quinta-feira, julho 28, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:







Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.



ESTAMOS NA QUINTA-FEIRA DIA 28 DE JULHO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico


Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

Hoje é
O DIA NACIONAL DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA




Karl Popper, filósofo austríaco das ciências exactas e humanas (imagem da Infopédia)
Completam-se hoje 109 anos (foi na SG 28.07.1902) que nasceu, em Viena, Karl Raimund Popper, filósofo britânico de origem austríaca.



Nessa altura o panorama do poder político no Ocidente era o seguinte:
No Reino Unido reinava Eduardo VII da Casa de Saxe-Coburgo-Gota, bisavô da rainha Isabel II (1952-).
Presidente da França era Émile Loubet (1838-1929).
Theodore Roosevelt, do partido republicano era, então, o 26º presidente dos EUA.
Como imperador Alemão e rei da Prússia governava então Guilherme II, da dinastia de Hohenzollern e chanceler do reino era na altura o Príncipe Bernhard von Bülow.
Reinava em Espanha o 15º monarca, Afonso XIII, avô do actual rei João Carlos - ambos da Casa de Bourbon; Afonso XIII renunciou para implantação da Segunda República Espanhola.
Na Itália decorria o reinado de Vítor Emanuel III, da dinastia de Sabóia (25º e penúltimo monarca do País)
Em Portugal reinava D. Carlos, o 33º e penúltimo monarca, de seu nome completo Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo-Gotha, filho de D. Luís e pai de D. Manuel II, a cujo reinado a proclamação da República pôs termo em 1910, como sabemos.
Prosseguia o pontificado de Leão XIII (256º). É frequente a referência ao Papa Leão XIII pelas suas doutrinas sociais e económicas, nas quais ele argumentava a falha do capitalismo e do comunismo. Ficou famoso como o "papa das encíclicas sociais". A mais conhecida de todas, a Rerum Novarum, de 1891, debruçava-se sobre os direitos e deveres do capital e trabalho. «Esta encíclica marcou o início da sistematização do pensamento social católico, chamado vulgarmente de Doutrina Social da Igreja Católica e foi um contributo para o despertar de uma esquerda católica que se via no movimento do socialismo cristão. Este documento influenciou fortemente a criação do Corporativismo e da Democracia cristã.»

Esse ano de 1902 foi aquele em que
- se criaram em Lisboa a Escola de Medicina Tropical e o Hospital Colonial;
- o príncipe do Sião (actual Tailândia) visitou Portugal;
- se instalou a iluminação eléctrica de Lisboa (iluminação pública e tentativas de extensão ao consumo particular);
- publicaram os Contos de Eça de Queirós (compilação de Luís de Magalhães);
- Sampaio Bruno publicou A Ideia de Deus;
- de Maria Amália Vaz de Carvalho saiu o livro Figuras de Ontem e de Hoje; - se suicidou Mouzinho de Albuquerque;
- se estabeleceu a Aliança Anglo-japonesa;
- as Filipinas se submeteram aos EUA;
- se realizou o Congresso Colonial em Berlim;
- M Gorki publicou A Ralé;
- André Gide deu à estampa L'Immoraliste;
- Debussy compôs Pélleas et Mélisande.
Foi neste contexto geral, político e cultural que nasceu Karl Popper.


Sir Karl Raimund Popper (Viena, 28 de Julho de 1902 — Londres, 17 de Setembro de 1994) foi um filósofo das ciências exactas e humanas.

Nascido numa família da classe alta de origem judaica, foi educado na Universidade de Viena. Concluiu o doutoramento em filosofia em 1928 e foi docente numa escola secundária entre 1930 e 1936. Em 1937, a ascensão do Nazismo levou-o a emigrar para a Nova Zelândia, onde foi professor de filosofia em Canterbury University College, Christchurch. Em 1946, foi viver na Inglaterra, tornando-se assistente (reader/leitor) de lógica e de método científico na London School of Economics, onde se tornou professor em 1949.


Foi nomeado cavaleiro da Rainha Isabel II em 1965.


Conquanto reformado da vida académica em 1969 continuou activo intelectualmente até à sua morte, em 1994, há 17 anos, com 92 anos.

A principal e mais característica teoria do pensamento de Popper é a teoria da “refutabilidade”. Segundo ela, “embora as generalizações científicas não possam ser verificadas de uma forma conclusiva, podem ser concludentemente infirmadas”, donde que “a ciência não seja um conhecimento certo, mas uma série de «conjecturas e refutações», aproximando-se progressivamente, mas nunca atingindo, uma verdade definitiva.”


Assim, “o edifício científico deve ser submetido à "testabilidade" que o possa refutar, provando que algumas das suas implicações são falsas. A cientificidade de uma teoria só é garantida se for susceptível de ser refutada” e possuir "um grau de refutabilidade". “Estamos perante o "método dedutivo de controlo". A epistemologia é assim falibilista” – não podemos jamais fazer um juízo absoluto acerca das nossas teorias -, e recusa claramente a indução como método”.


Em Karl Popper existe uma “sintonia entre o seu conceito de ciência liberal e aberta e a sua concepção política e social. As sociedades devem também afirmar-se abertas e liberais, recusando uma visão totalizadora e não refutável da realidade sociopolítica”.


Ou seja, “considerado por muitos como o filósofo mais influente do século XX a tematizar a ciência, foi também um filósofo social e político de estatura considerável, um grande defensor da democracia liberal e um oponente implacável do totalitarismo.

Sir Popper criou o termo “racionalismo crítico” para identificar a sua filosofia, o que para além de outros aspectos é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e da indução observável da ciência, que daí resulta.


Para Popper, as inferências que interessam à ciência são refutações, que tomam uma previsão falsa como premissa e concluem que a teoria que está por detrás da previsão é refutável. Estas inferências não são indutivas, mas dedutivas.


Aqui o que é de destacar é que é muito mais fácil refutar teorias do que prová-las. Um único exemplo contrário basta para uma refutação conclusiva, mas o contrário se passa quanto aos exemplos favoráveis: nenhuma quantidade de observações positivas poderá garantir que a veracidade de uma teoria científica seja eterna e imutável.


Apesar disso, alguns académicos defendem que Popper, não obstante não se ter visto como um positivista, se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva. Popper argumentou que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efectuada com base naquela teoria se verificaram. Essa teoria deverá gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não) contrariada pelos factos. O que a experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da refutabilidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade da teoria em análise. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se provou falsa e procurar uma outra teoria para explicar o fenómeno em análise. Alguns consideram este aspecto fulcral para a definição da ciência, chegando a afirmar que "científico" é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os factos. Ou seja: afirmam que só é científica aquela teoria que possa ser refutável. O que logo conduz a duras críticas quanto a esse aspecto: críticas que são inerentes à própria Filosofia que Popper propõe. E por quê? Ao afirmar que toda e qualquer teoria deve ser refutável, isso aplica-se à própria teoria da falibilidade popperiana. Portanto, a falibilidade deve ser refutável em si mesma. Diante dessa evidente necessidade - sob a pena de sua teoria ser não-universal e portanto derrogada pela sua imprecisão - poderão existir proposições em que a falibilidade não é aplicável.


De notar que a teoria da refutabilidade ou negação é fundamentalmente aplicada às ciências empíricas. Ou, como se diz mais abaixo, a teoria da refutabilidade “será a marca da ciência empírica”.

Uma das grandes divisões das ciências, em termos chãos, como sabemos, agrupa-as em ciências empíricas - baseadas na experiência vulgar ou imediata, não metódica nem racionalmente interpretadas e organizadas, como as ciências sociais e humanas – e ciências formais – as que têm existência real e efectiva, como a Lógica e a Matemática.

Hoje, verifica-se que a refutabilidade popperiana não é princípio de exclusão, mas tão somente de atribuição de graus de confiança ao objecto passível do crivo científico. Para Popper a verdade é inalcançável, todavia devemo-nos aproximar dela por tentativas. O estado actual da ciência é sempre provisório. Ao encontrarmos uma teoria ainda não refutada pelos factos e pelas observações, devemos perguntar-nos: será que é mesmo assim? Ou será que posso demonstrar que ela é falsa? Einstein é o melhor exemplo de um cientista que rompeu com as teorias da física estabelecidas. Popper debruçou-se intensamente sobre a teoria Marxista e sobre a filosofia que lhe é subjacente, de Hegel, retirando-lhes qualquer estatuto científico. O mesmo em relação à psicanálise, cujas teorias subjacentes não são falseáveis (refutáveis). O seu trabalho científico foi influenciado pelo seu estudo da teoria da relatividade de Albert Einstein. Refutabilidade é um conceito importante na filosofia da ciência (epistemologia). Para uma asserção ser refutável ou falseável, em princípio será possível fazer uma observação ou fazer uma experiência física que tente mostrar que essa asserção é falsa.


“O próprio Popper usa este critério de falsificabilidade [refutabilidade] para distinguir a ciência genuína não só de sistemas de crenças tradicionais, como a astrologia, a adoração de espíritos e qualquer outra forma de superstição sem fundamento, mas também do marxismo, da psicanálise de várias outras disciplinas modernas que ele considera negativamente como "pseudo-ciências". Segundo Popper, as teses centrais dessas teorias são tão irrefutáveis como as da astrologia. Os marxistas prevêem que as revoluções proletárias serão bem sucedidas quando os regimes capitalistas estiverem suficientemente enfraquecidos pelas suas contradições internas. Mas, quando são confrontados com revoluções proletárias fracassadas, respondem simplesmente que as contradições desses regimes capitalistas particulares ainda não os enfraqueceram suficientemente. De maneira semelhante, os teóricos psicanalistas defendem que todas as neuroses adultas se devem a traumas de infância, mas quando são confrontados com adultos perturbados que aparentemente tiveram uma infância normal dizem que ainda assim esses adultos tiveram que atravessar traumas psicológicos privados quando eram novos. Para Popper, estes artifícios são a antítese da seriedade científica. Os cientistas genuínos dirão de antemão que descobertas observacionais os fariam mudar de ideias, e abandonarão as suas teorias se essas descobertas se realizarem. Mas os teóricos marxistas e psicanalistas apresentam as suas ideias de tal maneira, defende Popper, que nenhumas observações possíveis os farão alguma vez modificar o seu pensamento.


Em suma, um não-popperiano diria a este propósito que a verdadeira ciência prova o que afirma, ao passo que aquelas crenças ou formas de conhecimento (astrologia, crenças em espíritos, superstições e a própria psicanálise) são meras suposições. E aí está a diferença entre um não-popperiano e um popperiano: para este até mesmo as teorias científicas são meras conjecturas não (ou ainda não) refutadas. Trata-se daquilo que Popper chama “problema da demarcação”: que diferença existe entre a ciência e outras formas de conhecimento ou de crença? Ao que ele responde que a ciência, ao invés de outras crenças (astrologia, psicanálise, superstições, etc.), é refutável, ao menos, se acaso não puder ser provada. As asserções científicas estão formuladas em termos precisos, donde que conduzam a previsões definidas. E se tais previsões falharem, podemos estar certos de que a teoria que está por trás delas é falsa. Já com as previsões de crenças, como a astrologia, são tão vagas, que se torna impossível mostrar a sua falsidade.
(David Papineau "Methodology" em A. C. Grayling (org.), Philosophy: A Guide Through the Subject, Oxford University Press, 1998, tradução de Pedro Galvão)

“As pessoas têm a impressão de que a Ciência é a verdade absoluta. Que os dados científicos são incontestáveis e que tudo está correcto. Quando se estuda a história da Ciência, percebe-se que não é bem assim, a Ciência avança e cria informação à medida que o tempo vai passando.


Ela vai ficando cada vez mais complexa e mais completa, mas nunca chega ao fim. (…) A noção de verdade muda com o tempo. O Universo em que a gente vive vai-se transformando à medida que nós aprendemos mais sobre ele. Dessa forma, a posição do Homem no Universo e a compreensão de quem nós somos também mudam. (…) A Ciência é, na verdade, uma narrativa, uma construção profundamente humana, uma tentativa de compreensão de quem nós somos. A Literatura faz isso, a Pintura faz isso, a Ciência também está a fazer isso” – respondia há pouco tempo Marcelo Gleiser, 52 anos, físico teórico brasileiro radicado nos Estados Unidos a dar aulas na Universidade de Dartmouth, New Hampshire, a uma pergunta do P2 do Público (em concreto a Nicolau Ferreira) que o questionava do seguinte modo: Diz que a Ciência é uma narrativa humana. Que limitações tem?

Se bem atentarmos, Marcelo Gleiser não está assim tão longe de Karl Popper.

A obra de Karl Popper é marcada por reflexões sobre a metodologia científica. A sua obra mais importante no domínio da filosofia da ciência é The Logic of Scientific Discovery / A Lógica da Descoberta Científica (1935). De entre as suas restantes obras, destacam-se The Open Society and its Enemies (1945), tornado já um clássico da contemporaneidade, The Poverty of Historicism (1957), que versa a filosofia da ciência social, Conjectures and Refutations (1963) e Objective Knowledge (1972).

Por fim, abordaremos um ponto específico da obra de Sir Karl Popper: a natureza da relação da epistemologia não-indutivista de Popper com a Teoria da Selecção Natural de Charles Darwin. Ou por outras palavras, qual a relação entre a epistemologia não-indutivista de Popper e a teoria evolucionista de Charles Darwin.


Não se atentará numa observação passiva frente às constantes naturais, como no empirismo tradicional de carácter indutivo, mas sim num activo trabalho de criação de hipóteses submetidas ao teste do mundo envolvente.


“Tal perspectiva guarda forte semelhança com o processo de selecção natural da teoria de Charles Darwin, em particular com a moderna síntese neodarwiniana, na qual os seres vivos sofrem modificações anatómicas e comportamentais que são seleccionadas pelo ambiente de acordo com seu valor adaptativo. Popper reconheceu tal semelhança e incorporou elementos evolutivos na sua reflexão epistemológica a ponto de denominar a sua perspectiva de epistemologia pós-darwiniana.”


“É no campo lógico que se decide a epistemologia, e o darwinismo aparece como uma bela ilustração de um método de aprendizado não-indutivo que, por sua vez, pode ser aplicado ao estudo da aquisição do conhecimento na dimensão quotidiana e também na dimensão científica.”


“O processo de conjecturas e refutações será a marca da ciência empírica, e a sua adopção implica uma severa crítica à forma como se entendeu tradicionalmente algumas questões centrais da epistemologia. Longe de se preocupar com a possibilidade de certeza, amplamente calcadas em conceitos subjectivistas, Popper defendia a adopção de uma epistemologia objectivista na qual o que importa são as situações de problema, as hipóteses e teorias consideradas no seu conteúdo informativo e suas ligações lógicas.


Tal concepção da epistemologia baseia-se na tese de Popper acerca da linguagem segundo a qual as funções descritiva e argumentativa da linguagem humana permitem a discussão crítica, segundo ideias reguladoras de verdade e validade, das asserções sobre o mundo. A linguagem criará um mundo próprio, embora de feitura humana, que terá suas próprias regras e criará autonomamente seus próprios problemas.


E de que forma será discutido fundamentalmente o modo pelo qual a teoria evolutiva de Charles Darwin se incorpora às reflexões epistemológicas de Karl Popper? A teoria darwiniana da selecção natural será apresentada em seus pontos gerais mais importantes ao mesmo tempo que se traça a sua evolução histórica desde sua primeira formulação em meados do século XIX até as mais recentes contribuições da moderna síntese neodarwiniana.


De que forma as teses darwinianas são incorporadas às reflexões epistemológicas de Popper? Este, a partir da década de 1960, passa a caracterizar a sua epistemologia como pós-darwiniana, em contraposição à tradicional epistemologia empirista e indutivista.“


Realmente, “Popper não usa as teses evolutivas como base naturalista para suas posições filosófico-epistemológicas. Estas serão decididas no campo da lógica e o darwinismo entrará somente como uma ilustração válida de um processo de aprendizado não-indutivo que se aplica eficazmente ao estudo da aquisição do conhecimento justamente por sua forma lógica identificada fundamentalmente ao método de conjecturas e refutações.”



Por último uma nota pessoal:
Tenho visto com insistência (em boas enciclopédias e outros sites credíveis) referir a teoria em que se destacou mais Karl Popper, como teoria da falsificação. Simplesmente soa-me mal essa designação. Do que eu penso que se trata é de a qualificar como teoria da negação ou da refutação. A refutabilidade e não a falsificabilidade. Na verdade, negar ou refutar não é o mesmo que falsificar… Diz-se, por exemplo, que para Popper, a psicanálise e o marxismo não são falsificáveis e, consequentemente, não são científicos… Falsificáveis? Será mesmo isso que se quer dizer?


Penso que a questão é meramente sintáctica, de português… Não será uma questão de tradução por aproximação? No fundo, de má tradução?
Expressão que se vulgarizou em português, mas quanto a mim erradamente.
A questão será meramente sintáctica, como já disse. É que tanto falsificar como falsear são entendíveis como dar como verdadeiro o que é falso – o primeiro verbo –; como tornar falso – o segundo. Mas o escopo do primeiro é o de copiar fraudulentamente; alterar fraudulentamente; adulterar; já o do segundo é o de falsificar; enganar; atraiçoar; frustrar; deturpar; adulterar; desvirtuar. (Isto segundo o dicionário).

Penso, realmente, que não é isso que se pretende com a dita “teoria da falsificação”. Creio que o que Popper queria dizer era teoria da refutação, da negação – o que resulta, nomeada e explicitamente, do exposto num (ou mais) daqueles mencionados sites que consultei. Daí eu admitir que estamos perante um caso de tradução aproximada que se generalizou, nada mais. Mas incorrecta, imperfeita em termos de bom português.


Por isso eu refiro sempre aqui – quando pretendo referir aquela teoria popperiana – a “teoria da refutabilidade” ou “da negação”.

Na verdade, o que Popper quer referir é a negação ou refutabilidade do que parece verdadeiro, e não o contrário, como decorreria daquela expressão posta aqui em causa.

A verdade é que falsificar é considerar verdadeiro o que é falso. Ora, do que aqui se trata é tornar falso o que parece verdadeiro. Portanto trata-se antes de uma refutação.
Se Popper conhecesse bem o português referiria a sua teoria como da falsificação?
Não creio, porque isso ia contra o que ele queria dizer.



(Utilizei, basicamente, as seguintes fontes para a elaboração deste apontamento sintético:
- BU/Biblioteca Universal – enciclopédia da Texto Editores
- INFOPÉDIA – enciclopédia da Porto Editora
- a Wikipédia
- o site a arte de pensar
- Uma dissertação de Mestrado de Rogério Soares da Costa sob a epígrafe A Epistemologia Pós-Darwiniana de Sir Karl Popper, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (no site governamental Dia a Dia Educação)
- Entrevista de Marcelo Gleiser, físico teórico brasileiro radicado nos Estados Unidos como docente na Universidade de Dartmouth, New Hampshire, ao Público na pessoa do jornalista Nicolau Ferreira (in P2 do Público de TR 05.07.11
- além de outros artigos da internet)







segunda-feira, julho 25, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:







Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.




ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 25 DE JULHO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:


DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:


De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado


2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

Hoje é ainda o
DIA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS


Aconteceu há 872 anos, na Terça-feira 25.07.1139: o, então, infante D. Afonso Henriques vence os mouros na batalha de Ourique.

A data passou a ser assinalada como Dia do Exército Português.

Vejamos a distribuição do poder nos vários reinos da Europa, nessa era.
Em Portugal vamos recuar um pouco no tempo, para melhor entender a matéria:

1095: Bandeira de D. Henrique,
mais tarde a primeira bandeira do Reino de Portugal


D. Henrique de Borgonha (1066- 1112) foi conde de Portucale desde 1093 até à sua morte. Na sequência dos serviços prestados ao rei Afonso VI de Leão e Castela na conquista do Reino da Galiza, recebeu como recompensa a mão de sua filha (ilegítima), Teresa de Leão, em casamento. E depois, em 1096, o conde D. Henrique recebeu também de Afonso VI o Condado Portucalense, que passava a prestar-lhe vassalagem directa, pretendendo, assim, limitar o poder do conde Raimundo de Borgonha, casado com Urraca de Leão e Castela. O conde D. Henrique teve 6 filhos com Teresa, mas só o mais novo sobreviveu à infância: D. Afonso Henriques (6º filho na ordem geral, mas 2º do nome, nascido depois do passamento do mais velho), que sucedeu ao pai e se tornou no segundo conde de Portucale em 1112. No entanto, o jovem D. Afonso Henriques (1109-1185), que casou com D. Mafalda, condessa de Sabóia, pretendia ser mais do que conde, daí que em 1128 (com 19 anos) se tivesse rebelado contra a sua mãe, que pretendia manter-se no governo do condado. Esse acto de rebeldia traduziu-se na Batalha de São Mamede (travada a 24 de Junho daquele ano de 1128), entre D. Afonso Henriques e as tropas de sua mãe, D. Teresa, e do conde galego Fernão Peres de Trava, que se tentava apoderar do governo do Condado Portucalense. As duas facções confrontaram-se no campo de São Mamede, perto de Guimarães. Com a derrota, D. Teresa e Fernão Peres abandonaram o governo condal, que ficaria agora nas mãos do infante e seus partidários.


Nesses idos de 1139 (tinha D. Afonso Henriques 30 anos), nos vizinhos estados ibéricos reinavam monarcas dos reinos cristãos formadores da Espanha, a saber: no reino de Leão e Castela governava o Imperador Afonso VII, da dinastia de Borgonha, filho de Raimundo, primo de D. Henrique, e de Urraca I, filha de Afonso VI e rainha de Leão e Castela, meia irmã de D. Teresa (irmãs consanguíneas, filhas do mesmo pai, mas de mães diferentes); em Navarra reinava Garcia IV, o Restaurador, da Casa de Aragão e dinastia Jiménez; e o trono de Aragão era ocupado pela imperatriz Petronila, igualmente da dinastia Jiménez.

Como se deixa ver, Afonso VII e D. Afonso Henriques eram ambos netos de Afonso VI, logo, primos entre si, tal como os respectivos pais (Henrique e Raimundo, ambos de Borgonha) o eram um do outro.
Os monarcas britânicos desdobram-se, ao longo dos séculos, em três grupos: reis de Inglaterra, de 829 a 1707; reis da Grã-Bretanha, de 1707 a 1801; Reis do Reino Unido, de 1801 até ao presente. Então reinava na Inglaterra Estêvão I, da Dinastia Normanda.
Também quanto à França e à Alemanha vamos recuar um pouco no tempo, para melhor compreendermos a situação.
Em 843, os três netos de Carlos Magno repartiram o império, que ele havia fundado, pelo tratado de Verdun: Carlos o Calvo recebeu a Frância ocidental (que se tornará a França), Luís o Germânico a Frância oriental (que se tornará a Germânia - que compreendia o território da actual Alemanha, Áustria, Suíça, República Checa, Eslovénia, Países Baixos, bem como partes das actuais França e Polónia -, núcleo do futuro Sacro Império Romano-Germânico), e Lotário, que se reserva o título imperial, o centro da Itália até a Frísia (que se tornará a Lotaríngia).
Na época em que nos situamos, no reino da França governava Luís VII, O Jovem, da dinastia Capetiana, e no da Germânia reinava Conrado III da Casa de Hohenstaufen.
Na cadeira de Pedro sentava-se Inocêncio II (164º).


Várias localidades, conforme as épocas, os estudiosos e as lendas, têm sido aventadas como teatro do recontro que se deu nessa incursão de D. Afonso Henriques, que partira de Coimbra, pelos domínios sarracenos e que os fastos referem com aquela designação de Batalha de Ourique: desde uma povoação com esse nome perto do Cartaxo, até outra mais ou menos homónima nos arrabaldes de Leiria, ou ainda o bairro lisboeta de Campo de Ourique, além da vila alentejana de Ourique…

Vista panorâmica de Castro Verde
a partir da visão geral do local Histórico da Batalha de Ourique — 25 de Julho de 1139

Parece que o lugar eleito por maior e mais conceituado número de entendidos para referir o local do recontro é o de Ourique, no Alentejo. Hoje, não exactamente no termo da secular vila de Ourique nem no do respectivo concelho, fronteiriço do Algarve… Nesses idos Ourique não passaria de lugarejo (teve foral de município em 1290) em cuja área se situaria o território que hoje pertence à mais recente vila de Castro Verde (que lhe fica a Oriente) e em cujo termo, mais precisamente em S. Pedro das Cabeças, aí sim, se terá dado o recontro das tropas de D. Afonso Henriques com as de cinco reis mouros, de que este saiu vencedor, conforme reza a lenda.

Acontece este facto em 1139, a um ano da independência efectiva de Portugal (1140), a quatro da Independência de jure (1143: Tratado de Zamora).



Em 4 e 5 de Outubro desse ano de 1143, encontram-se em Zamora, no reino de Leão, na presença do cardeal Guido de Vico, Afonso VII e D. Afonso Henriques: neste encontro assinaram um tratado de paz e deu-se o reconhecimento, pelo monarca castelhano-leonês, do título de rei ao príncipe português (reconhecimento da independência) (Tratado de Zamora). Nesse ano Guido de Vico estava em Portugal como legado do papa Inocêncio II (que morreu uns 10 dias antes, a 24SET), para tratar de diversos diferendos eclesiásticos.
E foi ainda, então, que recebeu, na qualidade de que vinha investido, o juramento de vassalagem à Santa Sé, prestado por D. Afonso Henriques. (História Eclesiástica de Portugal, Pe Miguel de Oliveira, pág 115)

Portanto, a batalha de Ourique dá-se nos anos 30 do séc. XII, mais exactamente (considerando-a um facto, não lenda) em 1139, quando D. Afonso Henriques ainda não era rei de Portugal, mas mero infante, filho do Conde D. Henrique e de D. Teresa, a quem Afonso VI, rei de Leão e Castela e pai de D. Teresa, entregara o governo do CONDADO Portucalense…

Esses anos 30 do séc. XII foram anos de pouca acalmia para a Igreja, cuja importância, na era medieva, era assinalável. Gregório Papareschi era romano e tomou o nome de Inocêncio II quando eleito papa. Teve a oposição de um grupo de cardeais que nomearam outro papa (antipapa Anacleto II).Teve de fugir, depois de eleito. No entanto, com o apoio de Luís VI e dos bispos franceses, o rei Lotário, da Saxónia, reconduziu-o a Roma. De onde, porém, teve de estar ausente por largo período, até à morte de Anacleto (1138), que se manteve no Castelo de Sto Ângelo (situado na margem direita do rio Tibre, diante da ponte Sant'Angelo, a pouca distância do Vaticano; durante a época medieval esta foi a mais importante das fortalezas pertencentes aos Papas).
O Segundo Concílio de Latrão é tido pela Igreja Católica como o décimo concílio ecuménico (um concílio ecuménico é uma reunião de todos os bispos cristãos convocada para discutir e resolver as questões doutrinais ou disciplinares da Igreja Cristã). Foi realizado pelo Papa Inocêncio II em Abril de 1139, no ano em que se daria a batalha, e teve o comparecimento de quase mil clérigos. Sua tarefa mais premente era neutralizar os efeitos do cisma que tinha surgido após a morte do Papa Honório II em Fevereiro de 1130 e a ascensão de Petris Leonis como o Antipapa Anacleto II. Em 1135, Inocêncio segundo realizou um concílio em Pisa que confirmou sua autoridade e condenou Anacleto. A morte deste em 1138 ajudou muito à solução da tensão entre as facções rivais.
As mais importantes conclusões (cânones) deste concílio incluem: Cânone 4: ordem formal (imposição) contra os bispos e outros clérigos para que não provoquem escândalo ao vestir roupas muito ostensivas e recomendando que se vistam modestamente. Cânones 6, 7 e 11: repetiram a condenação do Primeiro Concílio de Latrão sobre o casamento e o concubinato entre padres, diáconos, subdiáconos, frades, monges e freiras. Cânone 10: excomungou os leigos que falhassem em pagar os dízimos devidos aos bispos. Cânone 27: proibição de as freiras cantarem no mesmo coro que os frades ou monges.

Já o reconhecimento oficial da Igreja da dignidade de rei de D. Afonso Henriques, e da independência do Condado Portucalense (reino de Portugal) relativamente ao reino de Leão, dá-se em 1179: pela bula “Manifestis Probatum”, de 23.05.1179, Alexandre III, "tratando D. Afonso Henriques pelo título de rei, confirmou-lhe e aos seus sucessores a protecção da Santa Sé para defesa da integridade do reino e de todos os territórios que conquistasse aos muçulmanos" (Padre Miguel de Oliveira, História Eclesiástica de Portugal, 116)

selo real de D. Afonso Henriques

A Bula reza assim (em português actual):

Alexandre, Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao Caríssimo filho em Cristo, Afonso, Ilustre Rei dos Portugueses, e a seus herdeiros, in perpetuum.
Está claramente demonstrado que, como bom filho e príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno de memória e exemplo merecedor de imitação.
Deve a Sé Apostólica amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governo e salvação do povo.
Por isso, Nós atendemos às qualidades de prudência, justiça e idoneidade de governo que ilustram a tua pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos.
E para que mais te fervores em devoção e serviço ao príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus, prometemos defender-lha, quanto caiba em nosso apostólico magistério. (…)






Em 1989, o então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Firmino Miguel (um dos militares de Abril) promoveu a comemoração dos 850 anos da Batalha de Ourique, exactamente em Castro Verde, mais precisamente em S. Pedro das Cabeças, onde existe uma ermida mandada construir por D. Sebastião no lugar em que se supõe ter-se dado a célebre batalha. O local, repito, não é longe da lendária vila de Ourique e como logo se deixa ver S. Pedro DAS CABEÇAS … como referência às cabeças degoladas às tropas do cinco reis mouros com que D. Afonso Henriques se defrontara vitoriosamente, pouco antes de se tornar o primeiro rei de Portugal.
Esta (nome actual do lugar), pois, outra lenda, como é de calcular, que me foi contada por um coronel tirocinado do exército, meu amigo, que assistiu àquela comemoração.


«Associada à batalha surgiu no século XV uma outra lenda, a do milagre de Ourique. Dizia esta lenda que, antes da batalha, teria surgido Cristo a D. Afonso Henriques, assegurando-lhe a vitória e a protecção futura do reino. Desta forma a independência de Portugal assentava na vontade expressa de Deus. Esta lenda surgiu em 1485 (três séculos após a batalha), quando Vasco Fernandes de Lucena, embaixador de D. João II enviado ao papa Inocêncio VIII, incluiu no relato da batalha de Ourique o aparecimento de Cristo. No século XVII, o frade [e historiógrafo] alcobacense Bernardo de Brito aperfeiçoou a mesma lenda pormenorizando-a e conferindo-lhe uma nova importância. De notar que a lenda surgiu e foi reforçada em duas situações em que Portugal necessitava de consolidar a sua independência e autonomia. A partir do século XIX a lenda foi posta em causa, primeiro por Herculano e posteriormente pela moderna historiografia.»
[Batalha de Ourique. In Infopédia [online]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-07-06]. Disponível na www: ]

«Lenda da Batalha de Ourique: conta a lenda que a Batalha de Ourique foi o momento decisivo da independência do pequeno condado portucalense e que, no fim da peleja, D. Afonso Henriques foi aclamado pelos combatentes como Rei.
Era noite. Véspera de batalha. Os guerreiros tentavam descansar. Nas coloridas tendas mouras o movimento fora intensíssimo durante todo o dia. De cinco reinos haviam chegado homens aguerridos, decididos a não deixar progredir o pequeno exército dos cristãos. Tinham vindo muitos de Sevilha e de Badajoz para se juntarem à hoste composta por gente de Elvas, Évora e Beja. Diz-se mesmo que tinha vindo gente de além-mar. Durante o dia, não tinha havido descanso para ninguém. As setas tinham sido cuidadosamente afiadas e guardadas nas aljavas. Os velozes alfarazes (do dicionário: cavalos árabes velozes preparados para a guerra) da cavalaria moura tinham tido ração suplementar e relinchavam respondendo aos puros-sangues árabes dos grandes senhores que, impacientes, esperavam pela acção, pelo combate. Enfim, era noite e a algazarra que pairava todo o dia sobre o arraial esmorecera um pouco e só se ouvira como que um zunir de moscas. No acampamento cristão pairava o silêncio. Também os ginetes da guerra estavam prontos e impacientes, as espadas tinham sido afiadas, os peões haviam experimentado as bestas para que tudo corresse como desejavam. Os guerreiros descansavam nas tendas, recostados em leitos improvisados com as peles dos animais mortos, lá mais ao norte, nas selvas que bordejavam as suas tendências [? Por certo quer-se dizer tenências: posse por investidura ou doação de lugares ou terras, com domínio sobre os habitantes] e propriedades. Também Afonso Henriques estava recostado na sua tenda. Dera ordem para que ninguém o incomodasse. Não conseguia dormir. Pensava na batalha do dia seguinte, na enorme cópia de gente moura contra a sua minúscula hoste. Corria até que o exército árabe tinha uma ala de mulheres guerreiras... Mas, era necessário vencer... Deus se encarregaria de mostrar ao infiel o seu poder pelo braço do guerreiro. Semi-adormecido, apareceu-lhe como que em sonho, um ancião. Fez sobre ele o sinal da cruz, chamou-lhe escolhido por Deus e alertou-o da batalha. Entretanto, apareceu-lhe um escudeiro, que vinha dizer-lhe que estava ali um velho que queria falar-lhe com muita urgência: Afonso Henriques viu, diante dos olhos, bem despertos, o velho do sonho: - Tu, outra vez? Quem és afinal, ancião? O que me queres? - Quem sou não interessa... Acalma-te e ouve o que venho dizer-te da parte de Jesus, Nosso Senhor: daqui a instantes, quando ouvires tocar os sinos da ermida onde há já sessenta e seis anos vivo, deves sair do arraial, só e sem testemunhas. É isto o que ele manda dizer-te! Antes do guerreiro abrir a boca, o velho desapareceu na noite, sem deixar rasto. Daí a instantes, soou, efectivamente, o sino da ermida e Afonso Henriques pegou na espada e no escudo, com gesto quase automático, saiu da tenda embrenhando-se na noite, sem destino, só, como lhe fora recomendado. Subitamente, um raio iluminou a noite e de dentro dele saiu uma cruz esplendorosa. Ao centro estava Jesus Cristo rodeado de anjos. Afonso Henriques, ajoelhado, deixou-se ficar boquiaberto, sem saber o que dizer, sem se atrever a quebrar o instante, até que dentro de si, ouviu Jesus dizer-lhe: - Afonso, confia na vitória de amanhã. Confia na vitória de todas as batalhas que empreenderes contra os inimigos da Cruz. Faz como a tua gente que está alegre e esforçada. Amanhã serás rei... Apagou-se o céu e a visão celestial desapareceu, como viera. No dia seguinte a batalha foi terrível. Os mouros eram aos milhares e avançavam ferozmente contra os guerreiros de Afonso Henriques. Ao Primeiro embate muitos homens caíram no chão trespassados pelas lanças. Puxou-se então por espadas e alfanges e a planície foi invadida por um tinir de ferros misturados com a gritaria de toda aquela multidão e os relinchos doloridos dos cavalos feridos. Durante muito tempo, foi um verdadeiro inferno. Os guerreiros cristãos, porém, levaram a melhor. Os mouros sobreviventes, fugiram pela planície fora, deixando os cadáveres naquele imenso chão. Do lado cristão também eram muitos os mortos e feridos, mas os sobreviventes proclamavam a vitória, gritando: - Real! Real! Por Afonso, Rei de Portugal! Diz a tradição que nesse momento e em memória do acontecimento, o rei pôs no seu pendão cinco escudos, representando os cinco reis mouros que derrotara. Pô-los em cruz, pela cruz de Nosso Senhor e dentro de cada um mandou bordar trinta dinheiros, que por tanto vendera Judas a Jesus Cristo. Esta é a patriótica lenda com que os portugueses quiseram perpetuar um facto que na realidade foi bem diverso.


As fontes históricas não concordam com a lenda, que se sabe ter sido forjada séculos depois do acontecimento. A batalha não foi de modo algum tão importante para a independência do novo reino que se afirmava na Península Ibérica. Os documentos, especialmente os da historiografia árabe, tão pródiga na descrição de acontecimentos deste tipo, ainda que fracassados para o seu lado, não faz menção de tal batalha, que, ao acreditar na lenda, teria sido importante e decisiva para o poderio muçulmano no Além-Tejo Árabe. Sob o ponto de vista militar e estratégico, a Batalha de Ourique não passou de mais um fossado (incursão ou investida militar sobre território inimigo) cristão, isto é, uma surtida em território inimigo como era frequente fazer-se de ambos os lados. Quanto ao título de Rei que esta lenda diz ter sido dado por aclamação a D. Afonso Henriques, já o utilizara em documentos escritos que se conservam nos arquivos.» [Fonte: Instituto de Estudos de Literatura Tradicional]

Quanto ao local da peleja, como já vimos, não há consenso entre os estudiosos acerca do lugarl exacto onde se travou a batalha de Ourique. A mais antiga descrição da batalha figura na “Crónica dos Godos” sob a entrada “acontecimentos da Era Hispânica de 1177” (1139 da Era Cristã).

Como se sabe a diferença entre as datas da era de César, ou hispânica ou gótica,
em relação à era cristã é de mais 38 anos.
Ou seja, sendo necessário converter uma data da era de César (ou hispânica ou gótica, recordo)
em data da era cristã, essa conversão faz-se subtraindo àquela (de César…) 38 anos
para encontrarmos esta (a cristã).
Na verdade, e neste caso em apreço, queremos saber a que ano da era cristã corresponde o evento ocorrido no ano 1177 da era de César.
Claro que subtraímos a 1177, 38, o que dá o ano de 1139,
que é aquele em que se deu a batalha, situando-nos, como nos situamos, na era cristã.

Séculos mais tarde, um dos primeiros autores a abrir a polémica sobre a autenticidade das narrativas foi Alexandre Herculano quando, ao afirmar que “Ourique não passa de uma lenda”, foi acusado de anti-clericalismo. Contemporaneamente, outros historiadores, entre eles José Hermano Saraiva, voltaram a abordar e a reinterpretar essa questão, analisando as várias hipóteses de localização da batalha. Isto é: Herculano ao afirmar que o evento não passa de uma lenda, nem entra na discussão do local em que terá tido lugar. Já J Hermano Saraiva admite que a batalha se tenha dado e por isso entrou na discussão de que em que lugar terá acontecido.

Mas esta matéria da localização (e para a hipótese de ser verdade ter-se verificado esse acontecimento) já a vimos, em breve síntese, mais acima.






Durante o Estado Novo embora vagamente se admitisse a hipótese de a batalha de Ourique se tratar de uma lenda, quadrava bem ao espírito nacionalista da época tomá-la como uma demonstração do portuguesismo, da audácia e do heroísmo dos nossos “egrégios avós”…
E um certo esoterismo calculado desses tempos também se coadunava bem com o hipotético, mas pouco provável, milagre de Ourique. Uma gesta gloriosa, uma chama, que interessava manter com objectivos de pura demagogia política que alimentava um dúbio espírito nacionalista que caracterizava os regimes ditatoriais desses idos.
Aos meninos desses tempos que tivessem o privilégio de frequentar a escola ensinava-se que a batalha de Ourique se dera mesmo e que Cristo aparecera miraculosamente a D. Afonso Henriques. E que essa batalha teria sido decisiva para a consolidação do poder do futuro monarca como primeiro rei de Portugal. Espírito que era igualmente incutido nos jovens adolescentes através de outros graus de ensino mais avançados (onde o privilégio da sua frequência era ainda maior), assim como noutras actividades que concorriam para incentivar aquele orgulho nacionalista, como, por exemplo, através da Mocidade Portuguesa – que por via das dúvidas e do decoro, e para manter uma interessada distinção de género, se dividia em Mocidade Portuguesa Feminina e meramente Mocidade Portuguesa (para os rapazes).


Menos dados a tal espírito, os portugueses de hoje acreditam mais na eventualidade de se tratar de pura lenda.
E de tal maneira os feitos narrados acerca dessa lendária batalha tinha um cunho de determinado patriotismo, que um dia o regime elevou essa data a Dia do Exército Português. Comemorado, por sinal, no dia de São Tiago, por razões evidentes apelidado de “matamouros” (aos gritos de Santiago! Santiago! O nosso pequeno exército ia dizimando os mais numerosos e poderosos exércitos da “moirama”) …




(Fontes: além das diversas que já foram mencionadas há que assinalar vários artigos da Wikipédia, a enciclopédia livre, assim como alguns outros artigos de outros sites da Net)

segunda-feira, julho 18, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:



Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

ESTAMOS NA SG DIA 18 de Julho DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO
Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico


Mais:


DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".


Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO,
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
e ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS




Trata-se da imagem mais vulgarizada
do Pe António Vieira



Completam-se hoje 314 anos (foi na QI 18.07.1697): faleceu o Padre António Vieira. Missionário jesuíta, escritor, diplomata e orador sacro, o seu passamento deu-se em São Salvador da Baía, no Brasil, aos 89 anos (52 dos quais passados no Brasil).


O realizador Manoel de Oliveira (1908) inspirou-se na sua figura para o filme Palavra e Utopia.


O contexto político Ocidental era, então, o seguinte:
Em Inglaterra reinava Guilherme III (54º), da dinastia dos Stuart, também Guilherme II da Escócia e, igualmente, Guilherme III, Príncipe soberano de Orange. Era, também, o soberano das treze colónias norte-americanas que foram como que o fermento do que viriam a ser os EUA.
Na Germânia governava o imperador Leopoldo I, da dinastia de Luxemburgo.
Em França detinha o poder máximo Luís XIV, o Rei Sol (46º), da dinastia de Bourbon (também Luís III de Navarra)
Em Espanha reinava Carlos II último rei da casa dos Habsburgos (Casa de Áustria) a reinar sobre a Espanha, Nápoles e Sicília, senhor de quase toda a Itália excepto dos Estados Papais e da Sereníssima República de Veneza, e do império ultramarino castelhano, do México à Patagónia e que incluía Cuba e as Filipinas. Era, como Rei de Nápoles, da Sicília e de Navarra, Carlos V, rei titular de Jerusalém e Rei da Sardenha e dos Países Baixos, duque de Milão, conde da Borgonha e conde do Charolais. Era filho e sucedeu a Filipe IV (Filipe III de Portugal). Não deixou herdeiros, donde a Guerra de Sucessão Espanhola.
Em Portugal reinava D. Pedro II (23º), irmão de D. Afonso VI que, frágil e apoucado, fora destronado por maquinações do irmão que lhe roubou o trono e a mulher.
No Vaticano pontificava Inocêncio XII (242º), que também figurou nos jogos de bastidores que afastaram e desterraram e interditaram D. Afonso VI – uma vergonha miserável.


O padre jesuíta António Vieira (1608-1697) foi um dos maiores escritores barrocos da língua portuguesa. Nascido em Lisboa numa família pobre, emigrou aos seis anos com os pais para a Baía, no Brasil, tendo aí iniciado os seus estudos. Estudou no colégio dos jesuítas, em Salvador, e entrou na Companhia de Jesus aos 15 anos. “Os jesuítas tinham sido desde sempre os portadores da cultura e civilização no Brasil, com relevo especial para os Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega. Assim sendo, cursou Humanidades no colégio da Companhia de Jesus, onde revelou bem cedo dotes excepcionais.” “Ao entrar no segundo ano do seu noviciado, assistiu à brusca invasão dos holandeses na Baía.” “Começara, então, a Guerra Santa entre Portugal e os inimigos de Deus, a que Vieira não ficou alheio durante mais de 25 anos. Descrevendo estes eventos calamitosos do ano de 1624, na "Carta Ânua" (sua primeira obra literária) ao Padre Geral em Roma, Vieira deixou claro que a sua actividade não se limitaria a ser meramente religiosa, pois os preceitos jesuíticos, que apontavam para a emulação e o instinto de luta, levavam-no a bater-se pela justiça.”

As Cartas Ânuas (ou anuais), documento jesuítico, síntese de muitas cartas parciais enviadas pelas unidades como colégios ou missões, constituem a actividade obrigatória de um jesuíta Provincial perante o religioso Geral em Roma,
posto que fundamentam as decisões sobre a actuação dos jesuítas.
Esta de Vieira, mais que de uma espécie de relatório anual
da actividade da congregação, é uma verdadeira peça literária

Ordenou-se padre em 1635, mas mesmo antes já proferira alguns sermões e se iniciara na catequização dos indígenas. “Em 1641, restaurada a independência, Vieira acompanhou o filho do governador, que vinha trazer a adesão do Brasil a D. João IV, à Metrópole.” “Nos numerosos sermões desta época da sua vida, Vieira não se cansava de animar o auditório a perseverar na luta desigual com Castela e propunha medidas concretas para a solução de problemas, inclusive de ordem económica. A sua situação privilegiada dentro da corte teria contribuído para que fosse encarregue de diversas missões diplomáticas na Holanda, França e Itália, como foi o caso do casamento do príncipe Teodósio.

D. Teodósio de Bragança (1634-1653) era o primogénito
do Rei de Portugal
D. João IV e da Rainha D. Luísa de Gusmão.
Herdeiro da coroa portuguesa,
foi o 9º Duque de Bragança (como D. Teodósio III) e 1º Príncipe do Brasil,
título especialmente criado em sua honra,
enquanto herdeiro do trono,
por carta do pai de 27 de Outubro de 1645.
Desde cedo vocacionado para o exercício do poder,
revelou grandes dotes para as letras e para a música, à semelhança de seu pai;
contudo, a sua morte prematura, aos 19 anos, apartou-o do trono,
levando ao poder, em seu lugar, seu irmão segundogénito D. Afonso [VI],
mentalmente débil e,
depois de um infame processo contra este,
seu terceiro irmão D. Pedro [II].

Entre 1641 e 1652 viveu em Portugal, onde actuou como pregador da Corte, conselheiro e confessor do rei D. João IV. Ao mesmo tempo que firmava seu prestígio como um grande orador e autor de sermões, Vieira atraiu suspeitas da Igreja, por sua pregação em favor dos judeus (vistos por ele como necessários ao desenvolvimento económico do reino e da colónia), pela moderação da perseguição inquisitorial aos cristãos-novos e pelas profecias que sustentava (nomeadamente as “trovas” do Bandarra). A própria Companhia de Jesus começou, também ela, a ver com maus olhos a sua influência nos destinos do país, ameaçando-o de ser expulso da Companhia. “A pedido da mesma, voltou ao Brasil em 1653, para o estado do Maranhão e aí assumiu um papel muito activo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. No ano seguinte pregou o Sermão de Santo António aos Peixes. Foi expulso do Maranhão pelos colonos, em 1661, e regressou a Lisboa.” Assim, de regresso ao Brasil em 1652, Vieira foi portador de um decreto de libertação dos índios: O Padre António Vieira mais não foi, pois, que um defensor dos direitos humanos dos índios do Brasil (avant la lettre). Realmente “ele fez da defesa dos cristãos novos,” dos judeus, “dos índios e dos negros o ponto alto da sua poderosa retórica.”


Foi esta a sua fase de mais intensa acção evangélica. Com a morte de D. João IV, seu protector, e tendo deflagrado conflitos entre os colonos e os missionários, estes últimos foram expulsos do Maranhão. Data do ano seguinte o seu «sermão da Epifania», constituindo uma defesa dos missionários e um ataque aos colonos. Apoiante de D. Pedro II, foi perseguido pelos partidários de D. Afonso VI. Em 1661 foi levado como prisioneiro para Lisboa.


Entretanto, a Inquisição, acusando-o de heresia, instaurou-lhe um processo e prendeu-o, entre 1665 e 1667. As acusações dirigiam-se à crença messiânica e visionária de Vieira. Apoiado nas «Trovas» do Bandarra e nas Sagradas Escrituras, profetizava a ressurreição de D. João IV, a quem caberia a concretização do Quinto Império português, que coincidiria com o reino de Cristo na Terra — crença mítica descrita no texto «Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo, primeira e segunda vida d’el-rei D. João IV». Enfim, um esoterismo algo preocupante para um sacerdote que também misturava exemplos bíblicos com outros mitológicos.

Ao fim e ao cabo, advogado dos marginalizados (dos judeus, dos negros, dos cristãos-novos, dos índios e dos indígenas), despertou a ira da Inquisição que o encarcerou durante aqueles dois anos.


Em 1668 conseguiu ser amnistiado.


“Em 1669 parte para Roma como diplomata e obtém grande sucesso como pregador, combatendo o Tribunal do Santo Ofício. Na Cidade Eterna, continuou a defesa acérrima dos judeus e ganhou grande reputação, encantando com a sua eloquência o Papa Clemente X e a rainha Cristina da Suécia. Em 1675 volta a Lisboa, onde inicia a publicação dos seus Sermões, entre os quais se encontram os célebres Sermão de Santo António aos Peixes e o Sermão da Sexagésima. Depois de viver em Roma, voltou em 1681 à Baía, onde morreu em 1697.


A obra de António Vieira, de que é indissociável a sua intensa acção como homem público, compõe-se de cerca de 200 sermões, mais de 500 cartas e uma série de documentos vários — de política, diplomacia, profecia, religião...


Nos sermões Vieira demonstra uma profunda capacidade de análise e denúncia dos vícios humanos, com grande realismo e inteligência implacável na sua acção moralista. Simultaneamente, Vieira foi o visionário do Quinto Império, o idealista utópico e profético de um messianismo em que se conjugavam as crenças sebastianistas tradicionais e as crenças messiânicas de origem judaica, como já antes referido. Em ambos os casos, socorreu-se da sua extraordinária capacidade oratória, pela qual, num estilo claro, sedutor e simples, e segundo os preceitos escolásticos e retóricos da escola jesuíta, recorria a processos pseudo-lógicos (!) de interpretação das escrituras, num discurso fortemente alegórico e metafórico, aplicando os sinais e passagens da Bíblia à realidade sua contemporânea. Os seus textos revelam um grande virtuosismo no domínio da língua e no domínio dos seus efeitos no auditório, expandindo cada motivo de forma dialéctica e envolvente, causando espanto pelas revelações e consequências do seu jogo de raciocínios, que por vezes se aproximam do maravilhoso. Exprimiu, de forma exemplar e viva, muitos dos princípios artísticos do barroco, o que levou, no iluminismo oitocentista, a um certo descrédito da sua figura.


Considerado frequentemente um dos paradigmas da prosa clássica portuguesa, foi o maior orador sacro da literatura do país e, simultaneamente, um dos maiores apologistas do messianismo nacional, que justificava todo o seu empenho na valorização e reforma da economia e na força política do país.


Os seus Sermões foram publicados entre 1679 e 1748. Conservam-se também as Cartas (1735), a História do Futuro Livro Ante-Primeiro (1718, obra do seu profetismo milenarista) e uma «Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício» (1957), para além de uma série de outros textos variados, entre os quais se encontram os célebres «Sermão de Santo António aos Peixes» e «Sermão da Sexagésima».


Em síntese, jesuíta brilhante, cosmopolita, diplomata do reino, conselheiro de reis, polemista, perseguido pela inquisição, o padre António Vieira foi uma personagem multifacetada, talvez até, por vezes, contraditória. Mas há um ponto em que o consenso é inegável: quanto à genialidade dos seus sermões. Donde que o nosso poeta maior, F Pessoa, o tenha apelidado de imperador da língua portuguesa.







(Síntese da Folha de S. Paulo, do site “educar para crescer”, da Wikipédia, da BU/Biblioteca Universal, da Texto Editores e da Infopédia, da Porto Editora. Alguns dos trechos sublinhados são, mesmo, parte do artigo Padre António Vieira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-07-03]. Disponível na www: .)

segunda-feira, julho 11, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:







Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.



ESTAMOS NA SG DIA 11 DE JULHO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:


DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO,
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
e ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

E hoje é o
DIA MUNDIAL DA POPULAÇÃO


Há 38 anos, no dia 11 de Julho de 1973, uma Quarta-feira, o governo de Marcelo Caetano desmente, em Lisboa, a notícia do jornal britânico “The Times” sobre o massacre de Wiriyamu. Realmente, na véspera, Terça-feira 10 de Julho de 1973, o mencionado jornal britânico revela aquele genocídio, em Moçambique, ocorrido a 16.12.1972, por comandos e forças da PIDE/DGS de Portugal.


Acontece isto quando o panorama político, no Ocidente, era o seguinte:
Em Inglaterra reinava Isabel II e o governo era chefiado por Edward Heath, do partido Conservador.
Em França, onde está implantado um regime presidencialista, decorria a Quinta República e tínhamos Georges Pompidou na Chefia do Estado; 1º ministro era Pierre Messmer.
Na Alemanha, também um regime presidencialista, mas do chefe do governo, o chanceler era Willy Brandt (SPD)
Em Espanha decorria a ditadura de Francisco Franco e presidente do governo era Luis Carrero Blanco
Em Itália Giovanni Leone, democrata cristão, era o 6º Chefe de Estado e do governo, pois que também aí temos um regime presidencialista do Chefe de Estado.
Nos EUA, onde o regime é presidencialista, do tipo do anterior, ocupava a chefia do Estado o 37º presidente, Richard Nixon do partido republicano
Em Portugal, ainda – e por pouco mais tempo – estava na presidência da República, no seu terceiro mandato (a que o 25 de Abril pôs termo), o fidelíssimo (ao regime e ao falecido chefe) Américo Tomás, brilhante e simpática figura pública, orador de verbo fluente e arrebatador, principal matéria-prima do anedotário nacional. No governo, a Salazar, falecido a 27.07.1970, sucedeu, ainda que a contragosto de Tomás e dos ultras da direita portuguesa, Marcelo Caetano, que Kaúlza de Arriaga, e outros gurus do regime achavam demasiado liberal! Tal o topete de tais críticos!

Pode adiantar-se, desde já, que Portugal enfrentava nos últimos anos do Estado Novo, e desde, sobretudo, os finais dos anos 50, um ambiente hostil no estrangeiro, por força do crescente êxito dos emergentes movimentos de libertação das nossas colónias que tinham o beneplácito da generalidade dos países democráticos, em contrapartida à posição cada vez mais isolada, pela negativa, em que Salazar colocava Portugal, nessa matéria de concessão de (maior?) autonomia às colónias, até à independência final. Só o isolamento em que se coloca, e a cegueira que o determina, faz com que Salazar considere como natural e indiscutível o que não passa de uma improvável eventualidade: Portugal considerado uma unidade política unitária, “do Minho a Timor” sob a designação artificial de províncias (ultramarinas) em lugar de colónias, que eram na realidade.


Ora foi esse ambiente adverso e até agressivo que, nas agências, caiu como uma bomba a negação por Marcelo e pelo seu governo, dos factos indesmentíveis e comprovados daquele massacre.
Ocorrido a 16.12.1972, o ataque causa a morte a cerca de 400 civis.
Os testemunhos de seguras e credíveis fontes e os documentos, desmentem o desmentido e confirmam o brutal genocídio.


Aliás, o próprio gabinete de Kaúlza de Arriaga (ou ele mesmo) o confirmam quando dizem que o nº de vítimas não foram as 400, que os media referem, mas, apenas (!?) 63. A contra-informação de Kaúlza até permitia admitir que chacina condenável só pode como tal ser considerada a partir de tal número. Até aí… seria um passatempo a que se fechava os olhos.


A Cruz Vermelha internacional, porém, referia 100 ou cento e tal (certamente que baseada em informação oficial portuguesa). E então instala-se a dúvida em nós: qual o número de mortos até ao qual uma acção dessas se torna “aceitável”?
Sessenta e três? Cem, cento e pico?
Quatrocentos é que não. E esse número nega-se, pura e simplesmente.

O massacre de Wiriyamu, descrito no «The Times» pelo padre Hastings, pôs, por uma vez, a igreja (local, que não a hierarquia oficial, sublinhe-se, salvo uma ou outra tímida e honrosa excepção) do lado dos fracos e dos perseguidos. E por isso foi contestada. O padre Hastings, para a sua denúncia, baseou-se em relatórios dos padres da Missão de S. Pedro, de Tete. E de novo, no livro “Wiriyamu”, o padre Adrian Hastings descreve detalhadamente as posições de denúncia assumidas por diversos missionários e religiosos.

Numa história de Moçambique pode ler-se: “A FRELIMO consegue em 1972 passar o rio Zambeze e penetrar no sul do distrito de Tete. Contingentes das forças armadas portuguesas concretizam em Chawola, Wiriyamu e Juwau, três dos mais graves massacres ocorridos durante a guerra colonial. Em Wiriyamu (zona de Tete), foram assassinados 400 civis em 16 de Dezembro”. O que viria a ser confirmado, em Novembro de 1974, por uma Comissão de Inquérito Internacional anteriormente nomeada pela ONU. Na roda internacional já era conhecido e comentado este massacre – o que, obviamente, era silenciado pelos media nacionais. Em Portugal, como de há muito, só quem pudesse ter acesso aos meios de comunicação estrangeiros podia saber o que se passava nas colónias. E não só.


Daí que a visita que o “perigoso” Marcelo Caetano (perigoso para Kaúlza e mais radicais) tinha feito a Londres (04.04.1973) tivesse sido aproveitada pela imprensa britânica para denunciar os massacres do colonialismo português.

Socorro-me, por fim, do testemunho do blogue exclusivamente dedicado à matéria, intitulado, exactamente, “massacredewiriyamu.blogspot.com/” e a uma (também única) postagem sobre o mesmo assunto, baseada, sobretudo, em excertos retirados de um relatório policopiado que circulava clandestinamente em Moçambique em 1973.


Nele (que contém texto, imagens e alguns vídeos) apenas suprimi as (aqui) dispensáveis, e quiçá fastidiosas, listas de vítimas identificadas, assim como corrigi algumas falhas ortográficas e de sintaxe.


Pena que as imagens e os filmes não sejam de melhor qualidade – mas é como constam do original.


«QUINTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2008

OS MASSACRES DE TETE
16 de Dezembro de1972

monumento memorial
 
O texto que se segue sobre os massacres de Chawola, Wiriyamu e Juwau, confirmam as afirmações feitas pelo padre Hastings, com base no testemunho dos 3 padres de Burgos expulsos depois dos massacres e é ainda confirmado por varias pessoas (soldados e civis) que estiveram em Tete nesta altura.
 
 
placa indicativa de direcção
 
I. O MASSACRE DE CHAWOLA ( Sab. 16/12/72 )


Mais ou menos pelas 14 horas, 2 reactores bombardearam as povoações de Wiriyamu e Juwau a uns 25 km de Tete (cidade), no regulado de Gandali; enquanto 5 helicópteros desembarcavam tropas armadas, que cercavam as ditas povoações e metralhavam o povo, que fugia do bombardeamento.
Eram duas grandes povoações, mas não sabemos o número dos sobreviventes. O certo é que tais povoações foram totalmente aniquiladas e arrasadas. A população de Chawola, povoação esta muito próxima das de Wiriyamu e Juwau, vendo o fogo dos bombardeamentos, das metralhadoras e das palhotas a arder, juntou-se aterrorizada no pátio de Chawola. Pouco depois viu-se cercada pelas tropas, que entravam a disparar. O povo tentou fugir, mas os soldados reuniram de novo e imediatamente saquearam as palhotas (roubando dinheiro, roupa, rádios, etc.).
A seguir as tropas obrigam o povo a bater as palmas, para se despedir da vida, visto que já ia morrer, ordem a que o povo obedeceu. Enquanto batia as palmas, os soldados abriram fogo sobre a população reunida, fuzilando homens, mulheres e crianças. Juntaram os corpos, cobriram-nos de capim e deitaram-lhes fogo.
Enquanto os soldados incendiavam as palhotas, alguns, que tinham sido apenas feridos, e conseguiram sair da pilha já a arder. Destes, uns morreram no mato e outros encontram-se hospitalizados.
No dia seguinte ao destes massacres, somente no pátio de Chawola contaram-se 53 cadáveres, dos quais foram identificados 42


 
despojos do morticínio (1)
 
 
despojos do morticínio (2)



1º - Todos estes factos foram-nos narrados pelos tais sobreviventes, que conseguiram sair da pilha e se encontram hospitalizados em Tete e também por outros que lograram escapar a tempo.

2º -A identificação dos cadáveres foi levada a efeito por pessoas que, de propósito se deslocaram às povoações massacradas

3º - Os que conseguiram sair da pilha foram 6 (referenciados no original).

despojos do morticínio (3)


Se fizermos um inquérito apoiado pelas autoridades, poderemos saber se o número de mortos de todas as aldeias massacradas naquela área ultrapassa os quinhentos como o povo assegura.

Se não houve massacre, se só foi destruída uma base de terroristas, se crianças de 1 a 10 anos não são "terroristas" ; se velhos e velhas e mulheres com crianças ao colo não são "terroristas", não teremos então receio de abrir um inquérito público, para verificar a veracidade destes massacres.
Se apenas foi destruído um acampamento de "turras", e se um acampamento de "turras" não é o mesmo que uma povoação tradicional onde vivem homens, mulheres e filhos, onde tem a sua mapira [sorgo ou milho miúdo], o seu milho, o seu vestuário, etc. Que vamos então ao local destas povoações, que existiam com os seus habitantes e haveres, e encontraremos a realidade, que não foi um acampamento de "terroristas" que foi destruído, mais um grupo de povoações com as suas populações indefesas.

despojos do morticínio (4)


Tete, 19 de Dezembro de 1972

P.S. -Na altura em que acabávamos de redigir este relatório, chegou-nos a noticia de que os massacres ainda continuavam em várias outras povoações como na de Luís, Corneta e outras, avançando para Gama, no regulado do Rego.

II - O MASSACRE DE WIRIYAMU E JUWAU (sábado 16-12-72 )

Estivemos em busca de elementos de juízo.
Apesar das dificuldades que surgiram (impostas umas, circunstanciais outras), de elaborarmos uma lista completa dos nomes das vitimas do massacre das povoações de Wiriyamu e Juwau , as fontes dos pormenores que conseguimos dão-nos o direito de seguirmos mantendo a afirmação de ali ter havido mais quatro centenas de vitimas (cerca de 500).
Da nossa diligência pudemos apurar o seguinte:
Na tarde do dia 16 de Dezembro do ano findo, como já ficou dito na primeira parte deste nosso relatório, as povoações de Wiriyamu e Juwau foram vítimas de uma incursão militar, da parte das forças da ordem.
Depois do bombardeamento, os soldados-comandos, previamente helitransportados que já haviam posto cerco às ditas povoações invadiram-nas com fúria, aumentando a terror dos seus habitantes já em pânico pelos bombardeios.
Uma vez dentro das povoações, esse grupo entregou-se imediatamente ao saque das palhotas, seguindo-se depois o massacre do povo, que se revestiu de excesso de crueldade.
Um grupo de soldados juntou uma parte do povo num pátio, para o fuzilamento. O povo assim reunido foi obrigado a agrupar-se sentado em dois grupos: o grupo dos homens, num lado, e o das mulheres, noutro, a fim de poderem todos ver melhor como iam caindo os fuzilados.
Um soldado chamava por sinal a quem quisesse (quer homem, quer mulher, quer criança),
O designado punha-se de pé, destacava-se do conjunto, o soldado disparava sobre ele e a vítima caía fulminada. Este foi o processo que fez mais vítimas. Muitas crianças morreram ao colo das suas mães, fuziladas juntamente com elas. Entre muitos outros, os soldados assim mataram 85 pessoas (identificadas no original)

despojos do morticínio (5)


... Outros soldados, que andavam dispersos, obrigavam a gente a meter-se para dentro das palhotas, que depois incendiavam, morrendo a gente queimada dentro delas.

Às vezes, antes de pegar fogo às palhotas, lançavam para dentro delas granadas, que explodiam sobre as vítimas. Depois é que deitavam fogo às palhotas (seguindo-se no original a identificação de 33 desses mortos).

despojos do morticínio (6)


…Outros soldados divertiam-se a matar crianças, agarrando-as pelas pernas, arremessando-as contra o solo ou contra as árvores. No original segue-se a identificação de 10 dessas crianças e bebés, com idades compreendidas entre 1 mês e 4 anos

o balanço? A estratégia?

“PHANI WENSE !” - ''MATAI-OS A TODOS"


Uma voz autoritária fazia-se ouvir com frequência: "Phani wense!" "Matai-os a todos". "Que não fique nenhum!". Era a voz do agente da PIDE/PIDE/DGS, Chico Kachavi.
Diz uma testemunha que um oficial militar tinha sugerido a via da clemência, no sentido de conduzir aquela pobre gente para um aldeamento. Mas a voz sinistra do agente Chico fez-se ouvir ainda com mais fúria: "São ordens do nosso chefe" -dizia –“ Matar a todos. Os que se poupam são os que nos têm denunciado".
Duas crianças daquelas povoações, encontradas casualmente depois da consumação do massacre, foram friamente queimadas dentro de uma choça pelo mesmo agente da PIDE/DGS sob o pretexto de uma possível denúncia.
Naquela tarde, em Wiriyamu e Juwau só se ouviam os berros dos soldados, os disparos das armas e os gemidos das vítimas feridas de morte. O povo de Wiriyamu e Juwau viveu momentos de terrível angustia!
Estas cenas duraram até ao pôr-do-sol. Nessa altura a soldadesca estava já fatigada de tanta sevícia. Algumas vítimas lograram escapar da morte, fugindo. Elas deram-nos também, como testemunhas oculares, muitos dos pormenores aqui expostos que, por isso, asseguramos ser autênticos.
Demais, a Comissão da Delegação de Saúde de Tete, que se deslocou ao local de massacre cerca de vinte dias depois (muito tarde, por conseguinte!), para averiguação, não desmente nosso relatório.

Tete, 6 de Janeiro de 1973

(excertos retirados de um relatório policopiado que circulava clandestinamente em Moçambique em 1973)


Também a TIME dedicou uma edição ao assunto:

Mystery Massacre

Time, Monday, Jul. 30, 1973

Not since the My Lai atrocities came to light in 1969 had a tiny village caused such an uproar. Father Adrian Hastings, a British Catholic priest, alleged that Portuguese government troops had gone on a murderous rampage in the Portuguese Mozambique village of Wiriyamu last Dec. 16. The priest, quoting reports from Spanish missionary priests, claimed that Portuguese soldiers killed some 400 villagers suspected of sympathizing with Frelimo, the Mozambique Liberation Front.


Then began the denials. Dr. Marcello Caetano, the Portuguese Prime Minister, who was on an official visit to London, said that his government's preliminary inquiry showed a massacre of 400 villagers "could not have taken place." A Catholic bishop in Mozambique who in published reports claimed that he had seen the dead bodies later stubbornly declined either to confirm or deny that there had been a massacre. In Lisbon, officials insisted that Wiriyamu did not even exist. Indeed, Father Hastings two weeks ago placed it in western central Mozambique, but next day corrected himself, saying it was in the eastern Tete province. Reporters have been searching for it ever since, and for anyone who claims to have seen the massacre. TIME Correspondent Peter Hawthorne joined a trek last week and afterward sent this report:


The town of Tete bristles with troops, military roadblocks and armored vehicles. People are being moved out of isolated villages and relocated in protected settlements called aldeamentos, where troops and home-guard units keep Frelimo infiltrators at bay.

Conferência de imprensa com o padre Adrian
Hastings, que é o segundo a contar
da direita, de frente. Vêem-se também na
imagem, à esquerda, Sá Carneiro e Mário Soares

A 30-man army escort took us to a place called Wiliamo, about eight miles from Tete. The guide was a black army private who said he knew of the village.



He pronounced it "Wiriamu"—many Africans pronounce "l" as "r"—but wrote it "Wiliamo." It was the only place of that name that he knew in the region, he said. Of course there are villages with vaguely similar names all over the areas variously mentioned by Father Hastings, and presumably any of them could be the massacre site.


The village, perhaps ten to fifteen huts, had clearly been abandoned in a hurry. But there was no obvious sign of a firefight—no bullet marks in the tree stumps or huts. It would require nothing less than a team of forensic experts to track down any evidence of a massacre.


No Angels. "My men aren't angels or they wouldn't be good soldiers," said Major José Carvalho, who led the army escort. "But a massacre of 400? During my two years service here I've never heard of such an incident, and if I did it would be the reason for a large-scale military inquiry."


Two priests of the Spanish Burgos Fathers who earlier supported allegations of the massacre have been detained by Portuguese authorities in Lourenço Marques on unspecified charges "relating to the security of the state." Their fellow priests at the Mission of São Pedro, near Tete, will say nothing. Some Portuguese here believe it is quite possible that a massacre did occur. The secretary of the Bishop of Tete, Father Manuel Mouro, told me:


"In a climate of war anything is possible —but between the possible and the real, there may be a big difference."


Junto anexo os vídeos que acompanhavam este post.

Estado de segredos
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=DZzKAVdBXQE


Massacre de Wiryamu:

(1 de 7)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=4yJ9pUVV8-o

(2 de 07)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=TaqOC6khbaA

(3 de 7)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QhU9mUdWzL8

(4 de 7)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=pf6uH_-Pds0

(5 de 7)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=7BJPh6yDmMo

(6 de 7)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mwpIUuOVhJs

(7 de 7)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=qGrorigVke8

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