quinta-feira, junho 26, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 14




Já chegaram ontem, mas só hoje me dei conta deles: dois mails do meu contacto, nesta matéria, acerca das última reportagem do “nosso enviado especial” às presidenciais dos States deste ano (o primeiro mail) e ainda para enviar um vídeo de recentes declarações do Senador do Illinois (hoje confirmado como o candidato democrata às mesmas presidenciais), na sede da sua Campanha, em Chicago, ao seu staff e voluntários (2ª mensagem).
Algumas das novidades (como o do aparente deslize do Director Estratégico da candidatura McCain, Charlie Black [a ironia do acaso e das palavras!...], assim como da “volta” que o Senador do Arizona, deu ao episódio), já são do nosso conhecimento, mas são aqui apresentadas numa diferente perspectiva e com outro realismo.
Só a título de parêntesis, pela sua actualidade, hoje o Público traz um artigo do Prof Carlos Ferreira dos Santos acerca da, já muito badalada, proposta de McCain de introdução de uma
gas tax hollidays, que veio marcar mais uma cisão nas perspectivas dos dois candidatos democratas acerca da matéria dos impostos sobre os combustíveis, por um lado, e o ambiente, do outro, em que Obama “deu mostra de maior bom senso” do que a Senadora Clinton.
Mas o nosso amigo Fernando não deixará, quase de certeza, de nos contar algo acerca do assunto.
Ainda só mais uma nota acerca da segunda mensagem (abaixo: II.): retirei várias repetições que ela continha. Porque meras repetições, logo evitáveis; e para não tornar a postagem tão “pesada”. Não se tratando, pois, de nenhuma espécie de censura.
E, sem mais, vamos às mensagens:



I.
Obama News - 20080623 -
1. Politizar o medo; 2. As dívidas de Clinton


Caros amigos,
Envio hoje breves notas e reflexões relativas a dois assuntos muito diferentes mas que fazem parte do complexo puzzle eleitoral americano.
1. POLITIZAR O MEDO
1. Charlie Black é o Director Estratégico da candidatura McCain (chief campaign strategist). À revista Fortune disse o seguinte: "Um ataque terrorista no solo americano representaria certamente uma grande vantagem para o candidato do Partido Republicano". Charlie Black é também um dos três membros do staff da candidatura de McCain que, no passado, estiveram ligados ao célebre caso Enron, uma empresa que faliu estrondosamente e que lezou muitos milhares de apostadores da Bolsa (muitos de vós lembram-se certamente dessa história).
2. Certamente disse o que pensava, dizendo no entanto o que nunca deveria dizer. Por aqui há uma expressão muito utilizada quando se fala de uma grande surpresa que é preparada para Outubro, umas semanas antes das eleições presidenciais (que, tradicionalmente, se realizam na primeira terça-feira de Novembro): "A primeira regra da Surpresa de Outubro é não falar da Surpresa de Outubro".
3. Charlie Black não se limitou a expressar esse pensamento. Explicou com o exemplo do atentado que levou à morte, no Paquistão, a candidata da oposição Benazir Bhutto. Também poderia ter falado do atentado de Madrid (10 bombas e 191 mortos), três dias antes das eleições gerais de 2004 em Espanha e que foi aproveitado pelo Primeiro-Ministro no poder, José María Aznar, para acusar a ETA, mesmo quando havia provas de que se tratava de um atentado terrorista não organizado pela ETA.
4. Quando um jornalista perguntou a McCain qual o significado das palavras do seu Director de campanha, respondeu: "Não posso imaginar porque terá dito isso. Não é verdade". Depois foi a vez de membros da candidatura afirmarem que o Sr. Black não se recordava de ter dito aquilo à Fortune. Mas o próprio Charlie Black veio, mais tarde, "lamentar profundamente os seus comentários". Como referiu o jornalista Keith Olberman (msnbc - Countdown): "Black lamenta profundamente ter dito aquilo que os seus colegas de campanha afirmaram que ele não se recordava de ter dito"!!!
5. Para lá da enormidade do erro e da brutalidade do disparate o que se torna claro é o seguinte
:
a) Alguém (o director da candidatura, ainda por cima!) disse o que, dentro da própria candidatura e no meio dos "círculos geralmente mais bem informados", já se sabia que constava: um certo desejo que acontecesse qualquer coisa em Outubro, umas semanas ou uns dias antes de 4 de Novembro. Pela segunda vez (recorde-se o acidente de Hillary Clinton quando referiu o assassinato de Robert Kennedy para justificar a sua manutenção na campanha das Primárias até à Convenção Democrática de Agosto) se fala de "qualquer coisa que possa vir a acontecer" e que possa interferir na campanha eleitoral...
b) Em muitos países, é prática comum politizar as questões de segurança nacional. Por aqui, quem o costuma fazer é o Partido Republicano porque, de certa maneira, encarna a política crua e dura da chamada "defesa dos interesses americanos". A candidatura McCain limita-se a, sem imaginação, repetir velhos slogans. O drama para eles é que os americanos consideram que as questões mais importantes são a crise da economia, o fim (e não a continuação) da chamada guerra do Iraque, o problema da saúde, a crise da habitação, o desemprego. Só depois disso é que se preocupam com a segurança interna. Como é que os Republicanos conseguirão fazer com que este passe a ser o assunto que mais afecta os eleitores de Novembro?
c) A política do medo tem imperado, principalmente depois dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001. À conta disso a administração Bush montou a campanha que permitiria a invasão do Iraque e a sua reeleição em 2004. Amedrontar os eleitores e condicionar-lhes o voto é uma estratégia muito bem sabida e aplicada e que, no passado, deu óptimos resultados para quem dela beneficia. Também não é novidade que é coisa sabida há muito e aplicada nos mais diversos países. Muitos outros exemplos se podem recordar. Lembro-me da história que a minha avó me contava dos tempos de Sidónio Pais. Uma certa noite bateram à porta uns senhores que perguntaram pelo meu bisavô. Ela disse que ele ainda não tinha chegado e que eles entrassem para o esperar. Foi o que fizeram. Passou tempo e nada. Eles estavam com pressa. Tinham outras missões para cumprir. À saída prometeram voltar. Depois de saírem e da minha avó ter a certeza que o pai poderia estar a salvo, informou-o (ele estava escondido lá em casa!) e permitiu que ele fugisse e andasse a monte para não ser apanhado. Foi assim que o velho maçon escapou à morte certa...
d) O "terrorismo", mesmo quando não actua, paira como uma ameaça. Para além disso, como prova de força e influência, pode ser utilizado para condicionar os cidadãos e os eleitores. As suas forças escondidas são aproveitadas pelos que, afinal, precisam dele para continuar a fazer o chorudo negócio da guerra. Uma simbiose a que é preciso pôr fim. Só possível se houver uma política global capaz de, para lá de o combater com eficácia, enfraquecer a sua base de apoio, que bebe, por sua vez, das injustiças que grassam pelo mundo, dos extremos de riqueza e miséria, da propagação da ignorância, dos mil e um graves problemas que permanecem por resolver.
2. AS DÍVIDAS DE CLINTON
1. Hillary Clinton suspendeu, como se sabe, a campanha eleitoral para as Primárias. Não a deu por terminada. Suspendeu-a até à Convenção.
2. Dentro de dois dias aparecerá lado a lado com Obama na campanha eleitoral para as Presidenciais de 4 de Novembro. Curiosa e significativamente a sua primeira acção de campanha irá concretizar-se em New Hampshire, num local onde empataram nas Primárias, uma pequena town chamada Unity (Unidade), em que cada um deles teve, exactamente, 107 votos.
3. Termina assim o período de dúvida e interrogação. Lado a lado irão continuar até 4 de Novembro. A própria carreira política da senadora depende disso. Poderá ser Vice-Presidente ou não. Neste momento, o que interessa é que estarão no mesmo combate.
4. Para trás ficam umas Primárias que fizeram História. E ficam muitas histórias por contar. Principalmente as que explicam a derrota de uma candidata que, no final de 2007, uns dias antes das Primária começarem: a) tinha 80% de probabilidade de ganhar; b) contava com o apoio da maioria do Partido Democrático (militantes, votantes e "aparelho"); c) tinha mais fundos e mais dadores de peso; d) tinha um afamado marido ex-Presidente; e) tinha "experiência" e ambição (uma enormíssima ambição pessoal); f) contava com 60% de mulheres no seu universo eleitoral; g) durante mais de 8 anos alargara laboriosamente os seus lobbies e influências (junto de governadores e sindicatos, de jornalistas e religiosos, de representantes das mais diversas raças, a nível nacional e internacional); h) etc...
5. A sua campanha foi, no entanto, em muitos aspectos, um exemplo do que se não deve fazer. Será certamente analisada, se não por académicos e especialistas, por mim próprio, a seu devido tempo. Limito-me, neste momento, a falar do desastre da sua gestão financeira. Quem gere assim uma campanha, como poderá gerir uma barca destas?
6. Hillary Clinton tem dívidas a credores (até final de Abril) que ultrapassam os 9,5 milhões de dólares. Para além disso, ela própria, emprestou, à campanha, 11,4 milhões. A dívida global ultrapassará os 22 milhões. Precisa de ajuda.
7. No seu site da campanha continua a apelar aos seus apoiantes. Um enorme ractângulo vermelho com a palavra CONTRIBUTE apela aos que a apoiaram. Mas, pelo vistos, isso não chega. Mesmo que estejam lá as seguintes frases: "Você e Hillary podem escrever em conjunto o próximo capítulo da história da América. Ao ajudarem-nos a pagar o défice da nossa campanha, estará, também, a ajudar Hillary a eleger um Presidente Democrata e a aumentar a nossa maioria no Congresso (nota: realizar-se-ão, em simultâneo, eleições para o Congresso). Estarão a tornar possível que ela trabalhe arduamente nos assuntos que a si lhe interessam."
8. Obama não pode ajudar. Está impedido por lei: não pode transferir fundos da sua campanha para outra qualquer campanha, mesmo do seu próprio Partido. As receitas da sua campanha, da sua campanha são. A única coisa que poderá fazer é apelar a que os seus apoiantes vão carregar no botão CONTRIBUTE do site de Hillary. Mas ele próprio tem de contar com as despesas dos próximos meses e com as necessidades do próprio Partido.
9. Mesmo que sejam candidatos a Presidente e a Vice-Presidente, as receitas que recolherem não poderão servir para cobrir défices das Primárias. Trata-se de outra campanha que deverá ter contas próprias.
10. Hillary vai ter de resolver o problema até à Convenção, altura em que tem de fechar as contas e apresentar os resultados. Se até lá conseguir pagar aos credores (mais de 10 milhões de dólares), ainda lhe faltará resolver o problema dos seus próprios empréstimos (11,4 milhões). Se não conseguir recolher os fundos necessários, as contas serão fechadas e ela terá direito a receber, apenas, 250 mil dólares.
11. Aqui está. A campanha de Hillary foi suspensa. Será encerrada com o fecho das contas.
...
Um abraço para todos.
Boa noite e boa sorte.
fernando





II.
VIDEO: Barack speaks to staff



Caros amigos,
Apenas para quem está interessado, aqui vai um email que acabo de receber e um vídeo com uma intervenção que Obama fez, na sua sede, em Chicago, com os colaboradores mais chegados.
(...)


Um abraço,
fernando


---------- Forwarded message ----------
From: Steve Hildebrand, BarackObama.com
Date: Tue, Jun 24, 2008 at 6:03 AM
Subject: VIDEO: Barack speaks to staff
To: Fernando...



Dear Fernando --
I want to share a very special video with you that shows a side of Barack Obama few outside the campaign have seen.
A few days after he became the presumptive Democratic nominee, Barack spoke to campaign staff and volunteers at our headquarters in Chicago.
He shared his personal thoughts about what we had accomplished and outlined the challenging road ahead.
We were all so moved by what Barack had to say that I knew we had to share it with all of you:
In just a few minutes, Barack expressed what this campaign is all about. He reminded us of the challenges we face -- and that our fellow Americans are counting on our success.
That's a message that everyone who believes in this campaign should hear.
And now that we have declared our independence from a broken campaign finance system, what Barack said about building a national movement is more important than ever.
As someone who has donated to this campaign in the past, you need to hear what Barack has to say about facing off against John McCain. The consequences for our country's future are enormous, and we need to build our movement in all 50 states if we are going to compete.
You can inspire a fellow supporter to step up and join this movement by promising to match their first donation. You will double your impact, and you can even choose to exchange a note about Barack's speech and why you've decided to support this campaign.

The stakes in this election couldn't be higher. Help build this movement by supporting our campaign today.
Thanks for everything you do,
Steve

Steve Hildebrand
Deputy Campaign Manager
Obama for America

quinta-feira, junho 19, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 13



Continuemos a acompanhar os mails do Fernando e as suas notas e informações nesta prolongadíssima campanha.




Obama News
- 20080619 -
Algumas notas

Caros amigos,
Um dos objectivos das minhas Obama News (que, neste momento, conta com 75 leitores directos) era e é fornecer-vos informação honesta e actualizada a que, certamente, não poderão ter acesso através dos meios de comunicação de que dispõem.
O facto de me encontrar a viver nos EUA dá-me a vantagem de poder estar, não apenas a assistir, mas a participar.
Por outro lado, tenho procurado estudar tudo isto, tentar perceber, caminhar pela complexidade das coisas e não me satisfazer com aparências, notícias de ocasião, impressões do momento, apoios ou rejeições impensadas, palavras ou frases fora do contexto, distracções várias, provocações, etc.
Outro aspecto enriquecedor desta minha iniciativa é receber comentários, críticas, observações, correcções, perguntas, silêncios, recusas, apoios, abraços... que servem para aprendeer mais e matar algumas saudades.
Por hoje, aqui vão 4 comentários.
1. SONDAGENS DE ONTEM
O aspecto mais significativo das sondagens de ontem eram os valores registados em 3 Estados muito importantes em Novembro: Florida, Ohio e Pennsylvania.
Na Florida Obama ganha a McCain por 4 pontos percentuais. Em Ohio ganha por 6. Na Pennsylvania ganha por 12.
Se estes resultados se confirmassem em Novembro era o suficiente para Obama conseguir a maioria do Colégio Eleitoral que, posteriormente, elegerá o futuro Presidente dos EUA.
A somar a isto há que considerar que Obama continua a consolidar posições nos chamados Estados Azuis (tradicionalmente de maioria do Partido Democrático), enquanto vai ganhando posições nos chamados Estados Vermelhos (tradicionalmente de maioria do Partido Republicano). Poderá admitir-se a hipótese de, em Novembro, Obama ganhar em todos os chamados Estados Azuis e conquistar, ainda alguns Estados tradicionalmente Vermelhos.
2. REUNIÃO DE VOLUNTÁRIOS
Envio 3 fotografias de uma reunião em que estive ontem, ao fim do dia.






Éramos cerca de 40 pessoas e, por curiosidade, como de costume, dois terços eram mulheres. Outra curiosidade: apenas 4 não eram brancos.
Fez-me recordar o romantismo e a entrega de certos movimentos e iniciativas que começam nos dias difíceis e em que cada um dá o que tem. Desde as lutas clandestinas, às acções mais simples. Nessas alturas não havia (e não há) "tachos" para distribuir ou "penachos" para alguns... Nada era fácil a não ser a entrega voluntária a uma causa em que se acreditava... E, quando chegava a hora da verdade, cada um, por mais isolado que estivesse (nas celas de Caxias ou nas veredas da clandestinidade) sabia que não estava só.
A minha mãe, na sua infinita preocupação de me proteger, dizia: "O que andas a fazer, meu filho!?... Não vês que isto sempre foi assim e será!?... Não compreendes que, sozinho, não poderás mudar o mundo!?"... E eu sem lhe poder dizer que estava acompanhado...
Depois vem a fase da instalação, da rotina, da partilha de poderes (grandes e pequenos), das listas, da continuidade, da reacção ao que é novo e quer agitar, do proteccionismo e da corrupção (muitas vezes, intelectual), do adormecimento, do profissionlismo incompetente mas fiel substituir a militância crítica, do medo, da dependência e de tanta outra coisa que dá vida aos chamados "aparelhos partidários", essas realidades tentaculares que não podem deixar de existir mas que, a maior parte das vezes, perdem a capacidade de renovação e de auto-crítica.
Será, porventura, o que se irá passar por aqui. Poderá, quem sabe, ser excepção.
Mas, o que me interessa, é que neste momento estamos numa fase que antecede a do poder. Mais tarde, se acontecer porcaria, será tempo de voar para lá de outras fronteiras, de olhar para trás e não renegar, de olhar para a frente e continuar à procura de outras utopias.
Estou a viver a fase infantil de um processo democrático mitigado. Imagine-se o que é ter como primeira tarefa conseguir inscrever uns milhões de americanos nos cadernos eleitorais para poderem votar pela primeira vez!!!... Ainda por cima quando eu nem sequer posso votar!...
Para tentar compreender isto comprei ontem um livro intitulado Why Americans Still Don't Vote - And Why Politicians Want It That Way. Os autores são Frances Fox Piven e Richard A. Cloward.
3. O LIVRO DE PIVEN E CLOWARD (capa e contra-capa, tradução da minha responsabilidade)
"Intrigante e perturbador... Uma introdução desafiante e informativa a uma das questões mais graves da política americana actual", T. R. Reid, The Washington Post Book World.
Frances Fox Piven e Richard A. Cloward foram elementos chave da longa batalha para reformar as leis de registo eleitoral que finalmente deu origem ao National Voter Registration Act of 1993 (também conhecida como a lei que motiva ao voto, the motor voter law). Quando a primeira edição foi publicada em 1988, esta batalha estava ainda em curso e o livro representou uma veemente rajada. Demonstrava-se que o século XX tinha assistido a um esforço concertado para restringir o direito ao voto de imigrantes e pretos, através de uma complexa combinação de exigências fiscais, testes de literacia e complicadas exigências no registo de eleitores.
Esta edição completa a história até à actualidade. Analisando os resultados da reforma e utilizando comparações históricas paralelas (de outros países), Piven e Cloward revelam as razões pelas quais nenhum dos principais partidos (quer o Repubicano, quer o Democrático) realizou um esforço concertado para apelar ao registo eleitoral - e, por isso mesmo, porque continua a verificar-se que os Americanos continuam a não votar.
"É difícil ler este livro e não reconhecer que o nosso sistema, se não está completamente "partido", foi historicamente distorcido para favorecer os votantes privilegiados e as influências do voto", Garry Wills, The New York Review of Books.
"Uma importante e fascinante análise", Los Angeles Times Book Review.
"Genuinamente esclarecedor, oferecendo uma fotografia clara aos reformadores do que eles têm pela frente e porquê", Walter Dean Burham, The New Republic.
"Piven e Cloward escreveram um trabalho fundamental para o registo de eleitores e as suas consequências para a nossa política, as nossas eleições e o nosso governo", John W. Douglas, Philadelphia Inquirer.
Frances Fox Piven e Richard A. Cloward são coautores de Regulation the Poor, The Politics of Turmoil, Poor People's Movements e muitos outros livros. Receberam o 2000 American Sociological Association Distinguished Career Award for the Practice of Sociology.
"Intrigante e perturbador... Uma introdução desafiante e informativa a uma das questões mais graves da política americana actual", T. R. Reid, The Washington Post Book World.
4. DECLARAÇÃO DE OBAMA FEITA HOJE
Através do site oficial, Obama anuncia hoje a decisão de não contarem com fundos públicos para o financiamento da campanha eleitoral.
Apela aos seus apoiantes para que enviem pequenas contribuições (5, 10, 25, 50,... dólares). Recorda que conta com o apoio regular de mais de um milhão e meio de americanos que, durante as Primárias, apoiaram financeiramente a sua candidatura.
É um texto interessante. Limito-me a enviar o link para quem estiver interessado.
http://my.barackobama.com/page/community/post/samgrahamfelsen/gG5SPm
...
Um enorme abraço para todos,
fernando

segunda-feira, junho 16, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 12

antena de tv digital


O Post Sriptum do Fernando, na crónica que se segue, pela parte que me toca, assentou que nem uma luva.
Dúvidas, incertezas. Não estou certo de que tantas certezas como ele diz...
Mas ao remate dele é irrecusável a nossa compreensão e adesão.
Quando ele fala na vitória de um passo e nas longas estradas que falta percorrer... Antes foram apenas longas e largas estradas que se encontrassem na frente. Mas, e quantas veredas e escarpas não será preciso calcorrear e vencer também?

Deixo-vos com o cronista



a imagem é da revista VEJA, da semana passada, e tinha a seguinte legenda:
no palanque, Michelle é exuberante: negra e vitoriosa


Obama News
- 20080616 -
O mapa eleitoral e
as últimas sondagens da CNN
- ADENDA!


Caros amigos,
Antes de referir as sondagens, ontem publicadas, pela CNN, umas notas para ajudar quem não conhece o processo eleitoral americano.
Em Anexo envio ficheiro em Excel que pode ser consultado por quem o desejar.
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1. ELEIÇÕES INDIRECTAS
As eleições presidenciais são indirectas. No próximo dia 4 de Novembro não se vai eleger o Presidente, mas um Colégio Eleitoral que, posteriormente, elegerá o Presidente dos EUA.
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2. TRADIÇÃO
É uma tradição que se mantem desde que, em 1789, Washington foi eleito Presidente. Em 1783 tinha sido assinado, pela Inglaterra e pelos EUA, o Tratado de Paz de Paris.
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3. COLÉGIO ELEITORAL
Neste Colégio Eleitoral (composto por 538 delegados) estão representantes de todos os 50 Estados e da capital, District of Columbia, também conhecido por Washington DC.
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4. DELEGADOS NO COLÉGIO ELEITORAL POR ESTADO
A representação de cada Estado é proporcional ao número de habitantes respectivo.
Com 55 delegados: California.
Com 34: Texas.
Com 31: New York.
Com 27: Florida.
Com 21: Illinois e Pennsylvania.
Com 20: Ohio.
Com 17: Michigan.
Com 15: Georgia, New Jersey e North Carolina.
Com 13: Virginia.
Com 12: Massachusets.
Com 11: Indiana, Missouri, Tennessee e Washington.
Com 10: Arizona, Maryland, Minnesota e Wisconsin.
Com 9: Alabama, Colorado e Louisiana.
Com 8: Kentucky e South Carolina.
Com 7: Connecticut, Iwoa, Oklahoma e Oregon.
Com 6: Arkansas, Kansas e Mississipi.
Com 5: Nebraska, Nevada, New Mexico, Utah e West Virginia.
Com 4: Hawaii, Idaho, Maine, New Hampshire e Rhode Island.
Com 3: Alaska, Delaware, District of Columbia, Montana, North Dakota, South Dakota, Vermont e Wyoming.
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5. ESTADOS AZUIS E VERMELHOS E SWING STATES
Tradicionalmente, há Estados que votam, quase sempre, ou no nomeado pelo Partido Democrático, ou no nomeado pelo Partido Republicano.
Chamam-se Azuis os que votam "democrata" e Vermelhos os que votam "republicano".
Aos Estados que, umas vezes têm uma maioria, outras vezes outra, chamam-se os Swing States.
Se analisarmos apenas as eleições de 2000 e 2004, em que foi eleito Bush (contra Al Gore em 2000 e contra John Kerry em 2004), podemos considerar que há 20 Estados Azuis, 29 Vermelhos e 2 Swing States (Iwoa e New Hampshire). Ver o Anexo, para quem está interessado em pormenores.
A tradição tem sido esta, com algumas excepções: Johnson (1964), Nixon (1972), Reagan (1980 e 1984), Bush pai (1988) e Bill Clinton (1996).
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6. A IMPORTÂNCIA DAS SONDAGENS DA CNN DE ONTEM, 15 DE JUNHO DE 2008
Estas sondagens veem confirmar outras que têm sido divulgadas.
Estamos perante a possibilidade de uma alteração profunda do mapa eleitoral americano.
Por força da situação em que se vive (Iraque, crise económica e de valores, etc), mas também por causa das características dos dois candidatos principais (Obama e McCain), um e outro não sendo "candidatos tradicionais" dos respectivos Partidos, ambos podendo recolher votos no centro e, inclusivamente, nos campos adversos.
...
7. OS "NOVOS" SWING STATES
Tendo em conta os resultados publicados pela CNN, estamos perante o seguinte cenário (Ver o Anexo).
Estados "Azuis": 15, representando um total de 190 votos no Colégio Eleitoral.
Estados "Vermelhos": 24, representando um total de 194 votos no Colégio Eleitoral.
Swing States: 12, representando um total de 154 votos no Colégio Eleitoral.
Isto é, já não se trata de saber quem ganha Ohio ou a Florida, como aconteceu em 2000 e 2004.
Agora há, pelo menos, 12 Estados em que Obama (ou McCain) podem ganhar: Colorado, Florida, Iwoa, Michigan, Minnesota, Missouri, Nevada, New Hampshire, Ohio, Pennsylvania, Virginia e Wisconsin!
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8. CAMPANHA NACIONAL
Como vos disse, pela primeira vez na história das eleições americanas, a candidatura Obama está a trabalhar (com equipas profissionais e voluntários) em todos os Estados.
A principal tarefa, nos próximos meses, é inscrever o maior número possível de novos eleitores. Esta questão é decisiva porque há 3 ou 4 dezenas de milhões de pessoas que têm capacidade eleitoral mas nem sequer estão inscritas nos cadernos!!! Durante as Primárias as candidaturas de Obama e Clinton conseguiram inscrever mais 3 milhões e meio de novos eleitores...
Outro objectivo que tem sido conseguido é o de mobilizar os jovens que, tradicionalmente, não votam. A política, aqui, é vista como um assunto dos ricos e dos velhos... Sabe-se que a juventude, principalmente universitária, tem participado cada vez mais neste processo eleitoral (a maioria esmagadora apoiando Obama, o fim da guerra e uma nova política energética e de saúde).
Dou o exemplo da Florida em que, em 2000, Bush ganhou (!?) com uma vantagem de 500 votos. Só no County onde vivo (Pinellas County) conseguimos, num mês, inscrever mais de mil novos eleitores e, este fim de semana, conseguimos mais 30. No local onde estive (sábado passado), conseguimos 1 (!), como vos disse no email anterior. Grão a grão enche a galinha o paparrão, dizia a minha avó.
...
É pena não estar viva para lhe poder contar esta aventura, em troca das histórias, que sempre ouvia deliciado,
das lutas maçónicas do meu avô e do meu bisavô, do fim da monarquia, da vitória da República, de como sorrir mesmo na adversidade!
É pena que o meu pai não possa ler estes emails! Imagino as perguntas que me faria...
...
É pena que haja tanta ignorância neste país e que, tantas vezes, triunfe o medo.
Desta vez é a nossa vez!
Yes We Can!
...
Um abraço para todos,
fernando
...
PS: Sei que alguns de vós não partilham o meu entusiasmo (principalmente depois das declarações de Obama perante parte do lobby judeu). Não pensem que não partilho as vossas dúvidas e algumas das vossas certezas. Mas eu não resisto a entusiasmar-me, nem que seja para dar um passo, sabendo que há, ainda, longas estradas para percorrer...

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 11

Flórida






O Fernando (chamemos-lhe assim, mais informalmente) mostra-nos hoje mais um “cheirinho” do que são os bastidores dos bastidores de uma campanha...

Um dia de campanha para angariação de novos eleitores, em St. Petersburg, no distrito (condado) de Pinellas, Flórida, não muito longe da cidade de Tampa onde vive o Fernando, no mesmo distrito e Estado.

Já agora remeto para um breve apontamento acerca desta pequena cidade, na
Wikipédia.

Assim localizados, passemos à primeira das duas crónicas mandadas ontem pelo nosso repórter







uma imagem do Fresh Market da Central Avenue da velha St. Petersburg


Obama News
- 20080614 -
porque hoje foi sábado...



Caros amigos,
(recordando Vinicius de Morais)
Porque hoje foi sábado, foi tempo de sair de casa e chegar ao sítio combinado, na hora certa (9 da manhã): o Fresh Market da Central Avenue da velha St. Petersburg.
Porque hoje foi sábado, foi tempo de encontrar outros doze como eu, com camisolas a condizer, garrafas de água para lutar contra o sol e o calor.
Porque hoje foi sábado, foi tempo de partilharmos pranchetas, boletins de registo de eleitores, canetas esferográficas pretas.
Porque hoje foi sábado, foi tempo de perguntarmos às pessoas se estavam registadas, se queriam votar nas próximas presidenciais.
Porque hoje foi sábado, foi tempo de ouvir todo o tipo de respostas e não-respostas, a maioria esmagadora afável, a maioria de apoio (Yes! I'm for Obama!).
Porque hoje foi sábado, foi tempo de conseguir mais um recenseado.
Porque hoje foi sábado, foi tempo de nos despedirmos, às duas da tarde, cinco horas depois da chegada, e prometermos mais sábados como este.
...

O grupo, dirigido por uma das organizadoras da candidatura de Obama, era constituído por 12 pessoas, 8 mulheres e 4 homens, das mais diversas idades mas, por sinal, todos brancos... Sublinho: o grupo foi dirigido por uma mulher e tinha o dobro de mulheres...
Refiro isto para vos ajudar a compreender como é falsa a ideia de os eleitores de Hillary, principalmente as mulheres, não votarem em Obama.
Outro dado que ajuda a reflectir é o seguinte. Votaram, nas Primárias do Partido Democrático, cerca de 35 milhões de pessoas, partilhadas por ambas as candidaturas. Destas, 20 milhões de mulheres e 15 milhões de homens. Se Hillary e Obama tiveram praticamente o mesmo número de votos e se ambos tiveram praticamente o mesmo número de votos de homens, como se explica que ela tenha tido mais votos de mulheres?
A resposta é simples: ambos tiveram mais votos de mulheres do que de homens.
...
O Fresh Market é um daqueles pequenos mercados tradicionais em que se compram bugigangas, fruta e legumes frescos, se comem uns assados e se bebem uns copos.
Organiza-se, aos fins de semana, ao longo de um passeio da Central Avenue de St. Petersburgo.
É frequentado por gente não muito abastada e pobre que vive perto e por pessoas que, vindo de mais longe, procuram o exotismo de panos coloridos, de colares e brincos mais ou menos baratos, de batidos com sabores a frutas tropicais, de vestidos de algodão da Índia, de velas de várias cores e feitios, de cachorros quentes, de petiscos vários que espalham no ar os cheiros característicos das churrascadas, de incensos vários e diversos trabalhos de artistas locais.
No meio de tudo isto, uma das bancadas expunha antigos fatos de guerras falecidas, medalhas com a cruz nazi ou com os símbolos das SS, recordações de certos passados, um busto de Hitler, punhais de vários feitios e diversas histórias, notas do tempo da 2ª Guerra... e, no meio de tudo isto, uma placa de carro a dizer DDR, República Democrática Alemã!
Noutra bancada um cartaz, por entre joias, anunciava: Do not made in China!
...
Todo este trabalho e apenas mais um eleitor! Lá está o lírico do fernandinho, com os seus entusiasmos infantis, a inventar batalhas inesquecíveis!... Dirão alguns dos leitores...
Mas a novidade é que, num mês deste tipo de acções, se conseguiram mais de mil novos eleitores em Pinellas County (o County em que vivo e de que faz parte a cidade de Seminole, onde resido, a de St. Petersburg e outras)!
A novidade é que, pela primeira vez, em Pinellas County, há mais eleitores inscritos no Partido Democrático do que no Partido Republicano!
A novidade é que este trabalho vai continuar até ao último dia em que for possível realizá-lo: um mês antes das eleições de 4 de Novembro!
A novidade é que conservadores, racistas, machões do Partido Republicano e outros que tais, ou estão em pânico, ou à beira de um ataque de nervos, ou já começando a sentir-se resignados perante a avalanche da história!
A novidade é que não pára de crescer o número de voluntários que se propõem ajudar a arranjar mais voluntários e a conseguir mais eleitores! Hoje inscreveram-se mais 3 voluntários para trabalhar connosco...
...
Somos a única presença política nas ruas destas cidades. Não se encontra mais ninguém. Os outros estão em casa a ver televisão ou na praia a tostar ao sol.
Nós vamos ouvindo uma ou outra coisa desagradável, curiosamente cada vez menos, mas, em compensação, são muitos os que nos oferecem um sorriso, nos dizem estar connosco, nos dão sugestões de locais para desenvolver a campanha, nos pedem um pin, um autocolante ou um folheto, conversam connosco.
"O que me preocupa", dizia-me a vendedora de um dos stands, "é esta crise... que faz com que as pessoas não tenham dinheiro para me comprar qualquer coisa... é que se eu não vender não tenho dinheiro para comer..."
...
Um grande abraço para todos,
Boa noite e boa sorte,
fernando

sábado, junho 14, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 10




Segue-se o segundo bloco noticioso recebido ontem, do nosso “correspondente” especial.

Como em todo o orbe onde acontecem eleições, os profissionais da política lodacenta, da gratuita difamação, da mentira mais descarada, não desarmam. E combater a calúnia (fight the smear) é muito mais difícil do que lançá-la.
Daí a segunda mensagem de ontem





Obama News - 20080613 -
Combater as Sujeiras -
Fight the Smears

Caros amigos,
...
Neste país, mais do que estamos habituados na Europa, em matéria de eleições "vale tudo menos arrancar olhos".
Há legiões de detectives (contratados ou a trabalhar por conta própria), especialistas da desinformação (nas rádios, televisões e jornais), propagandistas de lixo cibernético, empresas de publicidade, falsos "independentes", etc etc etc
Criam-se factos políticos, inventam-se histórias proibidas, vendem-se escândalos sexuais e financeiros, fabricam-se sujeiras, nódoas que por vezes permanecem apesar das mentiras que transportam.
Estas técnicas têm sido utilizadas, desde sempre (ficaram na história porcarias destas utilizadas para eleger os primeiros Presidentes...), por todos os quadrantes mas, muito especialmente, pelos mais fanáticos apoiantes (encapotados ou não) do Partido Republicano.
...
Desde o início das Primárias, a candidatura Obama comprometeu-se publicamente a não utilizar estas métodos. Tem sido fiel a esta postura apesar dos inúmeros ataques deste tipo a que tem sido sujeita.
Com o advento da Internet espalham-se, à velocidade da luz, as mais diversas, ofensivas e mentirosas "notícias" que são utilizadas como instrumentos do combate político desleal e sujo. Todos sabemos, por experiência própria, o que isto é.
Como Obama declarou no dia 3 de Junho "o que nunca ouvirão na nossa campanha é essa espécie de política que usa a religião como uma cunha para nos dividir ou o patriotismo como uma matraca - que olha para os nossos opositores, não como competidores para desafiar, mas como inimigos para endemonizar..."
Mas, uma coisa é não utilizar estes métodos, outra é conseguir responder a eles...
...
Por esta razão, a candidatura Obama criou um site próprio (
Fight the Smears) em que são referidas as mentiras e, em seguida, apresentadas as respectivas respostas.
Começou ontem, rebatendo acusações várias que têm vindo a ser utilizadas e divulgadas pelos mais diversos meios da política suja e dos seus profissionais. Há quem tenha vivido toda a sua vida e construído toda a sua carreira à conta deste tipo de "venda de notícias e informações".
As primeiras mentiras (e as respectivas respostas) lá estão: a) que haverá um vídeo em que a Michelle Obama tem declarações racistas; b) que o Obama não nasceu no território americano (condição para poder ser Presidente); c) que é muçulmano; d) que os livros de Obama contêm declarações racistas incendiárias; e) que Obama não faz o juramento...
No novo site é feito um apelo para que todos se informem e respondam "taco-a-taco" aos comentários que forem ouvindo ou lendo. Nos locais de trabalho, nos lugares públicos, na Internet, nos meios de comunicação social, nos grupos de amigos, etc.
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Aqui está um exemplo a estudar e a utilizar quando, nós próprios, nas nossas vidas pessoais, profissionais, culturais, políticas... formos confrontados com o mesmo tipo de sujidades...
...
Um abraço,
fernando

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 9

o ícone do radical e imobilizador conservantismo


Ninguém acredita nelas... Mas todos as analisam com atenção: simulando uma atitude depreciativa, os perdedores; fingindo não lhes dar grande relevo, os ganhadores.

Mas a verdade é que, desde que o quarto poder se instalou, as sondagens são (as dignas de crédito) um relativamente importante barómetro da mais generalizada opinião.

Posto isto, passemos às novas mais recentes, enviadas pelo nosso amigo Fernando; e em dois blocos separados, embora seguidos, para amortecer o eventual peso









Obama News - 20080612 -
SONDAGENS


Caros amigos,

Mensalmente, neste país de sondagens, há umas sondagens credíveis publicadas em conjunto pelo Wall Street Journal e pela NBC News.
Podem encontrá-las, por exemplo, se forem ao site da MSNBC/politics.
As anteriores foram publicadas em 30 de Abril. As mais actuais foram publicadas ontem e realizadas no período que se sucedeu à declaração da vitória de Obama nas Primárias (3 de Junho).
Aqui vão os resultados (percentagens) com alguns comentários.
...
1. CASOS EM QUE OBAMA ESTÁ À FRENTE DE McCAIN
Total de eleitores: 47/41. Em Abril era 46/43.
Afro-Americanos: 83/7.
Hispânicos: 62/28.
Mulheres: 52/33.
Mulheres brancas: 46/39.
Católicos: 47/40.
Independentes: 41/36.
Trabalhadores com baixas qualificações: 47/42.
Os que votaram na Hillary nas Primárias: 61/19.
A nota mais importante tem a ver com o voto das mulheres brancas, em que Obama lidera com 46%, contra 39% de McCain. Este grupo é importante porque, tradicionalmente, o candidato do Partido Republicano ganha na categoria "homens brancos" (o que, na minha opinião, desculpem-me o áparte, é uma vergonha!) e, quando ganham na categoria "mulheres brancas", conseguem ganhar as eleições gerais, como foi o caso de Bush em 2000 e 2004.
Isto nada tem a ver com racismo. Tem sim a ver com conservadorismo...

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2. CASOS EM QUE McCAIN ESTÁ À FRENTE DE OBAMA
Homens brancos: 55/35.
Mulheres suburbanas: 44/38.
As notas importantes são as seguintes. Os homens brancos representaram, nas eleições de 2004, 36% do eleitorado. As mulheres suburbanas representaram 10%. Em conjunto, representaram quase metade dos eleitores! Embora estas percentagens tendam a reduzir-se (com a alteração que tem havido nos cadernos eleitorais, por força do trabalho, fundamentalmente, da candidatura Obama) são universos em que Obama tem dificuldade "em entrar".
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3. OUTROS DADOS INTERESSANTES
Popularidade de Bush: 28%.
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54% são por um Presidente que introduza mudanças, mesmo que tenha menos experiência.
42% são por um Presidente com mais experiência e que defenda menos mudanças.
...
59% são por um Presidente que se foque no progresso e a mover a América para a frente.
37% são por um Presidente que proteja o que fez a América grande.
...
48% dizem que Obama vai mudar a América.
21% dizem o mesmo de McCain.
...
54% acreditam que Obama vai ganhar.
30% acham que será McCain.
...
A dupla Obama/Clinton tem 51% de apoiantes.
A dupla McCain/Romney tem 42%.
Nota: a diferença é superior à de Obama e McCain sem a indicação de Vice-Presidentes.
...
Dos potenciais eleitores de Obama:
22% dizem que, se a Hillary for a Vice-Presidente, votarão mais facilmente nele.
21% dizem que se isso acontecer votarão com mais dificuldade.
55% dizem que isso não tem qualquer influência.
Nota: Estas dados são interessantes e, em princípio, serão diluídos no tempo...
...
Um grande abraço para todos,
fernando



sexta-feira, junho 13, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 8




Tenho tido algum (pouco) feedback sobre estas reportagens de alguém, nosso compatriota, que está por dentro desta campanha, que a vive, pensa e com ela vibra, e que nos transmite essa vivência.

Espero que estejam a constituir um bom complemento ao que por cá se lê, ouve e vê, sobre essa dura caminhada que é a eleição do presidente dos EU.

Não estou a falar da bondade, ou não, do processo de eleição.
Estou a constatar uma realidade: uma dura prova para um candidato que se empenhe. E, é evidente, um espectáculo – como tudo o que acontece por lá, em matéria de grandes eventos.

Desta vez, sem mais delongas, a palavra ao nosso cronista.




Obama News - 20080610 –
Florida


Caros amigos,
A propósito do Estado onde vivo aqui vão algumas notas que talvez considerem com interesse.
1. A IMPORTÂNCIA NOS ÚLTIMOS ACTOS ELEITORAIS
A Florida tem sido, em termos eleitorais, um dos pontos chave das últimas eleições presidenciais.
Em 2000, foi declarada a vitória de Al Gore (sobre Bush) e, pouco depois, a de Bush (sobre Al Gore). Depois de uma disputa que meteu recontagem de votos (nunca chegaram a ser recontados 1 milhão e meio de votos) e muita jogada suja por parte do governo de então, liderado pelo irmão de Bush, na altura Governador, Bush foi declarado vencedor com uma vantagem de cerca de 500 votos (o que lhe deu os 27 votos da Florida no Colégio Eleitoral). Esta vitória permitiu-lhe atingir a maioria no Colégio Eleitoral. Como sabem, a vitória num Estado permite que o candidato aí vencedor conte com todos os delegados desse Estado. Nesse ano, Al Gore, a nível nacional teve mais cerca de 500 mil votos populares do que Bush, mas não foi eleito porque, no Colégio Eleitoral teve 260 votos (contra 279 de Bush). Se tivesse ganho a Florida, Al Gore teria sido eleito com 287 (contra 252 de Bush).
Em 2004, Kerry perdeu as eleições na Florida. Uma vez mais, se as tivesse ganho, teria conseguido ser eleito Presidente.
2. O PRIVILÉGIO DE ESTAR A PARTICIPAR
Como tenho escrito, estar a viver estas eleições ao vivo é um privilégio que vocês não têm. Eu tenho aproveitado a ocasião para estudar e aprender e para vos enviar algumas notas, que, porventura, não receberiam através dos habituais meios de comunicação.
Estar a viver na Florida permite-me, para além disso, participar num processo que, também desta vez, pode ser decisivo para a eleição do futuro Presidente dos EUA.
Durante dezenas de anos afirmei, erradamente, que ganhar este ou aquele nestas eleições não alteraria muito o decurso da história. Mas Bush ultrapassou tudo o que é admissível. Há 4 e há 8 atrás foi eleito o que é, quase unanimemente, considerado o pior Presidente da história deste país.
Penso que sabem que não sou membro do Partido Democrático e, muito provavelmente, nunca o serei. Penso que sabem que apoio Obama, não porque esteja de acordo a 100% com tudo o que diz e faz, mas por ser o único Político que me faz revisitar a Política com o gosto com que o tenho feito. E, também eu, sou, desde a primeira hora, um opositor declarado da invasão criminosa do Iraque, a que se chama erradamente "a
guerra do Iraque".
Decidi fazê-lo porque não gosto que a História me passe ao lado. Mais uma vez sou voluntário.
3. A ALTERAÇÃO DO MAPA ELEITORAL
A candidatura Obama anunciou hoje que, pela primeira vez na história de todas as candidaturas de todas as eleições presidenciais nos EUA, irá fazer campanha nos 50 Estados Americanos e terá equipas especializadas permanentes em todos eles.
Este é um facto muito interessante porque, tradicionalmente, há Estados que são considerados Democratas ou Republicanos e em que os candidatos não gastam recursos nem utilizam tempo porque, antecipadamente, já se sabe quem ganha e perde.
Tudo isto tem a ver com alguma coisa de muito importante que poderá vir a acontecer com estas eleições: uma alteração, mais ou menos profunda, do mapa eleitoral americano. Provocada por vários factores, entre os quais assinalo os seguintes: a) as candidaturas (elas próprias); b) o aumento substancial de novos eleitores (por força da inscrição, nos cadernos eleitorais, de milhões de pessoas que, embora com capacidade eleitoral, nunca tiveram direito a voto por não estarem sequer inscritas para votar); c) a alteração qualitativa do próprio eleitorado americano, com relevância para a juventude; d) uma guerra com custos elevadíssimos que foi justificada com mentiras e que agravou os conflitos já existentes no Médio Oriente; e) uma crise económica à beira da recessão; f) o aparecimento de dois candidatos que permitiram acreditar na possibilidade de, pela primeira vez, haver um Presidente dos EUA afro-americano ou mulher; g) umas Primárias Democráticas que motivaram o maior número de pessoas de sempre.
A fraca participação de eleitores e cidadãos nos actos eleitorais americanos é um dos aspectos que tem mitigado o processo democrático neste país. Pense-se no seguinte: se a abstenção é de 50% e se os inscritos são, por exemplo, 75% dos que têm capacidade eleitoral, então, relativamente a todo o universo de potenciais eleitores, têm votado menos de 40% dos cidadãos deste país! Se o Presidente é eleito por pouco mais de metade destes, estamos a falar de alguém que é eleito por cerca de 20% dos cidadãos com capacidade eleitoral e que, a partir daí, diz representá-los a todos!!!
4. ALGUMAS NOVIDADES DA CANDIDATURA OBAMA
Outra questão interessante tem a ver com o facto de não ter havido Primárias do Partido Democrático na Florida (e em Michigan, como se sabe).
Isto tem sido uma vantagem para McCain que desenvolve a sua campanha aqui há mais de um ano e que virá a este Estado pela 19ª vez (desde que a iniciou) na próxima 6ª feira. Segundo as últimas sondagens sobre a intenção de voto, McCain está com uma vantagem, relativamente a Obama, que oscila entre os 10 e os 4 pontos percentuais.
Obama não fez campanha aqui, veio cá duas vezes e virá cá na próxima semana.
Uma das razões da vitória de Bush/Cheney em 2004 foi a campanha porta-a-porta que o seu Partido realizou. Uma das razões da derrota de Kerry/Edwards, nesse mesmo ano, foi a de terem iniciado esse tipo de campanha muito tarde.
A campanha de Obama já arrancou mas, de uma forma decisiva, irá sentir-se a partir do próximo fim-de-semana.
Inscreveram-se como voluntários 150 mil apoiantes. 400 terão formação específica e participarão a tempo inteiro na campanha. A maioria destes é constituída por estudantes e reformados. 61 mil pessoas contribuíram já com pequenas verbas (menos de 200 dólares) e constituem uma sólida e segura base de apoio financeiro. Dezenas de voluntários (staff da campanha), que veem de outros Estados para ajudar, estão a ser instalados em casas de pessoas que contribuem desta forma.
A partir de agora há que recuperar o tempo perdido, procurar inscrever o maior número de pessoas nos cadernos eleitorais, chamar os apoiantes de Hillary Clinton para este trabalho, falar com o maior número possível de pessoas de todos os extractos sociais e profissionais, participar.
5. ALGUNS DADOS SOBRE A FLORIDA
O número de habitantes por km quadrado é, curiosamente, igual à de Portugal: 114.
A população é de cerca de 18 milhões de pessoas.
A taxa de crescimento populacional é a 5ª maior dos EUA.
É o 4º maior Estado em número de habitantes, prevendo-se que, no final da corrente década, ultrapasse o Estado de New York e chegue a 3º (atrás da Califórnia e do Texas).
A principal actividade económica é o turismo (fundamentalmente interno), seguindo-se a agricultura (laranja, principalmente), o sector financeiro e a indústria aeroespacial.
A composição racial da população é a seguinte: 65% brancos; 17% hispânicos; 15% afro-americanos (eram 50% no tempo da escravatura); 2% asiáticos; menos de 0,5% americanos nativos (índios).
Os principais grupos étnicos são: alemães (12%), irlandeses (11%), ingleses (9%), americanos (8%) e italianos (6%).
Em matéria religiosa há 82% de cristãos (54% protestantes e 26% católicos), 4% de judeus, 1% de outras religiões e 13% não-religiosos.
6. UM CHEIRINHO DE HISTÓRIA
O nome teve origem na chegada de Juan Ponce de Léon, em 2 de Abril de 1513, uns dias depois da chamada sexta-feira santa. Pascua Florida é o nome dado pelos espanhóis à celebração cristâ do domingo de Ramos. Ponce de Léon chamou-lhe Florida e assim ficou.
Até 1819 foi colónia espanhola, altura em que foi comprada e anexada aos EUA.
Tornou-se o 27º Estado americano em 3 de Março de 1845.
Em 1861 separou-se dos EUA e juntou-se aos Estados Confederados da América (que defendiam a continuação da escravatura). A principal actividade económica de então era a produção de algodão, completamente dependente do trabalho escravo.
Após a derrota da Confederação na Guerra Civil, em 1865, a Florida foi readmitida nos EUA em 1868, não sem que antes (1866) fosse forçada a abolir oficialmente a escravatura.
Hoje os "novos escravos" são os imigrantes clandestinos que, fundamentalmente, trabalham na agricultura.
...

Um abraço para todos.
Boa noite e boa sorte.
fernando

quinta-feira, junho 12, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 7

outra peça do museu das comunicações: telex


Trocava impressões com o meu amigo CP que recebe directamente as crónicas (Obama News) da campanha em curso nos States para as presidenciais de Novembro próximo, e mostrava-lhe algum desapontamento acerca de certas declarações do candidato democrata.
O meu amigo, convida-me, então, a “descer mais à terra”... A admitir (talvez por outras palavras - melhores, certamente) que a política consiste numa permanente tentativa de conciliação de interesses, divergentes ou mesmo opostos, de negociações, de recuos, de avanços, de maleabilidades e concessões, de inflexibilidades e conflitos... Que se os políticos influenciam a sociedade, são, igualmente por ela influenciados. E por aí fora.

«Sim, sim – respondi. E continuei: a realidade é a realidade. Ignorar a evidência é o tal tapar o Sol com a raquete de ténis.
Da tal realidade e da tal evidência são um exemplo a súmula da opinião expressa pelo Fernando: «Obama não é um social democrata "de esquerda", nem um comunista do velho ou novo tipo, nem um europeu. É um americano que traz no sangue experiências cruzadas de vários continentes e que estudou nalgumas das melhores escolas e universidades americanas, por entre elites sociais e bem pensantes.»
Pois!
Além do tal discurso da vitória há aquela declaração acerca de Jerusalém... Etc..
Mas (deixa-me sonhar!) insisto: penso que algo está a acontecer ou em vias de acontecer.
Sei lá: dentro de alguns lustros. Talvez algumas (poucas) décadas...
É uma coisa que eu sinto... Qualquer coisa que paira por aí... Que terá de acontecer...
(Embora eu saiba que não vai sobrar para mim, para eu também saborear. Mas os meus filhos e os meus netos merecem melhor que isto que temos...)
Ou não é verdade que "O SONHO COMANDA A VIDA"?...»



Nota: nos EUA o termo caucus ganhou uma específica conotação, pelo que no glossário político daquele país excede o significado comum que tem nos dicionários de inglês.
Para as pessoas que não estejam tão familiarizadas com a diferença, deixo um link para a Wikipédia, acerca do especial significado da expressão nos States: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caucus








Obama News - 20080609 -
1. Os nomes e os atrasos de Hillary Clinton;
2. Um artigo sobre Israel.


Caros amigos,
Passa das quatro horas da manhã.
Como não consegui trabalhar durante o dia, sentei-me ao computador depois do jantar e só vou parar agora.
Envio dois textos em anexo.
Peço-vos para os lerem apenas se se sentirem com vontade para o fazer.

1
Um é uma pequena listagem de frases que intitulei "Os nomes e os atrasos de Hillary Clinton". Trata-se de seriar algumas notas que permitam alguma reflexão em torno da personalidade em questão. Já um destes dias invoquei Maquiavel. O poder é um imenso território onde quotidianamente se praticam os mais diversos maquiavelismos. O passado aí está à disposição de quem o quiser estudar. O presente é, por vezes, confuso e enevoado. O futuro é, como sempre inevitável e esclarecedor.
2
Outro é a minha tradução de um texto publicado por um comentador de que gosto muito e que dá pelo nome de Thomas L. Friedman. O título é esclarecedor: Tempo para um Pragmatismo Radical. Trata-se de um desafio à futura administração dos EUA. Num assunto que é de extrema gravidade e delicadeza: a situação no Médio Oriente e a existência dos Estados independentes de Israel e Palestina. É um texto, também, que ajuda a reflectir. A fugir dos noticiários das televisões (incompetentes ou mentirosos) e dos paradigmas que todos nós vamos construindo e não nos deixam ver mais longe.
Para quem quizer ler a versão original envio o link respectivo:

http://www.nytimes.com/2008/06/04/opinion/04friedman.html?ex=1213416000&en=17c40cf27f4348ba&ei=5070&emc=eta1

Um grande abraço para todos.
Boa noite (bom dia para vós) e boa sorte.
fernando


os 2 anexos
- OS NOMES E OS ATRASOS DE HILLARY


Fernando
9 de Junho de 2008



1
No dia 26 de Outubro de 1947, nasceu Hillary Diane Rodham Clinton, filha de Hugh Ellsworth Rodham e Dorothy Emma Howell Rodham.

2
Enquanto estudante era conhecida por Hillary Rodham, nome que manteve, mesmo depois de viver e se casar com Bill Clinton, em 1975, pelo facto de não ter adoptado o nome de família do marido (contra a vontade de ambas as respectivas mães).

3
No início dos anos 80, quando o marido tentava, pela segunda vez, conquistar o lugar de Governador de Arkansas (o que veio a conseguir) ela, para “acalmar” os eleitores desse Estado, passou a intitular-se Hillary Clinton ou Mrs. Bill Clinton.

4
Manteve esses nomes até ao fim do segundo mandato do marido (2000).

5
Mas, quando se candidatou a Senadora por New York (nesse mesmo ano), voltou a mudar de nome. Desta vez passaria a chamar-se Hillary Rodham Clinton. Com esse nome ganhou em 2000 e em 2006, sendo conhecida, a partir de então como a Senadora Hillary Rodham Clinton.

6
É com esse nome que se publica um livro, com a sua biografia e a sua fotografia na capa, que se transforma num best-seller.

7
Em 2007, quando começa a preparar a campanha eleitoral para as Primárias do Partido Democrático, decide mudar de nome e passar a chamar-se “oficialmente” Hillary Clinton (Hillary para os amigos).

8
A sua palavra de ordem para esta campanha é Hillary Clinton (com letras bem grandes) for President (em letras pequenas) que acolhe o nick name de Hillary (com letras grandes) for President (com letras pequenas) no respectico site (
www.hillaryclinton.com).

9
Esta dança de nomes não é fruto do acaso ou de humores variáveis. É, pelo contrário, a permanente utilização de todos os meios possíveis que permitam atingir determinados fins em vista.

10
Por hoje não escrevo mais sobre este assunto. Se alguém me ler, ficará com matéria para reflectir. O que é sempre um exercício aconselhável e muito saudável.

11
Para acrescentar a isto, durante a última semana, há pormenores que, ligados, são também muito indicados para exercitar o pensamento.

12
Na terça-feira, 3 de Junho, último dia das Primárias, antes do Senador Barack Obama pronunciar o discurso de vitória (por ter conseguido o número de delegados à Convenção que lhe dava uma maioria absoluta), a Senadora Hillary Clinton foi apresentada pelo seu director de campanha como a “futura Presidente dos EUA”.

13
Ela tomou a palavra e não desmentiu. Também não confirmou, é certo. Até elogiou Barack Obama e a sua campanha. Mas sublinhou que nunca tinha havido um candidato em Primárias do Partido Democrático que tivesse alguma vez tido tantos votos como ela (afirmação só possível se, como afirmava a sua candidatura, não se contassem 13 Estados em que tinha havido caucuses e se contassem os votos de 2 em que não tinha havido campanha eleitoral, sendo que, num deles, nem o nome de Obama existia nos boletins de voto).

14
Aos gritos de alguns apoiantes que pediam que ela levasse o combate até à Convenção (“Denver! Denver! Denver!), não o negou, nem o confirmou. Deixou que os ecos continuassem a soar.

15
Quando um dos seus fervorosos apoiantes anunciou publicamente, nessa mesma noite, o lançamento de um abaixo-assinado para pressionar Obama a escolhê-la para Vice-Presidente, a sua resposta foi o silêncio, apenas interrompido, uns dias mais tarde, por um dos membros da sua campanha a desencorajar tal iniciativa, porque “era a Senadora que ditava os seus interesses e preferências e não qualquer dos seus apoiantes”.

16
Depois de uma conversa à porta fechada entre Hillary e Barack, na casa da primeira, nada se soube a não ser que ela faria uma comunicação na 6ª feira, dia 6 de Junho.

17
Mais tarde esta data foi mudada para a manhã do dia seguinte.

18
Mais tarde foi anunciado que o seu discurso seria feito no sábado às 12 horas.

19
A essa hora ainda ela estava em casa. E estaria. Chegou ao National Building Museum de Washington DC quase uma hora mais tarde. Onde começou, finalmente, o tão anunciado discurso.

20
Perante as habituais interrogações e especulações jornalísticas dos motivos de tal atraso, que chegou a ser intitulado por um jornalista da CNN de “a dramatic delay”, houve um comentador (da MSNBC) que, por fim, esclareceu: “No problem! She always run late!...”

21
Nós sabemos. As pessoas importantes e que têm muito que fazer chegam sempre tarde. Os que são pontuais, ou não são importantes, ou têm pouco que fazer, ou ambas as coisas.

22
O drama e a manipulação da emoção não são fruto do acaso ou de humores variáveis. São, pelo contrário, a permanente utilização de todos os meios possíveis que permitam atingir determinados fins em vista.

23
Por hoje não escrevo mais sobre este assunto. Se alguém me ler, ficará com matéria para reflectir. O que é sempre um exercício aconselhável e muito saudável.

24
Quando se vota para um Presidente dos EUA ou doutro qualquer país, há muitos factores que pesam. Um deles, sem dúvida, principalmente para as pessoas que pensam e se preocupam, tem a ver com o carácter de cada candidato.

25
Durante esta campanha, dramaticamente, mais de metade dos eleitores, incluindo os que votaram na Senadora, afirmaram que não a consideravam honesta. Até me arrepiei quando soube que esta questão tinha sido colocada numa das sondagens “à boca das urnas”. Sondagens são sondagens. Nunca lhes atribuí virtudes que outros, desmesuradamente, sublinham. Mas, terrivelmente, há muitos eleitores por esse mundo fora que preferem votar em quem não é sério, com o argumento que a “política” é um assunto “sujo” e que os “políticos” são todos iguais.

26
Felizmente não são!


*

- Crónica publicada em The New York Times, no dia 4 de Junho de 2008
Tradução da minha responsabilidade
Fernando

TEMPO PARA UM PRAGMATISMO RADICAL

Thomas L. Friedman
Ramallah, West Bank


Quando enviava reportagens de Israel nos meados dos anos 80, o principal debate que aqui se travava era se o programa israelita de construção em West Bank já tinha ultrapassado um ponto de não retorno – um ponto em que uma séria retirada se tornasse impossível de imaginar. A pergunta muitas vezes repetida era: “Faltam 5 minutos para a meia-noite, ou passaram já 5 minutos da meia-noite?” Ora bem, fazendo uma pequena viagem por West Bank, como sempre faço quando aqui venho, o que mais me preocupa é que não passam apenas cinco minutos da meia-noite, mas que para lá desses minutos há que somar uma semana mais.
O West Bank de hoje é uma manta feia de altas paredes, de pontos de controlo Israelitas, colónias judias “legais” e “ilegais”, aldeias árabes, estradas judias que só os habitantes de Israel podem usar, estradas árabes e estradas bloqueadas. Esta realidade dura e pesada que se constata no terreno não vai ser alterada por qualquer processo de paz convencional. “A solução dos dois Estados está a desaparecer”, disse Mansour Tahboub, editor sénior no jornal de West Bank chamado Al-Ayyam.
De facto, chegámos a um ponto em que a única coisa que poderá dar resultados é aquilo a que chamo “pragmatismo radical” – um pragmatismo que terá de ser tão radical e energético como os extremismos que pretende abolir. Sem isso, temo, Israel permanecerá permanentemente prenhe, com um eterno Estado Palestiniano por nascer dentro de si.
A razão pela qual precisamos de uma iniciativa radical é óbvia: as “negociações” “habituais” que Israelitas e Palestinianos estão a travar não têm, nem energia, nem autoridade suficientes para chegar a uma solução. Com o encorajamento da administração Bush, Israel e a Autoridade Palestiniana em West Bank estão a negociar um projecto de tratado de paz que, supostamente, será colocado numa prateleira, enquanto os Palestinianos não tiverem capacidade suficiente para o implementar. Eu, seriamente, duvido que as partes cheguem a concluir esse projecto, e que, por força de razão, tenham capacidade para o implementar.
A falta de energia Israelo-Palestiniana de hoje tem três diferentes níveis. O primeiro é o nível de esperança e confiança. Desde que falhou o acordo de Oslo (para quem não sabe: realizou-se em 1993 e nele, pela primeira vez foi reconhecida, mutuamente, a possibilidade de existirem dois Estados independentes na região – Israel e Palestina) o romance extravasou o processo de paz. Israelitas e Palestinianos fazem-me lembrar o casal que, depois de um atribulado namoro, casam finalmente mas que, um ano depois, continuam a utilizar as mesmas mentiras: os Israelitas continuam a instalar colónias nos territórios ocupados e os Palestinianos continuam a acumular ódios. Quando se mente e se faz a guerra depois da paz, a confiança desvanece-se por muito tempo.
O défice de confiança é exacerbado pelo facto dos Palestinianos, depois de Israel ter abandonado a faixa de Gaza em 2005, em vez de construírem uma Singapura nesse espaço, terem construído uma Somália e, em vez de se terem concentrado na produção de micro-chips, se terem preocupado em fazer rockets para atingir Israel.
A segunda razão para a falta de energia vem do facto de Israel, com o muro que construiu em redor de West Bank, ter conseguido anular de tal forma os bombistas suicidas que o público de Israel não sente qualquer sentido de urgência para a resolução do conflito, tanto mais quando a economia de Israel está florescente. Por detrás do muro, o West Bank poderá permanecer um Afeganistão.
“Hoje, você não constata, nem o romantismo do processo de paz anterior a Oslo, nem um previsível desastre que possa afectar as consciências de Israel”, fez notar o colunista Ari Shavit do jornal Haaretz (nota do tradutor: é um jornal diário israelita, fundado em 1919, publicado em hebreu, com uma versão condensada em inglês anexa à edição do International Herald Tribune distribuída em Israel e que tem, também, uma página na Internet, em hebreu e em inglês).
O terceiro nível tem a ver com o facto de ambos os sistemas políticos (em Israel e na Palestina) terem tantas divisões internas que nenhum deles está capaz de gerar a autoridade necessária para tomar grandes decisões.
Apenas os EUA poderão ultrapassar o cinzentismo desta diplomacia, oferecendo um pragmatismo radical em que a lógica seja a seguinte: Se o Presidente Mahmoud Abbas não conseguir controlar rapidamente pelo menos parte de West Bank, não terá autoridade para assinar qualquer projecto de paz com Israel. Ficará completamente desacreditado.
Mas, Israel não pode ceder o controlo de qualquer parte de West Bank sem que lhes seja assegurado algo de concreto em troca. Rockets dos territórios de Gaza na remota cidade Israelita de Sderot. Rockets do West Bank que poderão atingir e fazer encerrar o aeroporto internacional de Israel. Isso é um risco intolerável. Israel terá de ceder o controlo de parte do território de West Bank desde que essa decisão não os exponha a ter de fechar o seu aeroporto.
O pragmatismo radical dirá que a única maneira para conseguir um acordo equilibrado entre as necessidades actuais de soberania dos Palestinianos e a retirada, agora, de Israel, sem criar um vazio de segurança, é introduzir uma terceira parte em que haja confiança – a Jordânia – para ajudar os Palestinianos a controlar a parte de West Bank que lhes for confiada. A Jordânia não está interessada em controlar os Palestinianos, mas, por outro lado, tem um interesse vital em que o West Bank não caia nas mãos do Hamas.
Sem uma nova proposta radicalmente pragmática – uma que faça com que Israel saia de West Bank, dê aos Palestinianos controlo real e soberania, mas que, simultaneamente, faça com que, confiadamente, a Jordânia seja um parceiro da Palestina – qualquer projecto de acordo será morto à nascença.

*


Obama News - 20080610 -
Alguns dos vossos comentários e uma resposta...

Caros amigos,
A coisa mais reconfortante é receber os vossos comentários, críticas, sugestões.
Aqui vão uns exemplos e a resposta que enviei a um deles.
...
A
Li os dois anexos. O último é de capital importância neste calvário que já leva 60 anos de vida ao ainda não nascido Estado Palestino.
Mas nele, no 1.º § que se inicia na 2.ª pág., onde escreveste «O défice de confiança é exacerbado pelo facto dos Palestinianos, depois de Israel... em vez de construírem uma Singapura... terem construído...» devia ser «O défice de confiança é exacerbado pelo facto de os Palestinianos, depois de Israel...». Isto digo eu, já que a contracção da preposição com o artigo nem sempre é válida, no meu entender. Exemplos.: Eu apoio a causa dos (de+os) Palestinos; Eu oponho-me à filosofia dos (de+os) Israelitas, que conduz ao extermínio dos Palestinos; Eu oponho-me à filosofia de os Israelitas exterminarem o povo Palestino.
A contracção significa, de certo modo, posse, pertença de alguma coisa, de alguém (dos / deles). A preposição e o artigo separados significa que se lhe segue a enunciação de uma acção (de os... exterminarem).
Também, segundo creio «Palestinianos» deriva do francês: palestinians; Julgo que, em português, se deve dizer «Palestinos», derivado directamente de Palestina.
São duas achegas com as quais concordarás, ou não.
B
Estive a ouvir as palavras de Obama sobre Israel e Jerusalém, a qual "will remain capital of Israel and must remain undivided!".

http://www.youtube.com/watch?v=PYcAmBXtmdA

Não vejo como podes conciliar isso com as opiniões expressas pelo sr. Friedman, as quais pareces partilhar. Por acaso tenho um amigo árabe, já reformado, que foi um funcionário superior das Nações Unidas e cuja família reside desde há séculos em Jerusalém e conheço, com algum detalhe, como é que Israel tem vindo a conseguir a sua "capital undivided". O sr. Obama decepcionou-me muito, o que não é grave porque a música dele não se destina aos meus ouvidos. Afinal ele é apenas mais um dos que não quer ver que nunca haverá solução no Médio Oriente enquanto Israel puder fazer tudo o que quer com a cobertura do Ocidente e se esmerar em humilhar e roubar a esperança aos palestinianos.
B.1
Aqui vai a minha resposta a esta última.
1
Não somos obrigados a concordar com tudo quando queremos chegar a um acordo.
Nem concordo com tudo o que o Obama diz ou faz, nem estou de acordo a 100% com os muitos documentos de Thomas Friedman que já li.
2
Obama é um membro (embora um pouco atípico) do Partido Democrático. Está limitado, por isso, na sua acção. As políticas (principalmente a externa) dos dois Partidos que dominam a vida americana não se distinguem muito, como todos sabemos. Em matéria de política externa estão demasiado condicionados por paradigmas que têm a ver com a sua própria independência e poder. Para além disso, o complexo de super-potência não os deixa ver, muitas vezes, para lá das suas próprias fronteiras e dos seus próprios interesses.
3
Mas há outras limitações, para lá das que o próprio Partido impõe. Obama não é um social democrata "de esquerda", nem um comunista do velho ou novo tipo, nem um europeu. É um americano que traz no sangue experiências cruzadas de vários continentes e que estudou nalgumas das melhores escolas e universidades americanas, por entre elites sociais e bem pensantes.
4
Há limitações, também, porque, para se ganharem eleições são precisos votos. Não apenas dos fiéis apoiantes.
Se quer ser Presidente terá de saber ceder, negociar, procurar o melhor tempo. No que diz respeito ao Médio Oriente, se quer ganhar a Presidência e fazer "o que for possível" terá de contar com o apoio da comunidade judia nos EUA e em Israel. E, simultaneamente, procurar muito estreitos caminhos que permitam considerar, não apenas os Palestinianos, mas todos os países da região (Irão, Síria, Jordânia, Líbano, Iraque, Turquia, Egipto). Queres tarefa mais difícil, principalmente depois do legado de Bush?
5
Obama nunca ganhará as eleições nos EUA se não tocar no eleitorado do centro político, social e geográfico. Será possível?
6
Aqui tens parte do puzzle em que me movimento. O meu passado e a minha experiência pessoal têm permitido, penso eu, que, por vezes, consiga ver um pouco mais além. Mas não espero paraísos. Qualquer que seja o resultado destas eleições presidenciais, a situação é difícil e muitos terão de pagar pela falta de visão e estratégia que tem havido nos EUA e no mundo. Os tempos serão difíceis. Mas se Obama ganhar, talvez haja uma "coligação" de poderes, de pessoas, de interesses, de projectos, de sonhos e esperanças que tornem o caminho um pouco menos difícil e um pouco mais possível.
...
Um abraço,
fernando


sábado, junho 07, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA – 6

telégrafo



Por mais que lhes custe aceitar os respectivos fundamentos, por mais que pretendam negar a intenção de qualquer aproveitamento ou perturbação, os democratas apoiantes de H Clinton têm de compreender que Obama não pode aceitar a partilha da Casa Branca com a sua companheira de partido, sem risco de a sua candidatura se esvaziar e perder sentido. Ou, no mínimo, ficar tremendamente fragilizada.
Também entre nós, nos últimos dias, os jornalistas, politólogos e outros colunistas têm sustentado mais ou menos a mesma posição.
Não faço ideia do que terão negociado Barak e Hillary, em casa da senadora Dianne Feinstein, apoiante de H Clinton, que os deixou “sozinhos com algumas garrafas de água e dois sofás confortáveis”, mas, finalmente, um telegrama do Diário Digital/Lusa, desta tarde (18:25:00) informava que a candidata democrata suspendera a sua campanha, felicitando e dando todo o seu apoio a Obama. Mais afirmou a senadora candidata, que solicitara o encontro: «temos de colocar a nossa energia, a nossa paixão e as nossas forças para fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para eleger Barack Obama, o futuro presidente dos EUA».

Mas, acerca dessa hipotética (e desejada por Clinton e seus apoiantes) vice-presidência, melhor é dar, de novo, a palavra ao nosso especial correspondente, Fernando, que há dias mandou uma mensagem versando essa matéria.
Hesitei em publicar o teor desse mail. Mas dado que o próprio Fernando, apesar de todas as reservas e cautelas que enumera, não receia expor-se (até porque é o que ele tem feito através das suas crónicas que sabe estarem cada vez mais no domínio público – ele próprio o referiu e aceitou), e decidiu deixar nas “Obama News” as sua reflexões de carácter mais pessoal, então achei oportuno (em concordância com um amigo comum, meu e do Fernando, através de quem recebo a informação que no n&r tenho deixado a partir de certa altura) deixar aqui a avaliação de uma pessoa que vive, in loco, este acontecimento de uma forma muito activa e participativa. Afinal o testemunho de um residente que se embrenhou, a fundo, nesta campanha, com empenho, com vigor, com garra e que nos conta a sua experiência, a sua opção e o porquê da mesma, os seus sonhos, a sua análise, a sua esperança, a sua ânsia apaixonada por uma nobre e digna causa.

Seguem, finalmente, os textos:


Obama News
- 20080602 –

Vice-Presidente?!...


Caros amigos,
Um de vós pediu-me para escrever sobre a hipótese Clinton a Vice-Presidente.
Não é solução que me agrade.
Mas não sou eu que decido.
Como não é fácil explicar, segue em anexo um texto com algumas considerações...
Um abraço,
Fernando




Clinton Vice-Presidente?


Caros amigos,

1

Há umas semanas atrás um de vós enviou-me um email com perguntas de carácter pessoal do tipo: Se, por alguma razão que não vem ao caso, a Clinton for nomeada pela Convenção como a candidata do Partido Democrático às eleições de Novembro, participarás na Campanha? Votarás nela?... E acrescentou, “certamente compreenderás porque te coloco estas (e outras) questões”.
Respondi-lhe, com a minha sinceridade de sempre. E disse-lhe que, daquela vez, não enviaria a resposta para o universo habitual das minhas Obama News. Eram opiniões muito pessoais, porventura carregadas com alguma imponderada subjectividade, emoção e, até, agressividade, que talvez não fosse correcto enviar para todos, pelo menos naquele momento.
A campanha das Primárias é longa e dura e o Obama tem sido vergastado, não só pelos meios mais conservadores e pelo Partido Republicano, o que era expectável, mas também, por vezes, dentro da própria candidatura dos Clinton (uso o plural por razões óbvias) pela candidata, ela própria, e, mais até, pelo marido que, em inúmeras ocasiões, mais parece estar a fazer a sua própria campanha eleitoral do que a participar na da sua mulher.
Desde o início da campanha que decidi tomar partido e participar num movimento que, penso, é necessário para os EUA e para o mundo. Não sou neutro. Nunca fui. Mas, simultaneamente, tenho sempre procurado ser objectivo e honesto nas informações que vos envio.
A razão fundamental porque não enviei a minha resposta para todos tinha a ver com as minhas emoções e com o receio de não ser compreendido a esse nível. Estava a falar de mim, de dentro de mim, não reflectindo a posição pública que poderia vir a tomar, mas apenas o meu instinto e a minha inteligência, as minhas forças e os meus desejos.
Na Política, como na vida, temos, por vezes, de ceder, de conceder, de decidir diferente do que queremos decidir. Principalmente quando o que interessa não é este, ou aquele, ou cada um de nós, ou a afirmação das nossas opiniões, mas os outros, uma nação, um país, ou o mundo. O que respondi ao meu amigo era o que me ia na alma…

2

Hoje recebi outro email, de outro amigo, a pedir-me que falasse da hipótese Clinton como Vice-Presidente do Obama.
Respondi pedindo uns dias para reflectir.
Para observarmos o que se irá passar amanhã, terminadas as Primárias, noite dentro, quando aí já o sol tiver nascido e aqui ainda se estiverem a contar votos e a arrumar bandeiras e cartazes. Não se esqueçam que Montana fica na costa oeste e South Dakota quase lá e que a diferença de horas para Portugal não é de 5, como daqui da Florida, mas de 8…
Para verificarmos as reacções, principalmente, dos candidatos, as suas atitudes e discursos, as suas eventuais propostas ou silêncios.
Para contarmos os super delegados que definirão a composição da Convenção e a respectiva correlação de forças e que, até agora, ainda não se definiram.
Mas também para “me defender”, para não arriscar prognósticos ou opiniões, porventura errados, ou que ferissem a sensibilidade “política” de cada um de vós.

3
Tenho andado todo o dia a magicar nisto.
Decidi enviar-vos, desde já algumas reflexões.

4

A candidatura dos Clinton começou mal porque foi mal preparada, mal dirigida, mal coordenada e mal programada.
Tudo isto tem a ver, não com incompetências ou falta de experiência política, mas com uma atitude, baseada em paradigmas, que lhes obliterou a visão e lhes fez perder a perspectiva de um país em sofrimento e a ansiar por uma mudança que eles não estavam capazes de oferecer.
O país do trabalho e da inteligência não queria mudar as moscas, não queria tirar um por ser vermelho e pôr lá uma que era azul, não queria a guerra em vez da diplomacia, não queria promessas sem mudar o poder dos lóbis, não queria as mesmas famílias de sempre e todo o seu poder e arrogância, não queria coroar uma presidente, queria eleger um Presidente. Desta vez iria ser diferente.
Os Clinton só perceberam isso muito tarde.
O discurso dela era centrado no “EU”. EU sou a melhor. EU é que tenho experiência. EU é que sei de saúde. EU é que tenho propostas e soluções. EU farei história porque EU sou mulher…
Foi assim que começou a perder.
O discurso dele começou de mansinho. “Toda a minha vida sonhei votar num Presidente que fosse mulher ou afro-americano. Agora estou nesta situação…” As pessoas até gostaram, até acharam bem; ele que até tinha sido chamado, um dia, graciosamente, num encontro com a comunidade afro-americana, “o primeiro presidente preto dos EUA”…
Obama falava de nós e para nós. Esperança Para Mudar… acabar com a guerra… Esperança Para Mudar… resolver os problemas da economia… Esperança Para Mudar… acabar com a crise da habitação… Esperança Para Mudar… cuidados de saúde para todos… Esperança Para Mudar… melhorar o ensino e a educação… Esperança Para Mudar… alterar a política externa, usar a diplomacia… Esperança Para Mudar… lutar contra o racismo e todas as formas de exclusão… Esperança Para Mudar… mudar Washington DC…
Quando Obama ganhou o primeiro acto eleitoral, no dia 3 de Janeiro, em Iwoa, um Estado de larga maioria branca, um Estado do centro do país, um Estado que oscila entre ter maioria republicana ou democrata (swing State), a comunidade afro-americana percebeu que Obama poderia ganhar. A América percebeu que poderia ganhar. Não era só discurso. Entrava dentro das pessoas, de qualquer raça, de qualquer idade. Falava de esperança e de mudança. Num país em que os sucessivos poderes têm querido que impere o medo e a guerra. A esperança contra o medo. A mudança contra a desgraça. A diplomacia contra a guerra.
No mês de Janeiro sucederam-se os desastres da candidatura Clinton. Depois da derrota em Iwoa (3 de Janeiro), um empate técnico em New Hampshire (8 de Janeiro) mas que deu mais delegados a Obama, uma vitória em Nevada (19 de Janeiro) que não deu para aquecer, porque, de seguida, sofreram uma profundíssima (e decisiva) derrota em South Carolina (26 de Janeiro).
Nada disto importava. Porque, dizia-se, depois da super terça-feira (a super Tuesday, em 5 de Fevereiro), a Clinton poderia cantar vitória. Seria a previsível nomeada! Poderia reforçar o sonho de vir a ser coroada!
Quando os resultados da super Tuesday começaram a chegar confirmou-se o terramoto eleitoral a deitar por terra ambições pessoais que não permitiram avaliar, previamente, a situação: Obama tinha mais delegados, mais vitórias eleitorais, mais Estados, mais votos… só não tinha mais super delegados (o aparelho ainda estava, aparentemente, sob controlo da família Clinton)…
O discurso do EU manteve-se, a agressividade relativamente a Obama aumentou, o Clinton começou por jogar a cartada da raça, a candidatura jogou a da igreja e do reverendo Wright. Finalmente a Clinton jogou com o medo. Havia eleições em Ohio. Dois dias antes, lançava um anúncio em que mostrava crianças a dormir e a brincar, uma explosão nuclear e uma voz a dizer que, para evitar isso, era preciso um presidente que tomasse a decisão certa quando recebesse uma chamada telefónica às 3 da manhã. Ficou conhecido como o telefonema das 3 da manhã, acerca do qual já se contaram as mais diversas histórias e anedotas.
Tudo isto acabou no dia 6 de Maio, em que a Clinton ganhou Indiana, com uma curtíssima margem, com o apoio e o voto de republicanos e perdeu rotundamente em North Carolina.
Aí perceberam que era tarde. De facto era.

5

Se conto isto é para que se perceba que durante estes 5 meses aconteceu, todos os dias, muita coisa.
Limitei-me a referir pormenores…

6

No campo do Partido Democrático há feridas por sarar. Não as provocadas pelo adversário político comum. As outras. As que mais doem. As que têm origem nos companheiros de jornada. Sabemos como custam.
Não há grandes diferenças entre os programas económicos das duas candidaturas. Embora a Clinton tenha votado de forma a permitir a Bush a invasão do Iraque e de Obama se ter oposto a essa guerra, desde a primeira hora, as propostas de retirada do Iraque não são muito diferentes. Em matéria de política externa há diferenças: as mesmas que têm a ver com a utilização da diplomacia para manter o policiamento do mundo, ou a de uma diplomacia activa para encontrar soluções políticas e não militares. Em matéria de programa de saúde há pequenas diferenças: um projecto mais realista por parte de Obama e outro mais despesista por parte da Clinton. etc.
A maior diferença está na personalidade dos dois candidatos e no seu projecto global. Obama tem uma visão universalista e defende uma mudança radical na forma de fazer política, não permitindo que os lóbis e grandes interesses continuem a dominar o poder político em Washington DC. Clinton tem uma visão mais agarrada à América tradicional e uma grande experiência com os lóbis e interesses. Obama fala de nós, Yes WE can! Clinton fala dela, I am the best!
Como conciliar, se necessário, estas duas figuras políticas? Como impedir que o ex-Presidente se instale nos corredores das imediações da Sala Oval que ele, aliás, tão bem conhece?
É um assunto que tem de ser analisado por cada uma das candidaturas mas que, decididamente, finalizadas as eleições e sabidos os resultados, tem de ser discutido entre os dois candidatos a candidato: Obama e Clinton.
Até lá é preciso saber se a Clinton aceita uma minoria e cumprimenta o presumível vencedor, ou se vai manter o combate até à Convenção. É preciso reconhecer que haverá pressões dentro do Partido, principalmente das figuras mais cotadas e dos voluntários das candidaturas que, durante estes meses, deram o corpo ao manifesto. É preciso avaliar outras hipóteses (a Clinton poderá não vir a ser a Vice-Presidente mas ser nomeada para o Supremo Tribunal, um dos problemas mais importantes, depois da guerra do Iraque e da crise económica; poderá continuar Senadora; poderá ser membro do Governo; Embaixadora; etc).


7

Na minha opinião há dois dilemas.
A Clinton terá de decidir: 1) se quer optar por uma solução negociada com Obama, ou 2) se quer fazer tudo para cumprir o chamado Plano B (esperar por uma derrota eleitoral de Obama em Novembro próximo, para aparecer como a grande candidata do Partido Democrático daqui a 4 anos).
O Obama terá de decidir: 1) se convida Clinton para Vice-Presidente e em que condições (houve um conhecido comentador que afirmou que, nesse caso, o Obama precisava de contratar um “provador”, à boa maneira de tempos passados) e se mantem o seu programa de mudança, ou 2) se terá de fazer concessões nesta matéria em nome da unidade do Partido e da necessidade de derrotar McCain em Novembro.


8
Se a Clinton decidir levar tudo isto até à Convenção e lutar por ser a nomeada, com o argumento de que teve mais votos populares (o que pode ser mentira ou verdade, conforme eles forem contados, como provarei no final das Primarias) e porque é “mais elegível” que Obama, tudo isto estará em causa.
Se a “guerra” for até à Convenção, como o Partido Republicano deseja, poderemos estar perante uma situação interessante e dramática: depois do pior Presidente dos EUA (popularidade pouco superior a 25%), de uma guerra não desejada (mais de 60% dos americanos contra), de uma sondagem (hoje divulgada) que mostra que 70% (!!!) dos americanos é por uma nova política externa que privilegie a diplomacia, de uma crise económica à beira da recessão, do maior desemprego das últimas décadas, de uma crise imobiliária sem memória, de uma situação desgraçada no sistema de ensino, de um aumento de 300% no preço da gasolina nos últimos 3 anos, depois disto e muito mais… as divisões dentro do Partido Democrático, mais o racismo e a intolerância, tudo somado à ignorância e à tradicional fraquíssima participação popular em todos os actos eleitorais nos EUA, poderão dar a vitória a McCain!


9

Shame on us! Tenhamos vergonha!


10

Boa noite e boa sorte!
fernando

PS: Aqui passa das 2 horas da manhã do dia 3 de Junho, dia em que terminam as Primárias; aí passa das 7 e, provavelmente, muitos de vós já estão a pé e a trabalhar…

Bom dia e boa sorte!
fernando

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