segunda-feira, novembro 28, 2011



Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 28 DE NOVEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

Hoje é, ainda,
DIA NACIONAL DA ALBÂNIA


«Escravos ontem, hoje livres; ontem autómatos da tirania, hoje homens; ontem miseráveis colonos, hoje cidadãos, qual será o vil (não digo bem), qual será o infeliz que não louve, que não bendiga o braço heróico que nos quebrou os ferros, os lábios denodados que ousaram primeiro entoar o doce nome - Liberdade? (...)»
Almeida Garrett

Mural do Sinn Fein em Belfast, na Irlanda

Há 106 anos atrás, em 28 de Novembro de 1905, uma TR, em Dublin, na Irlanda, Arthur Griffith funda o Sinn Féin (nós mesmos ou nós sozinhos, em gaélico irlandês), um movimento político que defendia a independência do país. Os militantes mais radicais formaram o Exército Republicano Irlandês, o IRA, responsável por vários ataques armados.

Então, no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda reinava Eduardo VII (62), sucessor e filho da rainha Vitória, O Pacificador, da Casa de Saxe-Coburgo-Gota, bisavô de Isabel II, e primeiro-ministro era Arthur Balfour, Conservador. Eduardo VII foi o último rei da Casa de Saxe-Coburgo-Gotha, Casa que, em 1917, com Jorge V, mudou para Casa de Windsor (esta mudança de nome não se deve a descontinuidade dinástica mas sim ao sentimento anti-alemão que se vivia na Primeira Guerra Mundial)
No Império Alemão governava Guilherme II, também rei da Prússia, quando chanceler era o Príncipe Bernhard von Bülow; a posterior derrota do Império Alemão na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) levaria à abdicação e exílio de Guilherme e à queda do poder da Casa dos Hohenzollern, assim como o fim do Império Alemão.
Nos EUA decorria o mandato do 26º Presidente, Theodore Roosevelt do partido Republicano, que no ano seguinte receberia o Prémio Nobel da Paz;
Em Portugal reinava D. Carlos (33) e Presidente do Conselho de Ministros era Luciano de Castro, pela 3ª vez, do partido progressista;
Em Espanha governava o avô de João Carlos I, Afonso XIII, ambos da Dinastia de Bourbon. Afonso XIII abdicou para a implantação da Segunda República Espanhola; 
Em Itália Vítor Emanuel III (25) da Casa de Sabóia, é o 3º rei da Itália unificada e independente.
Em França decorria a Terceira República e o presidente era Émile Loubet.
No Vaticano pontificava Pio X (257º).

O irlandês, também conhecido como gaélico irlandês ou simplesmente gaélico, é um idioma falado como língua nativa na ilha de Irlanda e era a língua principal da ilha antes de os ingleses a conquistarem durante a Idade Média.

Como sabemos, a Irlanda do Norte é um dos territórios que integram o Reino Unido.
Quando o Estado Livre da Irlanda foi fundada em 1921, este passou a integrar uma parte do Ulster.
Ora o Ulster (na zona Nordeste da ilha) era o nome de uma das quatro províncias que constituíam a Irlanda, província essa por sua vez constituída por 9 condados (uma espécie de distritos). Desses 9 condados, 3 constituíram o Estado Livre da Irlanda, formando os restantes 6 a província (do Reino Unido) da Irlanda do Norte.
Ou seja: por aquele tratado de 1921, o Ulster ficou dividido entre o Estado Livre da Irlanda (mais tarde República da Irlanda) e a província da Irlanda do Norte.
Com a transformação do Estado Livre da Irlanda em República da Irlanda, em 1949, O Reino Unido conferiu maior autonomia à província da Irlanda do Norte.
Porém, a partir dos anos 60, aumenta o descontentamento dos católicos o que faz recrudescer, nos anos de 1970, os ataques armados do IRA (o Exército Republicano Irlandês), que a dada altura transbordam e alastram pela própria Inglaterra.

O braço armado do Sinn Féin existiu sob diversas formas desde 1916, e desde 1969 que adoptou a designação de Exército Republicano Irlandês Provisório, geralmente referido simplesmente como o "IRA"

Sinn Fein é um dos movimentos políticos mais antigos da Irlanda. É o partido nacionalista irlandês, de ideologia socialista e anticapitalista, a ala política do Irish Republican Army (IRA), naturalmente dividido entre moderados e extremistas.
O seu presidente, desde 1978, é Gerry Adams, cuja “força política ficou bem demonstrada em 1985, quando venceu as eleições em 17 dos 27 distritos da Irlanda do Norte”. Eleito para o Parlamento, em 1983, Gerry Adams declarou não acreditar no Governo britânico e renunciou ao lugar. Em Agosto de 1994 anunciou a cessação das operações militares do IRA, o que, realmente, não se tem verificado. Apesar disso, Adams tem sido o grande interlocutor do Governo na procura de uma solução para o conflito com o IRA.

Em causa está, desde há muito, a independência da Irlanda.
Da Irlanda do Norte, que é frequentemente mencionada como Ulster ou província do Reino Unido.
Em 1800 é assinado o Acto (Lei) da União da Irlanda ao Reino Unido. Mas tratava-se de uma união imposta pela força, dado que não existia qualquer integração da Irlanda no Reino Unido nem a nível interno nem internacional.
A forçada união nunca deixara de ter o sabor de uma subordinação, já que a igualdade nunca existira. Demais a mais, a identidade e a peculiaridade da Irlanda eram demasiado fortes para poderem assimiladas pelos britânicos. Na realidade, a questão irlandesa não é constituída apenas por problemas políticos, mas igualmente agrários e económicos. E religiosos, pois que os irlandeses são maioritariamente católicos, com, apenas, cerca de 20% de protestantes. Essa a explicação para o surgimento de uma espécie de "terrorismo agrário" e violência ocasional. Em 1845-47, dá-se a chamada "Grande Fome da Batata", que se salda em 750 000 mortos e 1 milhão de emigrantes.
Nos finais do século XIX, os Irlandeses lutam por uma Home Rule, que o mesmo é dizer por uma ampla autonomia. Mas esta é adiada pelos unionistas, bem como pela Primeira Grande Guerra, ao passo que os nacionalistas tentam aproveitar a crise mundial para forçar Londres a "abrir mão" da sua presença na Irlanda.
De finais do séc. XIX até aos alvores do século XX procede-se a uma grande reforma agrária que, apesar de tudo, não atenua nem elimina um nacionalismo cada vez mais forte e reivindicador de uma independência total, objectivos de certas instituições secretas, como o Sinn Fein.
A estes se opõem os unionistas protestantes do Norte, inimigos acirrados dos nacionalistas católicos e gaélicos do Sul.
Em 1916, dá-se a chamada "Revolta da Páscoa", com a derrota dos Irlandeses e a execução sumária de quase todos os chefes, enquanto que E. MacNeil, Eamon de Valera e W. Cosgrave são poupados e amnistiados em 1917. As eleições de 1918 saldam-se num triunfo para os nacionalistas do Sinn Fein que organizam um Parlamento independente (Dáil) e um exército (IRA).

Eamon de Valera foi um político irlandês, nacionalista e republicano, nascido em Nova Iorque, em 1882, e falecido em 1975. “Em 1919 viajou até aos Estados Unidos da América, procurando obter apoio político e financeiro para a causa da independência, missão em que teve um sucesso notável. Eleito presidente do Governo republicano, ainda na clandestinidade, veio a abandonar o cargo em 1922, por discordar dos termos do acordo (assinado em Londres por uma delegação chefiada por Michael Collins) que concedia à Irlanda um estatuto semi-autonómico mas não lhe reconhecia o direito à independência total, e para mais excluía o que é hoje o território da Irlanda do Norte.” Depois desta ruptura e de uma guerra civil que abalou as estruturas da república nascente, de Valera afastou-se do poder por alguns anos. Mas, depois de desempenhar cargos de destaque internacional (foi figura de proa na Sociedade das Nações, o que lhe granjeou grande prestígio), chefiou o executivo irlandês entre 1932 e 1937, ano em que conseguiu a independência da Irlanda. Mais, foi primeiro-ministro várias vezes, nos anos 30, 40 e 50 do séc. passado, culminando a sua longa carreira com a Presidência por dois mandatos, entre 1959 e 1973. “O seu posicionamento político francamente conservador pôde assim marcar de forma indelével a sociedade irlandesa.”

William Thomas Cosgrave (1880- 1965), sucedeu a Michael Collins como presidente do Governo Provisório da Irlanda de Agosto a Dezembro de 1922. Foi, ainda, o primeiro Presidente do Conselho Executivo do Estado Livre Irlandês, de 1922 a 1932.

Em tempos passados, os próprios elementos integrantes do movimento afirmavam ser o braço político do Exército Republicano Provisório da Irlanda, o IRA. Mais recentemente, porém, as declarações dos dirigentes do partido afirmam que as duas organizações são completamente independentes, principalmente devido a divergências nos métodos empregados pelo IRA. Hoje são duas organizações de costas quase completamente voltadas uma para a outra. O relacionamento entre o partido e o seu braço armado «continua a suscitar acusações por parte dos partidos unionistas da Irlanda do Norte (ou Ulster), que o Sinn Féin designa sempre por "os Seis Condados"».

O IRA/Irish Republican Army, organização de carácter militar, nacionalista e clandestina, “foi criado na década de 1910 com o objectivo de obter a independência da Irlanda em relação ao Reino Unido. Foi, de facto, à sua acção que se ficou a dever, em grande medida, a abertura do Governo britânico a negociações e, em consequência, a constituição do Estado Livre da Irlanda em 1921”.

Michael Collins, um destacado activista republicano irlandês que militou na causa política nacionalista que reclamava o fim do domínio do Reino Unido sobre a Irlanda, perseguido e por duas vezes preso pelas autoridades britânicas, entre 1919 e 1921 tornou-se o estratega do movimento revolucionário. E “organizou com tal sucesso a luta armada contra o ocupante que as autoridades britânicas se viram obrigadas a abandonar a sua posição de força e a encetar negociações com vista a um acordo de paz. Collins foi então escolhido, pelos seus pares, para presidir à delegação irlandesa que se deslocou a Inglaterra, vindo a assinar o tratado de paz que assegurava um estatuto semi-autonómico para a Irlanda, criando um Estado Livre na parte sul da ilha. O acordo assinado em 1921 não foi do agrado de todos os nacionalistas, provocando uma grave cisão no Parlamento irlandês, com a saída do partido Sinn Fein, liderado por Eamon de Valera”, desde 1917.
Grupos houve, contudo, que apenas admitiam a hipótese de uma independência absoluta, total, clara e imediata. Grupos, estes, que desencadearam acções violentas. É que, realmente, “o tratado assinado por Michael Collins, (...) não garantia completa autonomia à Irlanda e concedia ao Reino Unido a soberania sobre o território do extremo norte da ilha. A independência seria conseguida mais tarde, mas a Irlanda do Norte nunca haveria de se emancipar da Coroa britânica. Por isso, e de mistura com motivações religiosas, o IRA continuou a lutar, recorrendo sempre a acções de violência, designadamente atentados contra os militares britânicos colocados na Irlanda do Norte e altos responsáveis da administração do Reino Unido”.
Inevitável, desencadeou-se a guerra civil. E depois de 2 anos de guerrilha (1919-1921), em 06.12.1921 Londres reconhece o Estado Livre da Irlanda, que se torna membro do Commonwealth, mas fica sem o Ulster, protestante. No entanto, quer uma fracção do Sinn Fein, quer o IRA rejeitam tal acordo negociado por Collins, que não garantia completa autonomia à Irlanda e concedia ao Reino Unido a soberania sobre o território do extremo norte da ilha. Desencadeia-se, pois, outra guerra civil (1922-1923) durante a qual M. Collins é assassinado. Sucede-se um afastamento progressivo da Commonwealth, mas é em 1948 que a Irlanda se torna uma república, continuando, no entanto, o Ulster a pertencer ao Reino Unido. Por isso e por motivações religiosas, o IRA continuou a lutar, com o recurso a acções de violência, inclusive atentados contra os militares britânicos colocados na Irlanda do Norte e altos responsáveis da administração do Reino Unido. O Sinn Fein, o partido político nacionalista a que o IRA se encontra associado, entretanto procura uma solução pacífica para o problema, desenvolvendo negociações com as autoridades de Londres.

Collins, que se havia tornado comandante-chefe das Forças Armadas, converteu-se num moderado e conciliador, e por isso foi assassinado em 1922 pelos seus opositores.
Igualmente de pendor conservador, Valera foi, na verdade, o grande responsável pela proclamação da independência da Irlanda em 1937.
Nesse ano, “uma nova Constituição foi aprovada, decretando, não só o fim do domínio da Coroa inglesa, como a substituição do nome "Estado Livre Irlandês" pelo nome Eire, que significa em irlandês Irlanda, facto que constituiu o primeiro passo para a oficialização da República da Irlanda, o que só veio a acontecer em 1948.”
E. Valera foi, mesmo, Presidente por dois mandatos, entre 1959 e 1973.

Entre 1921 e 1940, a Irlanda do Norte foi um Estado controlado pela maioria protestante e ao sabor dos seus interesses, sendo a Igreja Católica discriminada. Nos anos 60, a frágil estabilidade da região começou a revelar rupturas, e em 1968 os católicos saíram à rua em protesto pelos seus direitos cívicos, protestos que acabaram em actos de violência.

Em 1972 o primeiro-ministro britânico suspendeu a Constituição e o Parlamento da Irlanda do Norte, tornando controverso o estatuto do território, e as tropas britânicas deslocaram-se para ali com o fim de manter a ordem. Em consequência, a violência cresceu entre a comunidade católica, que tomou a defesa da República da Irlanda, e a comunidade protestante, que pretendia continuar a pertencer ao Reino Unido.
O Norte da Irlanda e o centro de Londres tornaram-se os locais alvo mais frequentes das acções violentas, nomeadamente as do IRA.

“Em 1994, na sequência de uma declaração de cessação de actividades militares por parte do IRA, o Sinn Féin passou a encontrar-se em condições de participar no processo político destinado a conseguir a paz duradoura na Irlanda do Norte. Em 1997, uma delegação do Sinn Féin, liderada por Gerry Adams, participou finalmente nas negociações para a paz na Irlanda do Norte. Em Fevereiro do ano seguinte, o Sinn Féin foi excluído das conversações de paz, devido ao alegado envolvimento do IRA num violento atentado em Belfast. O Sinn Féin foi readmitido, em Março de 1998, e manteve-se sempre na mesa de negociações até à conclusão do acordo em Abril. Os delegados do partido aprovaram o acordo por uma larga maioria, a 10 de Maio”.

Apesar do anúncio do fim das operações militares do IRA, a verdade é que tal não tem correspondido à verdade. “Ainda assim, Adams tem sido o grande interlocutor do Governo na procura de uma solução para o conflito com o IRA”.

“Em Março de 2005, no seguimento do assalto ao Northern Bank e do assassinato de Robert McCarney, membro do Sinn Féin, alegadamente assassinado pelo IRA, os conservadores e os unionistas tentaram expulsar os representantes do Sinn Féin nos Comuns, mas a sua moção foi rejeitada”.
“Em 2005, o partido expulsou Denis Donaldson, quando este declarou publicamente que estava a soldo do governo britânico como agente informador desde a década de 1980 e que agências britânicas tinham sido responsáveis pela suspensão da Assembleia em Outubro de 2002, fazendo recair a responsabilidade sobre o Sinn Féin. O governo britânico nega totalmente esta versão. Donaldson foi encontrado morto a tiro a 4 de Abril de 2006.”

Decorrido mais de um século de conflito entre as duas facções políticas e religiosas, a 8 de Maio de 2007, unionistas e republicanos juntaram esforços e formaram um novo Governo conjunto da Irlanda do Norte. Isto, com aquela frieza (no mínimo) que sempre caracterizou as respectivas relações e sem, sequer, a tentativa de um aperto de mão perante as câmaras da tv. Os líderes do Governo são Ian Paisley, do Partido Democrático do Ulster, e Martin McGuinness, do Sinn Féin (partido republicano).

Ian Paisley é um dos mais destacados elementos que se encontravam do outro lado da barricada. Tornado pastor da Igreja Batista, viria a ser um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Livre.
Em meados da década de 60 do século XX, destacou-se por se opor ao regime unionista irlandês, acusando-o de trair os interesses dos protestantes da Irlanda do Norte. Nomeadamente, contestava o afastamento em relação à Grã-Bretanha.




O filme Michael Collins, realizado por Neil Jordan e protagonizado por Liam Neeson, recordou, em 1996, o seu percurso pessoal e político como um dos mais marcantes da Irlanda do nosso tempo.






(As fontes desta postagem são as habitualmente referidas: diversas entradas da Infopédia, a Enciclopédia online da Porto Editora; da BU/Biblioteca Universal, a Enciclopédia online da Texto Editora; da GEPB/Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira; da Wikipédia, a enciclopédia livre; além de alguns artigos dispersos da Net)






segunda-feira, novembro 21, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.


ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

Hoje é, ainda,
DIA MUNDIAL DA TELEVISÃO
e
DIA MUNDIAL DA MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DAS ESTRADA



Não é uma perspicácia superior que faz os homens de Estado,
é o seu carácter.
Voltaire




Voltaire com 24 anos,
por Nicolas de Largillière




Foi no DM 21.11.1694, há 317 anos, que nasceu Voltaire, escritor e filósofo francês.

No seu país natal reinava Luís XIV (46) O Rei-Sol, da Dinastia de Bourbon, também Luís III de Navarra. Luís XIV governou sem um ministro principal (Chefe Ministerial, que era a designação que tinha aí, então, o cargo correspondente ao de primeiro-ministro) nos anos mais tardios de seu reinado (1683 a 1715), mas o cardeal Mazarino (nomeado cardeal sem nunca ter sido padre; herdeiro na função, do cardeal Richelieu) e Colbert foram, antes, seus primeiros-ministros.
Em Inglaterra reinavam Maria II (53) e seu marido Guilherme III (54) da Casa de Stuart que governou sozinho após a morte de Maria II. Foi também Guilherme II da Escócia e Guilherme III, Príncipe soberano de Orange.
Em Portugal, por essa altura, governava D. Pedro II (23), cujo cognome era O Pacífico, pese embora tenha “roubado” o trono e a mulher a seu irmão, D. Afonso VI (22), ao qual levantou um bárbaro e escandaloso processo, a quem mandou prender e ao qual sucedeu, ambos da Dinastia de Bragança.
O Sacro Imperador Romano-Germânico era Leopoldo I (38) da Casa dos Habsburgo.
Rei da Espanha unificada era Carlos II (5), cognominado «El Hechizado» (O Enfeitiçado), filho de Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal) que foi o último rei da Casa dos Habsburgos/Casa d’Áustria a reinar sobre a Espanha, Nápoles e Sicília, senhor de quase toda a Itália excepto dos Estados Papais e da Sereníssima República de Veneza, e do império ultramarino castelhano, do México à Patagónia e que incluía Cuba e as Filipinas. Era, como Rei de Nápoles, da Sicília e de Navarra, Carlos V, rei titular de Jerusalém e Rei da Sardenha e dos Países Baixos, duque de Milão, conde da Borgonha e conde do Charolais. Somente. Não esqueçamos que a Espanha desses idos era o tal país onde o Sol nunca se punha!
(Uma curiosidade: Os sucessivos casamentos consanguíneos entre os Habsburgos, dada a sua convicção de que deveriam manter o seu sangue puro, produziram uma tal degenerescência que Carlos acabaria por nascer raquítico, quase louco, impotente e com outras doenças como epilepsia - além de possuir o célebre maxilar proeminente dos Habsburgos - uma afecção chamada de prognatismo mandibular - característica da interconsaguinidade familiar. Foi ainda conhecido pelo cognome o Amaldiçoado. Morreu a 5 dias de completar os 39 anos).
Na suprema direcção da Igreja católica estava Inocêncio XII (242º). Foi este papa que, a pedido de D. Pedro II, beatificou Santa Joana Princesa (filha de D. Afonso V e irmã de D. João II), reconhecendo o culto que já então lhe era prestado em Portugal.

Voltaire era o nome literário de François-Marie Arouet, que foi escritor, ensaísta, deísta (adepto da concepção filosófico-religiosa, muito divulgada no período iluminista, que admite a existência de Deus como criador de todas as coisas, mas nega a Sua intervenção no mundo, regulado por leis inalteráveis, e rejeita a revelação religiosa, aceitando, todavia, a imortalidade da alma – cfr dicionário da Porto Editora) e filósofo iluminista francês.
É uma entre tantas destacadas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores importantes da Revolução Francesa e até da Americana.
Pode mesmo com propriedade dizer-se que ele foi a personificação do iluminismo do séc. XVIII.

A maioria dos autores não está de acordo com a delimitação temporal do iluminismo, mas muitos situam o seu início no séc. XVIII, que já consolidara a denominação de Século das Luzes. Quanto ao seu termo é geralmente assinalado no início das Guerras Napoleónicas.
A noção de iluminismo varia consoante as tradições filosóficas, sociais, políticas, temporais, regionais e de matiz religioso ou intelectual que lhe estão na base. Immanuel Kant (1724-1804), um dos mais conhecidos expoentes do pensamento iluminista, define o iluminismo - um dos mais importantes e prolíferos períodos da história intelectual e cultural ocidental -  assim: "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutela que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direcção de outrem. É-se culpado da própria tutela quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direcção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".
Acerca do Iluminismo podemos, ainda, encontrar na Biblioteca Universal (a Enciclopédia da Texto Editora) a seguinte noção: “Movimento intelectual europeu que atingiu o seu auge no século XVIII. Os pensadores iluministas acreditavam no progresso social e nas capacidades libertadoras do conhecimento racional e científico. Eram frequentemente críticos da sociedade do seu tempo e manifestavam-se hostis à religião, que consideravam manter a mente humana aprisionada pela superstição. As revoluções americana e francesa foram justificadas à luz dos princípios iluministas dos direitos humanos naturais. Os principais representantes do movimento iluminista foram Voltaire, Gotthold Lessing e Denis Diderot. A partir do século XVIII o movimento iluminista desenvolveu-se em Portugal personificado por José Anastácio da Cunha, Bocage, Filinto Elísio e Nicolau Tolentino, autores que dotaram o iluminismo português de um carácter mais literário do que filosófico. A grande dinamizadora da corrente iluminista foi, contudo, a Academia das Ciências de Lisboa, sendo o abade Correia da Serra o seu maior representante.

Voltaire foi um dos mais significativos nomes “do espírito, do humorismo e da espirituosa crítica tipicamente gaulesa e iluminista”. Na verdade, não obstante as rígidas leis de censura e severas punições para quem as infringisse, ele foi um franco defensor da reforma social e um polemista satírico, que frequentemente usou as suas obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo, designadamente por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da nobreza.



O Terceiro-Estado carregando o Primeiro e o Segundo Estados às costas



Em 1717 é encarcerado (pela segunda vez) na Bastilha na sequência da publicação da sátira J'ai vu, cuja autoria alguns lhe atribuem mas que, segundo outros, é de autor desconhecido. E foi aí que mudou o seu nome de Arouet para Voltaire.

Na SX 24.05.1726, após a sua libertação da Bastilha, o escritor, para escapar a uma nova prisão, refugiou-se na Inglaterra, donde regressaria a França cerca de três anos depois, em 1729.  
Esse exílio e a causa que o determinou estão na origem das suas Lettres anglaises, que o Parlamento mandou queimar (1734). E durante esses três anos conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke cujas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra.
Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões.

Voltaire destacou-se, pois, pela sua perspicácia na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa, e livre transacção de bens. Opôs-se, designadamente, à intolerância religiosa e à intolerância de opinião existentes na Europa no período em que viveu.

No fundo, foi Voltaire quem introduziu várias reformas na França, como a liberdade de imprensa, tolerância religiosa, tributação proporcional e redução dos privilégios da nobreza e do clero. Mas também foi precursor da Revolução Francesa, ela que instaurou a intolerância, a censura e o aumento dos impostos para financiar as guerras, tanto coloniais, quanto napoleónicas (Europa).

No campo das letras, Voltaire deixou uma obra vastíssima e polícroma, sempre polémica e comprometida, que ia da tragédia à epopeia, do romance ao ensaio e à narrativa alegórica. “O gosto do exótico, tão próprio do século XVIII, matiza a sua obra, mais como recurso crítico do que como tendência realista”.
Escritor assaz prolífero, “produziu cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfletos”.
“A crítica moral empreendida na sua obra, a sátira social por vezes violenta e o ataque frequentemente certeiro aos costumes, leis e instituições não deixam de lhe acarretar a desconfiança e até a hostilidade dos seus contemporâneos. É esse, de resto, o tributo imposto a um espírito tão brilhante como combativo. A sua vida agitadíssima foi marcada pela paixão da marquesa de Châtellet (1706-1749), espírito cultivado que deixou algumas obras e exerceu sobre o escritor poderosa influência. Voltaire permaneceu alguns anos na Prússia e mais tarde retirou-se para o Castelo de Ferney, perto da Suíça, onde passou 23 anos da sua vida, talvez o período de mais intenso labor.
Foi admitido como membro da Academia Francesa em 1746”.

Voltaire, em sua vida, também foi "conselheiro" de alguns reis, como é o caso de Frederico II, O Grande, da Prússia, “um déspota esclarecido”.
Filho de abastada família burguesa, estudou no colégio de jesuítas de Clermont onde se revelou um aluno brilhante. E frequentou, ainda, a Societé du Temple, de livres pensadores.

De entre os numerosos títulos da sua obra destaco os seguintes: as tragédias Oedipe (1718), Zaire (1732), Mérope (1743) e uma epopeia, La Henriade (1728). Contudo, é sobremaneira no romance e no conto de essência filosófica, de cariz alegórico e tom mordaz e satírico, que se distingue. São deste tipo: Micromégas (1747), Zadig (1748) e “Cândido ou o optimismo” (1759), conto filosófico em que critica as teses do filósofo Leibniz.
Além das Lettres philosophiques ou Lettres anglaises (1734), uma colecção de ensaios escritos por Voltaire baseado em suas experiências vividos na Inglaterra, onde ele contrapunha, em espirituosas comparações, a erudita, culta e progressista Inglaterra, nos seus costumes, liberdade, pensamento e prática política à, na sua opinião, absolutista, clerical e arcaica França. Como se imagina, obra logo condenada pelas autoridades.


Página de titulo da edição de 1734 das
Cartas Inglesas ou Cartas Filosóficas




Chocou ao mesmo tempo os católicos com La Pucelle (A Donzela), sobre Joana d'Arc, (1755), e os protestantes com o  Essai sur lês moeurs (1756), Mais, ainda, publicou o Dictionnaire philosophique (1764), celebrou a liberdade numa tragédia (Brutus, 1730), criticou a guerra (História de Carlos XII, 1731), os dogmas cristãos (Epístola a Urânio, 1733), as falsas glórias literárias (O templo do gosto, 1733), e o pensamento de Rousseau (em Poème sur le désastre de Lisbonne - sobre o terramoto de Lisboa de 1755 -,  em 1756).

Em 1753, depois de um conflito com o rei Frederico II, retirou-se para perto de Genebra, como já foi dito. Aí, em Fernay, onde se refugiou, deu um novo e frenético impulso à sua obra. Escreve, por exemplo, a novela Candide, ou l'Optimisme, de matriz sátiro-filosófica cuja primeira edição data de 1759, mas que segundo se diz foi escrito em três dias, em 1758, e que foi “traduzida em centenas de línguas”, designadamente em português sob o título Cândido, ou O Optimismo, sob o pseudónimo “Monsieur le docteur Ralph”. Para nós, portugueses, Cândido – como, singelamente, também é conhecido – tem o especial interesse de ser um dos temas de novo abordado por ele acerca do ainda bastante recente terramoto de Lisboa, de 1755.
Este conto picaresco é, também ele, caracterizado pelo seu género sarcástico, “bem como pelo seu enredo errático, fantástico e veloz.”
Cândido, geralmente reconhecido como a obra maior (“magnum opus”) de Voltaire, atendendo ao seu “retrato profundo da condição humana”, exerceu notória influência em diversos autores, como em Aldous Huxley, no seu Admirável Mundo Novo, de 1932, e em Orwell, no seu 1984, de 1948.




Frontispício da primeira edição de 1759,
publicada em Paris, onde se lê
Cândido, ou O Otimismo,
traduzido do alemão do Sr Doutor Ralph




Mas no seu remanso de Fernay, a meros 8 km a Norte de Genebra, Voltaire entrega-se à produção da sua obra notável, para além de Cândido: escrevendo tragédias (vg, Tancredo, 1760), contos filosóficos visando e ridicularizando os oportunistas (Jeannot e Colin, 1764), os abusos políticos (O ingénuo, 1767), a corrupção e a chocante desigualdade distributiva (O homem de quarenta escudos, 1768), denunciando, contundente, o fanatismo e o farisaísmo clerical assim como as deficiências da justiça, e celebrando o triunfo da razão (Tratado sobre a tolerância, 1763; Dicionário filosófico, 1764).
Na sua obra tão diversificada Voltaire dava preferência à produção épica e trágica, mas foi nos contos e nas cartas que ele se impôs e mais notabilizou.

“Iniciado maçom no dia 7 de Março de 1778, mesmo ano de sua morte, numa das cerimónias mais brilhantes da história da maçonaria mundial, em “as Musas”, Loja Les Neuf Sœurs, Paris, inicia o octogenário Voltaire, que ingressa no Templo apoiado no braço de Benjamin Franklin, alto dignitário da Maçonaria Americana, um dos interventores na Independência dos Estados Unidos (“founding fathers”), embaixador deste país na França nessa data. A sessão foi dirigida pelo Venerável Mestre Lalande na presença de 250 irmãos. O venerável ancião, orgulho da Europa, usou o avental que pertenceu a Helvetius e que fora cedido, para a ocasião, pela sua viúva.

Chamado a Paris, no derradeiro ano da sua vida, em 1778, foi recebido em triunfo pela Academia, de que era membro, e pela Comédie-Française, o célebre e único teatro estatal de França, em Paris, onde lhe ofereceram um busto. Esgotado, morreu no SB 30 de Maio de 1778, com uma avançada idade, a 6 meses de completar os 84 anos.

Voltaire deixa transparecer nos seus escritos uma teoria coerente, conquanto que por vezes contraditória, como é característico do iluminismo. Em matéria política sustenta o primado da lei, baseado numa acção liberal e racional, devendo, na sua perspectiva, a sociedade ser reformada pelo progresso da razão e pelo incentivo à ciência e tecnologia, pelo que atacou com veemência alguns abusos praticados pelo Antigo Regime. Contudo não era um democrata e acreditava que o comum das pessoas estava dominado pelo fanatismo e pela superstição. Donde que ele se tenha transformado num perseguidor feroz dos dogmas, sobretudo os católicos, por entender que contrariavam a ciência.
“Como filósofo, foi o porta-voz dos iluministas. Não seria exagero dizer que Voltaire foi o homem mais influente do século XVIII. Seus livros foram lidos por toda a Europa e vários monarcas pediam seus conselhos.”

O homem perseguido, preso e exilado pelas autoridades do seu país, vê, no entanto, e ainda em vida, o reconhecimento do seu elevado valor intelectual traduzido nas triunfais recepções que lhe dispensaram nesses templos da cultura francesa que são a Academia e a Comédie-Française.

E depois do seu passamento a distinção que representou a trasladação dos seus restos mortais para o Panteão de Paris, em 1791.







(Fontes: várias entradas das enciclopédias da Porto Editora – Infopédia –, da Texto Editora – Biblioteca Universal – e da GEPB/Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira; várias entradas da Wikipédia, a enciclopédia livre; Portal da História e outros artigos da Net)







segunda-feira, novembro 14, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 14 DE NOVEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

É ainda o
DIA MUNDIAL DA DIABETES. A celebração do Dia Mundial da Diabetes, tem como finalidade primária chamar a atenção das entidades oficiais, dos profissionais de saúde, da comunicação social e da comunidade em geral para a problemática da Diabetes Mellitus.    



O que a experiência e a história nos ensinam
é que nós e os governos nunca aprendemos com a história.
Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel
1825, óleo sobre tela, 290x360 mm
Alte Nationalgalerie, Berlim, Alemanha
Retrato de Friederich Hegel (1770-1831) por Jacob Schlesinger (1792-1855).
(O Portal da História - Imagem da semana)


Foi na SG 14.11.1831, completam-se, hoje, 180 anos: Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo alemão, morreu aos 61 anos em Berlim, então capital da Prússia.

Rei da Prússia era, na altura, Frederico Guilherme III da Casa de Hohenzollern. Com a dissolução do Sacro Império Romano em 1806, ele perdeu o título de Eleitor de Brandenburg, mas conseguiu incorporar seus territórios em Brandenburg ao Reino da Prússia. Apesar de perdas nas guerras Napoleónicas, no Congresso de Viena o território da Prússia na Alemanha foi aumentado consideravelmente, tornando-a o poder dominante no norte da Alemanha.
Presidente da Confederação Germânica era Francisco I, Imperador da Áustria (Francisco II da Germânia).
Em França reinava Luís Filipe I (55), o Rei Cidadão, da dinastia de Orleães, que abdicou em 1848 para a Segunda República Francesa; Luís Filipe I tinha, então, como primeiro ministro Casimir Pierre Périer.
No Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda governava Guilherme IV (60) da Casa de Hanôver e primeiro-ministro era Charles Grey, do partido Whig.
Nos EUA decorria o mandato do 7º Presidente, Andrew Jackson, do partido  Democrata.
Em Portugal decorria o curto reinado de D. Miguel (30), O Absolutista e primeiro-ministro era o 1.º conde de Basto José António de Oliveira Leite de Barros.
Em Espanha reinava Fernando VII (11) da Dinastia de Bourbon.
Sumo Pontífice Romano era Gregório XVI (254º). Aquando das lutas políticas entre liberais e absolutistas, no nosso país, a Igreja, através de Gregório XVI, pretendeu tomar uma diplomática posição de isenção e de equidistância... Mas só na aparência, porque foi nítido o seu pendor a favor dos miguelistas. Mais que compreensão, dispensou-lhes meios financeiros.


O nome Prússia deriva do nome de um povo do Báltico, relacionado com os lituanos, que eram os prússios. A Prússia começou por fazer parte da Polónia, primeiro como ducado, até 1660, depois como reino, até 1772. Daí até 1871 foi um estado independente. De então até 1945 integrou a Alemanha, como um dos seus maiores estados federais. Abolida, na prática, pelos nazis, em 1934, em 1947 o seu nome é juridicamente anulado pelos aliados. No entanto, o termo continua a ser muito usado por razões históricas, geográficas e culturais. Na época do pós-guerra de 1945 o seu território chegou a ser dividido pela Alemanha (aliás, na altura, pelas duas Alemanhas), pela Polónia e pela (então) URSS. Só depois, em 1947, como dito acima, é que o seu nome foi extinto.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Estugarda, 27 de Agosto de 1770 — Berlim, 14 de Novembro de 1831) foi um filósofo alemão que iniciou a sua formação num seminário Protestante, em Württemberg, onde estudou e fez amizade com os futuros poeta Friedrich Hölderlin e filósofo Schelling, mantendo-se os três muito atentos ao rumo da Revolução Francesa e colaborantes numa crítica às filosofias idealistas de Kant e do seu seguidor, Fichte.

Para além da Revolução Francesa e de Kant, também as obras de Spinoza e de Rousseau o deixaram fascinado.

Muitos consideram que Hegel representa o auge do movimento alemão no que respeita ao idealismo filosófico do século XIX, e que a sua influência teve um impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.

É considerado, até, “o último filósofo clássico famoso, autor de um esquema dialéctico no qual o que existe de lógico, natural, humano, e divino, oscila perpetuamente de uma tese para uma antítese, e de volta para uma síntese mais rica.” - (Rubem Queiroz Cobra)

Hegel leccionou na Universidade de Jena (uma das mais antigas da Alemanha) de 1801 a 1806. Em 1816 ocupava uma cátedra na Universidade de Heidelberg (uma das mais prestigiadas também da Alemanha) e em 1818 sucedia a Fichte (Johann Gottlieb Fichte: 1762-1814) como professor de filosofia na Universidade de Berlim, cargo que ocupou até sua morte.
A primeira e a mais importante das obras maiores de Hegel é sua Fenomenologia do Espírito, publicada em 1806, mas, em vida, Hegel ainda veria publicadas a Enciclopédia das Ciências Filosóficas, a Ciência da Lógica, e os Elementos de Filosofia do Direito. Várias outras obras suas seriam publicadas postumamente, a partir de apontamentos dos seus alunos.

Relativamente à sua Fenomenologia do Espírito, Hegel “concebeu a mente e a natureza como duas abstracções de um todo indivisível: o Espírito. O seu sistema, que constitui um dos modelos do idealismo, descreve a emergência do Espírito a partir do estudo lógico de conceitos e do processo de desenvolvimento da história universal. Para ele, os conceitos desdobram-se, gerando a realidade que é descrita por eles.” Entender a realidade é entender os nossos conceitos e vice-versa, donde, no sentido de desenvolver tal conceito, ele delineou a dialéctica.

“G. W. F. Hegel é geralmente considerado como o «último filósofo da totalidade», tendo marcado o ponto mais elevado de uma ambicionada sistematização racional ao tentar integrar todos os domínios da realidade num projecto englobante que só encontra paralelo em Aristóteles e em São Tomás de Aquino.
Filósofo da nação prussiana, que hipostasiou o Estado – é outra das qualificações da filosofia de Hegel na contemporaneidade.
“Na esteira de Fichte e Schelling, o objectivo central de Hegel será o de reconciliar os dualismos remanescentes da filosofia crítica kantiana (...), que classificou como simples filosofia «do entendimento», incapaz de ultrapassar as antinomias que ela mesma evidenciara. No centro do sistema hegeliano encontra-se a ambição de superar todas as cisões, «elevando o Homem da vida finita à vida infinita», constituindo assim um projecto grandioso de organização do saber como um todo - o saber absoluto: « (...) que a filosofia se aproxime da forma da ciência - do objectivo de poder renunciar ao seu nome de sede do saber e ser um saber efectivo - eis aquilo que me propus». Com esse fim em vista, Hegel concebe o saber não como um dado mas como um processo, recusando-se a interpretá-lo isolada e independentemente da realidade efectiva. Sensível à essência dinâmica da realidade, todo o esforço sistemático será conduzido à luz da dialéctica, método através do qual pretende apreender o devir, fundamento da essência do pensamento e da realidade. A característica mais inovadora da dialéctica hegeliana é a de assimilar, de forma coerente, a negatividade inerente ao real - ou seja, as determinações contraditórias que estão na base do desenvolvimento deste - no esquema triádico a que recorre para explicar o encadeamento dos diversos momentos futuros: tese (momento afirmativo), antítese (momento negativo, de alienação, resultante da própria tese) e síntese (superação da contradição, num sentido unificador que não elimina, mas conserva, as determinações anteriores).” Será de sublinhar que a esquemática tríade da dialéctica não se pretende esgotar num mero formalismo ou artifício racional para encerrar na pura abstracção o dinamismo do real: “se, por um lado, funciona como princípio de inteligibilidade assegurando uma descrição adequada do que acontece, ele corresponde, por outro, à estrutura íntima do pensamento e da realidade, pondo em paralelismo a vida e o espírito e autorizando a identificação entre o ser que se manifesta na aparência e a respectiva essência, que se unificam no conceito. Aqui se encontra também a base para a afirmação da evolução simultânea e indissolúvel do ser e do conhecimento do ser, da experiência e da consciência. Sendo assim, a sucessão não se reveste de qualquer casualidade: todo o devir é produto de um desenvolvimento necessário no e para o espírito que progride historicamente no sentido do saber absoluto (que é, simultaneamente, auto-conhecimento), ou seja, no sentido de se reconhecer como sujeito e como substância, encontrando a identidade final entre o ser e o pensamento («todo o real é racional e todo o racional é real»). Tal é o processo que Hegel descreverá detalhadamente nas suas obras mais importantes: na Fenomenologia do Espírito, analisando o trajecto da consciência sensível individual em direcção à auto-consciência e à razão universal; na Ciência da Lógica, em que se debruça sobre a razão pura («a ideia no elemento abstracto do pensamento»), descrevendo o desdobramento desde os conceitos mais indeterminados (ser, nada e devir) até à ideia absoluta; e na Enciclopédia das Ciências Filosóficas, em sinopse, elaborando um plano sumário de todo o sistema, articulado em três grandes unidades: a «Lógica», ciência da ideia em si e para si, a «Filosofia da Natureza», ciência no seu ser-outro, e a «Filosofia do espírito», a ideia que regressa a si, depois da mediação do seu ser-outro.”

“Numa época em que o modelo de objectividade proposto pelas ciências naturais, associado a posições materialistas e empiristas, se começava a afirmar como paradigmático, o idealismo absoluto que professara condenou-o a ser visto como um pensador retrógrado que procurou reduzir toda a realidade ao pensamento, motivo pelo qual grande parte da filosofia posterior se constituiu numa cerrada crítica às suas propostas. Só muito recentemente voltaram a despertar alguma curiosidade a originalidade e as virtualidades que as suas análises encerram.”

As obras de Hegel têm fama de serem difíceis, devido à amplitude dos temas que pretendem abarcar. E Hegel, “filósofo da totalidade, do saber absoluto, do fim da história, da dedução de toda a realidade a partir do conceito, da identidade que não concebe espaço para o contingente, para a diferença” é de facto e reconhecidamente um filósofo difícil.
“Diz a anedota (possivelmente verdadeira) que, quando saiu a tradução francesa da Fenomenologia do Espírito, muitos estudiosos alemães foram tentar estudar a Fenomenologia pela tradução francesa, para "ver se entendiam melhor" o árido texto hegeliano. O facto é que sua filosofia é realmente difícil, embora isso não se deva necessariamente a uma confusão na escrita e à sua exposição.”

Hegel introduziu um sistema para compreender a história da filosofia, chamado geralmente de dialéctica: “uma progressão na qual cada movimento sucessivo surge como solução das contradições inerentes ao movimento anterior”.

Aristóteles considerava Zenão de Eleia (c. 490-430 a.C.) o fundador da dialéctica. Outros consideraram Sócrates (469-399).

Dialéctica significa "caminho entre as ideias".
Trata-se de um método de diálogo que consiste numa contradição ou oposição de ideias que conduzem a outras ideias. 
"Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão."

Digamos que o desenvolvimento de um conceito compreende três etapas às quais se dá o nome de dialéctica. Esta consiste num conceito indeterminado, dito tese - vg, um objecto no espaço - para a antítese ou conceito determinado - vg, um animal - e desta para a síntese - vg, um gato - etapas que constituem a resolução do que Hegel considera ser a contradição entre os conceitos indeterminados e determinados. Em termos lógicos, a dialéctica de Hegel é inútil, mas já se torna muito adequada na descrição do desenvolvimento social e intelectual.

Por outras palavras, os estudiosos de Hegel não reconhecem, em geral, a validade desta tricotomia, ainda que possivelmente tenha algum valor pedagógico.
Hegel utilizou-se deste sistema para explicar toda a história da filosofia, da ciência, da arte, da política e da religião, mas muitos críticos modernos assinalam que Hegel geralmente parece analisar superficialmente as realidades da história afim de encaixá-las em seu modelo dialéctico.

“Hegel dá dignidade ontológica à contradição, bem como ao negativo. Por outro lado, Hegel não queria com isso dizer que absurdos como, por exemplo, pensar que um quadrado redondo, fossem possíveis. Talvez um melhor exemplo da dignidade ontológica da contradição é pensarmos nos conceitos aristotélicos de potência e acto (um ser que é ao mesmo tempo potência e acto) ou então na concepção dos objectos como unos e múltiplos ao mesmo tempo.”

Karl Popper (1902-1994), crítico de Hegel na Sociedade Aberta e Seus Inimigos, opina que o sistema de Hegel constitui uma justificação tenuemente velada do governo de Frederico Guilherme III, e que a ideia hegeliana tem como objectivo ulterior da história chegar a um Estado que se assemelhe com a Prússia. Esta visão de Hegel como apologista do poder estatal e precursor do totalitarismo do século XX (a acima referida hipóstase do Estado) foi criticada minuciosamente por Herbert Marcuse (1898-1979), em Razão e Revolução: argumentando que Hegel não fez apologia a nenhum Estado nem forma de autoridade simplesmente porque estes existiram; para Hegel, o Estado deve ser sempre racional.
Já Schopenhauer (1788-1860) desprezou Hegel pelo seu historicismo e considerou a sua obra como pseudo-filosofia.

Após a morte de Hegel, seus seguidores dividiram-se em dois campos principais e contrários de acordo com uma já velha dicotomia: direita e esquerda (só negada pela direita envergonhada). Hegelianos de direita, discípulos directos do filósofo na Universidade de Berlim que defenderam a ortodoxia evangélica e o conservadorismo político do período posterior à restauração napoleónica. Os de esquerda vieram a ser chamados de jovens hegelianos e interpretaram Hegel num sentido revolucionário, o que os levou a se aterem ao ateísmo em matéria de religião e à democracia liberal na política. Entre os hegelianos de esquerda encontram-se o filósofo, teólogo e historiador alemão Bruno Bauer (1809-1882); Ludwig Feuerbach (1804-1872) filósofo alemão; David Strauss (1808-1874) teólogo e exegeta alemão; Max Stirner  (pseudónimo de Johann Kaspar Schmidt) (1806-1856) escritor e filósofo alemão e o mais famoso de todos, Karl Marx (1819-1883). Os múltiplos cismas nesta facção levaram, finalmente, à versão anarquista do egoísmo de Stirner e à versão marxista do comunismo.
No século XX a filosofia de Hegel experimentou um grande renascimento: tal facto deveu-se em parte por ter sido descoberto e reavaliado como progenitor filosófico do marxismo, em parte devido a um ressurgimento da perspectiva histórica que Hegel colocou em tudo, e em parte ao crescente reconhecimento da importância de seu método dialéctico. E é claro que aquele renascimento de Hegel também colocou em relevo a importância das suas principais obras: Fenomenologia do Espírito, 1806; Ciência da Lógica, 1812-1816; Enciclopédia das Ciências Filosóficas, 1817-1830 e Elementos da Filosofia do Direito, 1817-1830.

De todos os grandes filósofos, Hegel é o mais difícil de compreender. Apesar disso, a sua influência tem sido imensa: Marx e Ludwig Feuerbach (1804-1872), na Alemanha; na Grã-bretanha, os neo-hegelianos F. H. Bradley (1846–1924) e J. M. E. McTaggart (1866-1925); nos Estados Unidos, Josiah Royce (1855-1916); em Itália, Benedetto Croce (1866-1952) e, em França, Jean-Paul Sartre (1905-1980).

O Fim da História é uma teoria iniciada no século XIX por Georg Wilhelm Friedrich Hegel e que viria a ser retomada, no último quartel do século XX, no contexto da crises da historiografia e das Ciências Sociais em geral.
Essa teoria sustenta, como o nome sugere, o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança. No entender de Hegel tal aconteceria no momento, indeterminado, em que a humanidade atingisse o equilíbrio, o que significaria, segundo a sua concepção, a ascensão do liberalismo e da igualdade jurídica.
Retomada nos finais do século XX, essa teoria toma o carácter de facto consumado: de acordo com os seus mentores, a História terminou no episódio da Queda do Muro de Berlim, que significaria o fim dos antagonismos dado que a partir de então passaria a existir uma única potência - os Estados Unidos da América - e, em consequência, segundo os seu defensores, uma total estabilidade.
A ideia ressurgiu com um artigo publicado em fins de 1989 com o título de "O fim da história" e, posteriormente, em 1992, com a obra "O fim da história e o último homem", ambos do norte-americano Francis Fukuyama (1952-).

Fukuyama, que desenvolveu uma linha de abordagem da História, desde Platão até Nietzsche, passando por Kant e pelo próprio Hegel, sustentou que o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade.
Na sua óptica, após a destruição do fascismo e do socialismo, a humanidade, nessa altura, teria atingido o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes. Contra a proposta capitalista liberal, restavam apenas os vestígios de nacionalismos (sem possibilidade de significarem um projecto para a humanidade) e o fundamentalismo islâmico (restrito ao Oriente e a países periféricos).
Assim, e perante uma eventual derrocada do socialismo, o autor concluiu que a democracia liberal ocidental se consolidou como a solução final do governo humano, significando, nesse sentido, o "fim da história" da humanidade.





(Fontes, são as costumadas: diversas entradas das enciclopédias geralmente aqui usadas: Infopédia, a Enciclopédia da Porto Editora; Biblioteca Universal, a Enciclopédia da Texto Editora; GEPB/Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira; Wikipédia, a enciclopédia livre. Além de um ou outro artigo da Net)





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