, posteriormente, da Alemanha até 1945». Actualmente, uma das câmaras do parlamento alemão chama-se Bundestag - parlamento (a outra chama-se Bundesrat – Conselho Federal), mas o palácio onde se reúnem ainda é conhecido como Reichstag - ver Wikipédia: Reichstag (edifício).

Foi em 1884 que o kaiser Guilherme I assentou a primeira pedra e, dez anos depois, em 1894, concluía-se a construção. A cúpula viria a ser constituída por dois elementos: aço e vidro, numa técnica avançada para a época.      
Foi lá, na respectiva varanda, que a República foi proclamada, no dia 09.11.1918, já a Primeira Guerra Mundial tinha acabado e o Kaiser tinha renunciado. Assim, entre 1919 e 1933, o Reichstag foi a sede do parlamento da República de Weimar.

O incêndio começou cerca das 21:15 dessa já distante SG dia 27.02.1933. Tudo indica que o fogo tenha tido mais que um foco inicial. Alertados, quando polícia e bombeiros lá chegaram, consta que terão aí encontrado o holandês Marinus van der Lubbe, “um conhecido agitador comunista” (na expressão conveniente dos acusadores), pedreiro desempregado, de 24 anos, em tronco nu.
Imediatamente depois chegam – como se nada tivessem a ver com o que presenciavam – Adolfo Hitler e Hermann Göring.
Não foi difícil inventar um bode expiatório e pintar um quadro condizente com os objectivos pretendidos: a presença de Lubbe foi o suficiente para Göring ditar a sentença: o fogo foi ateado pelos comunistas. Daí até Hitler concretizar os seus objectivos, foi um passo: seguiram-se, de imediato, a prisão dos dirigentes do Partido Comunista; a declaração, pelo próprio Hitler, do estado de emergência; a assinatura pelo Presidente Paul Von Hindenburg, instado por Hitler, do decreto de suspensão dos direitos fundamentais garantidos pela constituição de Weimar, de 1919, designadamente da liberdade de imprensa e de expressão.

Com isto, as SA e as SS iniciaram a perseguição dos comunistas e não só. Milhares de comunistas, Sociais-democratas e liberais foram presos e torturados. Além de elementos de certas minorias.

As SA (abreviatura de Sturmabteilung) expressão que equivalia à de "Tropas de Assalto", foram uma milícia paramilitar nazi ao serviço do Nacional Socialismo. O seu líder era o capitão Ernst Röhm. Os membros das SA também eram conhecidos como "camisas pardas", pela cor de seu uniforme. No momento em que deixaram de ter interesse para o partido do governo, constituindo, antes, algo não só fora de seu controle, mas abertamente contra determinadas ideias de Hitler, foram eliminadas. Também as intrigas nascidas da conduta homossexual de Röhm acabaram por levar à sua destituição, no episódio conhecido como Noite das Facas Longas. A partir daí, as SS ocuparam o espaço de polícia política outrora destinado às SA. (Wikipédia)

A Noite das Facas Longas foi uma limpeza levada a cabo na Alemanha Nazi na noite do dia 30 de Junho para 1 de Julho de 1934, quando a direcção do Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (o Partido Nazi) decidiu executar dezenas de seus membros políticos, sendo a maioria das SA. (id)

As coisas não podiam correr melhor ao ditador e aos seus homens de mão. Personagem e enredo foram fáceis de inventar para a história que lhes interessava, quando os factos apontavam para outra explicação: o incêndio foi obra dos nazis para estes poderem acusar os comunistas de conspiração contra o governo alemão. Da invenção à acção, foi um passo: Van der Lubbe e quatro líderes comunistas foram presos.
Adolfo Hitler que fora empossado semanas antes, em 30 de Janeiro, estava em vias de conseguir os seus objectivos com êxito: incriminar os comunistas (como urgia e convinha) suspender direitos, liberdades e garantias e a própria Constituição, esse empecilho. Para isso persuade o Presidente Hindenburg a decretar o estado de emergência, pois impunha-se contrariar o “impiedoso confronto do Partido Comunista da Alemanha”. Os dados estavam lançados e a encenação não podia estar mais perfeita.
Aberto inquérito ao incêndio – à boa maneira já conhecida dos governos musculados – mais três homens são presos, e só por mero acaso (!) também comunistas: os búlgaros Georgi Dimitrov, Vasil Tanev e Blagoi Popov.

Os eventos corriam tanto mais de feição quanto era certo estarmos, então, a menos de uma semana das legislativas, que viriam a ocorrer no DM seguinte, 05 de Março.
Pensava-se, até então, que estas eleições fossem as últimas livres na Alemanha dessa época.
Que não foram, como havemos de ver.

Segundo a polícia, Lubbe confessou ter ateado o fogo. Condenado à morte em 23 de Dezembro, foi decapitado em 10 de Janeiro de 1934 – já a República de Weimar tinha caído. Os restantes acusados foram absolvidos, tendo Hitler decidido que os futuros casos de traição deixariam de ser julgados pelo Supremo Tribunal passando a ser julgados por um Tribunal do Povo cujos membros pertenceriam ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).

Consta que Marinus foi torturado pela Gestapo de forma a confessar que tinha posto fogo no parlamento. No entanto, ele negou tal facto que, segundo as autoridades alemãs, como sabemos, correspondia a uma conspiração da facção comunista na Alemanha. Uma vez que Hermann Goering não acreditou mandou prender uma série de líderes do Partido Comunista Alemão (KPD), como também já vimos.

A caça às bruxas, tão do agrado do futuro Führer (o "condutor", "guia", "líder" ou "chefe"), como de outros ditadores, resultara na perfeição. Donde que, além de os líderes comunistas serem presos, os deputados do mesmo partido foram impedidos de ocuparem os seus lugares no parlamento.

Conta-se que «depois de Hitler ter visitado o parlamento e ter visto a destruição causada pelo incêndio, houve uma reunião em que este deu ordens muito claras: O povo alemão tem sido pacífico já há tempo demais. Todos os [militantes e simpatizantes] comunistas têm de ser mortos. Todos os deputados comunistas têm de ser detidos ainda esta noite. Todos os amigos dos comunistas têm de ser presos. E isto também se aplica aos Sociais-democratas e ao Reichsbanner!» - transcrito dum site da Net sobre a Segunda Grande Guerra

Reichsbanner: uma força paramilitar instituída durante a República de Weimar em 1924. Começou por ser uma organização multipartidária, mas tornou-se num ramo do SPD/Partido Social Democrata da Alemanha (Wikipédia)

Desta forma foi fácil ao partido nazi obter 44% dos votos, na votação desse Domingo 05 de Março, os quais, com o apoio do Partido Popular Nacional Alemão, puderam contar com uma maioria de 52% no Bundestag. Para governar normalmente, era uma maioria confortável. Isso se Hitler tivesse no seu horizonte um governo normal. O que nem por sombras.

Para os seus objectivos, essa maioria não era suficiente para a aprovação da Lei de Plenos Poderes a conceder ao chanceler (Hitler), que o mesmo é dizer poderes ditatoriais.
Para esta era necessária uma maioria qualificada de dois terços.

Claro que para os nazis isso era uma questão de somenos, facilmente ultrapassável: recorreram ao suborno e ameaças aos demais partidos, conseguindo ver aprovada a Lei que conferia a Hitler o poder de governar por decreto e de suspender direitos e liberdades fundamentais.

O partido nazi - Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) - foi um partido político levado ao poder na Alemanha por Adolf Hitler em 1933. O NSDAP foi o partido único (como um governo ditatorial requer) na Alemanha Nazi, desde a queda da República de Weimar em 1933 até o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, quando foi declarado ilegal e seus líderes presos e julgados por crimes contra a humanidade nos Julgamentos de Nuremberg. (Wikipédia)

O Partido Popular Nacional Alemão era um partido de extrema-direita
que existiu durante a República de Weimar (de 19 a 33). (id)

O incêndio do Reichstag foi generalizadamente visto como um evento crucial para a fundação da Alemanha Nazi. Claro que conforme aludiu Hersch Fischler, o autor dum artigo intitulado «O estopim da escalada nazi» no site História Viva, o incêndio do Reichstag foi uma artimanha de Hitler para tomar o poder.

Recordo que quando o quartel de Bombeiros de Berlim foi alertado para o facto de Parlamento estar em chamas, quando os “soldados da paz” ali chegaram o incêndio, que começara na sala de sessões, já rapidamente se alastrara, e à sua chegada e da polícia uma explosão destruiu a Câmara dos Deputados.

Historiadores, porém, divergem quanto a saber se Van der Lubbe agiu, se o fez sozinho ou se os nazis estavam envolvidos.
A verdade é que a responsabilidade pelo incêndio do Reichstag permanece um tema de debate em curso e de investigação.

«Durante muitos anos, fora da Alemanha considerou-se que o incêndio que destruiu parte do Reichstag teria sido provocado pelos próprios nazis como uma manobra de propaganda que os ajudasse a derrotar os comunistas e os outros partidos de esquerda. No entanto, provas descobertas mais tarde provaram que foi o holandês Marinus van der Lubbe que havia provocado o incêndio sozinho, tendo Hitler usado tal facto como pretexto para lançar uma campanha contra os comunistas.» - Id site acima referido acerca da Segunda Grande Guerra

E realmente, como já foi dito, no dia seguinte ao do incêndio, sob o pretexto de uma ameaça de complô de esquerda, Hitler insistia junto do presidente Hindenburg que assinasse um decreto que abolisse todas as liberdades fundamentais da República. Nos dias que se seguiram, milhares de adversários dos nazis encheram as prisões. A imprensa socialista e comunista foi proibida. A Gestapo e a milícia paramilitar das SS tinham plenos poderes. «O incêndio do Reichstag, de alguma forma, foi o acto fundador do III Reich, e escancarou as portas do poder para Hitler»

No fim da Primeira Guerra Mundial, «instaurou-se na Alemanha a República de Weimar, tendo como sistema de governo o modelo parlamentarista democrático. O presidente da república nomeava um chanceler, que seria responsável pelo poder Executivo. Quanto ao poder Legislativo, era constituído por um parlamento [Bundestag]. O governo republicano alemão enfrentava uma série de dificuldades para superar os problemas sociais e económicos gerados pela guerra. O Tratado de Versalhes impunha à Alemanha uma série de obrigações extremamente duras. Mesmo retomando o desenvolvimento industrial, o país sofria com o elevado índice de desemprego e altíssimas taxas inflacionárias. Entusiasmados com o exemplo da Revolução Russa, importantes sectores do operariado alemão protestavam contra a exploração capitalista. Em Janeiro de 1919, importantes líderes comunistas, como Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht promoveram a insurreição do proletariado alemão contra o regime capitalista. Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht foram assassinados por um grupo de oficiais de direita. A burguesia alemã temia a expansão do movimento socialista e passou a [dar] apoio a um pequeno partido liderado por Adolf Hitler.» - Fonte: site Netopédia/Tripod

Nascido na Áustria, Hitler (1889-1945), em 1913, emigrou para Munique. No ano seguinte alistou-se como voluntário no Exército alemão.

Terminada a guerra, e derrotada a Alemanha, Hitler voltou para Munique, e em Setembro de 1919, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores Alemães, acabado de ser fundado.

Em 1920, esse partido passou a designar-se por Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o partido NAZI – correspondendo esta sigla às iniciais do nome do partido em alemão.
Não tardou que Hitler se tornasse o supremo líder do partido. Em 1923, Hitler tentou organizar uma rebelião contra o governo, mas foi imediatamente reprimido pelas respectivas forças e condenado à pena de prisão.
Durante os oito meses em que esteve preso, Hitler escreveu parte do livro Mein Kampf. O livro foi um campeão de vendas, que, em 1940, atingia a respeitável cifra de seis milhões de exemplares. Cumprida a pena e libertado, Hitler dedicou-se à estruturação e implantação do Partido Nazi.
A difusão do partido ficou a dever-se ao talento oratório de Hitler, ao poder das publicações do partido e ao uso de meios espectaculares influenciadores da opinião pública.

Von Hindenburg foi eleito presidente da República de Weimar em 1925, mas não conseguiu superar as dificuldades que encontrou. A grave crise do capitalismo de 1929 arruinou ainda mais a situação alemã, corroborando a vitória nazi no parlamento alemão. “A alta burguesia pressionou o presidente a convidar Hitler para o cargo de chanceler.” O partido de Hitler prometia uma solução para a crise do sistema capitalista.
Hitler assumiu o cargo de chanceler em 30 de Janeiro de 1933. Era altura de ir mais longe. E então os nazis lançam mão dos métodos da mais brutal e despótica violência.
Foi nesta altura que grupos nazis “incendiaram secretamente a sede do parlamento alemão” (faz hoje 79 anos), tirando desse evento todo o partido de que já se falou mais acima. Como foi então que ocorreram as aludidas eleições do DM 05.03.1933. A partir da vitória (alcançada já sabemos com que métodos) dessas eleições, Hitler conseguiu que o presidente Hindenburg decretasse a dissolução do parlamento alemão. Então, o poder Legislativo passou a ser exercido pelo Executivo.
O uso da violência contra os inimigos do nazismo «ficava a cargo principalmente da Gestapo (polícia secreta do Estado), dirigida pelo sanguinário Heinrich Himmler.» A propaganda de massas era «conduzida por Joseph Goebbels, que exercia severo controlo sobre as instituições educacionais e sobre os meios de comunicação. Os professores e profissionais de comunicação somente estavam autorizados a dizer aquilo que os nazistas queriam ouvir. Goebbels tinha o seguinte princípio: Uma mentira dita cem vezes torna-se verdade.» (Agora perceberão, alguns, qual a génese da táctica de certos políticos dos nossos dias). É também então, em Dezembro de 1933, que o Partido Nazi se transforma no partido único do Estado alemão. E «nove meses depois, com a morte do presidente Hindenburg (Agosto de 1934), Hitler assumiu a presidência do país. Exercendo total controlo sobre a sociedade alemã, o governo de Hitler dedicou-se à reabilitação económica do país. Mereceu atenção especial a indústria de armamentos de guerra. Desrespeitando as proibições do Tratado de Versalhes.» - Vários passos do citado site Netopedia/Tripod

Voltando ao assunto da efeméride hoje lembrada:
«Nos anos 50, a tese da culpa dos nazis e da inocência do jovem holandês voltou a tomar consistência. Mas prova alguma permitia sustentá-la. O historiador Richard Wolff, oficialmente encarregado de esclarecer o caso, não se pôde  pronunciar de forma definitiva: segundo ele, os documentos referentes ao processo tinham sido perdidos. Mas, no Outono de 1959, houve um facto novo. A revista Der Spiegel, de Hamburgo, publicou uma série de artigos assinados pelo historiador Fritz Tobias, reforçando a tese de que Van der Lubbe era o único incendiário do Reichstag. Inocentava os nazis e, extensivamente, os comunistas. No segundo artigo, o dr. Zirpins, que havia interrogado o réu em 1933 e fora promovido à directoria da polícia judiciária de Hanôver em 1951, confirmava essas informações. Rudolf Augstein, director da Spiegel, por sua vez, concluía que pouco importava saber quem fora o autor do incêndio. O "cínico golpe de mestre" dos nazis foi, segundo ele, ter sabido explorar o caso o tempo todo.      
Essa tese prevaleceu por muito tempo, embora fosse negada por um grupo de historiadores liderados pelo suíço Walther Hofer e pelo servo-croata Edouard Calic, que publicaram, nos anos 70, documentos vindos de Berlim Oriental questionando a culpa exclusiva de Van der Lubbe. Fritz Tobias, que em 1962 escrevera um livro a partir de seus artigos, acusou-os de utilizar fontes falsificadas, e eles não ousaram inquiri-lo judicialmente. Além disso, Tobias recebeu o aval do historiador Hans Mommsen, em 1964.» - Cit História Viva e cit autor

Na verdade, ninguém podia restabelecer os factos, porque os processos da polícia do Reich e do Supremo Tribunal de Leipzig tinham sido desviados pelos soviéticos em 1945 e levados para Moscovo. Supunha-se que os processos tivessem sido devolvidos à Alemanha Oriental somente nos anos 50. A verdade é que, segundo se apurou depois, os soviéticos restituíram esses processos, somente em 1982, aos arquivos do Partido Comunista da Alemanha Oriental, onde permaneceram inacessíveis. Alcançada a reunificação da Alemanha, eles foram remetidos ao departamento dos arquivos federais de Potsdam, que os declarou autênticos e os colocou à disposição dos historiadores no início de 1993. «Deles se conclui que Marinus van der Lubbe não podia ter sido o incendiário do Reichstag e que o roteiro desse drama foi escrito da primeira à última linha pelos nazis. Hofer e Calic já haviam provado que Van der Lubbe não podia ter incendiado sozinho aquele imenso edifício». Segundo eles, «Van der Lubbe teria sido drogado e conduzido, contra sua vontade, ao Reichstag». Por outro lado, as reconstituições provaram que o pretenso culpado não conhecia o prédio nem o local onde se iniciou o incêndio. Foi tudo inventado e manipulado pela feérica e diabólica imaginação dos nazis – concluía o cit autor no cit artigo.

Também de sublinhar é o seguinte facto: «na tarde de 27 de Fevereiro, portanto antes do incêndio, o conselheiro Rudolf Diels, a quem Goering confiara a directoria da polícia, havia implantado um dispositivo que permitia a prisão de líderes políticos socialistas e comunistas alemães. Essas detenções foram apresentadas por Tobias e Zirpins na Spiegel como uma reacção ao "atentado". Na realidade, tudo prova que eles estavam preparados havia tempo.» - Id, Id

Além do mais, os pareceres da polícia confirmavam que o bando de incendiários era composto por nazis e seus aliados. «Von Papen, o líder dessa acção, teria desempenhado um papel muito mais activo do que se pensava na própria ascensão de Hitler.» - Id, Id

Em suma, «um despacho da Agência France Presse, de 15 de Abril de 1999, informa que aquele incêndio criminoso foi "perpetrado em circunstâncias jamais esclarecidas". No entanto, o enigma já estava resolvido. A revelação histórica, que coube ao historiador de Düsseldorf Hersch Fischler, não recebeu até aquele momento a relevância que merece. O processo do jovem anarquista holandês perante o Tribunal de Leipzig foi orquestrado nos bastidores por Hermann Goering, responsável pela polícia política. Goering organizou o incêndio, executado por um bando de nazis, a fim de criar um pretexto para abolir as liberdades públicas e instaurar a ditadura.» - mesmo artº de História Viva e mesmo autor

Após 1933 e durante os doze anos do Terceiro Reich (33-45) o parlamento reunia-se no edifício Krolloper, uma antiga ópera, e não no Reichstag, por três razões: porque este ficou muito arrasado pelo fogo, porque foi usado para fins de propaganda e, durante a Segunda Guerra Mundial, esteve ao serviço de intuitos militares.
O edifício foi danificado também por ataques aéreos durante a Segunda Grande Guerra. E durante a Batalha de Berlim, em 1945, foi um dos alvos principais do Exército Vermelho, pelo seu valor simbólico.  

Na sequência da II Guerra Mundial, da partilha de Berlim e da divisão da Alemanha, ou seja, durante o período da Guerra Fria, o Reichstag ficou na zona Ocidental da capital, mas a curta distância da fronteira com a zona Oriental, onde seria erguido o célebre Muro de Berlim, em 1961, o qual viria a ser demolido 28 anos depois, em 1989.

Durante o “Bloqueio de Berlim”, uma multidão de berlinenses ocidentais reuniu-se defronte do Reichstag em 9 de Setembro de 1948, ocasião em que o presidente da Câmara de Berlim, Ernst Reuter, proferiu um discurso que viria a tornar-se famoso e que concluía com a frase Ihr Völker der Welt, schaut auf diese Stadt! ("Vós povos do mundo, olhai para esta cidade!").

O “Bloqueio de Berlim” foi decretado por Estaline, entre 24 de Junho de 1948 e 11 de Maio de 1949, e consistiu no corte de todos os acessos terrestres à zona ocidental da cidade e paralisando também toda a indústria, numa tentativa para impedir os restantes aliados (EUA, França e Reino Unido) de unificarem a parte ocidental da Alemanha. As tropas britânicas e americanas reagiram, montando uma extraordinária operação aérea de abastecimento da cidade durante os 321 dias de cerco. Em Maio de 1949 o Bloqueio foi levantado, mas a ponte aérea continuou até Setembro.
O “Bloqueio de Berlim” foi, pois, uma das maiores crises da Guerra Fria.

Após a Segunda Guerra, o Reichstag, em ruínas, deixou de ser usado, já que a capital da Alemanha Ocidental se mudou para Bona em 1949.
Em 1956 foi decidido que o edifício do parlamento não deveria ser demolido, mas sim restaurado. Mas então a restauração foi parcial.
Até 1990, o edifício foi usado apenas para encontros ocasionais e para uma exposição permanente sobre a história alemã.
E, exactamente nesse ano de 1990, a cerimónia oficial da Reunificação Alemã realizou-se aí, em 3 de Outubro, data em que o território da antiga República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental) foi incorporado na República Federal da Alemanha (RFA ou Alemanha Ocidental). No dia seguinte, o novo parlamento alemão (Bundestag) reuniu-se simbolicamente no edifício.
Após a Reunificação e com o regresso do governo alemão de Bona para Berlim, o Reichstag foi reinaugurado em 19 de Abril de 1999 como sede do Parlamento.
Nos seus mais de cem anos de história, o Reichstag foi a sede de governo em duas grandes guerras.
Foi em 1992 que foi decido que o Reichstag deveria ser reconstruído e escolheu-se então o projecto de Norman Foster, um renomado arquitecto inglês, conhecido mundialmente pelo seu estilo ousado. Em 1995, o casal de artistas Christo e Jeanne-Claude

(que tiveram a particularidade de terem nascido no mesmo dia – 13.06.1935 -, ela em Marrocos, ele na Bulgária, que se conheceram em Paris em 1958, unindo desde então as suas vidas – tendo ela já falecido em 2009 - e formando parceria em obras de arte pública designadamente em instalações de arte ambiental, como foi o caso da cobertura da totalidade do Reichstag, que pode acompanhar aqui em quickmotion)

atraiu milhões de visitantes com esta sua participação. A reconstrução foi um sucesso, especialmente pela reconstrução da cúpula com referência à cúpula original de 1894, em aço e vidro – que já tinha sido objecto de uma intervenção de reconstrução do arquitecto Paul Baumgarten entre 1961 e 1964. A cúpula é uma das melhores atracções para os turistas, pois está aberta a visitas e dela se tem uma vista impressionante da cidade e do plenário do parlamento.







(Nas transcrições de textos brasileiros fiz a respectiva conversão para português europeu, sem respeitar o último AO)





O autor deste blogue diz



terça-feira, fevereiro 21, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
.
ESTAMOS NA TERÇA-FEIRA DIA 21 DE FEVEREIRO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4709 do calendário chinês
Ano 5772 do calendário hebraico
Ano 1434 da Hégira (calendário islâmico)

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2012 é o
ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS COOPERATIVAS


Dia Internacional da Língua Materna (UNESCO)

.
«… vindo a reynar fez que florescessem nelle [Reyno]
com grandes aventagens todas as boas letras»
Frei Luís de Sousa acerca de D. João III
Na distante TR 21.02.1548, há 464 anos, é inaugurado o Colégio das Artes, em Coimbra, cuja fundação foi decidida em 1547.

Em Portugal reinava D. João III (15º monarca) e era seu escrivão da puridade (cargo mais importante de todos os que trabalhavam mais próximos do rei – equivalente, de certo modo, ao primeiro-ministro de hoje) Pedro de Alcáçova Carneiro, conde das Idanhas, que viria a ser vedor da Fazenda de D. Sebastião.


Com D. Fernando surgiram os Vedores da Fazenda (1370) a quem cabia a administração superior do Património Real e da Fazenda Pública.
O conceito de Fazenda Pública aplica-se, de uma maneira geral, às receitas e despesas do Estado central, bem como ao respectivo aparelho administrativo.


Rei de Inglaterra era Eduardo VI (45º) da Casa de Tudor filho de Henrique VIII (44º) e de sua terceira mulher Joana Seymour; Eduardo tinha duas meias-irmãs mais velhas, Maria I (47ª), a célebre Bloody Mary (filha de Henrique VIII com Catarina de Aragão) e Isabel (48ª) (filha de Henrique VIII com Ana Bolena), a Rainha Virgem ou Defensora da Fé, que foram deserdadas pelo rei quando Eduardo nasceu. Anos mais tarde, Henrique VIII colocou-as novamente na linha de sucessão, porém atrás de Eduardo. Joana I (46ª) foi rainha por 9 dias, por vontade de Eduardo VI que morreu sem herdeiros, nunca chegando a ser coroada e tendo sido destronada por Maria I (47ª). Todos Tudor.

Rei de França era Henrique II (40º), Dinastia de Valois.

Carlos V, era o Imperador do Sacro Império Romano Germânico, o último dos imperadores a ser coroado pelo Papa. Além de Imperador do Sacro Império Romano Germânico, foi Rei de Espanha, de Nápoles e da Sicília, dos Países Baixos e dos Romanos, Arquiduque da Áustria, Duque e Conde de várias designações. Casou com a filha de D. Manuel I, D. Isabel, e foi pai de Filipe I de Portugal (II de Espanha)

Em Espanha decorria o reinado de Carlos I (o já referido Carlos V) da Casa de Habsburgo (Casa de Áustria)

A igreja católica era liderada pelo Papa Paulo III (220). Foi este papa que montou a máquina para o combate à heresia que então grassava na Europa: elevou a cardeais homens de pulso forte; introduziu a Inquisição na Itália (1542), estabeleceu a Censura e o Index (1543), aprovou a Companhia de Jesus (1540). Foi ainda ele – Paulo III (220º) - que, graças à decisiva intervenção de Carlos V, estabeleceu a Inquisição no nosso país através da bula Cum ad Nihil Magis de 23.05.1536, ainda que com algumas restrições. Mas os abusos que, desde o início, a Inquisição portuguesa praticou, levou-o a suspender as execuções do nosso Santo Ofício. Ao que D. João III respondeu com a expulsão do núncio. Foi Inácio de Loiola que interveio como mediador, para o regresso do núncio. Com quem o nosso monarca nunca se entendeu. Foi ainda Paulo III (220º) que, em 1538, expediu a bula de excomunhão e deposição de Henrique VIII de Inglaterra. Estávamos numa época em que o papa ainda detinha um poder extraordinário sobre todo o mundo (civil) civilizado da época.


1547 foi o ano em que
- Foi instituído, em Portugal, o Tribunal Apostólico, ou Nunciatura, a pedido de D. João III (16JUL). [Nunciatura no sentido de missão diplomática do Vaticano (embaixada) só surge em finais do séc. XVII, em 1692, com o núncio apostólico Giorgio Cornaro (1658-1722)]
- O mesmo rei conseguiu do mesmo papa, o estabelecimento definitivo da Inquisição no nosso país. (Também há tristes memórias!)
- Nasceu Miguel de Cervantes.

1548 foi o ano em que
- Nasceu (em Nola, perto de Nápoles) o dominicano Giordano Bruno (conhecido também como Nolano ou Bruno de Nola), teólogo e pensador italiano que enfrentou abertamente os credos e dogmas (“verdades indiscutíveis”) da igreja católica, pela qual viria a ser condenado, por heresia, à morte na fogueira, por Clemente VIII (231º), e a ser executado (17.02.1600, com cerca de 52 anos). “Bruno é considerado um pioneiro da filosofia moderna, tendo influenciado decisivamente o filósofo holandês Baruch de Espinoza e o pensador alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz” (Wikipédia, a enciclopédia livre).
.


O mais importante colégio da época foi sem dúvida o Colégio das Artes, de Coimbra, criado em 1547, onde se realizava o ensino preparatório que dava acesso à Universidade, convertido no século XIX em Liceu. (Imagem da Internet)

Em 1547, e “em virtude de se terem sido detectadas deficiências na preparação dos alunos na Universidade, resolve-se criar um colégio semelhante ao de Stª. Barbara, em Paris e ao de Guiana, em Bordéus, onde tradicionalmente os estudantes portugueses iam estudar, dotando-o de um notável grupo de professores. Surge assim, o célebre Colégio das Artes ou Colégio Real das Artes e Humanidades de Coimbra, onde se ensinava as matérias básicas do ensino secundário da época: gramática, língua latina, portuguesa, grega, e elementos de história e geografia e matemática elementares. Seguiam-se os estudos de retórica e humanidades. No final vinham os estudos filosóficos”. [Transcrito de Carlos Fontes, site “Navegando na Educação”].

A ideia (projecto) deste Colégio nasceu em 1547, da necessidade de ministrar em Coimbra cursos com que se pretendia melhorar e renovar o ensino no nosso país dentro do tradicional cunho humanista mas de sentido mais laico, distinguindo-o das mais instituições congéneres.

André de Gouveia, que trazia uma experiência pedagógica de Bordéus, foi director do Colégio durante muito tempo, e com ele trouxe dali um grupo de docentes, o dito grupo de “bordaleses” que rivalizava com o grupo mais ortodoxo e instalado dos “parisienses”. A luta entre os dois grupos acirrou-se tanto mais quanto a política de D. João III, de protecção da Igreja e da sua doutrina, se tinha radicalizado com a instituição da Inquisição.


O já aludido escrivão da puridade, de então, Pedro Carneiro, a propósito do “estabelecimento do tremendo tribunal da Inquisição” e “apesar da sua influência junto do monarca, [confessava que] nada podia contra o fanatismo de D. João III, que a esse respeito era intransigente”  [apud Portugal - Dicionário Histórico ol; artigo transcrito por Manuel Amaral]

.
E foi destarte que o Santo Ofício encontrou no Colégio um rico potencial de perseguição e detenção de professores acusados de tendências protestantes.
A explicação era simples: enquanto os integristas (o grupo dos “bordaleses”) preconizavam uma maior abertura cultural e religiosa, os “parisienses” defendiam que tal abertura era incompatível com a ortodoxia.

Falecido André de Gouveia sucedeu-lhe no cargo Diogo de Gouveia. Mas a situação não melhorou reacendendo-se as velhas querelas entre os dois grupos, continuando os “bordaleses” a serem vítimas da Inquisição. E Diogo de Gouveia foi demitido.

O Colégio, projecto de 1547, sob a designação de Colégio das Artes ou Colégio Real das Artes e Humanidades de Coimbra, iniciou funções em 1548, em instalações provisórias no Colégio de Todos os Santos e de S. Miguel, próximo de Sta Cruz, na “baixa” coimbrã.

“O ambiente que se vivia - implantação da Inquisição, actividade do Santo Ofício, adopção das medidas do Concílio de Trento - isolou a acção do Colégio das Artes com dificuldades em manter a continuidade dos projectos culturais mais avançados”, acabando por ser entregue aos Jesuítas (1555).
Sob a direcção dos padres da Companhia de Jesus, o Colégio “entra em conflito com a Universidade relativamente à concessão de graus académicos”, transformando-se num instrumento da Contra-reforma e acabando por perder a sua autonomia, o que conduziu à sua extinção.
[Infopédia, a Enciclopédia online da Porto Editora]

É claro que só os filhos de famílias abastadas ou os que conseguiam bolsas régias, podiam usufruir desse privilégio de preparar a entrada na universidade num desses colégios, cuja qualidade de ensino era reconhecida em todos os países. “O colégio criado por D. João III, foi dotado de um grupo de professores de grande qualidade nas áreas do ensino ministrado, destacando-se a gramática, o latim, o português, o grego, a história, a geografia e a matemática elementares, matérias básicas do ensino secundário de então” Após o que se seguiam os de retórica e humanidades, e depois os estudos filosóficos [Apud site de Manuel Cordeiro, Professor da UTAD/UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO].

Após o seu funcionamento em instalações provisórias na “baixa” de Coimbra, “o Colégio das Artes foi construído (...) como parte integrante do conjunto jesuítico da Alta de Coimbra, a par do vizinho Colégio de Jesus. O novo complexo, de grandes dimensões, pretendeu estabelecer a influência da Companhia sobre a Universidade situando-se no ponto mais alto da colina universitária. O Colégio das Artes, dotado de igreja própria e sala de actos, hoje desaparecidas, albergava aulas para o ensino das Artes, preparatório dos estudos maiores das Faculdades. Em 1885 foi alvo de um projecto de remodelação e adaptação à nova função hospitalar, realizado pelo Prof. Costa Simões (...)” [Site “dARQ/Departamento de Arquitectura da FCTUC”]

A primeira universidade portuguesa foi instituída em Lisboa,
por diploma régio de D. Dinis (6º), com data de Leiria, 01.03.1290.
É uma das mais antigas da Península Ibérica.
A bula da sua confirmação papal é de 09.08 do mesmo ano,
assinada em Orvieto por Nicolau IV (191º).
Foi transferida para Coimbra 18 anos mais tarde, pelo próprio D. Dinis, em 1308. Em Coimbra fica durante os 69 anos seguintes, até 1377,
e neste ano volta a Lisboa até 1537 (160 anos),
regressando, então, definitivamente a Coimbra nesse ano.
[A J Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, Parte I e II, Gradiva/Público, 1996, pg 119]

A transferência para Coimbra logo em 1308, pelo fundador,
deve-se ao facto de a cidade do Mondego ser, já então,
uma cidade com velhas tradições escolares,
pois aí funcionava desde há muito
uma distinta e reconhecida escola de frades agostinianos,
no Mosteiro de Santa Cruz.
.

Nota:
As actuais Universidades de Lisboa e do Porto foram fundadas por decreto de 24.03.1911, do Governo Provisório da República, chefiado por Teófilo Braga.

.
Em 1537, no reinado de D. João III, dá-se a transferência definitiva da universidade para Coimbra e para o velho Paço da Alcáçova, acompanhada da reforma dos estudos e do ingresso de novos docentes, não só portugueses como estrangeiros. Data também desta altura a fundação de uma rede de colégios, muitos deles ligados às ordens religiosas, que tinham funções de pensionato, assistência e ensino, dos quais se encontram ainda alguns vestígios arquitectónicos na "Alta" e na Rua da Sofia. O mais importante destes colégios - com uma estrutura diferente de todos os outros - é o Colégio das Artes, que começou a funcionar em princípios de 1548. Em termos de orgânica pedagógica, ele significava um centro de ensino preparatório para a entrada nas faculdades, com funcionamento independente da Universidade, embora a ela acabasse por se ligar, e significava também que Portugal se colocava ao lado de outros países da Europa no campo do ensino das humanidades, pois o Colégio das Artes, delineado segundo os princípios do Humanismo Cristão, adquiriu algum relevo. André de Gouveia, que orientou colégios em Paris e Bordéus e que Montaigne haveria de elogiar, foi quem primeiro o dirigiu e nele leccionaram então mestres ilustres. Mas foi efémero o sentido renovador que a Universidade e o Colégio das Artes chegaram a alcançar. A Contra-Reforma, sentida em Portugal com particular ressonância, acabou por determinar uma viragem em direcção à defesa dos valores considerados "ortodoxos", atacando assim as tentativas de inovação. Desta forma, após ainda um momento brilhante no âmbito dos estudos teológico-filosóficos de sentido tomista, assinalado pela formação de um escol conhecido pelo nome de "conimbricenses" e, depois, durante o domínio filipino, pelo magistério de alguns espanhóis famosos, entre os quais se destaca o nome de Francisco Suárez, que aqui publicou alguns dos seus escritos mais notáveis, a Universidade de Coimbra, esgotadas as potencialidades escolásticas, vai entrar numa longa crise cultural. [Nota Histórica, Prof. Doutor Luís Reis Torgal, site da UC]

“A importância que o poder monárquico dava ao Colégios das Artes está evidenciada no Alvará de 13 de Agosto de 1561, durante a regência de D. Catarina, que instituiu que “ninguém pudesse matricular-se nas Faculdades de Direito da Universidade de Coimbra, sem apresentar certidão do Colégio das Artes, confiado à Companhia de Jesus”. [Apud cit Manuel Cordeiro].
Em terminologia actual diríamos que este alvará deu o monopólio do ensino pré-universitário aos jesuítas.

No Colégio das Artes estudou, por exemplo, durante cinco anos (dos 14 aos 19, isto é, de 1548 a 1553), o padre jesuíta espanhol (canarino) José de Anchieta, fundador da cidade brasileira de São Paulo. (O motivo da escolha dos pais de Anchieta de mandarem o filho estudar para Portugal, e não para Espanha, deve-se ao facto de ser judaica a sua ascendência e ao maior rigor, então, da Inquisição na vizinha Espanha, do que entre nós).

O Real Colégio das Artes é uma construção quinhentista, muito rica em talha e azulejaria. Tal como o seu vizinho Colégio de São Jerónimo (do séc. XVI), foi objecto de muitas intervenções, já que neles se instalou o Hospital da Universidade. Do conjunto primitivo do Colégio das Artes, restam o claustro, com colunas originais, e a capela, com o tecto pintado a fresco, configurando elementos arquitectónicos.

Refira-se, por último, o alvará de D. Maria I visando um especial regime censório para as aulas de Gramática, e de Humanidades do Colégio das Artes.
Recorde-se que em 5 de Abril de 1768 era criada a Real Mesa Censória, que D. Maria I extingue em 21 de Julho de 1787, substituindo-a pela Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros.
Depois, sim, temos o Alvará de 17 de Janeiro de 1791, do seguinte teor:
"Eu a Rainha. Faço saber aos que este Alvará virem: Que sendo servida ampliar, e regular o Plano do Senhor Rei Dom José, Meu Senhor, e Pai, que Santa Glória haja; em quanto Mandou exceptuar da Jurisdição da Real Menza da Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros as Aulas de Gramática, e de Humanidades do Colégio das Artes, e Cidade de Coimbra: Hei por bem declarar, que não só as referidas Aulas, mas as de todos os Primeiros Estudos da Comarca de Coimbra, sejam daqui em diante da Inspecção, e Provimento do Reformador Reitor da Universidade; que procederá a eles com os Exames, e Votos dos Professores do Colégio, e com os dos Lentes das outras Faculdades, que lhe parecer ouvir sobre a Criação, e Conservação das Cadeiras, que já houver, ou se pretender que haja no Distrito. E Ordeno, e Quero que por este mesmo Alvará fique pertencendo à Arrecadação do Subsídio Literário da dita Comarca de Coimbra a Ordem do mesmo Reformador Reitor, e de seus Sucessores; para se empregar nos ditos Primeiros Estudos; principalmente nos que vão estabelecer-se no mesmo Colégio das Artes; que cederão em benefício, não só da Comarca, mas de todo o Reino; pela utilidade que aí poderão receber, aperfeiçoando-se nas Primeiras Letras, os que vão a freqüentar as Ciências Maiores sem os Preparatórios, que não podiam ter nas suas naturalidades"[apud Portal UNICAMP/Universidade Estadual de Campinas/S. Paulo]

E na actualidade, o que se passa: ainda existe o Colégio das Artes de Coimbra? Com que objectivos?
Com data de 02.03.2009, o Público informava que o Colégio das Artes iria aproveitar, a título provisório, as instalações da Faculdade de Letras e da licenciatura dos estudos artísticos da Universidade de Coimbra - em crónica assinada por Adelino Gomes/Público e Francisco Fontes/Lusa, intitulado: «Coimbra: Colégio das Artes para diluir territórios do artístico e ciências», em cujo lead realçavam: «Projecto inspirado nos franceses Colégio Europeu de Filosofia e Colégio de França». E num destaque inicial sublinhavam: «Existem fronteiras entre as artes, as ciências e demais saberes? A Universidade de Coimbra quer desafiar os limites territoriais através de uma instituição de estudos avançados, de ambição internacional, a funcionar no próximo ano lectivo», ou seja, no passado ano de 2010.
«O projecto inédito de Colégio das Artes, que se inspira nos franceses Colégio Europeu de Filosofia e Colégio de França, (…) será uma unidade orgânica equivalente a faculdade que pretende assumir-se como um espaço de criação científica e artística, e de intercepção de saberes» - explicavam.
«"A ideia é de interdisciplinaridade, de elo de ligação. Partindo do território das artes dialogar com saberes que não estão nesse território", revelou à agência Lusa Abílio Hernandez Cardoso, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC), e director da instituição.»
E prosseguem os jornalistas, agora quanto aos objectivos do Colégio: «A sua vocação será a reflexão científica interdisciplinar no domínio das artes e o desenvolvimento do espírito criativo em diálogo permanente com os diversos saberes cultivados na UC.»
«Segundo Abílio Hernandez Cardoso, antigo director da Coimbra Capital Nacional da Cultura, um dos aspectos inovadores do Colégio das Artes é o de potenciar aquilo que se vai fazendo nos diversos domínios do saber, rompendo com a ideia de instituição universitária "fechada no seu casulo"» - esclarecia a crónica. Que acrescentava:
«Os saberes científico-tecnológicos, da filosofia, do direito, da história, da antropologia, ou da arquitectura, poderão estabelecer elos de contacto com a reflexão artística, mas também com o exterior ao mundo universitário, com as práticas artísticas e os artistas».
«"É algo de inédito na universidade portuguesa, a articulação do trabalho de investigação e ensino estritamente académico e ligar isto à prática artística contemporânea, trazendo para aqui grandes nomes da arte nacional e internacional", sublinhou o director da instituição» - explicavam os colunistas, que prosseguiam:
«A intenção é convidar artistas a desenvolver projectos, em seminários e oficinas, no âmbito dos estudos de pós-graduação, que poderão ser dirigidos a alunos de doutoramento e mestrado portugueses e estrangeiros, bem como a artistas com currículo relevante.»
E avançava a local que «outro dos aspectos inovadores do Colégio das Artes é o de conter no seu espaço uma extensa área expositiva, com cerca de 600 metros quadrados, para mostrar a criação artística e o trabalho de produção no âmbito dos projectos académicos.» Explicitando melhor:
«Mediante um protocolo em negociação com o Museu de Serralves, serão aí realizadas exposições temporárias daquela fundação do Porto, onde os alunos poderão partir da reflexão teórica para elaborar trabalhos sobre esse acervo expositivo.»
Ou seja, «O Colégio das Artes será uma instituição "onde se pensa a arte, se faz arte e se mostra a arte", explica Abílio Hernandez Cardoso.»
Em matéria de espaço, «a nova instituição ficará albergada no rés-do-chão de um edifício quinhentista edificado para Colégio das Artes, designação que ainda hoje conserva.
Actualmente tem o seu primeiro andar ocupado com o Departamento de Arquitectura da Universidade, mas durante mais de um século albergou as enfermarias do Hospital da Universidade de Coimbra, até à sua transferência para um edifício construído de raiz nos anos 80, e o Museu da Ciência.»

«Para Abílio Hernandez Cardoso, esta é também uma forma de dignificar a história daquele edifício do século XVI, cujas obras de reabilitação poderão estar concluídas dentro de três anos, a partir de um concurso internacional para a adjudicação da empreitada, a lançar ao longo de 2009.» Isto é, espera-se que este ano essas obras de reabilitação estejam concluídas.

Voltando à ideia inicial desta crónica dir-se-á que «provisoriamente, o Colégio das Artes irá aproveitar as instalações da Faculdade de Letras e da licenciatura dos estudos artísticos, para começar com as suas duas primeiras pós-graduações, em Estudos Curadorias e Crítica de Arte e Arquitectura.»


“Curadoria”, aqui, identifica-se com o “processo de organização e montagem da exposição pública de um conjunto de obras de um artista/conjunto de artistas” [Internet]


Pode assim afirmar-se que o Colégio das artes evoluiu duma formação básica pré-universitária para uma acção complementar da formação superior, de pós-graduação.









(Fontes
Além das referidas ao longo do texto, alguns artigos dispersos da Net)






free web counters
New Jersey Dialup