terça-feira, julho 15, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 16

John Sherffius, «Boulder Daily Camera»
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Um probleminha insignificante tem-me impedido de acompanhar, como desejaria, a minha caixa de correio electrónico.

Daí que só hoje me tenha apercebido deste “telegrama” mandado pelo “nosso enviado especial” às eleições nos states, que recebi no passado dia 5 do corrente…

Pedindo desculpa aos eventuais interessados nestas crónicas pela minha involuntária demora, deixo-vos, sem mais demoras, com o nosso amigo Fernando (que a estas horas já estará em Portugal, de férias) e as suas informações acerca de certos dados e aspectos complementares do importante acto eleitoral que interessa e cria suspense em todo o mundo.

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Caros amigos,
1. Dois Partidos!?...
Uma das questões que caracteriza a política americana tem a ver com a tradição, que dura desde 1856, de haver dois partidos que a monopolizam. Há quem lhe chame o "sistema dos dois partidos únicos". Será que o sistema já se esgotou, está a terminar, ou ainda vai perdurar mais algum tempo?
2. Sondagens da CNN de ontem [03JUL]...
Obama - 46%; McCain - 43%; Nader - 6%; Barr - 3%. O aspecto interessante desta sondagem é a de não permitir tirar conclusões ou acalmar os ânimos. A diferença entre os dois principais candidatos constitui, praticamente, um empate técnico. E os resultados dos outros dois são superiores a essa diferença.
3. Outros candidatos...
Para além de Barack Obama e de John McCain, há, pois, dois candidatos que poderão conseguir votações significativas: Ralph Nader e Bob Barr. Também, Chuck Baldwin. Mas, para além destes, há e haverá mais candidatos.
4. Ralph Nader...
Nader, que já se candidatou cinco vezes para a Presidência dos EUA, talvez seja a figura política mais conhecida. Foi o primeiro americano de origem árabe a candidatar-se à Presidência. A família tem origem no Líbano e ele fala, para além de árabe e inglês, mais cinco línguas. Os assuntos que mais o preocupam são os direitos do consumidor, o humanismo, o meio ambiente e a governação democrática. É um activista contra a chamada guerra do Iraque. Formou-se em direito pelas universidades de Princeton e Harvard. É advogado, escritor e activista político. Candidata-se com Matt Gonzalez (Vice-Presidente).
Foi muito falado o resultado que teve na Florida em 2000. Bush ganhou (!!??) a Al Gore por 537 votos e conseguiu, assim, a maioria no colégio eleitoral de que necessitava para conseguir ser eleito Presidente. Nader teve 97 421 votos e, destes, uma parte significativa teria votado Al Gore. Se Nader não tivesse sido candidato, diz-se, a história dos últimos anos dos EUA (e, talvez, do mundo) teria sido diferente.
Perguntado, no princípio deste ano, por Tim Russert (jornalista senior da MSNBC, recentemente falecido, e responsável pelo programa semanal
Meet the Press) sobre a possibilidade de vir a contribuir, novamente, para a vitória do candidato "republicano", respondeu: "Claro que não! Se este ano os Democratas não conseguem derrotar os Republicanos, o melhor que têm a fazer é considerarem-se terminados, "fecharem a loja" e emergirem ou renascerem com uma forma diferente". A tradução, livre, é da minha responsabilidade. Not a chance. If the Democrats can't landslide the Republicans this year, they ought to just wrap up, close down, and emerge in a different form.
5. Bob Barr...
Candidata-se pelo Partido Libertário (
Libertarian Party) com Wayne Allyn Root (Vice-Presidente). Foi membro da U.S. House of Representatives (Parlamento), entre 1995 e 2003, como candidato do Partido Republicano, na Georgia. No entanto, as suas origens foram bem diferentes: enquanto estudante, foi membro dos Young Democrats of America e um activista contra a guerra do Vietnam. Mais tarde, através do Young Republican Club, aproxima-se do Partido Republicano. Formou-se em Relações Internacionais pela University of South California (1970). Entre 1971 e 1978 foi funcionário da CIA.
Como membro do Congresso foi considerado, em 2002, como um dos mais conservadores. Foi descrito como "o ídolo dos que defendem o uso das armas, combatem o aborto e odeiam o IRS; o ídolo da direita". Contudo, afastou-se progressivamente de Bush e dos "republicanos" ao criticar, depois do 11 de Setembro, as políticas contra a privacidade dos cidadãos e as liberdades cívicas. Veio a aderir ao Partido Libertário.
Se Nader "rouba" mais votos a Obama, é provável que Barr "roube" mais a McCain.
6. Chuck Baldwin...
Candidata-se pelo Constitution Party com Darrel Castle (Vice-Presidente). Este ex-membro do Partido Republicano é pastor da Igreja Baptista, formado em teologia e dono de uma rádio-local.
Crítico de Bush, defendeu a reabertura das investigações sobre os atentados de 11 de Setembro, acreditando que o "Movimento pela Verdade do 11 de Setembro" (9/11 Truth Movement) tem o direito de ver investigadas as suas teses sobre a teoria da conspiração, que consideram a possibilidade do governo dos EUA ter estado envolvido na preparação desses ataques.
Saiu do Partido Republicano em 2000 por considerar a dupla Bush/Cheney demasiado liberal.
Em 2004 foi candidato a Vice-Presidente pelo Constitution Party sob a plataforma "Deus, Família e República" (lembram-se do "Deus, Pátria e Família"?). Definiam-se contra o aborto, as mulheres no serviço militar e a chamada guerra do Iraque.
Em 2007 apoiou a candidatura de Ron Paul (um dos candidatos do Partido Republicano): "Os republicanos conservadores só têm uma escolha em 2008 - o congressista Ron Paul, do Texas!" Com a derrota de Paul nas Primárias Republicanas, decidiu candidatar-se pelo seu partido.
7. Outros candidatos...
Para além destes cinco candidatos haverá, pelo menos, mais onze...
7.1. Green Party...
Elegerão o seu candidato na Convenção que se vai realizar entre os dias 10 e 13 de Julho, em Chicago, Illinois. São conhecidos quatro candidatos a candidato: Jesse Johnson (West Virginia), Cynthia McKinsey (Georgia), Kent Mesplay (California) e Kat Swift (Texas).
7.2. New American Independent Party...
Frank McEnulty (California). Ainda não se conhece o candidato a Vice-Presidente.
7.3. Party for Socialism and Liberation...
Gloria La Riva (California) e Eugene Puryear (Washington D.C.).
7.4. Prohibition Party...
Gene Amondson (Washington) e Leroy Pletten (Michigan).
7.5. Socialist Party...
Brian Moore (Florida) e Stewart Alexander (California).
7.6. Socialist Workers Party...
Roger Calero (Nicaraguan American) e Alyson Kennedy (New Jersey).
7.7. Independent...
John Taylor Bowles, National Socialist, nazi, o "Candidato dos Brancos".
7.8. Independent...
Jackson Kirk Grimes, United Fascist Union, fascista.
7.9. Independent...
Alan Keynes, antigo embaixador de Ronald Reagan.
7.10. Independent...
Frank Moore, artista, escritor, pintor e músico. Candidata-se com Susan Block (Vice-Presidente).
7.11. Independent...
Kelcey Wilson, candidato da "transparência".
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Caros amigos,
Espero que tenham gostado de receber esta informação. Dá que pensar...
Por hoje é tudo.
Estou na madrugada do dia 4.
Amanhã irei partir para Portugal, onde permanecerei até ao dia 22 de Agosto.
Talvez nos encontremos...
Um abraço a todos.
Boa noite e boa sorte.
fernando
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quarta-feira, julho 02, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 15

Dan Wasserman, «The Boston Globe»: lied-in-vain



Isso… Nunca (respondo ao raciocínio do sr McCain)

O “nosso enviado” especial deve ter sabido que as últimas movimentações da campanha - a união de esforços que a candidata democrata derrotada quis oferecer ao nomeado candidato do partido – foram por nós acompanhadas.

Seria interessante, no entanto, que tivéssemos, também, uma perspectiva de um observador interno, que conhece os meandros e os bastidores da campanha.

O Fernando, contudo, preferiu partilhar connosco a sua reflexão acerca de um trágico (e sintomático, naturalmente) acontecimento passado numa sala de espera de um hospital, transmitido pelas televisões, que uma indiscreta e infatigável câmara não parou de transmitir para um auditório atónito (e surpreendido?) pelo inacreditável.

Mas “oiçamos” o nosso amigo


NOTA – as imagens, são por mim escolhidas e “pescadas” na net. (Hoje, três conceituados cartoonistas)






Bob Gorrell, «Creators Syndicate Inc.»



Obama News - 20080701 -
numa sala de espera de um hospital


Caros amigos,
Podia falar-vos do General que disse que ter-se sido prisioneiro na guerra do Vietnam não significa que se possa ser um bom Presidente. Disse o óbvio e foi criticado!...
Podia referir o discurso de Obama de ontem sobre patriotismo ou o de hoje sobre fé. Como está a atingir o tradicional eleitorado do Partido Republicano...
Podia sublinhar os custos crescentes com gasolina, os aumentos de preços dos produtos alimentares, os empréstimos que as pessoas não podem pagar, o desemprego, os crimes diários...

Boligan, «El Universal»
(“... os custos crescentes com gasolina, os aumentos de preços dos produtos alimentares, os empréstimos que as pessoas não podem pagar, o desemprego…”)


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Mas, hoje, dia 1 de Julho de um ano do século XXI, todos vimos nas televisões a cena que se passou numa sala de espera de um hospital.
No país em que, diz-se, há os melhores cuidados de saúde.
Uma mulher cai da cadeira e fica no chão a estrebuchar.
No canto da sala há uma câmara que filma.
Uma hora.
Ninguém lhe mexe.
E a câmara continua.
Ninguém se incomoda.
E a câmara, sempre a mesma, regista.
Ninguém se preocupa.
Só a câmara parece perceber.
Há outros doentes na sala de espera.
E nada fazem.
Há guardas (vê-se, pelo menos um, através da incansável câmara).
Que nada fazem.
E a câmara continua a filmar.
A mulher estendida no chão, entre duas cadeiras.
Uma hora.
E nada acontece.
A não ser a morte desta doente.
Que tinha ido ao hospital para tentar sobreviver.
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Podia falar-vos dos sorrisos dos candidatos, das propostas dos candidatos, dos disparates dos candidatos...
Podia referir como são parciais os imparciais comentadores televisivos...
Podia dizer-vos que, por cada hora de tv, há mais de meia hora de publicidade...
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Mas hoje não é possível.
Estou aqui sentado perante mim próprio e o computador que me acompanha e não consigo escrever sobre essas coisas.
Nem os crimes e os presos e os polícias e alguns ladrões me levam a colocar pontos nos is.
Porque a imagem que a câmara nos obriga a ver continua viva e presente, inesquecível.
Uma pobre máquina colocada ali por outras razões.
Testemunha de acusação do ser humano a que pertenço.
Dedo acusador a cada um dos que ali estava.
Denúncia silenciosa e fria dos guardas, dos enfermeiros, dos médicos.
Todos tinham, certamente, outras coisas importantes para fazer.
Uma mulher estendida no chão, de barriga para baixo, uma hora.
Quando a foram ajudar estava morta.
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Podia enviar-vos fotografias de manifes, de cartazes, de promessas...
Podia partilhar dúvidas e ansiedades...
Podia gritar, ao menos, que estou vivo, porque vejo e leio e ouço e tento aprender...
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Mas hoje só é possível este lamento.
Esta infinita tristeza de ser pessoa.
Como as pessoas vivas que a câmara, ininterruptamente, filmou.
A olharem para a pessoa que morria.
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Não consigo outra coisa que não seja enviar-vos estas frases.
Esta revolta que vem dos meus tempos de menino.
Quando vi, numa rua de Moçâmedes, um cipaio (polícia preto) a chicotear um preto e a traçar-lhe as costas com traços de sangue que não esqueço.
Esta revolta que vem dos meus tempos de adolescente.
Quando, no Liceu Camões, se era castigado por se correr.
Esta revolta que vem dos meus tempos de juventude.
Quando comecei a perceber, no Técnico, que não havia liberdade.
Esta revolta que vem dos meus tempos de maturidade.
Quando, em Caxias, senti todos os medos do mundo.
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A revolta perante o silêncio dos que não querem ver, ou ler, ou ouvir, ou aprender.
Custa-me ouvir as vozes do passado.
Mas o que custa mais é assistir à passividade dos que não compreendem que o futuro é também deles.
Os silêncios das maiorias sempre foram o maior suporte das violências das minorias.
Não havia câmaras.
Apenas a memória dos que sofreram.
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Hoje, dia 1 de Julho, havia uma câmara.
A única coisa viva naquela sala.
Onde o cheiro a morte irá permanecer.
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Um abraço para todos.
Boa noite e boa sorte.
fernando

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